A Loba escrita por Gaby Mell


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura!



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– Co-como assim? - sério que ela falou isso? Não acredito que ela vai colocar alguém no MEU quarto.

– Desculpa mais não tem outro jeito. Ele vai chegar hoje de noite e por enquanto vai dormi no chão do seu quarto até conseguirmos uma cama.

– Ele? Além disso, é um garoto? E as regras? Ham? - estava desesperada. Como colocar um estranho no quarto de uma menina? Meu Deus!

– Eu sei as regras Mariana, deveria saber que não quebro regras, a menos quando necessário. Ele não ficará aqui por muito tempo, logo completará 18 anos e você terá seu quarto de volta. - disse ela com um tom de voz autoritário. Como ela pode fazer isso comigo.

Ando de um lado pro outro tentando achar algum argumento.

– E se ele me agarrar de noite? Você sabe que não me dou bem com meninos! - estava literalmente e totalmente desesperada, ficando vermelho de raiva, não gosto quando iinvadem meu território, e agora é um desconhecido! Pior, é um menino!

– Ele não irá. Já me decidi! Você sabe muito bem que seu quarto é ao lado do quarto dos inspetores e é só gritar.

Ela deu as costas e me deixou no canto. Agora sim estou nervosa. Helen não tem casa e como trabalha aqui resolveu se mudar para cá, já que a "cobratilde" da diretora quase não vem aqui.

Não tem mais o que fazer, agora terá que aturar quem quer que esteja no meu quarto. Se ele pensar que pode faz o que quiser comigo, esta muito enganado.

Vou caminhando até o lugar de antes. Se participasse de um desenho animado, estaria saindo fogo das minhas orelhas e faíscas dos meus olhos.

Estão todos sentados no tapete da sala de estar, é o maior cômodo da casa, mesmo assim temos que nos espremer para cabermos e dar boas vindas ao novo amiguinho. Argh que raiva.

– O que a Helen disse? - pergunta Michelle assim que chego ao seu lado.

– Não quero estragar a surpresa Mih, mas é um garoto. - a vejo dando uma risadinha.

– O que foi? Gostou é? Olha que estou de olho em você. - disse brincando, sei que ela esta pensando em algo e quero saber.

– Disso eu sei, também sei que só há espaço no seu quarto, Mary. - me olha com uma carinha sapeca.

– E o que uma coisa tem haver com a outra? Ta sabendo de coisa de mais e não me conta dona Michelle?

–Ah! Sei também que ele tem 17 anos ai agora você vai ter um amiguinho do seu tamanho - ela deu uma piscadinha de olho pra mim - você sabe como as coisas passam rápidas aqui não é? (risos)

Ficamos conversando e brincando até a chegada do novo "intruso". Todos ficam em silêncio aguardando curiosamente para ver o rosto do novo amigo. Eu estou ansiosa, nervosa e com raiva de ter que compartilhar meu quarto, ainda não acredita que Helen fez isso comigo.

Entre os assistentes sociais e a Helen, entra um garoto alto, cabelos bem pretos, forte, pode-se dizer que bonito.

Ele olhava para toda a sala, até que seus olhos caem sobre os meus. Por um instante fugi desse mundo. Ele ficou me encarando e franziu a testa, voltei ao mundo horrível em que vivo e percebi que em meu rosto estava estampado um sorriso idiota que não sei de onde surgiu.

Ele já foi apresentado e nem se quer reparei qual é seu nome, mas que se dane depois eu pergunto para a Michelle ela deve saber.

Todos já estão indo para a cantina não é tão grande, mas dividimos-nos em 2 grupos e assim todos comem, mas com o atraso da chegada do tal garoto, iremos comer todos juntos, o que vai ser muito difícil, então decidi ir comer na sala junto com outras crianças.

O grupo foi o mesmo, mas agora o segundo grupo comeria na sala. Estava tudo indo bem até eu sentir alguém sentar do meu lado, não quero olhar para ele, finjo indiferença pela sua presença e parece que ele ta me provocando, sempre tentando tocar em mim. Ate que fim, terminei a comida, não aguentava mais aquilo, me senti sufocada.

Levantei do chão em que havia sentado e assim que vou passar pela porta a Helen me chama. Que raios ela quer agora...

– Então Mary, já quer mostra o quarto em que ele irá ficar? - olho para trás e ele esta olhando para mim.

Olho para trás bufando. Ela quer me irritar só pode. Sinto meu rosto ficando quente, sei que estou toda vermelha.

Vou até ele, que já terminou de comer, e chuto seu pé.

