Paixão Secreta escrita por Aurora Cooper


Capítulo 3
Histórias




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As aulas passaram rápido, e logo o som do sino ecoou pela escola indicando a hora da saída, Alasca caminhava pelo corredor cheio de criança, ao lado de Luke e Aria, na saída, enquanto desciam a escadaria, uma mulher de cabelos encaracolados que estavam sobre seus ombros, e um vestido branco que combinavam com sua sandália rasteira, estava de braços abertos, Aria correu até ela com sua lancheira de borboleta, e a encontrou com um abraço forte, ela tinha os mesmos traços da mulher, o ambas, apresentavam um sorriso magnifico, Alasca se sentou com Luke em um dos bancos de rocha, e ficaram observando as outras crianças indo para casa, calados e sem olhar um para o outro.

10 minutos.

20 minutos.

30 minutos...

Minutos viravam horas desgastantes, e a entrada estava praticamente vazia a não ser por Alasca e Luke que bufavam entediados.

–Ele ja deveria ter chegado-eu disse me referindo a Sebastião, Luke batia o pé no chão nervosos segurando mais forte sua lancheira, eu olhava para o outro lado da rua, seguindo os carros com o olhar na esperança que em um deles estivesse Sebastião ou Marta. Uma brilhante e talvez louca ideia me passou pela cabeça, mas eu não ficaria sentada em um banco de pedra esperando que algum deles se lembrassem de vir nos buscar, levantei puxando Luke pelo braço.

–Onde vamos?-ele perguntou enquanto atravessávamos a rua olhando para os dois lados pela faixa de pedestre.

–Você vai ver-ele se mantinha calado segurando sua lancheira e me seguindo, enquanto eu passava pelos adultos de terno e maleta, pelas farmácias e lojas, padarias e postos de gasolina, atravessei o parque, estava vazio, os brinquedos solitários pedindo para alguma criança brincar, entramos por um bosque, não muito grande pelo que eu pude ver, tinha explorado tal local na vinda anterior com Sebastião, quebrava os galhos no chão e pisava nas folhas secas, andamos até avistar a enorme árvore, com suas folhas verdes, olhei para Luke, ele pareceu que tinha captado a ideia, coloquei as mãos naquele tronco, e a lancheira na boca, subia me segurando aos galhos, e dei graças a Deus por ter escolhido um par de tênis aparentemente não tão novos invés das sapatilhas de velcro que Marta sugeriu, cheguei ao topo, encontrando um lugar firme para me sentar, e fiz um sinal para Luke subir, ele não hesitou, colocou a lancheira em sua boca e começou a subir segurando firme os galhos, nos encostamos no tronco.

–É lindo não é?-eu disse, ele assentiu com a cabeça, o céu se tingira de várias cores, um laranja meio rosado, e as nuvens que pareciam serem feitas de algodão, tinham formas estranhas e divertidas, como uma tartaruga, podia ver os prédios, e Luke mostrava o quanto eles pareciam pequenos comparando-os com o seu dedo, ficamos apenas ali, com os ombros encostados uns nos outros, meus olhos brilhavam a cada história que ele me contava sobre o seu herói favorito, ou das aventuras do astronauta Pill, que tinha ido a lua e descoberto que ela era feita de queijo (era essa a explicação para as crateras, eram as marcas que se viam nos queijos), e ele parecia maravilhado enquanto eu falava da biblioteca e de como eu me sentia lendo todas aqueles contos de fantasia e de cavaleiros com armaduras e espadas pesadas, que salvavam as princesas em torres enormes, ele contava sobre os dragões, os cuspidores de fogo, e dos seus dentes longos e pontudos, das caldas longas e das asas que se assimilavam com as de um morcego, e enquanto nós dois falávamos sobre tudo, sobre as nuvens, sobre a grama, sobre as formigas, e até sobre um plano para dominar outros planetas, o tempo passava, horas passavam, e não nos dávamos conta disso, até que o sol parecia mais baixo assim como sua luz fraca.

–Mamãe vai matar a gente-ele disse, e desceu da árvore tão rápido quanto subiu, eu fiz o mesmo e percorríemos o mesmo caminho de ida, passando pelos mesmos gravetos, as mesmas folhas, os mesmos troncos de árvores que eu fiz questão de marca-los com uma pequena estrela para termos certeza que estávamos no caminho certo, saímos do bosque, atravessamos novamente o parque, andamos pelas mesmas calçadas e vimos os mesmos postes, saímos com passos leves e não muito rápidos, em seguida em passos mais longos, então corremos, com nossos corações acelerados e o cabelo voando, paramos em frente ao prédio, dobrados com as mãos nos joelhos, respirando fundo, enquanto o elevado subia, Luke falava que desculpa nos daríamos, e que Marta cortaria nossas cabeças.

–Vamos dizer a verdade, simples-disse quando as portas se abriram e eu fui até nosso apartamento, Luke bateu na porta, e logo Sebastião abriu, Marta parecia nervosa no telefone, mas o largou assim que nos viu entrando, ela me abraçou tão forte, que eu não conseguia respirar e o lanche voltaria, assim como os meus órgãos a medida que ela me apertava, mas depois, sua felicidade de nos ver, foi substituída por um rosto sério e olhar reprovador.

–ONDE VOCÊS ESTAVAM? EU ESTAVA QUASE LIGANDO PARA POLÍCIA!

–V-v-ocê não foi nos buscar...a gente só tava passeando-Luke disse gaguejando

–VOCÊS ESPERASSEM! SABE COMO FIQUEI PREOCUPADA?!

