Tic
Tac

Tic
Tac

Era noite e Historia estava sozinha em seu escritório após um longo dia de reuniões com os militares. Estava cansada mas, a pilha de papeis em sua mesa não lhe trazia nenhum conforto de que as coisas iriam melhorar. Na realidade ela temia que logo o tamanho da pilha se equiparasse ao seu tamanho, ou do heichou... Como é que tantos documentos se juntaram ali mesmo? Ela não tinha limpado a mesa na semana anterior? Suspirando e tomando para si uma xícara de chá voltou-se a sentar à escrivaninha e terminar de assinar, ler, responder ou simplesmente tacar fogo nos documentos ali.
Foi então, depois de algumas horas naquele silêncio, tendo apenas a companhia do monte de papeis que a ocultavam de quem quer que entrasse naquele recinto, que o barulho do relógio começou a irrita-la. Na verdade a irritar muito. Começou então a encara-lo, como se fosse possível ao fazer isso fazer o relógio ficar em silêncio. Alguém sentiria falta dele se ela acidentalmente deixasse ele voar janela a baixo?

Suspiros

Ela começou a solta-los cada vez mais frequentemente e mais pesados ao longo do tempo que passava. Por que ela está ali fazendo aquilo mesmo? Soltou os papeis e voltou a se recostar no banco soltando mais um pesado suspiro. Todos sabiam, principalmente ela, que, quem realmente governava as muralhas, não era a rainha e sim os militares. Apesar de que, não era a jovem um deles também? Tanto que fora por suas atitudes na tropa ao fim que a fizeram conquistar o respeito deles, respeito esse que a fazia estar ali agora, morrendo de tédio trabalhando com todos aqueles documentos, todas as leis e condutas onde agora era ela a dar a palavra final. Sua opinião passara a ser importante no final das contas.

Saudades

Olhar para o lado e ver o porta retrato de seus amigos, talvez não fosse uma boa ideia naquele momento. Era doloroso olhar para a foto, que se não lhe falhava a memória, fora tirada ainda na época em que eram recrutas, muitos do que estavam ali hoje já não se encontravam mais entre eles. Mortos ou traidores... Quem imaginaria naquela época da foto tudo o que viria a acontecer? Tanto as más coisas, quanto as boas também, e a loirinha acabou por rir ao pegar a foto para observar mais de perto alguns de seus amigos, pois uma coisa lhe veio a mente, quem ali naquela foto pensaria tempos depois que quem se odiava estaria junto hoje não é mesmo? Certo que desde aquela época alguns casais já eram meio que predestinados, como Mikasa e Eren ou Connie e Sasha... Mas Armin e Jean definitivamente não era algo esperado, entretanto um era tão perfeito para o outro que a garota não conseguia deixar de sorrir ao vê-los juntos.

Ymir

Por que?

Guerra

Lembrar sobre ela não adiantaria, estaria Ymir ainda viva? Não sabia, e naquela altura do campeonato, já não tinha mais certeza se teria vontade de saber, afinal... E logo olha de volta para a escrivaninha e então se lembra do trabalho que ainda tinha que fazer. Bem, como não lembrar, a pilha de papéis era bem marcante. O que lhe fazia também voltar ao foco, eram documentos importantes sobre as muralhas, seu povo e as tropas, além do importante problema que eram os titãs. Eles estavam em guerra e ela ainda tinha muito a resolver.

Rainha

Foi escolhida por conta de sua linhagem e o esperado é que fosse mais submissa e apenas uma marionete como o antigo monarca fora. Mas isso talvez fosse possível, se ainda fosse como antes. A forma falsa que era antes. A forma Christa Renz. Ela não era mais Christa Renz, apesar de Crista ter sido uma fase dela, ela havia deixado isso para trás, voltando as suas origens, a quem verdadeiramente era. Se tornou mais confiante, tornou-se digna do respeito e da confiança de todos os que ali viviam, sabia que isso havia surpreendido a Erwin. Surpreendeu a ela mesma. E principalmente o povo. Seu verdadeiro eu era mais ferino, é verdade, mas foi graças a esta atitude que os levou a vencer a luta contra o titã Rods e ainda os auxiliou durante o golpe, o que acarretou em mudar a vida dentro das muralhas. E ainda foi graças a isso que conseguiu o respeito e o direito de tomar decisões em seu reinado. Sempre se orgulharia e agradeceria por ter tido a liberdade de agir como bem entendia podendo fazer algo em relação as pessoas que viviam no subterrâneo, salvando-as.

Heichou

Estranho, era a primeira coisa que pensava ao se lembrar de seu antigo capitão. Era rude, orgulhoso, genioso, habilidoso, maníaco por limpeza. Mas foi graças ao seu apoio, de forma grosseira, mas ainda assim apoio, que ela conseguiu realizar tudo aquilo e ainda mudar a vida de tantas pessoas. Bem, talvez ele tenha feito mudar mais do que o reino. Mudou a si mesma, de forma rude talvez, mas aquilo a fez acordar para a vida. Talvez ele não fosse tão ruim assim...

Historia

Jovem, baixinha, geniosa, amiga, rainha. Se alguém lhe dissesse a tantos anos atrás onde ela estaria agora, a loira possivelmente riria da pessoa. Era surpreendente o quanto o mundo muda e o quanto ela mesma havia mudado. Quantas formas são possíveis para nos reinventarmos? Estava feliz com a forma como estava, de ter se encontrado e graças a isso podia estar aonde chegara, que a vida lhe pregou peças, é verdade, e sua escrivaninha lotada também lhe trazia a lembrança e a certeza de que nada acontece como esperamos, fora irónico a forma como tudo lhe acontecera, mas fora dessas formas perturbadas, onde chegara a vitória. E na certeza que enquanto fosse rainha faria o seu melhor e o pior para que a humanidade vencesse.
E ela sabia que venceriam.