Smile escrita por Hinazi


Capítulo 4
Sean.




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— Sim, eu sei. E você? – Mexeu no próprio cabelo, vendo borboletinhas pequenas pousarem em outras flores.

As borboletas pareciam tão felizes, aproveitando tanto a vida que durava só um dia.

— Aprendi. Aulas desde que era criança. – Fechou os olhos. – Mas você é mais baixa, vou ter algum trabalho.

— Não precisa me conduzir. – Bufou. – Eu saberia dançar até sozinha.

Meguri revirou os olhos.

— Claro, claro.

Lucy sentiu seu estômago roncar baixinho.

Não havia se alimentado muito bem nos últimos dias e ainda não havia tomado café da manhã.

— Está com fome, Meguri?

— Um pouco, sim. – Olhou-a. – Ficaria feliz de comer algo.

— Entendo. – Dirigiu seu olhar para um criado que estava parado próximo a porta que levava ao jardim. – Por favor, traga um chá e algo para comer.

— Como desejar. – Curvou-se antes de sair.

O criado voltou com um carrinho, com duas porções de bolos e pães. Além da jarra de café e chá.

Lucy revirou os olhos. Não havia pedido tanta comida.

— Obrigada. – Murmurou para o criado e virou outra vez para Meguri. – Sirva-se e aproveite.

Lucy pegou um xícara de chá preto e pãezinhos doces.

A Princesa gostava de doces.

— Agradeço. – Meguri serviu-se de café e pegou um pedaço de bolo de tamanho médio, salpicado com açúcar.

Depois de tomar um pouco de chá, Lucy dirigiu sua voz para Meguri.

— Se vamos nos casar e nossas mães esperam que nos demos bem, temos que fingir, certo? – Mordeu um pedaço do pão e permaneceu em silêncio.

— Hum... acredito que sim. – Comeu um pedaço de seu bolo. – Não vai ser difícil, teatro é muito fácil.

— Não sei se interpreto bem. – Lucy tomou outro gole. Realmente gostava de chás. – Não sou expressiva.

Meguri sorriu de leve.

— Isso é fácil de perceber.

Lucy não tinha alterado o tom de voz ou a expressão desde que começaram a conversar. Era sempre... Sem graça.

Sempre parada, com a voz em tom monótono, Lucy podia ser considerada alguém de uma expressão só.

— Obviamente, há motivos para sermos diferentes. – Mexeu um pouco a xícara. – Não vejo motivo para sorrir ou para ficar animada a todo momento.

— Entendo. – Suspirou. – Espero descobrir o motivo de você ser assim.

— Não pretendo te contar. Provavelmente, seria mais um motivo para nos distanciarmos. – Comeu o que restava do pão.

— Me pergunto porquê. – Colocou o garfo sob o prato vazio.

— Bem, conversamos sobre tudo que tínhamos de falar. – Rapidamente mudou de assunto.

Se levantou sem esperar Meguri, se continuasse ali, sabia que ele a faria falar.

Colocou as mãos no rosto por algum tempo.

"Sean...". – Sentiu as lágrimas lhe chegando aos olhos, ela só queria seu irmão de volta.

Meguri continuou sentado a mesa, olhando-a, com uma expressão que demonstrava um pouco de pena.

Lucy decidiu se afastar, para limpar qualquer imperfeição que pudesse ter surgido na maquiagem com as lágrimas que tentaram descer e que Lucy limpou mais rápido.

Meguri se levantou e entrou novamente no castelo, procurando pela mãe.

Talvez pudessem ir embora, já que a conversa com a Princesa parecia ter acabado.

"Grande maneira de tentar fingir se darmos bem. Com ela andando rápido, fugindo de mim".

Aproximou da mãe, que ainda conversava com Mary.

— O que foi, querido? – Olhou para o filho, seus gentis olhos acinzentados, estavam brilhantes.

— Lucy precisou ir à algum lugar. – Sentou-se em outro sofá. – Estou esperando-a.

Mentiu, porque sabia que a mãe de Lucy a reprenderia. Não tinha nenhum sentimento por ela, mas também não tinha motivos para deixá-la na pior.

— Tudo bem, logo poderemos ir embora, só precisamos acertar mais alguns detalhes.

Meguri imaginava quais eram todos estes detalhes que elas tanto falavam.

Para si, não havia tantos detalhes a ser discutido sobre um casamento.

Eram só... Flores e decorações combinando, além de uma festa depois. E um padre. Uma roupa bonita para os noivos e rezas.

Lucy retocou sua maquiagem, e ficou encarando o próprio reflexo . Se perguntou como Sean agiria sabendo que sua irmã iria se casar com um desconhecido.

O que a fez chorar mais ainda.

Conforme piscava, o rímel escorria dos cílios para as bochechas da pele pálida.

Eram lágrimas silenciosas, mas cada antiga memória de Sean que lembrava, chorava ainda mais.

Sentia raiva dele não estar ali e sentia mágoa. Além de culpa por culpar o irmão. Mas se lembrava de algo, Sean sempre cumpria o que lhe era dito pelos pais, e mesmo contra, fazia o melhor possível. E deveria fazer o mesmo. Não queria se casar, não queria um marido e muito menos deixar o castelo, mas colaboraria para que tudo continuasse nos eixos.

Se lembrava que o irmão tinha frequentes aulas de esgrima.

Ele nunca deixava a irmã ir junto, apenas colocava a mão em sua cabeça, carinhosamente e dizia a mesma coisa: "Garotas são feitas de açúcar e outras especiarias, irmã, seja doce como você sempre foi".

Mas depois da morte dele, insistiu por dias até sua mãe deixá-la praticar esgrima também.