– Vem logo vou te mostrar o quarto. - Saio andando em direção as escadas e logo percebo que esta atrás de mim.

– Então, como é seu nome? - Ele pergunta e o deixo falando com o vento.

– Ei! Você é surda? - Aí Deus, por que ele tem que ser tão lindo?

Caminho até o final do corredor e chego à porta do MEU quarto e me viro para ele que está logo atrás de mim. Durante o pequeno percurso ele não parava de falar e isso já estava me irritando.

– Olha aqui garoto se você pensa que poderá mandar no quarto, está muito enganado, ele é MEU.

Aí que idiota, está rindo da minha cara.

– Ufa! Pensei que o gato tivesse comido sua língua. - dizia entre risos

Viro-me e abro a porta, entro sem lhe dar uma única resposta.

– Você vai dormir no chão até conseguirem uma cama. Não mexe nas minhas coisas. Não fala comigo. Não bagunça meu quarto. E não teremos problemas.

Viro-me e saiu batendo a porta antes de quaisquer respostas.

Preciso de água. Não acredito que isso é verdade. Colocar um garoto no meu quarto. Helen pirou de vez, se ele me agarrar? Bater-me?

Sei que é pouco provável, mas depois que o vi, duvido de nada.

O nome dele é James, ele falou enquanto falava sem dar indícios que iria parar no caminho até o quarto, como a Helen disse tem 17 anos. Ele é bonito não vou mentir mais tem algo nele que me faz ter raiva dele, A é... Ele vai ocupar o MEU espaço. E isso já é motivo de sobras para mim.

Chego à cozinha e bebo muita água. Preciso acalmar meus nervos, não quero voltar ao quarto, vermelha como um pimentão.

Já é quase 21h00min, o toque de recolher já vai bater. Estou enrolando na cozinha, não quero ter que encarar o intruso do meu quarto, mas como terei que ir dormir, quero ficar o mais longe dele, por mais tempo possível.

Por que será que ele veio para cá? Por que de todas as crianças ele resolveu que eu seria a ideal para conversar? Já que desde que chegou não abriu a boca para falar com ninguém?

Seria perfeito se ele não falasse comigo. Sem contatos, sem conversa. Seria mais fácil assim.

*Triiiiiiim*

Bate o sinal, estou perdida! Eu não quero voltar agora para o quarto, mas infelizmente sou obrigada.

Subo as escadas, paro enfrente a porta. Respira Mary, é só um garoto.

Abro a porta tentando fazer menos barulho possível. Entro devagar e o vejo de costas, perto da estante de livros e uma fotografia minha e da dona Adelaide, quando tinha oito anos.

Lembro-me daquele dia como se fosse ontem. Ela me abraçando quando eu estava mal por não ter sido adotada novamente, começou a fazer cócegas em mim e Helen tirou uma foto com a velha câmera fotográfica que tinha.

– O que eu falei sobre mexer nas minhas coisas? - falo assim que o vejo com a intenção de pegá-lo.

Ainda de costas, ele dá uma risadinha e vira, ficando de frente para mim.

– E quem disse que estou mexendo? Observar e mexer são duas coisas bem diferentes, não acha?

–Mais iria pegar se não tivesse chegado. - suspiro pesadamente - Agora melhor ir dormir. - disse me deitando na cama.

– Mais já? Ainda tá cedo? Não quer ficar conversando comigo não?

Deixo-o falando sozinho. Estava sem sono, mas não conseguiria ficar olhando para ele. Quero pensar que ainda estou sozinha, no meu quarto, com minhas coisas.

– Ok então.

Ouço passos sei que ele foi se deitar. Fico pensando em tudo o que aconteceu hoje, quando recebi a notícia, quando o vi, agora sim acho que não tem como piorar.

Pego no sono com meus pensamentos.

Ouço um barulho dentro do quarto, o corredor está escuro. Minha curiosidade fala mais alto e vou em direção ao quarto. Abro a porta e de deparo com a janela aberta. Deve ter sido isso que fez barulho. Vou ate ela e quando vou fecha-la me deparo com uma grande lua-cheia em frente a minha janela e fico a admirando. A lua é tão perfeita.

Acordo com barulhos da janela batendo, o que é estranho, pois jurava que estava fechada quando fui dormir. Deve ter sido aquele intrometido que a abriu.

Olho para o colchão em que James deveria estar dormindo, mas não o vejo. Com certeza deve estar se intrometendo onde não é chamado.

Saio debaixo do meu cobertor, com muita vontade de voltar para cama e esquecer a janela, mais ela ficaria batendo e me acordando toda hora.

