Do Seu Jeito escrita por Anita


Capítulo 10
Confiança


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo atualizado! Faltam ainda alguns para o final, mas caminhamos para o clímax da história. Por isso, alerto para um capítulo mais tenso que o normal. :X E não se esqueçam de comentar, comentários fazem o autor feliz!



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Erguendo o braço lentamente, Lucy percebeu que temia ser tudo um sonho e que qualquer movimento brusco a pudesse acordar. Lantis e ela estavam se beijando. Aquela boca roçando contra a sua era a dele. E seu corpo, cada vez mais próximo. Ela também queria tocá-lo mais, por isso passou a mão por seus cabelos, por sua nuca, por seu maxilar, por sua bochecha e de volta a seus cabelos...

Aos poucos, a realidade lhe retornava amarga. Era ótimo fingir que bastavam aquelas promessas para se considerarem casados, e ela não mentira quando dissera ser possível aquilo. Mas ainda tinham que lidar com o fato de que nunca poderiam ir à prefeitura anunciar aquele casamento. Então, qual a validade?

Afastando-se aos poucos, sentiu a respiração quente de Lantis contra seu nariz e não conseguiu distinguir se a emoção que lhe subia era vontade de rir ou de chorar. Optou pelo primeiro, afinal, ao que tudo constava, ela havia acabado de se casar com aquela pessoa. E sorriu.

Lantis segurava agora sua cabeça com as duas mãos e mexia com seus cabelos, a trança já quase desfeita.

– Como diremos a Clef quando voltarmos? — Lucy perguntou com a voz ainda como se houvesse acabado de acordar, tão anestesiado seu corpo se encontrava. Arrependeu-se da pergunta tão logo a fizera, mas não fazia sentido voltar atrás: aquela sim era uma questão que deveriam resolver.

– Não importa o que ele pensa.

Aquela pessoa à sua frente nunca fora de dizer tudo nos mínimos detalhes. Não, Lantis usava era palavras de menos. Mas a resposta dada estava carregada de significados que surpreenderam Lucy e a fizeram engolir seco.

Para sua surpresa, Lantis pareceu haver percebido a agitação e acabou por se explicar melhor:

– Confesso que aceitei vir com vocês porque queria vigiar o que minha mãe estava planejando por aqui; não foi pra aborrecê-lo, nem nada assim. Mas sei que é errado eu chegar a este ponto. — Ele olhou por um tempo para baixo, como se contemplando seu erro. Então, abraçou-a, puxando seu corpo gentilmente contra o dele próprio. — Estou feliz agora que encontrei um motivo maior para estar aqui.

– Mesmo que a dona Liana tenha algum outro motivo para vir, ela realmente te ama muito, Lantis. Você pode acreditar nisso! Então, ela pode ter a intenção que seja em voltar pra Zefir, nada muda que ela te ame.

Ao olhar para cima, Lucy notou que o rapaz mordia o lábio inferior e voltava os olhos para os livros de antes. Não, para um livro em particular, um fechado em meio aos dois com poções, o qual ela agora reconhecia. Já o havia visto na biblioteca antes, era da coleção de anotações do chefe dos gurus que relatava o fenômeno da esfera negra.

– Ué... — ela disse, afastando-se do... poderia chamá-lo de marido? Era muito estranho. Talvez, fosse melhor continuar a considerá-lo seu namorado? Precisava decidir para si mesma essa questão.

– O que houve? — Lantis perguntou quando ela, perdida em pensamentos, nada mais disse.

– Ah. Este livro. Por que você o trouxe? Não são aquelas anotações de antes do fenômeno?

– Eu o acabei pegando mesmo assim.

É, Lucy também se lembrava de Lantis decidindo levá-lo apenas para ter certeza. Não era como se possuíssem alguma outra pista. Bem, não possuíam à época, mas agora...

– Não é melhor seguir a pista da Anne? De que possa ser um feitiço?

– Não foi por isso que eu o trouxe. — O rapaz caminhou até a cama e pegou o livro amarelado para mostrar a Lucy. — Por coincidência, este feiticeiro já esteve aqui no passado.

