Something In The Way escrita por Eduardo Mauricio


Capítulo 6
Capítulo 06 - Favor




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Mais um dia amanhece. Desta vez vejo quando os raios de luz começam a atravessar a fina cortina da janela. Fiquei acordado a noite toda, assistindo TV e chorando. Estou chorando porque não consigo aguentar a pressão. Não consigo pensar no que fiz à Deus para receber uma punição tão severa. Ele tirou minha esposa de mim da forma mais cruel possível, e agora minha filha. Eu já pensei em me matar algumas vezes, mas nunca coloquei em prática meus planos mirabolantes por causa de Madison, não poderia deixá-la sozinha neste mundo, mas agora o que eu tenho a perder?

Não posso pensar no pior, mas ela pode estar morta. Se isso acontecer, não sobrará nenhum motivo pelo qual viver. Será hora de descansar.

Se ao menos pudesse vê-la, ouvir sua voz angelical mais uma vez...

Desligo a TV e permaneço deitado. Olho para o teto, olho para as paredes e para a janela, observando a luz do sol que nasce lentamente. Ainda está um pouco escuro.

Não posso ficar mais um dia sem nada a fazer. Dizem que a esperança é a última que morre, mas não é verdade. A última coisa que morre é a fé. A esperança se vai em pouco tempo, a tristeza vem e você se convence de que nada dará certo, mas a fé em Deus não vai embora, ela continua persistindo e fazendo você lutar. Eu não consigo mais pensar em algo para se fazer. Não tenho ninguém do meu lado para me confortar e dizer o que fazer.

Uma ideia me vem à mente. Posso falar com o homem misterioso, o vizinho. Ele parece ter muitas informações.

Levanto-me. Pego minha calça jeans e minha camiseta em cima de uma poltrona e visto-as. Depois, caminho até o banheiro, lavo o rosto e escovo os dentes, rapidamente.

Olho-me no espelho, não pareço bem, estou com olheiras e olhos vermelhos de chorar, além de cabelos despenteados, cuja aparência desagradável tento melhorar passando a mão. Visto o casaco que estava jogado na mesma poltrona que estavam as outras roupas, pego a chave do carro, do quarto e meu celular.

Saio e passo pelo corredor às pressas, descendo as escadas e passando pela recepção repetindo minha mania de abaixar a cabeça para evitar um improvável reconhecimento por parte da senhora da recepção.

Caminho até meu carro no pequeno estacionamento e entro nele. Me sinto seguro, o interior do meu carro é o local onde me sinto seguro. Em todos os lugares em que vou, sinto como se as pessoas ouvissem meus pensamentos e me julgassem pelo que sou e pelo que fiz, mas aqui não. No meu carro posso me sentir à vontade, seguro de qualquer ameaça. É claro que é tolice minha pensar nisso.

Ligo o carro e vou embora, em direção a meu bairro.

***

A vizinhança é calma. Poucas pessoas nas calçadas, poucos carros na rua. Entro na esquina da minha rua e não há sinal de nenhuma viatura. Estaciono o carro um pouco antes da minha casa e desço.

Começo a andar pela calçada e passo direto por minha casa, apenas olho e vejo que está do jeito que deixei.

Vou direto para duas residências depois dela. Caminho pela passarela de pedra até a porta e dou três batidas. O homem atende prontamente.

– Ah, você – Diz ele, sorrindo, como se já esperasse minha visita – Entre.

– Obrigado.

Entro e fico em pé na sala, observando o local muito bem organizado. Há uma grande estante de madeira que vai do chão ao teto e uma TV no meio. O sofá cinza está disposto em um formato de “L” e há também uma mesinha de centro, com um vaso.

– Pode se sentar, eu acabei de fazer café.

Eu dou um tímido sorriso e sento no sofá. Ele volta da cozinha em poucos segundos, com duas xícaras brancas sobre dois pires, ambas com um leve vapor saindo de dentro, onde estava o líquido. Ele me entrou a minha e sentou no sofá.

