What Remains escrita por Flor do luar


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Hey, guys!
Muito obrigada a todos os comentários elogiando e gostando da minha história, eu estou lisonjeada em poder entreter vocês com essa história :D
Também quero agradecer a Isadora801 pela recomendação. Muito obrigada pelas palavras de carinho!
Enfim, me desculpe pela demora dos capítulos, mas sabe como é, o ENEM está chegando e meu tempo diminuiu pra nada, mal dá pra respirar D: Espero que me perdoem e aproveitem esse capítulo ^-^
Capítulo betado por: LPierrette



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Os irmãos chegaram em seu apartamento e Alexy se jogou no sofá com um ar cansado, enquanto Armin jogou seu jogo de chaves em cima de um balcão qualquer e olhou para o seu irmão cautelosamente. O jovem de cabelos azulados estava sentado em seu sofá com uma posição curvada e mãos sobre os olhos, sentindo a franja escorrer entre os dedos.

Quando abaixou as mãos, encontraram-se olhos vermelhos e bochechas inchadas por causa do choro que veio durante todo o caminho de casa. Alexy lutou contra as lágrimas mais uma vez, só que novamente elas venceram e escorreram pelo seu rosto áspero até o queixo. Armin olhou para aquilo um tanto triste antes de ir até a cozinha e pegar um copo d’água, em seguida voltando até ao lado de seu irmão.

— Não sei como pude ser tão ingênuo... — Começou Alexy com uma voz empoeirada e fanha, olhando para os próprios dedos. — Ele não gosta de garotos e eu sei disso, mas mesmo assim... por que isso ainda dói tanto? — Indagou soltando uma bufada indignada.

Armin correu os dedos entre os cabelos azuis de seu irmão, puxando seu corpo levemente de modo que sua cabeça ficasse em seu colo e ele continuou o acariciando. O professor estava carente daqueles toques e por um momento se sentiu uma criança necessitando dos carinhos do seu irmão, como quando eram pequenos e nos dias de tempestade Alexy acabava dormindo na cama com o Armin por causa do medo de trovões.

— Não é sua culpa, você não escolheu se apaixonar por ele. — Consolou Armin seriamente franzindo as sobrancelhas por alguns segundos.

— Eu achei que havia matado esse sentimento quando estava na faculdade. Não imaginei que iria voltar com tanta força anos depois... — Disse Alexy escondendo o rosto nas coxas do irmão, gemendo em frustração consigo mesmo.

— Já devia saber disso, irmãozinho. — Atalhou o rapaz de cabelos negros alisando levemente os cabelos de Alexy. — Você já conquistou tantos rapazes, mas nunca se permitiu envolver demais nas relações. De algum modo, eu sabia que você ainda estava preso demais ao Kentin, mesmo pensando que nunca mais iríamos vê-lo.

Alexy virou seu corpo para fitar o seu irmão com uma sobrancelha arqueada em descrença. O gamer acabou dando uma risada alta e usou um dos dedos para varrer uma lágrima teimosa que descia na lateral do seu rosto.

— Não faça essa cara. Você sabe muito bem que só está sozinho por opção, não raro você tinha um ou dois rapazes na sua cola. Lembra-se daquele loiro da faculdade que até te pediu em casamento? — Alexy teve que gargalhar ao se lembrar daquilo ao mesmo tempo que um rubor forte apareceu em seu rosto.

— Talvez você tenha razão... Eu não consigo me manter em nenhum relacionamento, só penso nele. Até mesmo quando me esforcei para esquecê-lo, ainda era dono dos meus pensamentos. — Indagou o professor dando outro gemido frustrado, escovando a mão em seu rosto e seus cabelos. — Não sei mais o que fazer, Armin... Eu não aguento mais. O tempo não parece colaborar, parece que meu amor apenas cresceu com o passar dos anos.

— Sugiro que dê o troco com a mesma moeda. — Sugeriu Armin com um suspiro longo. Alexy lhe lançou um olhar confuso, arqueando uma sobrancelha. — Quero dizer, saia com outro cara e depois mostre a ele que você também seguiu em frente. Não sei se vai funcionar, só não quero te ver chorar mais, não sabe o quanto isso me parte o coração. — Explicou tristemente.