– Sério? Nossa, que legal! Bem que aquele senhor disse que já tinha tido gente do palácio aqui, né? E o que ele fala daqui? Aconteceu algo importante? — Ela inclinou a cabeça sobre as folhas enquanto falava, mas era impossível ler os rabiscos, então, só podia esperar pela tradução.

– Não. Só menciona haver uma cachoeira aqui perto, aonde ele levou o pilar, e uma planta que supostamente só existia nesta região.

Lantis exibiu desenhos detalhados tanto do mapa para a cachoeira quanto de uma folha, mas não havia como dizer o que de especial. Mas visitar a cachoeira poderia ser um bom passeio para o dia seguinte.

– Ué, pilar? — perguntou ela, percebendo a que ponto a explicação devia estar querendo chegar.

– Eu estranhei quando comentou que nenhum nunca veio aqui, mas imagino que o pilar não haja se identificado. Ademais, isto foi há muito tempo, não sei se a hospedagem já existia.

– Então, ele e o pilar vieram até essa cachoeira? Será que é bonita?

Lantis assentiu apenas para a primeira pergunta, não parecendo interessado na segunda.

– Você quer conhecê-la?

– Sim! Aposto que a dona Liana vai gostar de saber dela. E as meninas também. — Lucy sorriu. — Mas é normal o pilar viajar por aí? Não é perigoso?

– Não realmente, desde que ele continuasse a orar pelo bem de Zefir. Lembro-me de a princesa Esmeralda haver viajado comigo uma vez, quando ela queria visitar um povo bem distante. Ela também já foi com Clef algumas vezes numa espécie de retiro espiritual. E com meu irmão... - Nenhuma razão foi dada por Lantis, quem apenas deixou a voz morrer.

Lucy sentia-se acanhada demais para perguntar, já imaginando que, não importando a razão, no fundo, os dois só deviam estar felizes por poderem ficar juntos um do outro. Ou talvez, estivessem tão ansiosos quanto ela, pensando em todos os problemas avançando sobre eles.

Enquanto refletia, sentiu a mão de Lantis apertar a sua. Um toque quente, firme. Era difícil não sorrir com a onda de alívio que aquele gesto lhe provocava. Teriam se beijado mais uma vez, não fosse um barulho estranho vindo do canto da parede, onde estavam as coisas de Lucy.

– Acha que há monstros por aqui? — perguntou a guerreira mágica, percebendo que ainda não conseguia olhar diretamente para Lantis.

– Não é uma região com muita ocorrência. — Ele seguiu exatamente para de onde pareciam se originar os sons.

Ou melhor, batidas.

– Ué... eu só trouxe uma bolsa — Lucy explicou. Em seguida, ajoelhou-se em frente às bolsas e puxou para si a que reconhecia ser a dela. — Eram só três dias, não tinha por que trazer mais.

Antes que pudesse mexer na segunda, que agora parecia pular sozinha, sentiu Lantis ajoelhar-se a seu lado.

– Bem como eu desconfiava — disse o rapaz antes de abrir o objeto.

Algo branco e oval pulou de dentro em direção a Lucy, derrubando-a sentada no chão.

– Pu pu, pupuuu! — exclamou Mokona, como se fosse um mágico no fim de seu número.

– Você se disfarçou entre minhas coisas para me assustar, né? Nossa, eu não fazia ideia! — disse a menina, abraçando-o. — E que surpresa!

– Puuuu!

Lucy afagou-lhe a cabeça e disse:

– Sinto muito por demorar a te perceber. Estava nervoso, né?

– Pu. Puuuu...

– Sinto muito, Mokona!

Afundando a cabeça no pelo macio do animal, ela repetiu o pedido mais algumas vezes. Apenas parou quando sentiu um olhar sobre si e se lembrou da presença de Lantis, ainda ajoelhado logo ao lado. Ele estava sorrindo para ela? Podia ser só impressão, pois agora ele não parecia fazer nada além de observar a cena.

– Pu pu puuuu! — Mokona também pareceu haver se dado conta do moço e saltou em direção a seu colo.

