Diário de uma Mochileira escrita por Arabella


Capítulo 3
Viagem de Carro




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Leo e Teddy sustentaram uma conversa, tentando me incluir vez ou outra. As primeiras casas já apareciam ao redor da rodovia e eu estava ficando preocupada com a pequena camada de gelo que começou a cobrir a estrada.

–É o normal por aqui. Todo mundo só pode tirar a carteira depois de ter treinado a direção sobre uns cinco centímetros de neve. –Teddy brincou quando manifestei minha preocupação.

Soltei um risinho baixo enquanto tentava espantar da minha mente as inúmeras possibilidades de acabarmos em um carro capotado. Tentei reparar mais nas casas que começavam a se apinhar ao redor da estrada, indícios de que chegávamos ao ponto mais urbano de Laketown. Eram modelos mais antigos de casa, com chalés de madeira provavelmente mantidos e reformados de uma vila medieval. Senti um sorriso invadindo meu rosto enquanto contemplava as ruelas, o lago coberto por uma camada de gelo que inspirara o nome à cidade, árvores despidas de folhagem que se inclinavam sobre a estrada em uma reverência silenciosa aos passeantes.

–Acho que meus assaltantes estão muito quietos. –Comentei sorrindo após algum tempo em silêncio.

Leo sorriu, mas não pude ver a reação do Teddy.

–Ah, meu pai! Eu esqueci desse detalhe! Leo, não podemos deixar a garota sair, acho que vamos ter que a levar como refém. –Ele falou, o tom de voz divertido.

Ri e estendi a mão para bater em sua cabeça no assento da frente, sentindo os cabelos loiros roçando na minha palma.

–Opa, acho que vamos ter que te punir por isso. –Teddy comentou entre risos.

–Estou com tanto medo. –Revirei os olhos.

–Bom, você parecia prestes a se mijar quando paramos na estrada. –Leo disse sorrindo.

–Vão à merda. –Eu ri.

O carro deslizou pelo centro de Laketown, as ruas apinhadas de gente andando em sentidos contrários. Pessoas altas e baixas, negras e brancas... A diversidade era espantosa considerando-se que estávamos na Inglaterra. Eu mal podia esperar para aprender coisas novas com aquelas pessoas se estivessem dispostas a parar por um segundo de suas vidas corridas para conversarem comigo.

Fontes e chafarizes decoravam as ruas nubladas. Teddy apontou para uma fonte onde várias pessoas despejavam moedas e faziam pedidos.

–Duvido que pule naquela fonte. –Ele falou. Fiquei confusa por algum tempo até que percebi que o desafio era para Leo, quem riu.

–Está muito frio.

–O que temos aqui? –Pude ver Teddy enrugando a testa pelo retrovisor lateral. –Leonardo Carpenter recusando um desafio?

Leo soltou uma gargalhada alta, manobrando o carro para parar ao lado da fonte. Será que foi daquele jeito que o “assalto forjado” que aplicaram em mim havia acontecido? Ó céus, eu estava viajando com dois garotos de seis anos disfarçados em corpos de jovens adultos.

Leo começou a tirar o casaco, o carro já estacionado, enquanto Teddy procurava algo no porta-luvas.

–Você não vai fazer isso... –Comecei incrédula.

O garoto gargalhou e Teddy ergueu uma câmera que havia achado, vitorioso.

–Sim, eu vou fazer isso. –Leo abriu a porta do carro usando só uma camisa azul de gola redonda, tendo se despido do casaco e do blusão. Ele logo se livrou da camisa também, exibindo um corpo muito branco e pálido.

O rapaz deu alguns passos até a fonte, Teddy se precipitando para alcança-lo com a câmera em mãos. Comecei a sair do carro ao passo que alguns pedestres começaram a parar suas caminhadas frenéticas ou andar mais lentamente para seguirem os movimentos de Leo com o olhar.

Leo tocou no braço de um homem que jogava moedas para que ele se afastasse um pouco da fonte, ao que o homem respondeu com uma risada nervosa. O rapaz finalmente se atirou na água que deveria estar congelante, afundando até o pescoço e então se erguendo para que a o nível de água ficasse na altura da cintura.

–E o título permanece intacto! –Teddy grita em meio à gargalhadas.

Leo sai da fonte tomado por calafrios, o queixo batendo enquanto caminha na nossa direção.

–Sua merda de gravação não vai para lugar nenhum... –Ele falou, a voz trêmula.

Coloquei o corpo para dentro do carro, tirando o blusão e o casaco de Leo para entregar a ele. O rapaz esfregou o tecido no corpo, tentando se livrar da água fria, antes de enfiar-se nas roupas.

–Eu realmente apreciaria algum calor humano também, Helena. –Ele falou, o tom de voz carregado de malícia quando terminou de se vestir, sorridente.

–Acho que o Teddy não hesitaria em te dar algum calor. –Respondi irônica, provocando risadas.

Entramos no carro e eu observei quando alguns pedestres nos lançaram olhares atravessados em meio a risadinhas.

Eu pedi por diversão e liberdade e o universo me dera Teddy e Leo. Acho que não existiria uma maneira melhor de se começar uma viagem para Laketown, a cidade conhecida por não ser lá essas coisas pelo entretenimento que podia oferecer. Tomei alguns segundos para agradecer a Deus mentalmente pela viagem ter dado certo e por ter conhecido os rapazes, que agora mantinham uma conversa sobre como o corpo do Leo, de tão pálido, refletia a pouca luz do Sol de maneira tão eficaz que era possível conseguir energia solar com ele.

–Helena, você concorda ou não? –Teddy perguntou a certo ponto.

Revirei os olhos sorrindo.

–Por que vocês não tiram no cara e coroa? Ou no papel e tesoura? –Respondi.

–Ah, não. Acho que o Teddy ainda não aprendeu esse tipo de coisa. –Leo comentou rindo.

–Achei que não fazíamos isso porque você não era maduro o bastante ainda. Tipo aquelas crianças mimadas que não aceitam perder. –Teddy brincou, dando um murro fraco no ombro do amigo.

–Epa, estou dirigindo. –O outro forçou um semblante sério pela primeira vez desde que eu havia posto os pés no carro.

–Estamos perto do Geller’s? –Perguntei, esticando o pescoço para ver a estrada pelo para-brisas.

Leo soltou um grunhido e então fez uma expressão desgostosa.

–Me desculpa, Helena. Acho que já passamos a uns dois quarteirões atrás.

–Não, tá tudo bem. Estava divertido. –Sorri tombando a cabeça e olhando para trás automaticamente.

–Quanto tempo fica aqui, Helena? –Teddy perguntou de maneira repentina.

–Hum, eu não sei. Estou meio sem roteiro no momento. –Dei de ombros.

–Bom, espero que nos vejamos mais então.


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Notas finais do capítulo

Não se esqueçam de acompanhar e deixem um review com suas impressões, por favor! Obrigada por terem lido



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