Inferno.

Eu estava vivendo um verdadeiro inferno. Estava chegando nos quatro meses de gravidez, e obviamente minha barriga já estava aparecendo para todos apontarem e se questionarem. Eu era a novidade da cidade, a filha do delegado que havia engravidado cedo demais, a garota que havia cagado em sua vida. Todos os dias eu enfrentava vários olhares tortos e risinhos, todos os dias eu podia ouvir suas piadinhas sem graça.

Minha mãe havia sugerido eu terminar os estudos em casa, mas eu bati o pé como uma criança e resolvi que era adulta o bastante pra enfrentar essas pessoas. Sim, eu sou adulta pra enfrentar meia dúzia de pessoas, mas as vezes, em algum momento, isso cansa. Principalmente quando eu havia me tornado uma pessoa sozinha, Alice não tinha tempo o suficiente para ficar ao meu lado e eu não tinha mais amigos. Aqueles que eu considerava meus amigos sumiram.

As coisas com Edward haviam melhorado um pouco, ele não me ignorava mais e até pude perceber que ele passava tempo demais observando minha barriga, o que era doce da sua parte. Mas ainda não havia feito nada que provasse que estava nessa comigo, olhares não significam nada.

No momento eu estava em uma das aulas de biologia e ainda assim sentia olhos em mim. Havia mudado meu lugar na sala de aula, agora me sentava na última carteira e mesmo assim, as pessoas davam um jeito de me encarar. Até mesmo os professores e funcionários.

– Eu quero que vocês entreguem esse trabalho até a semana que vem - o professor berrou para chamar atenção da sala - Ele vai valer 10 pontos pessoal, vamos se esforçar - ele virou para a lousa e escreveu o tema do trabalho.

Anotei o resto da matéria enquanto minha mente e meu corpo eram dominados por um sono inexplicável. Bom, na verdade tinha explicação, mas mesmo assim não era legal. Graças a Deus o sinal tocou avisando que era hora do almoço, joguei todas as minhas coisas na bolsa e caminhei até meu armário guardando alguns livros.

– Hey Swan! - me virei para ver Mike Newton vindo até mim - Como você está?

– Bem, obrigada - eu disse, não querendo prolongar aquela conversa.

– Então, eu e meus amigos ali fizemos uma aposta - ele sorriu de canto colocando a mão sobre meu armário - E eles acham que agora que você está grávida, não teria problema irmos até meu carro e brincarmos um pouco - eu podia sentir todo o sangue saindo de meu corpo - O que você me diz?

Antes que pudesse responder algo, Mike foi empurrado pra longe e caiu no chão.

– Chegue perto dela novamente e eu acabo com a sua vida - Edward disse chutando Mike nas bolas - Isso serve pra todos vocês - ele olhou para o pessoal que estava encarando a cena com olhos arregalados - Se eu ouvir mais um comentário eu acabo com todos vocês.

Eu estava me sentindo um monte de gelatina. Edward me puxou pelo pulso e eu andei como um robô, nem me preocupando em ver pra onde ele estava me levando. Senti algo duro embaixo e mim e vi que estávamos em um dos bancos do lado de fora da escola.

– Você está bem? Ele te machucou - Edward perguntou me encarando - Bella, fale alguma coisa!

– Sim eu to… Eu to bem sim - me recuperei do choque e encarei seu rosto - Obrigada por me ajudar lá, mas eu ia me virar.

– Ia mesmo? - ele disse rindo - Bella você não machuca nem mesmo uma mosca - me fingi de ofendida e ele riu mais ainda - Eu andei pensando… E acho que está na hora de assumir o que fiz… Quero dizer, eu fiz isso - ele apontou para minha barriga - Então acho que devo lidar com as consequências assim como você.

