Coração de Porcelana escrita por Monique Góes


Capítulo 37
Capítulo 36 - Caillech




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Capítulo 34 – Caillech

Se remorso matasse, Victoria teria morrido no momento em que recobrara a razão.

Os Macbeths acreditavam que alguns segredos haviam entrado no quarto e atacado os dois, o que causara a punição do Santuário. Eles nem sonhavam que fora ela que fizera aquilo. Pelo menos, a parte de atacar Jim.

Não sabia nem como fizera aquilo direito, só sabia que fora uma feia pancada na cabeça, o suficiente para Vincent não tentar mata-la por estar mais preocupado com o irmão mais novo. Os curandeiros do lorde haviam tratado dele, mas ele tivera algumas convulsões no caminho causado pelo traumatismo craniano.

Vira-o sendo levado coberto de sangue, que também saía pelo nariz e a boca entreaberta, inconsciente. Também trataram de Victoria, que estava com arranhões e mordidas causadas pelo lobo – consideravelmente leves -, só que restava saber a ela se fora o lobo que lutava com o do príncipe, ou se fora Niflheim tentando salvar seu dono.

Graças à magia, no dia seguinte ele estava de pé, a lateral esquerda de sua cabeça havia sido quase completamente raspada para que pudessem ver melhor a gravidade do ferimento, e aquela visão perseguira-a o dia todo como um lembrete do que havia feito. Não fora culpa dele se o rei morto havia dito que a escocesa possuía uma inclinação à necromancia, mas acabara sendo descontado nele.

Mas chorara quase a noite toda.

Sinceramente, estava sendo um pouco demais.

Era algo que não conseguia afastar de sua mente: inclinação à necromancia, e o fato de quase ter matado Jim. O cabelo dele só fora um lembrete para si o dia todo e estava tão estressada por causa daquilo. E parecia que aquelas vozes a faziam recordar de Akinyi, Anyu e Stephania por algum motivo além do fato de estar ali para salva-los.

Até então estavam em termos um com o outro. Mesmo com o que dissera para Anastasiya na noite anterior, era inegável que sentia alguma atração pelo rapaz, mesmo o conhecendo relativamente pouco. Ele era bonito, educado e inteligente, como não se atrair? E confiara nela o suficiente para lhe contar algo que era óbvio que nunca compartilhara com ninguém. E como Victoria retribuía? Jogando-lhe um tronco na cabeça e causando um traumatismo craniano. Só lhe restava chorar, já que não tinha coragem de pedir desculpas. Também estava preocupada com seus amigos, que estavam desaparecidos e sabe-se lá qual era a atual situação deles. Akinyi, Anyu e Stephania... Como deveriam estar?

As vozes haviam voltado com força total, mas estava tão focada nas outras coisas que conseguia ignora-las. Ao menos em partes. Lembrava-se de que haviam falado perfeitamente, incitando-a a atacar, e fora o que fizera.

Queria que elas calassem a boca novamente.

Mas então um soldado do Lorde Macbeth batera-lhe à porta de madrugada questionando se havia visto o príncipe Alastair, que ele simplesmente evaporara.

Ninguém havia ido – ainda – falar com Jim, pois ele estava se recuperando, mas não demorou a perceber que havia amanhecido e nenhum sinal de Vincent.

E então teve o dragão.

Só ouviu as pessoas gritando, o que a fez ir ver o que estava acontecendo junto a Ameen, apenas para ver a criatura gigantesca descendo do céu. Suas escamas pesadas eram em um dégradé, claro encima e escuro em baixo, fazendo-o parecer um dia ensolarado que ia se tornando um clima chuvoso. Suas asas morcegais eram ainda maiores, o suficiente para conseguir carregar o enorme peso, e suas membranas variavam do prata para o azul para o roxo.

 Já via os homens chegando com armas, prontos para dar cabo do ser antes que ele começasse alguma destruição, mas para coroar tudo, Vincent pulou do pescoço dele, o que literalmente fez todos congelarem. Ele estava... Imundo. Sujeira, neve, sangue, além de vários hematomas visíveis no rosto todo, que parecia ter ficado inteiro roxo e amarelado, e o cabelo estava esquisito, como se houvesse sido lambido por uma vaca gigante.