Levantei e fui fechar a janela. Quando preparava para tranca a porta se abre com tudo me assustando.

Minha vontade foi de bater naquele moleque, roubou meu quarto e ainda me assusta. Ele estava com um copo na mão com água.

– Não pode trazer bebidas para cima - digo o encarando séria.

– Desculpa não sabia que estava acordada. Já viu como lá é assustador sem ninguém? Nem pagando que ficaria lá - disse olhando para o corredor e fechando a porta.

– Nossa, pelo visto é medroso. - levanto meus braços acima na cabeça e olho para o teto - Me deus o que fiz para merecer?

– Amanhã irei pra sua escola, legal não é? - disse terminando de beber a água que restava no copo.

Ainda com os braços erguidos penso: Serio isso? Mais alguma novidade ai de cima Deus?

Pensei que já tinha terminado a escola... O que aconteceu? - não queria continuar uma conversa, mas quando vi a pergunta já tinha saído da minha boca.

– Não, na verdade entrei um ano atrasado e depois tive que repetir o 8° ano. Então esse é meu ultimo ano. Graças a Deus, e você?

Por que comigo? Serio isso? Espero que fique na sala mais longe da minha.

Deito na cama e me viro ficando de costas para ele.

– Você sabe que não pode ficar fugindo de mim assim, não sabe?

Não é que estou fugindo, é só que me acostumei a não ter amigos e isso para mim é estranho. Além disso, ainda tenho raiva dele mesmo não sendo culpa dele, por ele dormir no meu quarto.

Em minutos estou dormindo, mas dessa vez não tive nenhum sonho.

Acordo para mais um dia de tortura na escola.

Como sempre faço, levando amaldiçoando a pessoa que criou a escola arruma a cama, pego meu uniforme e vou tomar um banho para despertar no banheiro do meu quarto - todos aqui têm um banheiro no quarto, pois seriam difíceis tantas crianças em poucos banheiros para dividir - faço minha higiene matinal e em poucos minutos estou pronta.

Saio do banheiro e encaro o garoto que esta apenas com uma bermuda em frente à porta.

– Pensei que tivesse morrido lá dentro.

Ele passa para dentro em uma velocidade que fico impressionada, acho que ele gosta da escola, deve ser isso.

Vou ate o espelho e me encaro como qualquer outro dia. O reflexo que ganho é o mesmo que ganhei no dia anterior e o mesmo a um ano atrás. Acho que não crescerei mais, foi bom enquanto durou.

*Triiiiiiiim*

Bate o primeiro sinal para descermos e vou até minha mochila para ver se não estou esquecendo nada.

Caderno, estojo, trabalho de Álgebra, e mais coisinhas minhas. Tudo certo.

Coloco a mochila nas costas e vejo James saindo do banheiro todo vestido. Achei que o uniforme masculino ficaria fazendo-o parecer nerd, mais me enganei, ele está muito lindo. O uniforme masculino basicamente é formado por uma calça azul, uma camiseta branca com o brasão também do lado esquerdo, e a gravata azul que no momento ele deixou sem arrumar.

Fico olhando para ele se arrumando, ele é rápido. Logo que o vejo já esta em frente ao espelho arrumando seu cabelo. Fico olhando e nem percebo ele vindo em minha direção. Ele já esta com a mochila nas costas.

Ele até que ficou bonitinho, com seu cabelo arrepiado.

Já estou me esquecendo de que tenho que estar com raiva dele, ele esta no meu espaço. Viro de costas e saio do quarto apressada, já irá bater o segundo sinal, mas não consigo ficar no quarto com ele.

Chego perto da Helen junto com as crianças e a ajudo a organizar as crianças em fila.

– Viu? Não foi tão ruim - disse ela com um sorrisinho no rosto.

– Não foi ruim, foi péssimo. Poxa Helen, era meu quarto... Só não coloca mais ninguém ta bom? Não sei como seria dividir o quarto com mais alguém.

– Tudo bem, já estão todos aqui? Podemos ir? - ela pergunta e vejo que o James acaba de descer.

– Sim todos aqui. - afirmo e seguimos para a escola.

Helen dá seu anuncio diário para as crianças e vou indo para dentro da escola. James vem logo atrás.

– Ei? Você sabe onde é a direção? Eu preciso pegar os horários pa... - eu o interrompo antes que terminasse sua frase.

– Procure!

Apertei meus passos e cheguei ate a sala e sentei na carteira de sempre. Não havia ninguém na sala ainda, apenas eu e meus pensamentos. Será que ele chegou até a direção?. Chega! Eu não quero ficar pensando nele.