Eu queria poder falar algo mas todas as palavras haviam desaparecido, então, por falta de reação melhor, eu me joguei em seus braços e pude derrubar as lágrimas que estava segurando há semanas. Senti seus braços em mim e meu coração afundou de saudades, eu havia sentido falta desse toque. Eu havia sentido muita falta de Edward.

– Nós precisamos falar com meus pais - ele disse depois que me desgrudei de seu pescoço e limpei as lágrimas - E eu quero ir com você nas coisas que você vai, nas consultas seja o que for o nome disso - eu ri de seu jeito perdido e concordei com a cabeça - E eu queria pedir uma coisa…

– Sim, você pode tocar.

O olhar em seu rosto era algo que eu nunca esqueceria, o verde havia ficado ainda mais verde e eu secretamente rezei para nosso bebê ter esses olhos. Sua mão pousou em minha barriga e eu senti minha pele esquentar com seu toque.

– Você já sentiu mexer?

– Não, segundo minha mãe ainda é muito cedo - eu disse - Mas a médica disse que pode ser a qualquer momento…

– Seus pais sabem….- ele apontou para nós dois e eu concordei com a cabeça - É um bom sinal seu pai não ter me prendido ainda.

– Ele considerou isso - eu disse rindo - Mas eu não permiti.

Ficamos conversando até o sinal tocar e eu voltei pra aula me sentindo um pouco melhor, era como se um peso tivesse sido tirado de minhas costas. Consegui assistir as aulas sem me incomodar com todos os olhares e sussurros. Quando as aulas acabaram eu segui até meu carro e me joguei no banco, e sai da escola o mais rápido possível.

–-

– Eu estive pensando, nossa casa precisa de uma reforma - meu pai anunciou no meio do jantar - E podemos começar a trabalhar no quarto do bebê.

– Charlie, não podemos mexer com tintas com Bella aqui - minha mãe disse, revirando os olhos - Vamos esperar até o bebê nascer, ele pode ficar no quarto com Bella enquanto isso.

Terminamos o jantar e eu me sentei no sofá para ver o jogo, era uma tradição de família assistir ao jogos da temporada, e eu precisava aproveitar a época em que meu pai estivesse em casa, já que aos poucos ele voltaria a sua rotina.

– Charlie! Querido! - minha mãe entrou correndo na sala com o telefone na mão - Consegui marcar a nossa viagem para o Caribe! - virei para encarar minha mãe - Nós iremos amanhã mesmo!

Minha mente deu uma sacudida lembrando que amanhã eu tinha minha consulta, e que finalmente poderíamos tentar ver o sexo do bebê. Minha mãe sempre ia comigo nas consultas, mas dessa vez, aparentemente, eu estava sendo deixada de lado.

– Renée, não podemos deixar Bella sozinha, eu já te falei isso - meu pai me olhou e voltou seu olhar para minha mãe, que estava confusa.

– Ora, Bella pode se cuidar sozinha - ela disse e jogou o telefone no sofá - Querida, você se importa em ficar sozinha por uns dias?

– Eu não…

– Viu, tudo resolvido - ela disse sorrindo e jogando os braços pra cima em comemoração - Nós iremos amanhã de manhã!

Me levantei do sofá e fui até meu quarto, trancando a porta e me jogando na cama. Eu entendia que meus pais tinham suas pequenas tradições, mas eu precisava deles comigo no momento, e ao mesmo tempo não queria me meter nessa coisa toda de viagem.

Tomei um banho rápido e coloquei um dos únicos pijamas que ainda me servia, podia ouvir minha mãe rindo com alguém no telefone e me senti um pouco traída. Encarei o celular em cima da cama e em um impulso de pura idiotice digitei a mensagem.

“Ei, eu tenho uma consulta amanhã. Quer vir?’’

Cinco eternos minutos até eu receber a resposta.

“Não posso, tenho treino a tarde toda’’
Joguei o celular de volta na cama e me deitei agarrando meu travesseiro. Aparentemente eu estaria sozinha por um tempo. Completamente sozinha.