Something In The Way escrita por Eduardo Mauricio


Capítulo 10
Capítulo 10 - Doente




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Sorrio sem paciência com o que acabo de ouvir. Que absurdo.

– Quem é ele? – Pergunto novamente.

– Eu já respondi – Responde ele – Você é Donald Simpson.

– Por favor, vamos logo ao que interessa.

– Eu tenho uma coisa pra você.

Ele pega algo em seu bolso. Eu fico gelado, talvez seja uma arma, talvez ele me mate ali mesmo. Engulo em seco. Fico aliviado ver que não é uma arma, mas sim um gravador. Ele aperta um botão e a mensagem gravada começa a ecoar pelo galpão.

Oi Donald, eu sou a Dra. Goodman – Diz uma voz feminina levemente distorcida pela qualidade da gravação. – Você sabe quem é Michael Grey?

Ninguém responde a ela, ouço apenas chiados. Olho para o sequestrador, ele observa meu rosto com um sorriso leve.

Não – Responde Donald, e eu percebo que é minha voz.

Volta a olhar o sequestrador e desta vez ele realmente sorri. Estou confuso.

Eu quero falar com o Michael, Donald,

– Não existe nenhum Michael, doutora, eu sou Donald Simpson.

Três pessoas estão desaparecidas e o principal suspeito é ele.

Por que você fica falando sobre esse cara se eu estou dizendo que não faço ideia de quem é?

Há um momento de silêncio.

Quem é você? – Pergunta a pessoa com a minha voz, Donald, que eu me recuso a acreditar que seja eu.

Eu sou a Dra. Goodman, você é Donald Simpson?

– Sim, sou eu.

Ele desliga o gravador e observa o choque em meu rosto. Não pode ser eu.

– O que acha?

– Quem é esse?

– É você, Donald, não acredita?

– Pare de me chamar de Donald!

Ele está me deixando com raiva, eu odeio, não consigo assimilar o que está acontecendo, aquilo é absurdo, mas algo me diz que há alguma coerência. Será?

– Você perdeu sua filha.

– Você a levou!

– Sim, eu levei sua filha, mas eu também já perdi alguém... O homem que eu mais amava neste mundo, ele desapareceu da minha vida, se metia com as pessoas erradas, seu nome era Edward Flanders.

Como assim, Edward Flanders? Edward Flanders sou eu. Este homem está louco.

– Eu não consigo entender.

– Não foi só ele quem eu perdi, também perdi nossa filha, Madison, uma linda garota, ela também desapareceu.

Madison é a minha filha, não dele. Quem este homem pensa que é?

– O que você está dizendo não tem sentido?

Ele tira o celular do bolso e começa a procurar por alguma coisa nele.

– Esta é a sua filha? – Pergunta ele. Em seguida, vira a tela do aparelho para mim. Há um video em reprodução. Nele, Madison está brincando na grama com suas bonecas, quando um homem chega e se senta com ela.

O que está fazendo? – Pergunta ele. É o sequestrador. Quando isso foi filmado? Por que Madison está feliz?

Estou chorando, emocionado. Ele parece estar fragilizado também.

Edward, Bobby está mordendo a toalha de mesa novamente, vê se faz esse cachorro parar.

A câmera agora filma o cachorro mordendo a toalha.

Este é o Bobby e ele está prestes a morrer por morder minha nova toalha de mesa – Brinca o homem filmando, Edward.

O sequestrador guarda o celular.

Neste momento, olho para o grande portão entreaberto. Há alguém chegando. Está vestindo um sobretudo preto. É Larry.

– Larry, o que faz aqui? – Pergunto, surpreso.

Ele olha para o sequestrador como se o conhecesse.

– Meu nome é Oliver Flanders, Donald – Diz ele, deixando-me chocado. Traidor nojento!

– O quê?

– Edward era meu irmão e Madison minha sobrinha, você os matou.

– Vocês são doentes, onde está minha filha?!

– Você poderia ter se safado e continuado na sua vida miserável e solitária, mas como se não bastasse matá-lo, resolveu fingir ser meu irmão – Diz Larry, ou Oliver, como ele se denomina – O louco aqui é você.

