Ponto Final escrita por alê


Capítulo 1
Querida Elisa


Notas iniciais do capítulo

Heey.



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Querida Elisa,

Eu sinto sua falta.

Eu poderia começar escrevendo algo mais clichê que isso? Não, e ainda assim, continuaria sendo verdade. Eu sei que você odeia clichês – ops, odiava! –, mas eu acho que você acabou caindo em um quando decidiu tirar sua própria vida e me deixar para trás. Poderia querer um final mais batido que esse?

Eu acordo todo dia de manhã e me pergunto por que você não lutou mais; por mim, por seus pais, por seu pequeno irmãozinho. Por você mesma, poxa! Eu não te dei motivos suficientes para continuar vivendo? Eu não te apoiei em cada segundo do seu sofrimento? Eu não permaneci com você e te aconselhei em cada mísero momento de desespero?

Eu sei, sim, como você se sentia sufocada! Lembro-me bem das conversas que tínhamos em plena madrugada, quando você me ligava chorando e dizia que precisava conversar. Na hora eu parava o que estivesse fazendo e corria para a sua casa, porque eu sabia que você precisava de mim – e não importava se eu estava pronto para sair ou ainda usasse as roupas de dormir, lá estava eu, entrando por sua janela e te consolando até o dia amanhecer.

Eu devo ter feito algo de errado, não? Talvez eu somente não fosse o suficiente pra você. Porque você era uma pessoa tão incrível, com tanto potencial, e não conseguia enxergar isso de nenhuma maneira.

Eu sei o que você me diria. Sei bem. Não tenho potencial pra nada. Não tenho vontade de nada. Só quero sumir. Parar essa dor, sabe?

E mesmo que eu não entendesse o sentido mais profundo de suas palavras, eu sabia que o que você sentia era verdadeiro; nunca fez nada pra chamar atenção. Era a depressão te consumindo, dizendo-te que não era bonita, que não era capaz. Dizendo-te que não era nada! Mas minha querida Elisa, cada um é bonito do seu próprio modo e cada um encara a vida de suas próprias perspectivas. O que me entristece é que você decidiu que minha ajuda não era suficiente e somente botou um ponto final em sua história, que poderia acabar virando um belo livro – e agora nada mais é que a crônica da garota que tirou sua própria vida.

E agora mais do que nunca consigo entender sua perspectiva: eu sofro a cada mísero segundo que me lembro de que vou atravessar os portões da escola e não verei seu sorriso pequeno me alegrar o dia. Choro por todas as memórias que poderíamos ter criado juntos, e sinto, muito lentamente, a depressão invadindo meu ser como um câncer que consome um corpo, deixando-o tão debilitado quanto possível.

É, afinal, por isso que estou escrevendo esta carta.

Acordei hoje, já depois do meio-dia – e você mais que ninguém sabe que isso não é de meu costume –, minha mãe gritava na porta do quarto, dizendo que queria conversar. Deu-me um sermão e milhões de motivos para continuar existindo, apesar de todo o sofrimento que eu vinha passando com sua ausência. E como um estalo em minha mente eu acordei para a realidade. Estava me afundando nas mesmas coisas das quais tentei te salvar – em vão.

Quando esse estalo estão soou, todo o meu mundo pareceu parar e então girar loucamente. Percebi o que tinha de fazer: dar um ponto final a isso de uma vez por todas. Continuaria sofrendo por você, mas seguiria em frente, como todos fazem. Afinal, de que adiantaria todas aquelas palavras ditas a você se elas não se aplicassem a mim mesmo? Estaria eu sendo hipócrita demais.

Este é o real ponto final desta história que você deixou sem terminar, Elisa. Pois é, você decidiu se arrancar do mundo e levou um pedaço meu contigo. Um pedaço que eu jamais recuperarei e, no entanto, posso viver sem ele.

Com todo o amor do mundo,

De seu melhor amigo, aquele que foi deixado para trás. Porque ser deixado para trás é sempre é a pior opção. Mas eu nunca vou te esquecer, meu bem.

Durma com os anjos.


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Notas finais do capítulo

Sempre fico feliz com opiniões, mas não exijo nada. Já me alegra saber que tem alguém lendo :D
E obrigada por ler, a propósito.



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