– Então, onde você está ficando? – Pergunta ele.

– Em um motel na rodovia – Respondo.

– Eu lhe convidaria para ficar aqui, mas acho que seria perigoso.

– Não se preocupe com isso, já fez muito para um homem que mal conhece.

– Eu me vi em você, lembro como foi quando Lisa desapareceu, eu e minha esposa ficamos desesperados, ela entrou em depressão e se matou por isso, eu consegui aguentar, mas procurava solução na bebida, foi uma época obscura da minha vida, na verdade, ainda é, pois eu nunca mais a vi novamente, mas consegui lidar com a solidão com o passar do tempo, vai fazer 8 anos em setembro.

Ele dá um gole no seu café e abaixa a cabeça, como se estivesse pensando no passado.

– Eu sinto muito.

– Obrigado.

– Ele ligou para mim.

– O sequestrador?

– Sim.

– Ele quer dinheiro?

– Não, ele está apenas me enrolando, disse que não quer dinheiro, tenho medo do que ele pode fazer, porque aparentemente não tem nada a perder.

– Ele só que te assustar, ele tem algo a perder, se não, por qual motivo ele pegaria sua filha?

– Eu não sei.

– Não posso falar com a polícia, porque... Você sabe.

Eu não preciso dizer, ele sabe.

– Não se sinta mal, eu sei que foi um acidente, além disso, eu também já cometi erros, já machuquei pessoas e me arrependo.

– Eu não sei mais o que fazer – Digo, colocando a xícara sobre a mesinha de centro – Estou desesperado.

– Não desista, só isso.

– Eu sei, eu nunca vou desistir porque sei que ele está com ela, mas não tenho nenhuma pista de onde ela pode estar, não sei nem mesmo se ela ainda está aqui nesta cidade... Ele não me deixou ouvi-la, talvez já esteja morta.

Peguei a xícara de café da mesinha e tomei um gole com cuidado.

– Talvez você saiba de mais alguma coisa, eu não sei, tem certeza de que não viu o rosto do sequestrador?

– Eu só lembro de uma coisa a mais, mas não sei se estou certo.

– Qualquer coisa que sirva como pista é bem-vinda.

– Umas noites atrás, eu acordei durante a madrugada e quando olhei pela janela, vi o carro que levou sua filha, estava em frente à sua casa.

– O quê? Por que ele estaria aqui?

– Eu não sei, talvez quisesse fazer algo com você, por sorte você já tinha saído.

– Por quanto tempo ele ficou?

– Pouco, eram dois homens altos, usavam casacos com capuz então mão pude ver os rostos... Eles não entraram na casa pela porta, talvez tenham entrado por trás – Responde ele – Eu fiquei olhando, até eles saírem pela lateral da casa, os dois, entraram no carro e foram embora... Eu anotei a placa.

– Eles estão atrás de mim também?

– Eu não sei, talvez estejam.

– Para piorar estou sozinho, não tenho como me proteger, sou um criminoso fugindo de criminosos.

– Fique escondido, vá para outra cidade, não sei, mas fique escondido.

– Eu não posso ir a outro lugar, preciso achar minha filha, não adianta se esconder, eles me acharão.

– Eles te acharam neste motel onde você está?

– Sim, ele me ligou ontem à noite, na verdade, quase me atropelou.

– Não acredito.

– Sim, eles estão brincando comigo, querem me deixar louco, e eu só quero ter minha filha de volta, não sei o que querem ou o que estão esperando... Eu preciso me entregar à polícia, é o único jeito de dar a eles as informações necessárias.

– Não, não precisa.

– Você disse que anotou a placa, não é?

– Sim.

– É uma informação inútil sem conhecer alguém da polícia.

– Mas eu conheço alguém do departamento de trânsito, acho que podemos achar o dono do carro.

– Isso é uma boa notícia.

O homem pega seu celular e começa a ligar para alguém. Depois de alguns segundos, a pessoa atende. Torço para que o plano dê certo.

– Alô? Jake? Lembra daquele favor que está me devendo?


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