Riptide escrita por Raven


Capítulo 1
Prologue - 221 Baker Street


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, é minha primeira vez escrevendo (e postado) então espero que gostem, yay!
Gostaria de agradecer a Leithold (do WD) pela capa maravilhosa e os elogios mais maravilhosos ainda kfzsigkzsg
xx raven



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Encontrar uma única pessoa dentre as dezenas de milhares que habitavam Londres havia se provado ser uma tarefa mais árdua do que aparentava a princípio. A situação se tornaria um pouco mais fácil caso a pessoa procurada fosse um detetive famoso cujo o rosto estava estampado em praticamente quase todos os jornais de Londres – ainda assim, para uma garota que não estava acostumada ao caos da cidade que nem Raven, dava no mesmo que procurar uma agulha específica em um palheiro feito de agulhas.

Fazia cerca de seis horas desde que havia colocado os pés na movimentada cidade britânica, e nesse curto intervalo de tempo já havia conseguido realizar a proeza de se perder três vezes, pegar um taxista charlatão e perder todas as suas bagagens.

Agora, parada em frente à uma porta de mármore esverdeada e com os números 221B talhados na madeira de modo espalhafatoso, Raven alternou o peso de seu corpo entre uma perna e outra, nervosa. Retirou então do bolso de seu casaco um papel amassado e checou o endereço uma última vez.

"221B Baker Street, Londres".

Não havia erro – estava, para seu alívio, no endereço correto.

Raven respirou fundo e abaixou-se para pegar uma pequenina bagagem de mão com seus pertences mais importantes – a única que havia conseguido evitar de ser roubada pelo taxista – e ergueu a mão, dando três batidas de leve na porta e afastando-se um pouco em seguida. Poucos segundos depois, a porta, que estava deveras desgastada e com sinais de arrombamento em diversos lugares diferentes, abriu-se com um rangido irritante, revelando uma figura pequena e magra. Tratava-se de uma senhora elegante, na casa dos sessenta anos, e que segurava um jornal velho em mãos. Com feições delicadas e roupas finas, Raven cogitou a possível probabilidade de ter errado o endereço. De novo.

— O que deseja? — a senhora perguntou, abrindo um sorriso amigável logo em seguida e movendo-se um pouco para o lado, o que fez um colar de ouro em formato de cruz saltar de dentro do seu vestido.

"De todas as casas em Londres, a ateia aqui tinha que bater justamente na porta de uma cristã" observou Raven ironicamente. "Alguém lá em cima está definitivamente tirando uma com a minha cara."

— Eu procurava pelo senhor Sherlock Holmes, mas acho que cometi um erro. — disse a garota sem jeito, já preparando-se para dar meia volta e retomar sua busca. — Sinto muito.

— Não seja por isso, minha querida. — a senhora fez pouco caso, agarrando Raven pelo casaco e puxando-a para dentro do apartamento. — Sherlock mora no segundo andar, juntamente com o senhor Watson. Se bem que John não se encontra no momento. Você sabe, Sherlock é um gênio, mas sempre acaba se esquecendo de coisas banais como comida, e o pobre John sempre acaba tendo que fazer as compras. — ela continuou tagarelando, e Raven achou graça da disposição da mulher. — A propósito, meu nome é Mrs. Hudson, e você seria...

— Raven, senhora. — disse com um sorriso nos lábios.

— Um nome lindo para uma menina tão linda quanto ele. — Mrs. Hudson elogiou, e Raven pôde sentir suas bochechas ficarem quentes quase que imediatamente. — Espero que seja uma cliente, pois as coisas estão meio paradas ultimamente. Aposto que só uma garota bonita como você ou um bom caso de assassinato poderiam animar Sherlock. Se bem que, você sabe, tenho certeza absoluta de que ele já está em um relacionamento com o senhor John. — Mrs. Hudson sussurrou a última parte, como se fosse um segredo que Raven devesse manter a todos os custos.