Quando Lucy começava a sentir-se sem jeito pelo silêncio, mais um som interrompeu o casal. Mais batidas. Desta vez, batidas urgentes à porta. Anne havia tido mais um sonho.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Seguindo Lucy pela floresta, Lantis olhou ao redor pelos caminhos sobre os quais havia lido nas anotações. O lugar não havia mudado nada, era a impressão que tinha. Quatrocentos anos e ninguém realmente se interessava por aquele lugar, mesmo agora que tantos estrangeiros vinham a Zefir para aproveitar sua tranquilidade, aquele lugar continuava fora do mapa.

– Tenho certeza de que a vi por aqui! — disse Lucy, apertando um lábio contra o outro e puxando seu pulso para andar mais rápido. — Será que ela mudou de direção?

– Não precisamos realmente que minha mãe esteja presente — ele arriscou sugerir.

Todos haviam aceitado aguardar por Liana na entrada do hotel, enquanto Mokona permanecia no quarto. Contudo, Lucy era a única a insistir que sua mãe deveria participar.

Em resposta àquela sugestão, ele apenas recebeu um olhar de aviso. Aquela garota realmente havia gostado de sua mãe, não importava o quão suspeita Liana agia. E a lista de desconfianças estava ficando imensa.

– Lucy. — Lantis parou bruscamente.

O braço dela se esticou e voltou até ele em um movimento aparentemente doloroso, que o fez se sentir culpado, apesar de não ser ele quem a estava segurando.

– Não vamos deixá-la de fora! — Lucy avançou sobre ele com as sobrancelhas quase juntas de tão carregadas. Era incomum a oportunidade de vê-la zangada assim.

– É que eu sei onde ela está. — E apontou para de onde conseguia sentir a energia de Liana.

O rosto de Lucy tingiu de um rubor intenso; tudo o que ela pôde responder àquilo foi:

– Ah.

Após corrigirem um pouco a rota, enfim podiam ver os movimentos das folhagens. Enfim, encontraram Liana sentada ao chão, exibindo uma expressão perdida.

Como Lucy pareceu hesitar interromper aquele momento, Lantis decidiu elevar a voz.

– Mãe? — chamou sem obter qualquer reação. — Mãe?

Por fim, Liana ergueu os olhos na direção do casal e sorriu vagamente. Era difícil saber no que poderia estar pensando, sentada daquela forma no meio do mato.

– Vocês já viram esta planta? — A mulher mais velha apontou para as várias folhagens que a cercavam.

Não havia nada de especial em seu formato ou cor. Não havia nem sequer uma flor que a tornasse especial.

– Não é aquela!? — Lucy respondeu sem esconder a excitação. Então, ajoelhou-se ao lado da outra mulher e estendeu a mão cerimoniosamente até tocar as folhas.

– Você a conhece? — Liana perguntou com a testa levemente florida, enquanto seus olhos acompanhavam os movimentos da mais nova.

– Eu estava falando a Lucy sobre a planta que só pode ser encontrada aqui. Arinyum.

Sua mãe sorriu para confirmar, mas ainda restava a sensação vaga que vinha de seu olhar.

– Ela mesma.

– Que bonita! — exclamou Lucy, ainda concentrada na planta. — Mas acho que nem sei dizer esse nome.

– Bem, é basicamente o que este lugar tem de mais diferente. Além da tranquilidade. —Liana sorriu antes de se levantar e olhar para Lantis como quem dissesse que o assunto havia acabado.

Mas Lucy permanecia absorta.

– Quando vi o desenho, ela pareceu normal mesmo. Mas agora de perto... Tem um brilho tão bonito!

– Acha? — perguntou Liana, inclinando a cabeça.

Lantis também não conseguia perceber nada assim, mas aprendera fazia tempo o quão especial era o olhar de Lucy.

– Mas, afinal, por que estavam me procurando? Já é hora do jantar? — Liana levou um dedo aos lábios. — O dono disse que tocaria um sino, pra eu não me preocupar que conseguiria ouvir de longe.

A pergunta pareceu acordar Lucy de sua admiração à planta e lembrá-la da razão para ali estarem.

– Dona Liana, faremos uma reunião urgente... Eu sinto muito, é bem no meio do seu passeio, mas é que algo aconteceu.

– Mais um ataque? Aqui!? — perguntou-lhe ela, olhando direto para o filho com preocupação estampada em suas feições.

