SAO - After History 50 years later escrita por Letsch


Capítulo 1
Prefácio




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---------------------Flash Back---------------------

''O que um homem velho faz da vida hoje em dia?''

Era apenas esse pensamento que circundava a mente do velho Tsugiri enquanto caminhava sobre a rua frente de sua casa. Parava por um segundo e olhava para o outro lado da rua, e lá estava a cerejeira balançando sobre o suave vento do Outono... O doce Outono.

A mesma cerejeira que o velho homem escalava quando era pequeno... Os momentos finais antes de o garoto colocar o Nerver Gear e viajar pela grande imensidão de Sword Art Online foi na janela do seu quarto observando essa cerejeira, no mesmo Outono, com o mesmo vento, com a mesma vontade de ter uma vida novamente.

Sentado ao banco que ficava à frente da cerejeira, estava na sombra de uma velha Acácia, apenas não mais velha que o próprio homem. Olhava seus braços com peles molengas, seu corpo flácido e suas pernas finas e enrugadas, sua visão por trás do óculos totalmente degenerada pelo cruel e impetuoso tempo, seus costumes de velho. Suas roupas de velho. Mas a sua mente, por mais que ultrapassada, continuava transparecendo um jovem. Transbordando por aventuras, um novo amor, uma nova vida.

''Viver novamente não me parece algo tão ruim. Mas não passo de um velho sonhador.''

Passava os dedos por baixo de seus olhos, sentindo as grandes e pesadas olheiras, desapontado consigo mesmo, os sonhos de criança nunca iam embora. Os cinquenta últimos anos tendo uma vida normal foram tão pesarosos, mas sua filha, Kurisu, fez o velho prometer que nunca mais jogaria isso. Aqueles olhos claros, porém severos, fizeram-o prometer que ele nunca mais voltaria à entrar na realidade virtual.

Bem, deixe os sonhos para depois. Logo mais seguia sua caminhada para o centro da cidade, que era realmente perto de sua cidade, um pequeno e costumeiro bairro japonês com ruas estreitas. O centro da cidade era movimentado desde sempre - não se passavam de nove horas da manhã quando o velho buscava os ingredientes que sua filha havia pedido para o almoço. Poucas ruas porém cheias, com prédios para os dois lados, calçamentos firmes e ruas bem asfaltadas, pessoas para todos os lados e o comércio efervescente, pessoas saindo e entrando de estabelecimentos, um turbilhão no centro de Hokkaido.

Hoje era o dia que marcava o novo round do recém liberado Sword Art Online, com uma quantidade de mudanças e melhorias que nem se Tsugiri quisesse, teria tempo de contar. E era por isso, que muitas lojas mantinham o anúncio de promoções ou até venda do jogo. O velho homem não se contentou em não entrar em uma das lojas com esses anúncios. Uma loja Geek, como se fosse um corredor de 6x10, entalhada por ladrilhos brancos e as paredes tingidas de azul, deixando um ambiente ''frio'' e aconchegante. Possuía diversas prateleiras, com muitos produtos, desde mangás até action figures, pingentes e todo tipo de fantasia e souvenires que um adolescente - ou até um velho - pode querer.

-- Ei, Oji-san, o senhor não quer participar da grande oportunidade de ganhar um pack especial no novo Sword Art Online! Não se envergonhe por ser um velho, todos nós sonhamos com esse jogo. São apenas mil yenes! --

Enquanto observava as prateleiras, seus ouvidos falhos lhe alertavam da suave voz da balconista lhe chamando. Uma jovem de no máximo dezesseis anos usando orelhas de gato. Com as sobrancelhas erguidas, o velho se aproximava do balcão

-- Quem você chamou de velho? --

Sua voz rouca e seus olhos caídos mais do que denunciavam que... O velho era realmente um velho.

-- Me desculpe, Oji-san, mas o senhor é um velho. - Com uma risadinha, ela logo pegava algumas raspadinhas e colocava em cima da mesa - Escolha uma! São só mil yenes, se não gostar, dê para o seu netinho! Dizem que será uma característica ÚNICA que apenas um jogador poderá ter. E claro que também, a loja que conseguir a raspadinha premiada, ganha um bônus considerável. Vamos lá! Só uma! --

A insistência da garota venceu o velho, que, mesmo assim mantinha a tentação. ''Característica única, é?'', o velho apenas pegou uma da caixa coberta por raspadinhas e deixou os mil yenes encima da bancada, e voltou para o mercado.

Fitava a raspadinha enquanto caminhava, era apenas um pedaço de papel que, mesmo por sua baixeza e sua pouca importância, os olhos do velho cintilavam sobre o papel amarelado com o anunciado de que seria apresentado o resultado no site oficial de Sword Art Online às seis horas (PM). ‘’O que um papel inútil me fez arrepiar?’’. Observando seus braços, via seus poros aguçados e sentia seu coração batendo forte. Era essa a vontade de ter uma vida nova? Tolice!

Após sair do mercado carregado com compras, já cursando sua volta para casa, parava na padaria que ficava duas quadras longe de sua casa. Todos os dias o homem comprava um pão doce e tomava um café sentado na área do estabelecimento, observando o local e a cerejeira, que ficava na próxima quadra. ‘’A rotina de um velho é um saco.’’

