As cinco portas escrita por Rodrigo Oliveira


Capítulo 5
Final




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Irwin andou em direção a porta de número um. Começou a andar, passando direto pela segunda porta. Deu mais alguns passos passando pela de número três. Repousou a mão no puxador da porta quatro e ficou ali, parado. Seria esta, a porta escolhida. Número quatro. Segurou o puxador com força, fechou os olhos e a abriu até o fim. Uma luz forte iluminou todo o seu corpo, chegando mesmo a impedir que enxergasse o que estava lá dentro. Aos poucos a luz começou a amenizar e uma pessoa começou a aparecer, saindo de dentro da luz. Era um homem alto, vestindo um terno cinza muito bem alinhado ao seu grande corpo. Segurava um enorme banner onde se lia a palavra: Liberdade.

Pela primeira vez na história do programa de extermínio prisional tele assistido, um preso havia aberto a porta correta. Ninguém vibrou no presídio e nem em lugar algum. Aos poucos as pessoas, pegas de surpresa, começaram a aplaudir timidamente e devagar, refazendo-se aos poucos da surpresa inesperada. Alguns sorrisos começaram a brotar.

Do lado de fora do prédio, o velho pai do homem aguardava os gritos ensandecidos para seguir sua vida. Achava que o silêncio era sinal de que seu filho não havia feito a escolha ainda.

Irwin tomava uma atitude calma e estranha para quem acabara de ganhar a liberdade. Já havia entrado no túnel sem suas algemas, porém agora começava a tirar a blusa laranja que fazia parte do uniforme. Abria botão por botão. Retirou a blusa completamente e virou-se para as lentes. As câmeras focalizaram sua camisa branca, que ficava por baixo da roupa prisional. Algo fora escrito em letras garrafais na parte da frente e ele ficou imóvel durante um tempo, esperando que cada pessoa pudesse ler, onde quer que estivessem. Estava escrito: “A vida é minha. A escolha também é.” Inesperadamente, quebrando todos os protocolos, ele começa a caminhar para a porta 5 e segura o puxador com firmeza. Com o canto do olho viu o homem de terno que trouxera a boa nova correndo de volta e se jogando porta 4 adentro. Os guardas que abriam a grande porta de aço do túnel apressaram-se em fechá-la novamente.

Enquanto Irwin tombava de costas em frente à segunda porta escolhida, atingido por uma grande labareda de fogo, todos, em todos os lugares: refeitórios, auditórios, esquinas, bares, casas e presídios, ficaram em silêncio. Boquiabertos.

No presídio somente o velho Jason sorria. Sabia que seu amigo morrera, porém não dera o que o sistema esperava. Faria com que as pessoas pensassem quando mais um preso fosse sorteado para divertir platéias como se fosse um ratinho branco de laboratório.

O diretor engoliu em seco e sentou-se com um copo de vodca na mão, olhava a noite fria. Ele entendeu que o preso era um homem de verdade e morrera com seu poder de escolha. Isso era a única coisa que lhe restara como ser humano: O livre arbítrio.

Irwin quis, além de tudo, dar um gostinho de felicidade aos seus guerreiros, numa noite de sábado na prisão.

O velho pai, após saber do que se sucedera, seguiu sem derramar lágrimas pela calçada deserta afora. Enterraria seu filho, e assim saberia onde ele estaria durante os dias que lhe restava sobre a terra.

Enquanto seguia pela calçada, enfiou as mãos nos bolsos da calça para se aquecer e sentiu algo no bolso direito. Retirou a mão em seguida e viu que era o comprimido de cianureto. Quase o jogou fora, mas parou de andar e olhou por alguns instantes para a pequena pílula, e uma lembrança o invadiu: “Nos vemos lá em cima. Ou lá embaixo”.

Sorriu, colocou-a novamente no bolso e seguiu seu caminho.

Fim


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