Lucy fungou e limpou mais algumas lágrimas, para novas descerem.

Ouviu sua porta ser aberta e saltos altos andando e depois sentiu ser abraçada.

— Querida, o que houve? Por que está chorando?

— ... – Olhou para a mãe com os olhos nublados. – ...Sean.

O mesmo nome, a mesma pessoa, mas que nunca voltaria.

Lucy só queria o motivo que a fazia sorrir, de volta.

— Oh, querida. – Mary abraçou a filha ainda mais forte.

Palavras de consolo nem sempre são boas para consolar. E o que as pessoas precisam, é de um abraço sincero e alguém ao seu lado.

— Eu quero meu irmão... – Escondeu o rosto nas mãos. – Por que ele morreu?!

A mãe acariciou os cabelos da filha.

— Não podemos evitar a morte, Lucy.

— Mas Sean... Ele era tão... – Ela fungou. – Ele não merecia isso.

Lucy soltou-se da mãe e gritou de frustração.

— Por favor... Me deixe sozinha. Só um pouco. Prometo voltar logo. – Abaixou a cabeça, chorando muito.

Seu amado irmão, que lhe deu a rosa que estava em seus cabelos, não ia voltar.

Há algum tempo, Lucy tentou se acostumar com isso, mas, era impossível.

Não importava quantos gritos desse, quantas lágrimas gastasse.

A morte era o que os separava, uma separação que não tinha encontro.

E Lucy precisava se acostumar, ou superar.

Apoiou as mãos na pia e encarou o espelho, vendo as lágrimas escorrerem.

— Vê o que está fazendo, Sean? – Abaixou a cabeça. – ...Vê?

Os ruídos que fazia enquanto chorava, apenas aumentavam.

— Está me fazendo chorar, Sean. – Lágrimas escuras pingavam na pia, por conta da maquiagem. – Você disse que era para eu estar sempre feliz! Sorrindo!

Bateu com as duas mãos no espelho, produzindo um ruído alto.

— Mas, se você não estiver aqui comigo, não existe motivo para eu sorrir! – Lucy bateu outra vez no espelho, ao gritar com raiva. – Você não podia morrer, Sean...

As mãos foram abaixando e Lucy se sentou no chão. Colocou a cabeça entre as pernas.

— Não podia... – Murmurou baixinho.

Queria manter memorias boas com seu irmão, naquele momento, mas só conseguiu se lembrar da mão fria dele, acariciando seu rosto, com lágrimas nos olhos e dizendo em um sussuro: "Eu te amo, irmã... Você vai ser sempre minha rosa branca, minha irmãzinha inocente...".

Lucy estava tremendo e chorando muito, quando Sean disse aquilo, mas, ela despencou em lágrimas quando o irmão parou de acaricia-la e seus olhos não se abriram mais.

Ficou alguns dias na ala hospitalar do castelo, por causa dos surtos que teve.

Chorava e berrava, e em alguns momentos, se arranhava sozinha, e por isso, ficara sedada quase o tempo todo, nas semanas que se seguiram, até que seu estado fora melhorando.

Aí então, achara a rosa branca que ganhara do irmão, jogada na cama. Depois disso, a rosa branca não saía do seu cabelo.

Era como ter o seu irmão consigo. Era como ter os últimos momentos do seu irmão guardados junto dela.

Foram últimos momentos dolorosos, mas Lucy não desejava esquecê-los.

Não conseguiria deixar de lembrar de nenhum dos detalhes.

"..." – Respirou fundo, mas as lágrimas continuaram escorrendo.

Queria se lembrar de seus bons momentos, como os dias que passeou nas costas de Sean, pela cidade, ou quando ele tomava chá com ela no jardim.

O lugar era inundado por sorrisos e risos. Lucy continuou a ir para o jardim, mas sozinha.

Ver Meguri sentado no lugar que Sean ficava antes, machucou-a, mesmo que a cor dos cabelos fossem iguais, ele nunca iria ser seu amado irmão.

Lucy também era agradecida pelas últimas palavras de Sean, terem sido especialmente para ela. Mas, também, passou a sentir um enorme medo de ficar doente.

Apesar de, em alguns momentos, ter desejado a morte, para ficar ao lado de seu irmão, além da linha dos vivos, Lucy lembrava do sofrimento da mãe ao perder seu filho mais velho. A Princesa não queria ser a causadora de mais dor para sua mãe por um desejo um tanto egoísta.

Se vivesse sua vida, e morresse de forma natural, mesmo assim, o encontraria depois.

Podia esperar, por mais dor que sentisse a cada dia que acordava sem o sorriso do irmão ao tirá-la da cama para ir às aulas, podia esperar.

Seria a garota forte que seu irmão queria que fosse. Ele ficaria descontente e a olharia com repreensão se soubesse que Lucy deixara a mãe sozinha.

Suspirou e levantou-se do chão, olhando-se no espelho, vendo como a maquiagem borrada a tornava ainda mais patética.

Lavou o rosto e enxugou-o em uma toalha. Preparando-se para se maquiar de novo.

Seus olhos verdes estavam um pouco inchados e vermelhos por causa do excessivo choro.

Abriu levemente a boca enquanto passava rímel nos cílios, involuntariamente.

Voltaria a pintar seus lábios com a mesma cor fraca de antes, e cobriria as quase inexistentes, imperfeições que possuía na pele.

Sean adorava cutucar as bochechas da irmã, estas agora, estavam um pouco avermelhadas, assim como seu nariz, que ele adorava fingir roubá-lo, quando Lucy era criança.

Suspirou, sua expressão tinha voltado para a mesma monotonia de sempre.


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Notas finais do capítulo

Ah, Princesa... prometemos ficar ao seu lado.



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