Mesmo que, ao menos por sua maioria, da população colocaria o chá como a bebida ‘’oficial’’ do Japão, Tsugiri era diferente – havia tomado o gosto por café logo na juventude, e nunca havia abandonado esse vício. Olhava profundamente para a xícara de porcelana e olhava o reflexo do próprio rosto sobre a bebida, e ficava refletindo sobre seu futuro, mesmo que soubesse que apenas a morte esperava a velhice. E era por isso que devia aproveitar o resto da sua infeliz vida. Com determinação, bebeu o resto do seu café e deixou os yenes – como um freqüentador acido, os quinhentos yenes costumeiros – deixou-os na mesa, e partiu em ritmo acelerado para casa. Era um homem motivado.

Deixando as sandálias no pequeno suporte para sapatos, o homem em ritmo acelerado entraria na casa e subiria as escadas – de forma imprudente. Não acabou caindo, mesmo que houvesse fraquejado em algum momento. Foi até o quarto de quando era garoto, após o falecimento dos seus pais, Tsugiri teria ido dormir no quarto dos mesmos. Fazia muito tempo que não entrava naquele quarto, ou nunca havia tido vontade de voltar à suas origens de adolescência. Um quarto 10x10, com uma cama, uma escrivaninha com um computador, um armário e uma espécie de despensa que era coberta por caixas, elas ocupadas com diversas coisas, todas elas que o garoto havia abandonado... Há muito tempo atrás. Mas ele sabia, que em uma delas, estava aquele aparelho... E foi com uma voracidade incomum, abria as caixas como se fosse uma criança procurando um brinquedo. Eram três andares completos por caixas. Pegando-as e abrindo as mesmas rapidamente, era como uma eternidade – nenhuma caixa era a certa.

Minutos se passavam que pareciam horas, o barulho de papelão se rasgando era intenso e já chegava a ser um incômodo para o homem, que mesmo sem fraquejar seus braços, logo sentia dor nos mesmos. E foi na última caixa, que lá estava – o Nerver Gear. Era como se chamas ascendessem os olhos do homem, que respirando de forma pesada e descompassada, plugava o USB ultrapassado ao computador e ligava-o rapidamente, com a mesma velocidade que sentava à cadeira e impacientemente com sua perna tremendo, mas de ansiedade e sua mão batendo insaciavelmente na madeira escura da escrivaninha. O tempo passava lentamente, a semelhança à tortura era grande – e em diversas formas.

E se passou uma tarde inteira, seus olhos vidrados e mãos incessantes digitando sobre o computador velho, atualizando diversos drivers, lendo sobre o novo round e descobrindo alguma forma de fazer o velho Nerver Gear funcionar – e era apenas atualizar todos os drivers para a nova plataforma, e foi nisso e pesquisando sobre diversos assuntos que o velho passou sua tarde. Kurisu havia deixado a refeição do homem ao lado, que havia-a dispensado e nem havia almoçado.

Cerca de quatro horas da tarde quando o homem, respirou fundo e olhou para a janela ao seu lado, observando o sol já deveras próximo das montanhas. Suas vistas pesadas e doíam ao entrar em contato direto com a luz do sol, seus braços estavam pesados e sua consciência mais ainda – ainda não acreditava que estava disposto à voltar para um hospital, e agora com a saúde muito mais frágil, possível até morrer, mas nada importava. A nova vida estava tão próxima... Era tão... Tangível.

Era só esperar até as oito horas... A vida do homem dependia daquele sorteio, era como se não houvesse honra em entrar novamente naquele mundo sem ter ao menos alguma vantagem, ou alguma diferença dos demais jogadores. Essas seriam as quatro horas mais longas da vida de Tsugiri.

Nesse meio tempo aproveitou para tomar um banho, se alimentar, abraçar sua filha como nunca havia abraçado ontem, dizendo frases misteriosas como ‘’Não acredito que isso vai acontecer novamente.’’, que deixavam a jovem e esbelta Kurisu tão curiosa quanto preocupada, mas ela já estava a crer que o velho havia ficado maluco. Mas mal sabia, que era agora que ele havia ficado mais são em toda sua vida. Por uma última vez, passaria a mão na cerejeira que havia lhe acompanhado em toda sua vida, e ele realmente esperava, que ela ainda estivesse lá quando ele voltasse. A acácia do outro lado da rua, a padaria, foi um adeus doloroso. Tão doloroso quanto qualquer outro, mas, com um valor sentimental inigualável.

Retirou um pouco do seu tempo para visitar sua ex-esposa, que ia lhe visitar no hospital todos os dias enquanto esteve imerso em Sword Art Online, a agora velha porém ainda linda, Mayushii. Uma mulher de 65 anos - baixa, magra, com as características que mostravam a velhice - olheiras profundas, a pele enrugada e a aura de um velho. Porém, nunca deixava de ser a radiante e feliz Mayushii.