Ironicamente, assim que a senhora concluiu seu pensamento, a porta de casa se abriu mais uma vez, e de lá saiu um homem razoavelmente baixo, com cabelos cor de areia um tanto grisalhos e olhos que se focaram em Raven quase que instantaneamente.

— Uma cliente, eu assumo? — perguntou enquanto pendurava seu casaco e tentava equilibrar a sacola de compras em outra mão.

— Raven White, prazer. — apresentou-se, estendendo sua mão para o homem logo em seguida.

Não foi preciso muito para Raven deduzir que aquele era John Watson – sendo sincera, até a mais ignorante das pessoas conseguiria fazer isso sem dificuldades. Para uma pessoa comum com uma mente ignorante, à primeira vista John Watson era apenas um simples ajudante do detetive mais famoso de Londres e um blogueiro respeitável. Raven, no entanto, não era uma pessoa comum com uma mente ignorante; ela era brilhante. Foi preciso apenas alguns segundos para, em sua mente, ela organizar todas as informações que ela havia adquirido. Pelo modo como se portava e o corte de cabelo sem um fio fora do lugar, era claro que John fazia parte do Exército. Com uma estatura relativamente baixa Raven ponderou se ele conseguiria ou não carregar algum armamento pesado, mas logo desconsiderou a opção de John Watson ter sido um soldado quando o mesmo abriu a boca. Sua linguagem era formal e polida, logo, médico do Exército.

Raven estava começando a se animar consideravelmente com aquele jogo de recolher informações quando John voltou a falar com ela, dirigindo-se às escadas.

— Meu nome é John Watson, mas pode me chamar de John. — ele disse gentilmente. Raven sentiu vontade de comentar que já sabia daquilo, mas permaneceu calada. — Tenho certeza que Sherlock ficará animado com um caso novo. Ele anda um pouco... Entediado ultimamente.

Raven preparou-se para responder alguma coisa, mas ao mesmo tempo em que abriu a boca, um enorme barulho preencheu todo o cômodo. Era como se alguém estivesse disparando balas dentro do pequeno apartamento, mas é claro que aquele não poderia ser o caso.

— Pelo amor de Deus, o que Sherlock está aprontando dessa vez? — John resmungou, seu rosto retorcendo-se rapidamente em uma carranca. Ele subiu os degraus de dois em dois, abrindo a porta de seu escritório com Sherlock Holmes com uma expressão apavorada.

Mais duas balas foram disparadas, quase ensurdecedoras devido à pequena distância em que se encontravam do atirador. O homem, irritado, disparava inconsequentemente contra o desenho de uma carinha sorridente pintada na parede, que estava cheia de buracos de tamanhos diversificados. O papel de parede elegante estava agora reduzido à frangalhos e o reboco da mesma estava um pouco à mostra.

— SHERLOCK! — John gritou, fazendo tanto o sujeito que, pelo visto, deveria ser Sherlock Holmes quanto Raven olharem automaticamente em sua direção. Boquiaberta, Raven simplesmente não conseguia acreditar que havia juntado todo o seu dinheiro para a faculdade e vindo para essa cidade infernal para consultar um louco que atirava nas paredes em seu tempo livre. Se a garota não conseguia acreditar que o dia pudesse ficar pior, isto acabou de acontecer. — O que você pensa que está fazendo atirando na maldita parede?

— Eu estou entediado, John! — Sherlock bateu os pés no chão como uma criança mimada. — Entediado, entediado, entediado! — reclamou, atirando mais três vezes com uma mira perfeita e largando a arma sobre o sofá, como se fosse um brinquedo.

Se bem que, dando uma boa olhada no tal Sherlock Holmes, Raven não duvidava muito que o homem tivesse a mentalidade de uma criança birrenta de cinco anos. Usando pijamas e um longo robe de cetim azul por cima, Sherlock jogou-se em uma pequena poltrona de couro desgastada, completamente alheio à presença de Raven no cômodo.