Parece que os príncipes sabiam como fazerem entradas dramáticas.

Não teve muito que se fazer depois disso, já que estava longe demais para ouvir qualquer coisa. Vincent foi para dentro e o deixaram descansar, mas as opiniões logo puderam ser ouvidas onde quer que fosse: havia quem estava maravilhado e quem estava apavorado. Escutou alguns até o comparando com o Rei Alphonsus, dizendo que era de família. Mas a verdade era que no fim, ninguém sabia o que ele fizera, nem como fizera e o que o levara até o dragão.

Dava para ver a criatura de sua janela. Enrolado como um gatinho.

No outro dia, levantou-se relativamente cedo – tendo sido confirmado que as ditas festividades iriam começar mais tarde – e se vestiu sem muita vontade – iria se arrumar mesmo apenas mais tarde. O café da manhã não seria tomado em conjunto pois estavam preparando-se para mais tarde, para o jantar que seria servido ao meio dia – hã? -. Escutou que os empregados encontravam-se mais aliviados por terem mais tempo de prepararem as coisas, mas ainda assim foi bem tratada e tomou um bom café da manhã.

Encontrou Ameen e Anastasiya conversando no lado de fora, literalmente nos estábulos. Ambos estavam conversando em um tom relativamente baixo e suspeito. Mas não suspeito como “vamos esfaquear alguém” ou coisas do tipo. Era o outro significado de “suspeito”, que fez Victoria girar os calcanhares e ir embora para não quebrar o clima. Bom, pelo menos as coisas estavam dando certo para alguém.

Por volta das dez da manhã, sem nada para fazer e nem ninguém para conversar, decidiu ir se arrumar. Sabia que a sua mãe, por sempre ter aquele negócio de “ser uma dama da corte e blá blá blá” poderia ter se precavido que tal situação ocorreria e havia posto alguma maquiagem em sua sacola.

Normalmente quando tinha que usar aquelas roupas era ajudada a se vestir, ou por sua mãe ou por sua irmã, mas conseguiu por tudo sozinha – lembrando-se de por os sapatos antes para não se atrapalhar depois. Quando chegou a hora, já estava pronta.

Mesmo com o frio, todo o festival seria do lado de fora, mas ao chegar no local designado, a neve havia sido retirada e a grama crescia verde, e parecia que estavam dentro de uma bolha de ar aquecido, que deixava o ambiente agradável. Havia diversas barracas dispostas, um local com alvos de arquearia, mas o principal, pelo que dava para ver, seriam as justas. Foi para vários tablados, como degraus, cobertos por um toldo onde se encontrava, em cada um, uma comprida mesa com uma toalha branca, com pratos e talheres de prata, e havia tanta gente que tinha certeza de que membros de outras cidades haviam ido lá. Lorde Gregory já estava sentado no superior e lhe indicou para sentar lá, e havia duas cadeiras que possuíam entalhes de dragão que deixavam bem claro para quem elas eram. Ouviu alguns cochichos de umas mulheres apontando que seu vestido era azul claro, mas aquele tom era o tom dos plebeus enquanto subia escadas. As ignorou.

Anastasiya parecia uma princesa russa, de certa forma. Seu vestido era prateado, todo bordado e ela estava com o dito adorno que mencionara, a trança negra caindo sobre seu ombro esquerdo. René chegou logo depois dela. Ele estava todo de preto. Simples assim. Ele subiu tão rápido e foi se sentar que nem deu tempo de vê-lo direito.

— Cadê o Ameen? – Victoria perguntou depois de um tempo.

— Ele disse que não vem. – Anastasiya respondeu. – Ele disse que não está muito a fim de ficar ouvindo esse pessoal cochichando sobre ele ser árabe ou as coisas que ele usa. – Victoria franziu o cenho. – Você não viu ontem. Estavam quase para pregar uma placa na testa dele.

— O que ele vai comer, então?

— Não sei. Qualquer coisa, acho que dá para roubar um prato para ele.