O outro rapaz teve um vislumbre da fraqueza que o irmão carregava. Era em momentos raros como esse que ele se lembrava de que Armin era um ser humano e também tinha emoções negativas, por mais que ele tentasse esconder em um sorriso presunçoso e piadas feitas. Alexy sentou-se para se aproximar mais dele e passou seus braços ao redor do corpo. Armin se aconchegou ao toque e encostou a cabeça no ombro do irmão, aproveitando o calor confortável que ele emanava.

Não raro eles tinham esse momento meloso entre irmãos, mas Armin fazia questão de aproveitar cada um deles, porque ele se sentia vulnerável nos braços do irmão. E isso não o incomodava como era com outras pessoas. Ele só sabe que de forma alguma ele quer ver o seu irmão triste.

Ficaram assim por alguns minutos antes de se aconchegarem para ver um pouco de televisão, permanecendo até anoitecer. Foi quando o jovem azulado se levantou e foi para o seu quarto, ficou por lá mais ou menos uma hora até que saiu arrumado. Estava com uma calça jeans, camisa azul e tênis sociais.

— Como estou? — Perguntou Alexy se mostrando para o irmão. — Vou me perder em algum bar hoje, preciso ficar um pouco bêbado para aliviar a dor.

— No meio da semana? — Questionou Armin desconfiado.

— Não se preocupe, eu volto às dez. — Respondeu Alexy com um sorriso.

— Quer que eu te dê uma carona?

O jovem professor fez que sim com a cabeça e sentou-se no sofá para esperar o irmão que apenas foi colocar roupas mais decentes. Quando voltou, ambos os rapazes foram para o estacionamento do prédio e Armin dirigiu até um bar que costumavam frequentar muito na época da faculdade.

Não era nada muito grande ou moderno. Era bastante pitoresco, na verdade, tinha um ar de anos setenta. Seu interior era coberto por paredes de madeira rachada, enfeitadas com fotos em preto e branco dos fundadores, também com algumas celebridades que passaram por lá. O ambiente ainda era preenchido ao som de uma caixa de música bem antiga que havia nos fundos, era aconchegante, afinal.

— Quer que eu venha lhe buscar mais tarde? — Perguntou Armin ainda parecendo contrariado.

— Acho que não, posso me virar na saída, não é muito longe de casa. Mas se eu exagerar na dose, eu te ligo, estou com o celular bem aqui. — Avisou levantando o aparelho na mão para que o irmão visse. Em seguida deu um beijo em seu rosto antes de abrir a porta do quarto e desaparecer nas portas daquele lugar.

Armin ficou lá por algum tempo, como se tivesse que ter certeza que Alexy entrou naquele lugar antes de ligar o carro e sair novamente de volta para sua casa. Antes, porém, passou no drive-thru de alguma lanchonete e pediu algum hambúrguer, já que não tinha a mínima noção do que fazer de jantar hoje, quem cozinhava normalmente era o Alexy.

Depois de pegar o seu lanche, dirigiu de volta para o seu prédio, por algum motivo se sentindo desmotivado e até mesmo cansado. Como se quisesse deitar no sofá e assistir algum filme ou série até a madrugada. Não costumava se sentir assim, no entanto, apesar de ser alguém preguiçoso, ele ao menos tinha bastante energia para jogar videogame, mas essa noite nem isso queria mais.

Pensou em vários motivos para estar assim, mas talvez a preocupação com o seu irmãozinho seja a principal delas. Não queria ter que vivenciar tudo de novo o que ocorreu no Ensino Médio. Foi sofrido o suficiente ver Alexy chorar todas as noites por um amor não correspondido e achou que isso havia passado na faculdade, mas parece que está voltando. Não quer Armin ache que é chato cuidar do irmão, só que ele não gostava de ver Alexy sofrer. Sentia-se impotente.

Deitou-se no sofá pensando nisso enquanto procurava alguma série para assistir. Parou para assistir The Office, por mais que seja uma série relativamente antiga e ele já tenha assistido mais de cinco vezes, era uma das suas favoritas e o fazia rir, talvez isso desviasse um pouco a tensão dentro da sua cabeça. Começou assistindo a Segunda Temporada, que era a sua favorita. Não percebeu quando dormiu, mas sentiu seus olhos cada vez mais pesados até se fecharem.

