Capítulo 7 - Hello, Jack Sparrow!

Fiz a primeira coisa que uma pessoa normal na minha situação poderia ter feito: puxei Allison para a porta mais próxima de nós e nos tranquei. Fiquei em silêncio e com a orelha grudada na porta, procurando por algum sinal de que eles já tivessem passado. Ouvi passos em frente a porta, mas logo saíram e eu pude respirar normalmente. Pelo menos até Allie começar a me estapear. Olhei pra ela, pronta pra xingar até sua décima geração, quando percebi que eu mantinha a mão sobre sua boca e nariz para impedir que ela falasse qualquer coisa.

– Foi mal, nega. - pedi, tirando minha mão e vendo-a respirar ruidosamente.

– Vadia. - ela xingou, me dando outro tapa.

– Ouch. - resmunguei, esfregando meu braço e fazendo um bico fofo. Ao menos na minha opinião. - Mas você me ama por ter salvado a gente. - eu disse.

Allie revirou os olhos. - Vamos logo com isso, não quero continuar num armário de vassouras.

Olhei em volta, procurando acostumar minha visão com a escuridão parcial do cômodo e meu olhos finalmente capturaram o que tinha ao meu redor. Devia ter, no máximo, dois metros quadrados de espaço livre, deixando-me assim em cima de Allison. Vassouras, rodos, baldes e materiais de limpeza estavam espalhados por toda a parte, com um forte cheiro de sabão em pó e água sanitária.

– Cara, já me imaginei me agarrar com um garoto num armário de limpeza, mas nunca estar em um com você. - disse, fazendo uma careta e desviando de um esfregão que ameaçava cair em cima de mim.

– Engraçadinha. - resmungou Allie. - Agora vamos, não quero ficar aqui! - exclamou, indo até a porta, mas eu a impedi a tempo. - O que foi agora?!

– Eu estou tão feliz aqui quanto você, mas precisamos colocar as perucas.

Peguei a as perucas morena e ruiva de dentro da minha bolsa transversal e entreguei a morena para Allie. Sou morena, o que complica um pouco as coisas. Eu devia ter conseguido perucas melhores, mas foi o consegui com as poucas horas que tive depois da ligação do meu pai.

– Vai, vira. - disse a Allie, que logo me obedeceu.

Prendi os longos cabelos loiros dela num coque firma atrás da cabeça e encaixei a peruca com cuidado, para que não ficasse um fio sequer de fora. A peruca era curta, o que complicada um pouco para ela manter os cabelos quietos.

– E aí, como estou? - ela perguntou depois do trabalho pronto.

Eu ri. - Com certeza não parece a Allie que conheço.

Ela revirou os olhos, mas riu. - Vamos, deixe-me ajudá-la.

Allison teve menos trabalho que eu com relação à peruca. Meus cabelos eram lisos, mas não tão grande e a peruca ruiva encaracolada coube perfeitamente na minha cabeça, escondendo qualquer fio negro que ameaçasse sair. Peguei meu celular depois disso e liguei a lanterna para dar uma olhada rápida pela tela meio espelhada. Estava irreconhecível.

– Agora vamos! - eu disse, abrindo a porta do armário.

– Aleluia, irmão! - Allie saiu do cômodo correndo e eu só conseguia rir. - Melhor irmos para a área VIP de uma vez, para evitar encontros desnecessários.

– Tem razão. - eu disse. Olhei em volta, tentando me situar. - Onde raios fica a área VIP?!

Allison riu. - Por ali, sua boba. - e apontou para o final do corredor à direita.

– Vamos por ali então, praga da minha vida. - ri, indo pela direção que ela apontou.

– Você é uma piada. - ela disse, balançando a cabeça como se não acreditasse que aquilo fosse realmente verdade.

Olhei pra ela, fingindo indignação. - Own, baby, tá querendo me dizer que sou uma palhaça de circo?!

Allison fez o bico mais fingido que eu já vi na vida e colocou a mão sobre meu ombro, num falso gesto de reconforto.

– Não, honey, quero dizer que você está mais para aqueles amadores de rua do Rio.

Arregalei os olhos e fiquei boquiaberta.

– Sua consideração é benção dos deuses! - eu disse, rindo.

Allie agitou os cabelos da peruca morena sobre os ombros, em seu conhecido gesto convencido. - Eu faço o que posso!

Rimos.

Bem... Ao menos até virarmos no próximo corredor e eu dar de frente com alguém. Eu sei que enquanto Allison me amparava pela costas para eu não cair, só consegui levar a mão à cabeça para manter a peruca ruiva no lugar. O que, pelo que percebi segundos depois, foi a melhor coisa que eu tinha feito.

– Você está bem? - perguntou Calum, olhando de soslaio para Allie, que prendera a respiração.

E agora, Charlie, e agora?!

Olhei para Luke, que estava ao lado de Calum e me olhava atentamente. Parecia até que meu cérebro tinha pifado, porque a única coisa que eu conseguia pensar era que aquele loirinho podia ser mais esperto do que parecia. Há apenas alguns minutos ele estava nos procurando, jurando que tinha ouvido nossas vozes. O que eu faria para que ele não me reconhecesse pela voz? Eu precisava fugir dali antes que o olhar penetrante de Luke ultrapassasse a linha do disfarce.

– Ahn, estou sim, obrigada, Calum. - sorri minimamente, torcendo para que afetar um pouco a voz tenha funcionado para despistar o olhar minucioso de Luke sobre mim. - Melhor nós irmos, senão perdemos os lugares. - disse a Allie, tomando cuidado para não mencionar seu nome.

Ela apenas assentiu, provavelmente por não conseguir afetar a voz. Eu também não disse mais nada; puxei Allison pelo pulso e corremos para longe dali. Corremos e corremos em direção à área VIP e só descansamos depois que os seguranças nos liberaram a passagem com os nossos nomes e fomos para o canto mais distante. Apoiei minhas mãos nos joelhos e inspirei uma grande golfada de ar, rezando para que não me tornasse asmática de uma hora para outra. O ar passava com certa dificuldade por minha traqueia e tudo o que eu queria era dar uns tapas em Allie, que não parava de rir apesar de tudo.

– Isso foi demais! - ela exclamou, feliz da vida.

Revirei os olhos. Mas então uma ideia me passou pela cabeça. Acertei minha postura e levantei os braços como uma madame, mas oscilei meu corpo de um lado ao outro, como um bêbado.

– Todo mundo viu?! Porque eu não vou fazer de novo!– citei, em português mesmo, por achar a frase mais bonita em português.

– Pode deixar, capitão Jack Sparrow, mas agora precisamos pegar nosso posto no leme, pois nossos marujos estão nos olhando como se tivesse uma espada atravessando nossos crânios.– Allison riu, e disse em português e apontou para as pessoas ao nosso redor, que olhavam-nos como se fôssemos alienígenas. O que eu não duvido nada.

– O que foi? - perguntei, de volta ao inglês, e todos desviaram o olhar.

– Vamos logo, os garotos já estão entrando! - Allison me puxou para mais perto e víamos eles entrando.

Ashton e Luke olhavam para cada rosto, como se procurassem alguém, e pude ver a decepção em seus olhos quando não viram. Mas Calum cutucou Luke, e apontou para onde estávamos e eu senti meu coração gelar quando Luke acompanhou seu olhar e eu vi uma pequena ponta de reconhecimento nos azul de seus olhos. Não o suficiente para nos discernir como Allie e Charlie, mas o suficiente para me deixar preocupada e com um pé atrás.