-- Não queria fazer você e a Kurisu passarem por isso novamente, mas vai ter que ser feito. --

Abraçava-a, tão calorosamente quanto no tempo em que eram um casal feliz e unido. Mesmo que a mulher não entendesse o significado desse abraço, ela logo saberia, saberia o significado da dor e da angústia de ter seu amor roubado por um jogo. Bem, não sendo mais amor, mas ela provavelmente ficará sensibilizada, mais por Kurisu do que por ela mesma.

Já eram sete horas e meia quando o homem chegou em casa.

-- Chichi, onde você fo...--

Era interrompida por um abraço inesperado, um abraço sincero, abraço de pai. Kurisu sentia sua alma afagada pelos sensíveis braços do homem.

-- Me desculpe, Kurisu, mas deixamos isso para a próxima, eu te amo, musume. --

O velho chocava seus lábios contra a bochecha da sua filha, por um segundo pensando de como era gentil e doce a pequena Kurisu, uma criança inocente e apaixonada por tudo que visse. Não que sua curiosidade não havia colocado-a em problemas também. Deixando a mulher sozinha na sala de estar, o homem lentamente subiria as escadas indo novamente ao quarto, onde fecharia as portas e se confinaria pelo resto do dia.

07:55... E lá estava o homem, frente ao computador, esperando com que o site do Sword Art Online fosse atualizado. Mesmo que coincidisse os horários, era o mesmo momento em que seria aberto o jogo.

Tic... Tac... Tic... Tac...

Coração acelerado, respiração pesada e seus braços formigando, a tensão era tanta que era como uma bomba-relógio - cada uma de suas veias era uma dinamite prestes a explodir...

08:00...

Com uma moeda em mãos, mesmo que trêmula, o homem trespassava a moeda sobre o áspero plástico da raspadinha, agora, sem pressa alguma, apenas trêmulo.

-- E os números vencedores são... 8160 - 6300 - 2315 - 2020 e..... 1754. --

8160... Os olhos ansiosos do velho viajando sobre o plástico cada vez mais ansiosos.

6300... 2315... 2000... 175...

7.

Uma lágrima escorria do seu olho direito sobre o plástico. O homem inerte segurava a raspadinha, apertando-a com uma grande força. Colocava o Nerver Gear sobre sua cabeça, ligava-o e apalpava seu próprio corpo... Por uma segunda vez. Proferia lentamente as palavras pedidas pelo sistema, os movimentos...

''Você está pronto.''

Ao mesmo momento, o silêncio absoluto era profanado pelo barulho da porta rangendo ferozmente, e era Kurisu que violava o aviso de ''Não incomode.''

--Chichi, você ganhou! Você ganhou! Mas ganhou o quê?--

Com um entusiasmo composto por dúvida e um pingo de incerteza, Kurisu arregalara os olhos ao ver o velho homem, que, por trás do vidro do capacete, olhava mais uma vez para a raspadinha, que, havia tido seu último número mal raspado. Com a moeda de sua mão esquerda, terminou de raspar o último número...

4.

-- Musume, não faça algo que você vai se arrepender, eu preciso disso novamente. --

Cerrando os punhos, novamente seus olhos voltavam à lacrimejar, junto às lágrimas de Kurisu.

-- V-você vai nos deixar novamente, chichi? Assim como fez com a mamãe no passado? Não faça isso! --

Era evidente a viagem de sentimentos que a jovem sentia no mesmo momento, ela abraçava-o tão forte como se nunca mais fosse largar Tsugiri, que a abraçou de volta e com uma voz calma e concentrada, falou.

-- Eu logo volto, amor. É só por alguns momentos. --

-- Volte para o jantar. --

''Eu tenho que fazer isso.''

Largava a mulher, que em lágrimas, ruidosamente observava o homem deitar na cama e pronunciar em alta e boa voz

-- Link Start... --

Por um último olhar, conseguiu ver Kurisu entre lágrimas falando consigo mesma...

''Por favor... Volte logo!''

Em uma viagem de cores, todas elas correndo de forma de aspiral sobre uma imensidão branca, misturando diversos pigmentos formando a água, que logo cobria todo o solo do local onde estava o homem sobre uma imensidão branca - logo após por uma coloração marrom cobrindo as bordas dessa estrutura azul recorrente agora. Da mesma forma que o azul agora invés de recorrente, parecia estar pintando em pinceladas finas e refinadas o fundo, formando assim, o céu. Logo após por soltos um fio de um líquido branco que ao alto do céu tomava a forma de uma frágil nuvem. Eram tantas cores que se separaram tingindo e formando diversas coisas no cenário - árvores, riachos, a grama, e tudo que poderia imaginar um ser humano comum.

Após a calmaria, uma grande massa cinza sairia do solo, se modelando em forma de um hexágono mais alongado, com imperfeições, um pouco mais pontudo embaixo e quase que cilíndrico ao total, com várias estruturas circulando o início desse grande prédio conjunto de pilares... Era maravilhoso e chocante ao mesmo tempo. Uma animação totalmente diferente da outra ocasião.

''Welcome to Sword Art Online!''


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Notas finais do capítulo

El... Psy... Congroo.