Acordou com o barulho da televisão ainda, sentindo seu corpo mole e como se tivesse um peso de cem toneladas sobre ele. Odiava adormecer no sofá, geralmente só fazia isso quando estava muito cansado, não era seu feitio. Levantou-se com dificuldade, sentindo seus olhos pesarem quando abriu um bocejo alto e esfregou um dos olhos para despertar. Agarrou seu celular na mesinha de centro e olhou para o relógio. Meia-noite e meia.

Sentiu uma carranca no rosto, enquanto olhava para os lados, em busca de uma figura familiar.

— Lexy? — Chamou. Não houve resposta.

Armin se levantou do sofá finalmente e foi para o quarto do irmão, esperando vê-lo dormindo em sua cama, mas para o seu desespero, ela estava vazia e arrumada como Alexy a deixou hoje de manhã. Soltou um gemido frustrado.

— Alexy? — Chamou mais uma vez, procurando em todos os cantos do apartamento. Mais uma vez, não houve resposta.

O gamer se jogou indignado no sofá, olhando para o relógio do celular mais uma vez, queria muito que tivesse errado e visto as horas erradas, mas não houve engano. Algo não estava certo, Alexy era responsável com seus horários e se ele disse que estaria aqui as dez, jamais descumpriria sua palavra, além de saber que teria que trabalhar cedo.

Segurando os pensamentos ruins em sua mente, desbloqueou o celular e tocou o número de seu irmão na discagem rápida. O telefone tocou por alguns segundos antes de cair na caixa de mensagens. Eu bufei alto, sentindo a vontade de tacar o celular na parede, mas ao invés disso, apenas disquei seu número novamente, esperando ter mais sorte. Porém, só ouvi sua irritante secretária eletrônica.

— Alexy, se estiver ouvindo isso é melhor estar aqui em casa em cinco minutos ou vou ai e te trago arrastado pelos cabelos. — Falou em uma voz firme e sombriamente séria, enquanto desligava o celular e o jogou no chão, frustrado.

Apesar de parecer bravo, estava muito nervoso e com um sentimento na boca do estômago de que algo definitivamente estava errado. Ele simplesmente não conseguia ligar o fato de que Alexy não o avisou que iria dormir fora hoje, ele não faria isso.

Sentou-se no sofá e tentou se distrair com alguma coisa que estivesse passando na televisão, esperando que em breve ouvisse o som da porta ranger, porém, passou-se vários minutos e sua inquietação piorou, não ouviu nenhuma movimentação no corredor, aquilo estava o matando por dentro.

Pensou em alguém que pudesse ligar e pedir por ajuda, mas incrivelmente ele não conseguia pensar em ninguém, nunca se preocupou em ter muitos amigos, até que veio na sua mente uma pessoa. Não importa, isso é um assunto sério demais para pensar em picuinhas. Catou seu celular novamente e discou um número em sua agenda.

~*~

Kentin estava no cinema assistindo ao filme de comédia romântica, particularmente estava achando tedioso, uma vez que simplesmente odiava esse gênero, mas é a primeira vez que saia com uma mulher nesses últimos tempos, não custava nada fazer algum esforço. Olhou para a mulher ao seu lado e lhe deu um grande sorriso, passando seus braços ao redor do ombro da moça e puxando seu corpo mais para o seu.

Estava quase adormecendo ali, lutando para manter suas pálpebras abertas quando ouviu seu telefone vibrar no bolso na calça. A mulher também pareceu ter notado isso, uma vez que se levantou olhando para o rapaz com uma carranca no rosto.

— Jura? Agora? — Perguntou um tanto indignada.

— Desculpe, Cissa. — Respondeu Kentin um pouco sem graça. — Mas eu preciso atender, pode ser alguém da delegacia, eu estou de plantão hoje a noite. Também pode ser a babá da Lu. — Tentou se explicar.