Ele se encolheu quando Liana tocou em seu ombro ferido no ataque. Não era porque ainda doesse. Mesmo sabendo o quanto ela se importava com seu bem-estar, mesmo presenciando aquele gesto, Lantis não conseguia confiar naqueles sentimentos da forma como Lucy lhe havia pedido.

– Não, nada assim — respondeu ele rapidamente, antes que a mãe começasse a investigá-lo em busca de mais ferimentos.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

– Não podemos ir embora assim! — Liana olhou ao redor. Uma roda havia se formado logo próxima à entrada da hospedagem e todos pareciam haver já concordado que precisavam retornar ao palácio o quanto antes. — Olha, Lantis deve estar exausto de ter que nos transportar. E já está quase um breu aqui fora, não é? Também, qual a diferença de chegarem exaustos agora e descansados amanhã?

Sentiu o filho impulsionar o corpo para frente como se fosse dizer qualquer coisa, mas Lantis desistiu no instante seguinte e apenas lançou um olhar discreto para Lucy.

– Essa é uma magia forte, né? — Marine a interrompeu de modo hesitante. — Bem, eu tava pensando aqui... quem quer que esteja fazendo o feitiço... Não deve haver muitos capazes. Acho que Liana está certa; é melhor pensarmos bem no que diremos a Clef.

Aquela guerreira mágica não podia estar cogitando o que parecia estar. Sem considerar a melhor forma de negar aquilo, Liana se adiantou.

– Mas que ridículo desconfiar de Clef. Ele nunca faria algo assim! — E buscou a ajuda de Lucy para dissuadir a amiga.

Mas nada veio em resposta.

– Ele deve ter suas razões, Marine — foi Anne quem falou no lugar, e não era nem um pouco o que Liana esperava. — Se conversarmos com calma, conseguiremos entender por que ele faria isso.

– Conversar? Sobre o quê? — Liana ouviu seu coração disparar. Clef nunca realizaria um feitiço daqueles, ele nunca poria Zefir em perigo deliberadamente. — Não há o que conversar se não foi ele — declarou inflexível. — Lantis, o que acha?

Mais uma vez, ela recebia silêncio em resposta. O silêncio que só fazia sua cabeça parecer ainda mais quente e sua boca mais seca.

– Vamos, Lantis... — tentou pedir com a voz mais calma que podia fazer, mas o som tremia em seus lábios. — Você me jogaria à fogueira antes de desconfiar de Clef. Não é mesmo?

– Dona Liana! — Lucy havia enfim falado algo. Os olhos da mais baixa do grupo iam entre ela e Lantis, como se o que acabara de ouvir fosse um crime.

Após limpar a garganta, Liana esforçou-se para exibir seu melhor sorriso e acalmar a mais jovem.

– Não precisa defendê-lo, Lucy. — E olhou para o filho, quem apenas observava o diálogo pensativo. — Lantis não me conhece mais, não desde que o deixei em Zefir daquela forma. Eu o traí.

A guerreira mágica começou a balançar a cabeça, pronta a replicar, mas Liana levantou a mão para que aguardasse.

– O que quero dizer é que quando fui embora daquela forma tão egoísta e injustificada, as pessoas com quem Lantis podia contar neste mundo passaram a ser apenas Clef e Zagato. Estes nunca o trairiam. Lantis pode acreditar. Clef nunca faria isso. Não um feitiço perigoso como esse.

Ela não queria adentrar mais o assunto, mas naquele dia em que deixara Zefir com Zubo, seu companheiro Zubo, apenas tivera forças de seguir em frente porque sabia que seus tesouros estavam em mãos muito melhores que as dela. Clef seria o porto seguro daqueles dois, a terra firme com eles poderiam contar para lhe mostrar o melhor caminho sempre. Lantis não se sentiria abandonado tendo uma figura tão firme como Clef ali.

E agora Lantis estava desconfiando da única coisa que fazia Liana achar que fizera o melhor por ele quando o abandonara naquele dia. Seu estômago se revirava ao olhar para o filho em completo silêncio. Por favor, não se faça isso, Lantis. Confie em Clef. Acredite nele.

– Exatamente, o quão poderoso é esse tal feitiço? — perguntava Marine quando Liana voltou a si. O assunto já havia mudado.