— Você solucionou um caso hoje de manhã! — John disse com uma voz de barítono. — De qualquer modo, temos uma cliente. — ele apontou na direção de Raven, o que fez a cabeça de Sherlock erguer-se rapidamente e seus olhos procurarem de maneira ávida pela garota. Um sorriso espalhava-se pelo seu rosto, e Raven não conseguia saber dizer se aquilo era bom ou ruim.

— Uma cliente! Essas são notícias maravilhosas, John! Porque não me disse antes? — Sherlock comemorou, levantando-se da poltrona e caminhando na direção da menina.

Sherlock Holmes é um homem complicado, pensou Raven ao observar o detetive da Baker Street.

Sherlock era consideravelmente mais alto que John, com aproximadamente um metro e oitenta de altura, e uma pele tão pálida que Raven conseguia ver suas veias esverdeadas sobressaindo-se mesmo daquela distância. Seus olhos azuis eram tão límpidos quanto um dia de verão sem nuvens, e os cachos negros indomáveis estavam jogados pelo rosto de modo descuidado. Entretanto, com o robe azul esfarrapado e as profundas olheiras que apenas serviam para destacar mais seus olhos, era como se ele não dormisse a dias – ou tomasse um banho, diga-se de passagem.

— Que seja, eu vou pegar um pouco de chá. — John fez um sinal de "tanto faz", logo girando em seus calcanhares e rumando em direção a uma porta estreita no meio da sala que Raven julgou ser a cozinha.

— O que a traz aqui, garota? — Sherlock perguntou curiosamente, estudando-a do mesmo modo em que ela o estudava.

Depois de alguns segundos, ela enfim decidiu se pronunciar.

— Eu procuro pelos meus pais biológicos já faz alguns anos, mas não consigo encontrá-los de forma alguma. — Raven suspirou, sentando-se em uma pequena poltrona de frente para Sherlock e abrindo rapidamente sua bolsa, tirando dúzias e mais dúzias de papéis de dentro dela. O detetive observou enquanto a garota praticamente esvaziava o conteúdo de sua bolsa em cima da pequena mesinha de centro, mas não disse sequer uma palavra. — E foi então que eu me deparei com um blog sobre você na internet e pensei: "ora, porque não?".

— Deixe-me adivinhar: Blog do Dr. John Watson? — Sherlock arqueou uma sobrancelha ao mesmo tempo em que ela balançava sua cabeça afirmativamente. — Pelo amor de Deus, eu não consigo acreditar que as pessoas realmente leiam o seu blog! — ele gritou na direção do amigo, que acabava de colocar uma cabeça para fora do outro cômodo.

— Ninguém gosta de ler sobre as diversas classificações do tabaco, Sherlock. — John deu um sorriso travesso, o que fez o detetive rolar seus olhos em irritação.

— De qualquer forma, não vamos pegar o seu caso. Sinto muito, adeus, au revoir! — Ele fez um sinal com as mãos, como se mandando Raven sair do apartamento.

— Senhorita Raven, fique onde está! — John ordenou da cozinha, fazendo com que a garota, que já preparava-se para se levantar, afundasse na poltrona mais uma vez. Era como estar no meio de uma discussão entre marido e mulher (ela só esperava desesperadamente que nenhum objeto fosse sair voando da cozinha em direção ao detetive) — É claro que vamos aceitar seu caso. Sherlock, você estava reclamando a menos de dois minutos que não tinha sequer um caso para resolver, e agora que um aparece, você simplesmente o ignora?

— Eu resolvo crimes, John! Isso é completamente diferente! — Sherlock argumentou emburrado. — Eu não vou atrás de familiares desconhecidos para acalmar o coração de uma garotinha. Não sou o maldito Papai Noel! — o detetive ignorou a existência da cliente (muito indignada, diga-se de passagem) que estava parada bem à sua frente — Até um macaco poderia fazer isso, não tem nada de emocionante!