Cissa permaneceu com a careta inabalável, antes de dar um suspiro alto e assentir com a cabeça finalmente. O rapaz deu um sorriso para ela e um beijo rápido em seus lábios, antes de se levantar e ir para fora do cinema, pegando seu celular e atendendo a pessoa, rezando para não ter desligado.

— Alô? — Cumprimentou Kentin.

— Kentin? Eu espero que eu não tenha te acordado ou algo assim. — A voz do outro lado do telefone hesitou por alguns instantes e Kentin ficou um tanto surpreso por ver que se tratava do Armin.

— Armin? É você? Aconteceu alguma coisa? — Perguntou preocupado.

— Bem... Sim e não. — Kentin franziu as sobrancelhas, se sentindo ainda mais confuso. — O Alexy saiu hoje e disse que iria voltar as dez, mas até agora não voltou. Não consigo falar com ele para o celular e não tinha mais nenhum amigo policial a quem poderia recorrer.

O jovem policial sentiu uma pontada no peito com a possibilidade de algo ter acontecido com o amigo. Apesar da voz do gamer tentar parecer sob controle, algo dentro dele sabia que ele estava tão desesperado quanto, aquilo era no mínimo desesperador para alguém tão controlado.

— Não se preocupe, Armin. Eu estou em ronda mesmo, vou passar ai e você vai me contar tudo. — Disse.

Assim que se despediu do amigo, correu para o seu carro, dirigindo o mais rápido possível para o apartamento do amigo, sem se importar em despedir de Cissa, ela iria entender como é, afinal, ela também é uma policial e conhece a rotina corrida de delegacias.

Quando chegou no prédio do Armin, foi recebido pelo gamer que demonstrava estar bastante nervoso, enquanto contava os detalhes.

— Eu vou lá checar isso, é melhor ficar aqui para caso ele volte. — Explicou Kentin ao final de tudo, passando a mão pelo rosto e pelos cabelos.

— Mantenha-me informado. — Pediu Armin.

O policial apenas assentiu com a cabeça antes de deixar o prédio mais uma vez, atrás desse bar que o Armin falou.

Ao chegar lá, rapidamente correu os olhos pelo local, em busca do característico cabelo azul, mas não havia nada assim. Certamente se destacaria no meio do marrom e outras cores mais fanhas. Olhando de canto, percebeu que o barman o olhava desconfiado e também havia alguns caminhoneiros no balcão que não estavam muito contentes com a sua chegada.

Lentamente se aproximou do balcão e apoiou com um dos cotovelos, se inclinando levemente para chamar o barman. Tirou do casaco uma foto de Alexy e mostrou ao homem velho.

— Esse rapaz esteve aqui? — Perguntou olhando fixamente para o homem que limpava um dos copos.

— Ele está encrencado? — Questionou o barman ainda parecendo desconfiado, Kentin soltou uma espécie de rosnado para mostrar que ele não estava com paciência.

— Apenas responda minha pergunta. — Alertou calmamente.

— Sim. Ele está aqui, na verdade. Tomou uns quatro copos e passou mal, então correu para o banheiro. — Respondeu o homem apontando para a cabeça para o banheiro masculino que ficava nos fundos do bar.

Kentin acenou com a cabeça em agradecimento e foi em passos largos até o banheiro, esperando encontrar apenas o Alexy vomitando o seu álcool mesmo. Porém, conforme se aproximou do local, começou a ouvir cochichos e antes de entrar definitivamente, encostou seu ouvido na porta para ouvir atentamente.

— Ei, eu não disse que isso o deixaria mais dócil? Se ele resmungar, é só dar alguns tapinhas que ele fica quietinho. — Sussurrou uma voz masculina.

O rapaz sentiu sua bile na garganta e uma cólera subir em suas veias. Estaria ele presenciando uma tentativa de estupro? Sentiu-se desnorteado, pois ele odiava lidar com esses casos, eram tão tristes e revoltantes, por se tratar de um amigo tão próximo, esses sentimentos vinham ao dobro.

Encostou uma das mãos sorrateiramente no metal gélido da sua cintura e destravou o bloqueio do revolver, respirando bastante pesado para lhe encontrar sanidade para não fazer uma loucura. Ele realmente odiava estupradores. Fez um exercício mental intenso para se acalmar e parar de tremer um pouco, sentia seu sangue ferver.