– É... não sabemos de nada ainda — respondeu Anne, parecendo se culpar por isso. — Mas a dona Liana tem razão. Que tal descansarmos e amanhã voltamos ao palácio. Não me parece seguro viajarmos nesta escuridão.

– E minha barriga tá roncando bastante aqui! — acrescentou Ferio com um sorriso sem graça.

– Isso! — Liana ergueu um dedo e usou o melhor tom de mãe que podia fazer, apesar do tanto de tempo que não mais se considerava assim. — Estamos cansados, com fome... Vamos ver se a janta já tá pronta, vamos! — E começou a empurrar as costas de Marine e Ferio em direção à entrada da hotelaria.

Após ver Anne também seguir o grupo, Liana passou a andar com eles, mas ainda olhou para trás, onde um casal remanescia. Não tinha mais forças para falar com eles, então, só poderia esperar que logo ambos se juntassem a todos.

Percebeu o olhar que trocaram sem conseguir entender aquela comunicação secreta. Liana mordeu o lábio inferior e decidiu deixá-los. Mas antes que pudesse se recompor para retornar ao grupo, um gesto do casal a surpreendeu. Lantis havia estendido a mão até a de Lucy, quem mantinha o olhar baixo, e agora ele a puxava gentilmente para si.

Aquela cena mexeu com Liana ainda mais que toda a conversa.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Ela realmente estava contra tudo aquilo, né? Enquanto todos seguiam em direção ao salão de Clef, Marine olhou de novo para trás. Liana agora se afastava do grupo e andava a passos largos até entrar em outro corredor e sumir.

Por que não conseguia ter a mesma confiança que Liana depositava em Clef? Pelo contrário, havia sido a própria Marine quem pôs em voz alta o que até mesmo Lucy parecia vir pensando: qual outro feiticeiro teria essa capacidade? Askot? Ha! Ele podia ser um amor de pessoa, mas não era preciso entender de magia para saber o quanto aquilo estava fora de seu domínio.

Lantis não havia dito nada desde aquela conversa antes do jantar, nem mesmo enquanto a levava até o palácio, ou quando Marine reunira toda sua coragem para perguntar o que ele achava. O namorado de Lucy apenas disse que Clef tinha o poder para isso e que conhecia diversos feitiços não encontráveis em livros. Como aquele. Não que Lantis houvesse dito a última parte, mas nem precisava. Ele também não precisava dizer o quanto estava desconfiado não obstante as insistências da mãe.

– Marine, vamos logo — Ferio pediu, olhando até ela e apontando para a enorme porta se aproximando.

Descansar durante a noite havia sido claramente uma ideia idiota. Todo mundo, sem qualquer exceção, parecia haver passado em claro a julgar pelas olheiras. Mesmo Liana se revirara tanto no quarto que compartilharam que não tinha como ela haver dormido.

Clef... Por quê? Por que o nome dele continua dançando na frente de todos? Liana tinha razão, eles deveriam confiar a ponto de terem certeza de que havia outra explicação para tudo. Ainda assim, Marine sentia que algo estava errado com Clef, que ele estava sim envolvido em tudo. Porque, mais que ninguém, ela vinha atenta para ele.

Não que isso pudesse virar argumento na iminente confrontação.

– Aí estão vocês! — Rafaga foi o primeiro que Marine viu dentro da sala. O comandante da guarda vinha marchando até elas e parecia procurar para quem apontaria o dedo incriminador já levantado. — Vocês não entenderam nada mesmo da última conversa que tivemos? Fazem ideia de como foram inconsequentes!? — Ele pareceu escolher apontar para Lantis, quem não fez qualquer menção de incômodo com o gesto.

– Sinto muito. Guru Clef... — disse Anne, curvando o corpo no ângulo apropriado na direção do mago. — Mas precisamos conversar sobre uma questão mais urgente.

Clef levantou-se de sua cadeira e balançou a cabeça.

– Eu é que sinto muito, Anne. Mas creio que já esteja na hora de vocês retornarem a seu mundo. — Seus olhos pareciam se fixar cada hora em uma das guerreiras mágicas. — Quero que retornem o mais rápido possível, antes que algo irreversível ocorra. — Por fim, ele encarou Marine. — Encarem como uma ordem para que fazem o possível nesse sentido.