– Eu não quero ouvir mais nenhuma dessas loucuras, onde está Madison? – Pergunto, sacando a arma rapidamente e mirando nele.

– Você a matou! – Gritou o sequestrador, sem paciência – Seu doente louco!!!

Estou tremendo, não sei em quem mirar a arma. Nervoso, deixo que o sequestrador me ataque e derrube a arma no chão. Estamos nós dois naquele chão sujo, cada um de um lado e Larry em pé. O sequestrador se levanta e fica ao lado dele, eu continuo no chão, chorando.

– Sabe o que é pior? – Pergunta Larry – Se a polícia te pegar você não vai pra cadeia, mas sim para um hospital por alegar transtorno psíquico.

– Eu não sou louco.

– É louco e sabe disso... Você não lembra do que aconteceu? De como Edward me traiu com você? Ele era seu amante, eu já sabia há algum tempo, por isso desconfiei de você quando ele desapareceu.

– Do que você está falando, pelo amor de Deus?

– Você é um assassino, Michael Grey, Donald Simpson, Edward Flanders, quantas personalidades você tem?

– Eu sou Edward Flanders!!! – Grito, explodindo em raiva – Pare de me chamar de qualquer outro nome.

– Você não é e nunca vai ser nem metade do que Edward foi – Diz Oliver, se agachando ao meu lado – Você era obcecado pela vida dele, tão obcecado que assumiu sua identidade quando o matou, não sei se sinto ódio ou pena de você... Talvez os dois.

Neste momento, ouço o barulho de carros chegando. Além disso, há luzes vermelhas e azuis vindo lá de fora.

– Merda! – Exclama o sequestrador.

Os policiais logo entram no local com armas em punho.

– Mãos para cima! – Diz um deles.

Do meio dos homens fardados sai um homem de quarenta e poucos anos, vestindo uma camisa de manga longa, uma calça social com um cinto marrom ao redor. O detetive.

– Eu disse para ficarem longe dele – Diz ele para Larry e o sequestrador.

– Você não queria agir, Roswell, eu só fiz o que qualquer um faria no meu lugar – Fala o sequestrador.

– Eu entendo... Achamos dois corpos enterrados na casa dele, temos o suficiente para prendê-lo.

– Todos nós sabemos que ele não vai pra cadeia – Diz Larry, com raiva.

Não sei do que estão falando, tudo é confuso para mim. Corpos?

– Acharam os corpos? – Pergunta o sequestrador, mais preocupado com aquilo do que Larry. Ao contrário dele, estava emocionado.

– Sim, uma criança e um adulto.

Os olhos dele começam a lacrimejar.

– Este homem precisa morrer – Fala Larry.

– Sinto muito – Diz o detetive – Algemem ele.

Dois policiais caminham até mim e me puxam pela gola da camisa. Em seguida, colocam algemas em meus pulsos.

– O que estão fazendo? – Pergunto, desesperado, ao ver que a polícia está do lado deles – Eu sou inocente, eles sequestraram minha filha!

– Você tem o direito de ficar calado – Diz um policial.

Olho para trás e vejo Larry me encarando com um ódio imenso no olhar. Será possível que eu realmente seja culpado?

***

Estou sentado em minha cama dentro de um quarto forrado com um tecido acolchoado branco no chão e paredes. O sanatório de Chicago é um lugar desagradável.

Já faz alguns dias que estou aqui.

Deito na cama aliviado, não estou na cadeia.

Sorrio ao pensar em Oliver e Rick, o sequestrador. Os idiotas provavelmente estão desejando vingança, mas eu estou aqui, vivo e sendo tratado relativamente bem.

Alguns me chamam de psicopata, outros de doente, mas eu, Michael Grey, me chamo de injustiçado.

Sinto que Edward está totalmente fora da minha mente agora, ele foi embora, de qualquer maneira, não era uma pessoa boa, tinha ciência dos assassinatos que havia cometido, era um lobo na pele de uma ovelha. Já estou no final da história, você deve ter acreditado em tudo o que Edward disse, certo?

Nunca confie nas palavras de um assassino.


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