Assim que entrou no banheiro, a cena não foi outra a não ser que havia dois grandes homens em cima de alguém que Kentin reconheceu ser Alexy, por causa de seus cabelos azuis. Quase sentiu o gosto da pipoca na boca, controlando a vontade que tinha de vomitar ali mesmo. Pegou sua arma e como se fosse um instinto animal, bateu com ela no rosto de um dos agressores, fazendo-o dar um berro quase da altura que foi o estrondo do metal chocando-se com o crânio. O moreno deu um sorriso maldoso ao ver o hematoma roxo que surgiu na testa do meliante.

— Os dois longe dele, agora! — Gritou como se nem quisesse segurar a sua raiva e apontou o cano da arma para eles.

Os olhos arregalados, os jovens se afastaram até encostar na parede, tremendo de medo ao ver a arma. Não eram muito velhos, deviam ser universitários, mais novos que o Alexy, inclusive, mas aquilo não diminuía a raiva e revolta que estava sentindo.

Desviou seu olhar para o azulado no chão e percebeu que ele lutava para se levantar, mas mal conseguia se mexer, estava obviamente perdido e grogue, sob o efeito de alguma substância. Talvez álcool. Talvez outra coisa. As possibilidades fazia a raiva de Kentin se tornarem piores. Vendo o desespero do amigo, Kentin se abaixou e segurou as costas de Alexy para que ele se apoiasse, ajudando-o a levantar. Alexy apoiou todo seu corpo nos braços do amigo, como se fosse incapaz de se sustentar sozinho.

— Quem é...? — Perguntou com uma voz arrastada e fraca, envolvendo um dos braços ao redor do pescoço de Kentin para se sustentar.

O policial sentiu uma verdadeira vontade de chorar. Já presenciou vários casos como esse, mas era a primeira vez que acontecia com alguém tão próximo, ainda mais com uma pessoa que ele gostava tanto assim. Seu dedo estava tremendo do gatilho, pronto para disparar.

— Sou eu, Lexy. Está tudo bem, eu vim te buscar. — Kentin vacilou nisso e segurou mais forte o corpo do garoto em seus braços, em seguida direcionando a sua feição de raiva para os outros dois garotos na parede. — Vocês dois, vão apodrecer na cadeia.

Os rapazes tremeram ainda mais, como se o medo da arma ainda não fosse o suficiente.

— D-Do que você está falando? — Perguntou um deles lutando contra a gagueira. — Nós não estávamos fazendo nada.

— Claro que não. Apenas abusando de um incapaz. — Em meio a tanta angústia, não sabia onde ainda tinha espaço para o sarcasmo. — Tenho quase certeza que foram vocês quem fizeram isso a ele! — Bradou em plenos pulmões, balançando o revolver perigosamente, por um segundo sentiu seu dedo empurrar o gatilho levemente. Felizmente, nenhuma bala foi disparada.

Kentin parou para pensar por um momento e estava com vontade de prender aqueles dois rapazes, mas como nenhum crime foi cometido, ou melhor, não há provas, a delegacia iria liberá-los amanhã cedo e eles poderiam vir atrás de vingança. Suspirou profundamente como se fosse arrepender do que estava prestes a fazer.

— Saiam da minha frente. — Esbravejou. Os outros dois estavam como incapazes de sair do lugar. — Agora! — Elevou a voz ao extremo, fazendo os meliantes tremerem e saírem correndo, esbarrando em tudo que pudesse.

O jovem abaixou a arma e tentou até relaxar, quando sentiu o corpo deslizar pelos seus dedos. Usando o outro braço para sustentá-lo agora, Kentin sentiu uma onda de protecionismo te atingir quando viu o quão frágil Alexy parecia, estava completamente fora de si, mole como um boneco. Aquilo fez o coração do policial apertar. Percebeu que o jovem estava apenas com suas boxers. Kentin procurou pelo banheiro suas roupas, apenas para encontrá-las em um amontoado entupindo alguma das privadas e suspirou para segurar a raiva. Tirou o seu casaco e o colocou em Alexy para que assim pudesse tampar o seu corpo e preservar sua dignidade.

