Coleção escrita por Quididade


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Minha primeira Sekai. Eu tenho que admitir, eu estou com um orgulho gigante de mim mesma, não por escrever uma Sekai, ou por vencer meu bloqueio de escritor que durou três anos, mas sim por conseguir escrever algo nesse gênero.

Eu espero que vocês gostem tanto quanto eu. Boa leitura.



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“Ser amado é consumir-se na chama. Amar, é luzir com uma luz inesgotável. Ser amado é passar; amar é durar.” — Rainer Rilke

Jongin sentiu as gotas gélidas da chuva de outono cair sobre os ombros e molhar sua face. Elas caiam sobre os olhos também, escorrendo lado a lado com as lágrimas do moreno. Os soluços que há anos estavam presos em sua garganta escapavam lentamente até tornarem-se extremamente audíveis, e o corpo envolto naquele sobretudo escuro tremia. Não de frio, nem de medo ou pelo choro. Seu corpo tremia de saudades.

Naquele momento defronte à lápide de Sehun, Jongin notou o quão egoísta e o quão idiota foi durante todos aqueles anos. Ele sentia falta do mais novo, mas seu orgulho não permitiu ir buscá-lo onde quer que estivesse. E por isso agora muito provável definharia de saudades, assim como também muito provável Sehun definhou. Ele tremia pois seu corpo clamava pelo calor do outro, mas o que lhe restara foi um punhado de boas lembranças, um corpo sem vida a sete palmos da terra e oceanos de arrependimentos.

Entre o choro e os soluços, por cima do som da chuva e das almas que choravam a seu redor, Kai pode escutar a voz do passado.

Por que raios tinha a mania de dizer as coisas sem pensar? Kai se perguntava o tempo todo a razão de não possuir aquela pequena voz que fazia as pessoas discernir o que deveriam ou não dizer, mesmo em situações como as que sempre se envolvia com Sehun.

Pois os dois eram cabeças quentes, apesar do mais novo saber controlar as emoções. Os dois discutiam com frequência, os dois se desentendiam quase todos os dias, porém, eles também faziam as pazes todas as noites.

Todas as noites, os dias, as horas, os minutos. Todo momento era um bom momento para reconciliações.

E quando Sehun ria - e Jongin estava desesperadamente necessitado do som harmonioso que era a sua risada -, dizendo que não havia razão para reconciliarem, Kai sempre rebatia da mesma forma:

“Então vamos guardar para a próxima discussão.”

E Sehun sempre dizia a mesma coisa:

“Você sempre diz isso, mas nunca utiliza a reconciliação acumulada.”

Jongin o olhava de forma pretensiosa e um sorriso de diversão emergia nos lábios, sempre o mesmo sorriso, todas as vezes.

“É que reconciliações nunca são demais, Sehun. E eu sempre vou querer juntá-las.”

“Como um colecionador?” Sehun soltava mais uma risada ao fim da pergunta. Da mesma bendita pergunta.

— Sim, como um colecionador, pequeno. — Jongin respondeu para a lápide inerte. Passou a mão na superfície da mesma, e com os dedos contornou o nome do homem a quem amou todo aquele tempo e, sem sombra de dúvidas, amaria por toda a eternidade.

Oh Sehun. 1994 – 2025

Aquele que ganhara o coração de todos cujo na vida entrou,

Descanse em paz.

Após enxugar as lágrimas que manchavam o rosto junto à chuva, retirou de um dos bolsos uma pequena folha branca, dobrada em quatro partes e meio amassada pelo tempo. O rapaz analisou o objeto por uns instantes, e então fitou de forma intensa a coluna.

— E-eu... Eu deveria ter te entregue isso antes, sabe. Quando você ainda podia ler e, bem, talvez retribuir. Eu deveria... Droga, Sehun! Eu deveria ter feito tantas coisas, principalmente ter ido atrás de você!

Jogou a carta sobre o mármore branco e retornou o monólogo.

— Eu só espero que tenha ido em paz, e que, muito antes de partir tenha-me perdoado. Mesmo eu sendo um idiota, mesmo eu te magoando. E porque no fundo, eu espero que você tenha partido ciente do quanto eu te amei e te amo, Sehun.

Fechou os olhos alguns segundos sentindo os espasmos do choro forte sacolejarem seu corpo.

— Meu coração não cabe em um pedaço de papel, veja bem, mas na noite em que discutimos, antes de você afastar-se sem eu sequer saber, eu te escrevi isso. Eu te escrevi isso tentando ao máximo fazer meu coração caber aí, mas nunca, nem em outras vidas, Sehun, eu vou conseguir expressar o quanto eu te amo.

Jongin se agachou, colocando sobre o papel e a lápide um cravo - que era o favorito de Sehun - e um anel feito de uma pedra cor de esmeralda, cujo havia guardado por tanto anos em vida, como lembrança da primeira vez que viu Kai.

— Eu não sei se espíritos leem, mas aqui está a resposta para algumas de suas perguntas. — Ele ditou, respirando fundo e pondo-se de pé. Jongin estava ensopado, porém nada escorria mais do que seu coração, que sete anos atrás, naquele momento e até o último batimento, sangraria.

— Eu queria dizer-lhe adeus, Sehun, mas não sou capaz. Pois agora e até meus últimos dias será o seu sorriso que povoará minha mente. Como sempre foi. Como sempre será. Então eu te digo “até amanhã”, quando – muito provavelmente - eu acordar pensando em você.

X

“Como um colecionador?” Você sempre me indaga.

Sim. Mas eu coleciono coisas mais preciosas do que ouro. Eu coleciono sorrisos, os seus sorrisos, e beijos de todos os tipos. Roubados, ganhados, apaixonados e até mesmo os movidos a um tanto de ódio, todos seus. Eu coleciono lágrimas também, porque eu simplesmente não quero que você derrame nenhuma, então tomo todas para mim. Faz parte da minha coleção todos os seus gemidos, e seus sussurros no meio da madrugada. Porém, o meu principal item da coleção é seu coração. Porque Sehun, eu coleciono amor, o seu amor. Eu coleciono coisas que, quando organizadas num todo, são você.

Eu não coleciono sorrisos, eu coleciono você. Eu não coleciono lágrimas, nem gemidos, ou sussurros à meia-noite. Eu não coleciono Beijos, nem toques sobre sua pele, eu não coleciono cheiros, nem memórias. Eu coleciono você, e suas peculiaridades são pormenores que fazem parte do pacote.

Mas sabe, Sehun, as menores coisas são as mais importantes. Cada coisa que citei, tem uma cota de amor meu inimaginável. Agora junte tudo e terá o meu amor, que ultrapassa barreiras. Inclusive as do preconceito. Então da próxima vez que se sentir assim, por favor, confie em mim.

Eu sinto muito por ser tão idiota, mas no fim de tudo o mais importante é:

Amo você,

Jongin.

P.S: espero que isso explique o porquê de eu amar beijar sua pintinha na ponta do seu dedo. Você já sabe que as menores coisas me fascinam (inclusive, olha só, você. Meu anão de Jardim)


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