Minha cara era de pavor, assim como a de Luke, e meus olhos ja lacrimejavam, mas Sebastião parou ao lado de Marta acalmando a esposa

–Acalme-se Marta, é claro que eles não veiam ter saído mas, pelo menos estão aqui-Marta pensou um pouco, e respirou fundo se abaixando para ficar do nosso tamanho, e nos envolveu em um abraço com seu rosto perto de nossos ouvidos.

–Nunca mais façam isso, pelo amor de Deus, eu amo vocês-eu dei um pequeno sorriso banguela, e Luke um beijo na bochecha de Marta, Sebastião deu algumas advertências, e claro, muitas reclamações, fui para o meu quarto depois de um banho quente, estava deitada mudando o canal da Tv, mas só passavam aqueles desenhos chatos e sem graça, ou, filmes que além de me confundirem e eu não entender absolutamente nada, eram violentos e faziam apologia a drogas e ao crime, oque parecia errado.

(...)

Ja era meia noite e meia, eu ainda estava acordada, o quarto estava completamente escuro, as cortinas fechadas e a janela também, o cobertor cobria-me dos pés a cabeça, deixando um pequeno espaço para o nariz e para os olhos, eu me encolhia na cama, e permanecia imóvel, ouvia barulhos, como passos, ou coisa parecida, então o ranger da porta sendo aberta, pensei que talvez fosse Marta, ou Sebastião, mas não era, e eu apertava os meus olhos com medo enquanto sentia que a tal coisa se aproximava, dei uma pequena espiada, a sombra crescia, e eu sentia vontade de fazer xixi na cama de tanto pavor, a mão pousou em mim, e eu me descobri quase gritando mas minha boca foi tapada com a mão.

–Sou eu-Luke disse, meu coração parecia que ia saltar pela boca.

–Oque faz aqui?-me sentei na cama, Luke tinha uma pequena lanterna nas mãos.

–La na árvore...-ele falava baixo, caso Marta ou Sebastião ouvissem, estaríamos encrencados por não estarmos dormindo a esta hora.-você não terminou de contar oque aconteceu com o cavaleiro.-eu havia começado uma história, sobre um cavaleiro em seu cavalo branco, que iria salvar a princesa que estava aprisionada na torre mais alta, no quarto mais alto, mas em seu caminho, havia um terrível dragão, e infelizmente não pude terminar de contar a história pelo tempo, mas agora ele estava aqui, com uma lanterna, eu ja estava sem sono mesmo.

Juntamos as cobertas e fizemos um tipo de tenda com nós dois dentro, eu acendi a lanterna e coloquei próxima ao meu rosto, então comecei a história.

–O cavaleiro, segurava firme sua espada, olhando para a fera de dentes pontudos e asas abertas, ele era corajoso, e não demonstrava medo algum, enquanto o terrível dragão cuspia fogo...

–Qual era o nome do cavaleiro?-Luke me interrompeu, eu pensei por um instante e dei um sorriso ao responder.

–Ele se chamava Luke, mas continuando.-ele riu.-o destemido Luke, golpeava o dragão, protegendo-se com seu escudo, a fera era enorme, e quando Luke encravou a espada no rabo escamoso e longo do dragão, ele não reagiu muito bem, se ergueu, ficando muito maior que o cavaleiro, e abriu suas asas, Luke olhou nos olhos daquele dragão, e procurou toda sua coragem, ele corria em direção a fera, primeiro subindo por ela, como se escalasse uma montanha, o dragão se debatia, e tentava pega-lo com seus dentes, então Luke, chegou no pescoço do dragão, que se sacudiu tanto jogando Luke para o alto, tomado pelo impulso, o cavaleiro gritou em fúria, e ao cair, viu a lâmina de sua espada atravessar o pescoço do dragão, e chegou ao chão em uma queda perfeita, com a cabeça da fera rolando e parando ao seu lado, o corpo enorme, fez o mesmo. O cavaleiro entrou na torre, subindo as escadas que pareciam infinitas, e finalmente chegou ao quarto, onde a princesa sorria de alegria.

–A princesa se chamava Alasca-Luke disse, e dessa vez eu sorri-e como prova de gratidão deu um beijo no cavaleiro, que a levou de volta para o reino, onde o rei recebeu a sua filha com uma festa, reunindo todas as pessoas do reino, tanto as mais ricas quanto as mais pobres, e mandou logo os preparativos serem feitos, em uma semana, estava tudo em ordem e todos compareceram a igreja, a princesa surgiu, caminhando devagar pelo tapete vermelho enquanto a música tocava, com seu longo vestido branco, e o cavaleiro, de pé no altar, com um sorriso esperando por sua noiva, fim.

–Agora-eu entreguei a lanterna para Luke-é a sua vez.

Luke começou uma história sobre um astronauta, ele foi até a lua com seu cachorro, e descobriu que ela era feita de queijo, e então, começou a devorar a lua, porém em um tempo, ele acabou sem um lugar para ficar,já que comeu a lua, e enquanto vagava pelo espaço, sem rumo algum com seu cachorro, ele avistou um planeta colorido, onde tinha parques de diversões, e olha só, o planeta era inteiramente feito de algodão doce, e a sua governanta, era uma alienígena muito bonitinha e fofinha, que se chamava Alasca...

O resto da noite, foi apenas de histórias, eu perdi o meu medo, ficamos deitados na cama, falando baixinho um para o outro, então eu desliguei a lanterna, mas ainda podia ver o rosto de Luke , me cobri, e Luke fechou os olhos junto comigo, e eu tinha certeza que ali, nenhum dragão ou monstro me assustaria.


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