Sabendo que o professor não estava em condições de andar, envolveu um dos braços ao seu redor e o outro ergueu as suas coxas, então andando para fora daquele estabelecimento que já estava lhe dando nos nervos, ignorou todos os olhares estranhos sobre si e deixou Alexy no banco de trás do carro. Dirigiu de volta para o apartamento de Armin quando sentiu lágrimas quentes inundarem o seu rosto. Foi demais ver o Alexy assim.

Assim que Armin abriu a porta e viu seu irmão naquele estado, sentiu seu coração apertar, ao mesmo tempo que um alívio inimaginável lhe atingiu. Ele estava vivo, afinal de contas.

— Lexy! — Chamou o irmão, apertando seus braços ao redor dele, mantendo-o bem perto. Viu que o outro tinha dificuldades em retribuir o abraço e sentiu uma pontada em seu peito. — O que houve contigo? Onde estão suas roupas? — Perguntou dessa vez olhando para Kentin, procurando respostas.

— Eu o encontrei assim, aconteceu tanta coisa, eu estou ao ponto de explodir. — Respondeu o policial limpando as lágrimas em seu rosto, mas foi em vão, pois mais caíam.

Armin não resolveu perguntar mais nada, entendendo a profundidade do assunto e deixou que Kentin levasse Alexy para o seu quarto. O policial queria dormir ali, apenas para ter certeza de que Alexy estava bem e seguro, aquela noite foi demais para ele. Assim que deixou o corpo frágil na cama, pegou seu celular e discou o número de casa.

— Oi, Alex. Poderia ficar essa noite com a Louise? Vou dormir fora de casa. — Disse com uma voz baixa, quase sumindo, de tristeza. — Eu te pago hora extra.

Felizmente Alex, a babá de Louise, estava acostumada a passar a noite no apartamento, uma vez que não era raro Kentin ter que trabalhar a noite inteira. Ele sempre agradecia ter alguém tão disposta quanto a menina, embora o seu auge dos dezenove anos. Desligou o celular depois de se despedir da jovem e suspirou profundamente pela enésima vez aquela noite, esfregou seu pescoço que já estava duro e dolorido de tanto estresse. Estava pronto para se levantar quando sentiu um par de braços o envolver.

— Kentinho... — Chamou Alexy com uma voz arrastada e grogue, provavelmente tentando parecer sensual.

Kentin se virou para encarar o amigo e se assustou ao ver seu rosto tão perto um do outro. Havia um blush rosado em suas bochechas e seu corpo estava quente, passando pelo torso do moreno e seus lábios colaram em seu pescoço, distribuindo alguns beijos molhados no local. Por algum motivo, o policial sentiu seu corpo aquecer e seus pelos se arrepiarem por causa dos beijos, o que fez acender um vermelho em seu rosto.

Ficou sem reação por uns momentos até segurou o braço do professor e o tirou de cima dele, saindo da cama e se afastando o máximo possível do outro. Sentiu seu coração parar quando Alexy caiu, mas suspirou aliviado quando o colchão amaciou a sua queda.

— Vem para a cama comigo... — Pediu o outro manhoso.

— Não. É melhor ir dormir. — Disse Kentin seriamente.

— Mas eu quero fazer sexo com você... — Retalhou Alexy com uma voz brava, como uma criança que não estava satisfeita. Kentin sentiu seu rosto ficar ainda mais vermelho.

— Você não sabe o que quer, não está em condições para isso.

Alexy se deixou jogar em cima de um travesseiro, com seus olhos pesando.

— Você não me acha bonito...? — Perguntou com um beicinho.

Kentin se aproximou do rapaz e puxou as cobertas para envolver o corpo do outro, aconchegando-o ali.

— Claro que te acho bonito. — Disse acariciando o rosto do amigo com um polegar. — Mas eu nunca me perdoaria se eu fizesse isso, porque eu jamais abusaria de você.

Os olhos rosados suavizaram um pouco e Alexy abriu um pequeno sorriso antes de render-se ao sono. Kentin ficou ali ao seu lado a noite inteira, por algum motivo não conseguia dormir a noite, e nem queria. Queria poder ficar de olho no Alexy.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?
Comentários e críticas são sempre bem-vindas!