Ela queria gritar e protestar essa decisão, mas aqueles olhos a congelavam. Seu corpo sentia-se como se algo o puxasse para baixo. Mas não iria chorar. Não ali na frente de todos. Não quando Zefir estava em crise e lhes havia pedido ajuda na forma de Windam. Havia coisas mais importantes que um coração partido.

E como que para provar aquela sua conclusão, a sala ficou repentinamente silenciosa. Era tal qual não houvesse mais ninguém ali. Mas, se olhasse melhor, todos ainda estava bem de pé a seu lado. Só pareciam distantes... Estaria em alguma outra dimensão?

Um assobio. Não algo mais alto. Mais forte. De repente, lá estava bem à sua frente, vindo na direção do grupo: a tal esfera negra. Não era uma reação pensada, ela sequer fazia sentido. Em vez de se jogar ao chão para evitar sofrer uma colisão com o objeto que se aproximava, ela se jogou contra onde lembrava estar Clef, em alguma esperança reflexiva de poder protegê-lo.

Patético.

Ela não o achava o culpado? Então, por que achava também que o feitiço poderia feri-lo?

Enquanto pensava assim, ouviu gritos. Era a voz de Lucy. Ela parecia estar gritando de dor. Muito alto. Mas tudo o que o corpo de Marine conseguia fazer era segurar forte o corpo que acreditava ser de Clef, assegurar-se de que ele não estava no meio de onde a bola agora estava parada.

Olhando para a esfera, Marine contemplou a silhueta de Lucy aparecer translúcida e subir no ar lentamente com a bola. E subir mais. Mais.

Ela vai ser levada!

Marine apertou Clef mais forte.

Quando ela achou que realmente ficaria ali assistindo a amiga desaparecer sem fazer ideia de como salvá-la, ouviu a voz de Lantis ressoar firme. E brava. Ele pronunciava palavras que não faziam qualquer sentido.

No momento seguinte, era como se a tal dimensão não houvesse existido. Conseguia ver todos de novo. Rafaga de pé bem no meio da sala. Ferio segurando Anne. Lantis ajoelhado com agora apenas o cabo de sua espada mágica em mãos. O corpo desfalecido de Lucy bem à sua frente. E bem apertado em seus braços estava aquele que seu corpo reflexivamente considerara mais importante que qualquer outra pessoa naquela sala: Guru Clef.

Percebeu que Lantis levantou-se da posição em que estava e agora caminhava na sua direção. Iria brigar com ela pelo que fizera, né? Todos sabiam que aquela esfera mirava Lucy em seus ataques. Anne fora segurada por Ferio, mas Marine podia ter feito algo...

Ela notou que era sua cabeça lhe pregando peças mais uma vez, pois Lantis agora apontava diretamente para Clef.

– Clef, você ia mesmo assisti-la ser levada por aquela esfera!?

Aquela era provavelmente a primeira vez que via Lantis tão aborrecido. Mas a raiva não lhe tirava a razão das palavras...

Marine apertou um lábio contra o outro e reafirmou o abraço que ainda mantinha sobre Clef. A sensação de que ele poderia sumir a qualquer momento retornava com força. Não entendia como a esfera havia sumido, mas Clef não era uma pessoa normal como ela. Ele era, provavelmente, o mago mais poderoso de Zefir. Com certeza, poderia ter feito aquele mesmo feitiço para salvar Lucy.

Continuará...

Anita


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Notas finais do capítulo

Demorei muito mais tempo para revisar este capítulo que gostaria, mas aí está! Acho que este capítulo só teve cenas tensas, né? O que estão achando dos rumos da história? Vale a pena continuar lendo e esperando eternamente pelas atualizações? Espero que sim… Sejam pacientes, por favor!

Agora que aconteceu outro ataque, mas eles já sabem bem mais sofre o fenômeno que antes, será que poderão usar isso como chance para descobrir tudo que está por trás da esfera negra? :x

Por favooor, não deixem de comentar, eu adoro ouvir suas opiniões *_* E para mais fics minhas, visitem meu site Olho Azul!



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