Olho em volta e já tem bastante gente na sala. Toca o sinal da primeira aula, hoje começaremos com biologia, estou sentada em uma das ultimas carteiras do lado da janela. Na janela, reflete o dia nublado de nuvens carregadas, acho que hoje irá chover.

O professor entra na sala e vai direto para a lousa, ele tem cara de que não gosta de adolescente, nunca troca palavras com ninguém a menos que pergunte algo sobre a matéria, deve ser difícil de aturar um velho rabugento assim como ele dentro e casa, mas gosto de pensar que ele é apenas assim na escola para dar medo nos alunos, que mesmo sendo assim em sala de aula ele não é assim em casa.

Estamos todos em silencio, já virei algumas paginas do meu caderno com a matéria que o professor está passando na lousa, batem na porta e o diretor entra.

– Licença professor Joes, temos um aluno novo- ele diz olhando para a porta.

– Claro, claro mande o entrar por favor diretor Willians - parece que ele é bipolar, ele ta sorrindo agora. Ele fica bem melhor sorrindo.

– Turma esse é o novo aluno, James entre, por favor.

O QUE? Ele ta me perseguindo só pode!!!

Virei para a janela, não o quero ver entrando. Lá fora vejo os carros no estacionamento, alguns alunos fazendo trote com o carro de algum professor. Nada de novidade.

O diretor já foi embora, quer dizer que ele já se sentou posso olhar para frente. Procuro onde James sentou e vejo que sentou do outro lado da sala. Graças a Deus, pelo menos isso.

Próxima aula e a professora falta. Não podemos sair da sala mais podemos conversar. Bom eu não converso com ninguém então volto a olhar para a janela que agora começa a chover.

Pelo jeito James já se enturmou, mas toda vez o pego olhando para mim. Adivinhem quem esta esfregando os peitos siliconados na cara dele, sim, a Giulia. Ela é cara de pau mesmo, namorando e dando em cima de outro. O que estou pensando, que eles se comam.

Toca o sinal para intervalo e espero todos sair. Estou sozinha na sala agora, organizo meus cadernos para a próxima aula. Saio da sala e quando vou passar pela porta alguém aparece do além para infernizar minha vida.

– Eae nanica? Vai onde? - pergunta com aquela cara de vaca que tem.

– Sai da minha frente.

Conto ate dez.. Vamos lá Mary é só um mês você consegue.

– Acho que quem tem que sair da frente aqui é você. - Passo esbarrando nela e saio sem olhar para trás.

– É melhor tomar cuidado, o arco- Iris pode estar perto já que o duende esta aqui não é? - ela grita ainda mais enquanto me afasto.

Estranho ela estar sozinha, as sangue sugas não desgruda dela nem para ir ao banheiro. Elas devem ter faltado à aula hoje.

Vou andando em direção ao pátio. Quando vou virar o corredor sou atacada com uma coisa líquida que não sei o que é. Com o susto e o reflexo tampei meu rosto o mais rápido que pude.

Abro os olhos e vejo as duas amiguinhas da Giulia.

– Agora sim parece o duende no final do arco Iris - diz a amiguinha número um apelidada por mim de lombriga por ser mais alta que uma girafa e mais magra que um palito de dente.

Gente me diz o que eu tenho de importante? Por que elas têm que ficar me enchendo?

– Obrigado lombriga, por ter dado ao meu dia mais cor - disse forçando um sorriso. - Agora saia da minha frente antes que te faça engolir esse balde sua cadela.

– Ui, cuidado Clarisse, ela ta bravinha.

Cheguei ao orfanato e fui correndo para meu quarto. Sabia que a partir de agora tudo poderia mudar.

Na escola, aguentei ficar com um sorriso no rosto em todas as aulas seguintes. Sentia que era observada mais não me importei.

A melhor roupa do meu guarda-roupa, agora estava fadada ao arco-íris para o resto de sua existência.

Deitada na cama, eu chorei. Sim, chorei mais de raiva. Como aquela cadela da Giulia pode ser tão baixa?

Mais isso não ficaria assim. Não mesmo.

Fui tomar banho tirar o resto das manchas de tintas que ficaram no meu cabelo.

A raiva de ver James me olhando no canto dos olhos e não vir falar comigo, estava aumentando cada vez mais. Não sei o porquê, mas me incomodou vê-lo tão longe, nem para perguntar o que havia acontecido. Mas acho que ele já sabia que isso iria acontecer, já que antes ele me olhava estranho. Giulia deve ter contado sobre seu planozinho idiota.

E os dias dele, eu tinha mais que certeza, não seria fáceis a partir de agora.


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Notas finais do capítulo

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