— Tenho certeza que essa seria uma comparação um tanto injusta com o macaco, senhor Holmes. — Raven, sem delicadeza alguma, disse.

Ela continuou alheia ao que tinha acabado de dizer por alguns segundos, no entanto, ao ver John quase derrubar a bandeja com as xícaras de chá que trazia por causa de uma gargalhada violenta, logo percebeu as duras palavras e foi preciso todo o seu autocontrole para não estapear-se. Antes que pudesse desculpar-se, no entanto, percebeu que aquilo arrancara um sorriso momentâneo de Sherlock.

— Gosto do seu humor ácido. É como ter uma conversa com a versão feminina de John. — ele balançou a cabeça, divertido — Sendo assim, creio que eu possa simplesmente passar os dados de sua adoção para Lestrade e ele irá colocar toda a sua divisão para procurar. Não deve levar menos de uma semana e-

— Não adianta. Acredite em mim, eles não tem dados sobre isso. — Ela disse, dando de ombros.

— Como você pode sequer saber isso? — John se pronunciou enquanto entregava-lhe a xícara, claramente surpreso.

— Por favor, o firewall da polícia de Londres é tão ridículo que eu o invadi usando o computador da universidade. — Raven revirou os olhos, lembrando-se da proeza que realizou há menos de um mês atrás e sentindo o orgulho irradiar por cada canto de seu corpo. Não era todo dia que uma garota do interior aprendia a hackear a polícia usando apenas um livro empoeirado e um pouco de persistência. — Na verdade, devo dizer que fiquei impressionada com o fato de que demoraram exatos doze minutos para me encontrarem lá. Eu apostava que levariam, no mínimo, vinte.

— Impressionante. — John balbuciou — Quantos anos você tem mesmo?

— Vinte e dois. — ela disse, ajeitando uma mecha de cabelo enegrecido que caía pelos seus olhos.

— E o que tem de tão especial com você que aparentemente nem a polícia possui dados sobre isso? — Sherlock estreitou os olhos, deixando pequenos vincos aparecerem ao lado das pálpebras, como se sua mente estivesse trabalhando em algo que ninguém podia imaginar.

Raven conhecia essa expressão. Ela mesma fazia uso contínuo dela.

— Se eu soubesse disso, claramente não estaria aqui desejando contratar seus serviços, não é mesmo?

— Eu gosto dela. — John trocou um olhar cúmplice com a garota.

— Senhorita Raven, eu não imaginava que uma garota como você pudesse mostrar-se tão... — Sherlock tentou encontrar uma palavra para descrevê-la, contudo, apenas continuou encarando Raven como se ela fosse uma espécime rara e, se desviasse o olhar, fosse escapar pelos seus dedos.

Raven inclinou-se para frente, bebericou um pouco mais de seu chá e, com o tom mais inocente possível, disse:

— Brilhante? — ela completou sua frase — Ora, brilhantismo é uma simples questão de ponto de vista, senhor Holmes. — a morena cruzou uma perna sobre a outra enquanto voltava a falar — E então, está dentro deste caso ou não?

Os olhos de Sherlock brilharam com animação, porém, estava claro que o caso pouco lhe interessava. Decifrar o mistério que era aquela garota, isso sim seria um bom desafio. O detetive inclinou-se para frente, uniu as mãos em frente ao seu rosto e abriu a boca para se pronunciar, no entanto, sem qualquer aviso prévio, Mrs. Hudson colocou a cabeça pela porta de entrada e, observando o estado da parede, ralhou:

William Sherlock Scott Holmes, o que houve com a minha maldita parede?


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Notas finais do capítulo

HEY! Espero que tenham gostado e, se esse foi o caso, deixem um comentário por aqui. Senão, deixem mesmo assim dizendo onde eu devo melhorar. Obrigada por tudo babies
xx raven