Acordei tarde demais naquela segunda-feira ensolarada, mas só fui perceber que estava atrasada quando vi minhas coisas já me esperando: minha vestimenta ajeitada na poltrona perto da cama, o banho pronto soltando vapor, e Lanna, a criada me aguardando em um canto. Mas o principal era a evidência de que a hora do café já havia acabado, pois uma bandeja estava na cabeceira me aguardando para tomar o perfeito chocolate quente.

Pulei da cama dando um apressado bom dia para Lanna. Me despi e entrei na banheira. Já limpa, coloquei meu hobby de seda roxo e fui cuidar do cabelo e maquiagem. No instante em que terminei de vestir um vestido lilás simples com a saia rodada e um salto branco, dei um educado "tchau" para Lanna e me dirigi a porta. Ela ergueu a mão para tentar me avisar qualquer coisa, mas eu já havia saído e estava indo para o escritório de meu pai.

- Entre - ouvi sua voz assim que bati à porta de seu escritório, delicadamente. - Oh! Bom dia, Wendy, o que a traz aqui?

- Bom dia papai, vim trabalhar, sinto muito pelo atraso...

- Minha querida - ele tirou o óculos e me encarou com um leve sorriso. - É muita gentileza sua querer me ajudar em seu dia de folga, mas eu realmente prefiro que você esteja repousada.

- Meu dia... de folga?

- Sim, eu lhe avisei ontem durante o jantar.

- Oh! Eu devia estar distraída em meus pensamentos. Por falar nisso, há algo que eu gostaria de conversar com o senhor...

Fui interrompida, porém, quando meu irmão irrompeu na sala esbaforido, correndo para meu pai com um enorme sorriso no rosto.

- PAPAI! PAPAI! É HOJE! MAMÃE E MADDIE IRÃO VOLTAR HOJE!

De fato, minha mãe e minha irmã estavam voltando nesse dia de uma viagem para a Itália. Suspirei, em parte por frustração por ter sido interrompida ao tentar falar algo que estivera em sua mente no último mês. Mas em parte aliviada, por ter tempo de pensar mais quanto pela chegada das duas.

- Acalme-se, Simon - papai o pegou no colo, acalmando o filho de apenas seis anos. - Vá se arrumar para encontrar as duas no aeroporto em uma hora.

A filho caçula, asim que saiu do colo do pai, saiu apressado acompanhado por uma cansada babá. Ri levemente e olhei para meu pai, para encontra-lo com sua atenção voltada a mim.

- Então, filha, o que queria falar?

- Ah... bem... vamos esperar mamãe e Mads chegarem e assim eu conto na presença delas, além de tia May, madame Lucy e madame Marlee.

- Perfeito! Está livre para passar o tempo durante a manhã, America e Maddie vão querer descansar após a longa viagem. Não precisa ir ao aeroporto, tenho uma tarefa mais complicada para você: vá acordar sua tia por mim.

Eu ri, essa sem dúvida seria a terefa mais difícil que eu teria durante o dia.

Tia May estava hospedada em seu quarto de visitas reservado. Havia chegado em Angeles a apenas um dia, ela visitava a família ao menos uma vez por mês e nunca descumpria esse prazo, a menos em casos extremos, ou quando estavam viajando, sem ninguém além dos funcionários no palácio. Quando eu bati em sua porta, uma criada a qual eu não sabia o nome deu passagem se reverenciando. May Singer encontrava-se estirada na cama de dossel enorme, e não havia indícios de que iria acordar tão facilmente. Felizmente, eu conhecia minha tia, e sabia dois bons jeitos de acorda-la. Parei bem ao lado dela e comecei a fazer cócegas em seu rosto com uma pena, mas, como de nada adiantou, eu optei pela alternativa mais tentadora. Tomei fôlego e me afastei da cama, por motivos de segurança, então gritei:

- ALERTA! ESTÃO ROUBANDO AS TORTAS DE MORANGO FEITAS PARA MADAME MAY!

Tia May pulou da cama com um sapato de salto na mão, brandindo-o como uma arma.

- O QUE? ONDE? ME ENFRENTE SE É CORAJOSO. PODE VIR. QUEM SE ATREVE A ROUBAR MINHAS...? - E só então percebeu a sobrinha rindo abertamente do outro lado do cômodo. - Ah, então vossa Alteza Real acredita que é engraçado simular meu maior pesadelo? - brincou e foi se vestir.

Meia hora depois, nós duas estávamos reunidas tomando um chá no Salão das Mulheres, papai e Simon já haviam saído, o que era bom, pois antes de mais nada eu gostaria de conversar com minha tia. Eu sabia que podia contar para ela qualquer coisa, e ela me ajudaria e me apoiaria. Quando terminei de contar-lhe a história, minha tia estava radiante.

- Mas essa é uma ideia fantástica, Wen. Seu pais vão adorar.

- Eu sei, tia, e por isso eu tenho medo. Quando eu falar com minha família eles vão amar a ideia, e não haverá mais volta. E se eu me arrepender?

- Não se preocupe, amada. Vai dar tudo certo, Tem muitas pessoas para te apoiar nessa decisão, e o país inteiro irá torcer por você - tia May segurou minha mão. - E eu posso vir te visitar mais vezes, se precisar de mim, é só me enviar um pedido e eu virei voando.

Eu ia dizer alguma coisa, mas madame Marlee abriu a porta e adentrou o Salão, fazendo uma reverência e sorrindo.

- Chegaram.

Tia May e eu nos levantamos apressadas e seguimos madame Marlee ao Hall de Entrada, onde encontraria minha mãe e minha irmã depois de pouco menos de um mês. Quando chegamos, todos já estavam reunidos. Senhor Carter estava esperando a esposa com seus dois filhos, Chris e Cheryl. Também estavam lá madame Lucy e general Leger, com seus filhos Kile e Katherine. Parada ao lado da minha tia, eu podia avistar o carro chegando através dos pesados portões que estavam sendo abertos.

O carro parou em frente as escadas e dele desceu a família real, e foi com um grande sorriso que desci para abraçar Maddie, e após ela mamãe. Depois de mi,, todos desceram e encheram as duas de abraços e palavras de boas-vindas. Quando o alvoroço cessou, as duas subiram e foram para seus quartos descansar.

Após o almoço, decidi que seria melhor reunir todos no jardim, para uma sobremesa. Em algum momento, me levantei e chamei a atenção de todos.

- Família e amigos que considero minha família. Reuni vocês justamente aqui para dar um comunicado importante - procurei minha tia com o olhar e ela piscou para mim, me dando força. - Bem, como sabem, assim que papai e mamãe renunciarem o reinado, eu tomarei o trono em seu lugar. Sei que fui preparada para isso durante esses dezoito anos da minha vida, mas não gostaria de reinar sozinha. Quero um companheiro que possa ser um ótimo marido e príncipe consorte, alguém que possa me apoiar em minhas decisões todos os dias e que me dê meus filhos. Por isso, papai - virei, dirigindo-me a ele - que eu quero solicitar algo que, mesmo abolido, melhorará a vida de todos, tenho certeza. Eu quero uma Seleção.