Todd não sabia por que estava lembrando daquilo. Verdade seja dita, ele não pensava naquelas coisas já fazia um bom tempo. Mas, naquele momento, sentado entre Curtis e Kate, com a música alta ribombando em seus ouvidos e uma fumaça irritante borrando sua visão, ele não conseguia olhar para sua ex-mulher dançando com seu ex-agora-atual-namorado policial, e não compará-la com uma menina ruiva com uma explosão de sardas no rosto que ele havia conhecido anos atrás.

Também não pode deixar de pensar sobre o que, afinal de contas, Tommy Sullivan tinha de tão especial para fazer Megan voltar para ele depois tudo o que fez, depois de todos esses anos. Talvez foi seu físico impecável. Todd ia a academia quando podia, mas, sejamos franco, ele não era nenhum policial. Ou talvez Tommy Sullivan tivesse algum tipo de carisma que ele não conseguia ver.

Perguntou-se se estava com ciúmes. Provavelmente.

Ele não sentia ciúmes da Dra. Megan Hunt, sua ex-mulher; principalmente quando tinha reatado a pouco tempo com Kate. Kate, na verdade, era até muito parecida com Megan. Mais legal e mais fácil de se lidar, mas as duas eram bastante parecidas. As vezes se perguntava se era por isso que Megan não gostava muito de seu relacionamento com ela.

Se Todd parasse para pensar, Megan havia tido ciúmes de todas as suas namoras, ou de qualquer garota que chegasse muito perto dele. Em toda a história de seu relacionamento com ela, amoroso ou não, houve apenas duas loiras por quem Megan não sentira ciúmes. Uma era sua eterna amiga menina, Julie, e a outra havia sido uma namorada passageira que ele conhecera em uma festa qualquer. Foi preciso apenas uma meia conversa com ela e Megan voltou para ele gargalhando.

– Você está namorando ela? – Ela perguntou, ainda rindo. – Você caiu bastante desde que terminou com a Kate.

Ele acabou terminando com a garota, porque, francamente, ela era meio devagar. Alguns meses depois ele voltou com Kate e Megan voltou a sentir ciúmes, reprimidos e sufocados o máximo que conseguia.

E apesar de Todd ter ficado ligeiramente lisonjeado quando descobriu que Megan passou cinco anos após o divórcio sozinha, ele não sentia ciúmes quando ela voltou a namorar. Exatamente como fazia quando era um garoto, Todd aceitou silenciosamente os caras com que ela saía. Dando sua opinião vez ou outra por... Lacey.

Então Tommy Sullivan apareceu de lugar nenhum e aqui estava ele, perguntando-se seriamente se estava sentindo ciúmes de Megan, como havia sentido ciúmes com aquele primeiro namorado, Jack alguma coisa.

Chegou a conclusão que sim, estava se remoendo de ciúmes. Mas não eram ciúmes da Dra. Megan Hunt, sua ex-mulher; ele não sentia ciúmes dela, ele não sentia nada por ela. Não, ele sentia ciúmes de Megs, sua vizinha, sua melhor amiga. Sua parceira.

Não costumava pensar sobre o passado deles, nem comentava sobre ele. Qualquer um que não os conhecera antes do casamento diria que não havia a menor possibilidade deles serem amigos de infância. Kate parecia não fazer a menor a ideia. Talvez nem Lacey soubesse disso. Ela nunca conversava sobre os dois. Mas vez ou outra sua mente ia para aquele passado e Todd se perguntava se não havia sido uma péssima ideia.

Essa de terem um relacionamento, de se casarem e ter uma filha e tudo isso. Todd se perguntava o que teria acontecido se Megan não tivesse aparecido na igreja, ou se ele não tivesse a pedido em casamento; ou se ela tivesse lhe dado um pé na bunda naquele primeiro encontro; ou se Todd jamais tivesse tido a coragem de dizer o que sentia por ela.

Talvez tudo fosse diferente. Talvez ele ainda tivesse sua melhor amiga e não uma ex-mulher no lugar dela.

Todd tinha quase certeza que ele havia estragado a amizade deles com essa história de relacionamento, mas tantas coisas boas haviam saído disso. Ele passou bons momentos com Megan, tinha uma filha que ele adorava com ela e até o último dia de sua vida poderia encher a boca para dizer que se casou com a mulher pela qual foi apaixonado toda a sua vida.

Não deu certo. Mas assim era a vida.

As vezes olhava para Megan e via apenas a garota que ele havia amado um dia. Nesses momentos ele se perguntava se ainda a amava. Será que ele realmente havia deixado de amá-la? Será que deixaria de amá-la em algum ponto?

Megan se transformava na Dra. Megan Hunt, sua ex-mulher, mais rápido do que ele poderia responder suas perguntas e Todd continuava sem saber.

Megan sentou ao seu lado quando a música acabou. Ela estava sorridente, por conta da bebida e por conta de Tommy Sullivan. Todd nem havia reparado que ele estava encarando-a, mas ela fez questão de ressaltar aquilo com a sua delicadeza costumeira:

– O que você tá olhando, idiota?

Os outros na mesa pareciam alheios aos dois, entretidos com alguma história que Tommy contava. Sinceramente, o que esse cara tinha de tão especial?

Todd deu de ombros.

– Pensando no quanto você é esquisita.

Era parcialmente verdade. Megan franziu a testa e o olhou como se fosse louco. Ela estava pronta para lhe dar uma resposta atravessada e os lábios de Todd começaram a formar um sorriso, mas o som de bateria ressoou pelo lugar, sendo seguida pelo agudo do piano enquanto a música Hungry Hearts de Bruce Springsteen começava a tocar.

Megan soltou o ar com força e Todd sorriu ainda mais.

– Odeio essa música. – Ela disse entre dentes.

Parecia tanto a Megan do dia do baile da escola.

– Mas é a nossa música. – Ele rebateu. Todd levantou, uma mão estendida para Megs. – Quer dançar, esquisita?

Megan revirou os olhos e soltou um “Seu idiota” baixinho, mas pegou sua mão e dançou com ele.

Talvez Todd tenha estragado tudo e eles jamais voltem a ser como eram antes. Nesse caso, talvez ele devesse deixar um pouco de lado a Dra. Megan Hunt, sua ex-mulher, e aproveitar ao máximo os momentos que passava com Megan, sua vizinha. Sua melhor amiga. Sua parceira.

A garota que ele amou a vida inteira.