Quando Vincent e Jim apareceram, todos os outros se levantaram tão rápido que se sentiu intimidada caso não fizesse o mesmo, mas assim como René, os dois não pareciam muito a vontade em suas roupas – e a situação em si – subindo numa velocidade incrível, assim tudo o que conseguiu realmente ver era que os dois estavam com gibões roxos – o Jim num tom quase preto, enquanto o Vincent era de um tom facilmente identificável -, e assim que se sentaram, o dito banquete e os torneios começaram. Era difícil pensar em algo como um torneio durando apenas um dia, mas aquele seria o caso.

E quando a comida começou a ser trazida... Céus. Gansos, javalis, pavões – como assim comer pavões?! -, carneiro, porco e vitela, queijo, maçãs, ameixas, morangos, groselhas, além do que pareceu ser o prato mais importante, que pelo que ouviu, era peru recheado com um ganso, recheado com um frango, recheado com uma perdiz, recheada com um pombo. Tudo isto colocado em uma massa em forma de caixa e servido rodeado por lebre, pequenas aves de caça e aves silvestres. Havia também brasões de armas feitos em saladas, pequenos pastéis assados, recheados de tâmaras, especiarias e frutas secas.

As coisas ficavam um pouco indigestas – para si, ao menos – devido aos homens sendo derrubados de seus cavalos com lanças de madeira. Depois vieram as sobremesas, e Victoria questionou qual era a capacidade dos cozinheiros do Lorde Macbeth. Tortas de creme cujos sabores eram de rosa, violeta, lavanda e morango, castanhas artificiais – feitas com açúcar e recheadas de caramelo, panquecas de maçã, rosa e limão, geleias de leite e rosas, morangos selvagens, groselha e favos de mel, pães de gengibre no formato de ursos e pássaros, gelatina de água de rosas com amêndoas, joias de marzipã , marmelada de fruta e biscoito de limão com licor. As bebidas eram principalmente quentão, licores, vinho, hidromel e uma bebida chamada Hypocras – que era dado a entender que apenas era servida em ocasiões especiais. -. Quando René perguntou o que tinha naquilo, o próprio lorde Macbeth respondeu que havia vinho, mel, açúcar, cravinhos, canela, noz moscada, gengibre, pimenta, uvas passas e cardamomo – o que não fazia a mínima ideia do que era. Para alguém que vivia numa espécie de era medieval misturada com século 16 ou coisas do tipo, sabia que todas aquelas especiarias custavam bem caro. Tinha tanta coisa que não sabia nem o que comer.

Depois de um tempo, percebeu Anastasiya pondo comida no próprio prato, mas não a comendo, e considerou que fosse uma boa ideia escapulir com ela. A russa percebeu que ela notara e a cutucou antes de literalmente esconder o prato numa sombra e dar uma desculpa para ela e Victoria saírem.

— Eu nunca vi tanta comida na minha vida. – Comentou enquanto andavam rapidamente pelos jardins.

— Será que era normal comer durante as justas de cavaleiros? – a escocesa questionou.

— Não sei... Mas eu já vi uma pintura do século... 13 ou 14, eu acho, que mostra uns homens comendo num banquete e cavaleiros atrás. E eu não esperava que houvesse tanta gente no Santuário...

— Nós estudamos que aqui as “épocas” variam de região para região, mas a falta de tecnologia funcional não ajuda muito. Só que no caso, ninguém nunca mencionou realmente o número de pessoas... Será que ninguém faz um senso?

— O conselho com certeza deve fazer, mas talvez só estudemos quando passamos nas provas de fase. – Anastasiya comentou, descobrindo o prato. – Espero que essa missão com os príncipes conte como a nossa prova, já que não fomos atrás do grimório de Enguerrand nem nada...

— Eu me pergunto o que vão fazer quanto a isso. - esfregou os próprios braços, o clima esfriando rapidamente enquanto saiam da área aquecida.

— Bom, saberemos quando voltarmos. E isso envolve os outros também.

Quando chegarem aos estábulos, não se surpreendeu ao ver Ameen lá, nem se surpreendeu por vê-los com roupas normais – porém as que mais poderiam aquecê-lo. A égua dele estava comendo feno despreocupadamente.

— Deu para ouvir a gritaria daqui. O que eu perdi?

— Além de cavaleiros tentando se derrubar de cavalos? Muita comida e gente tentando lamber as botas dos príncipes. – Anastasiya respondeu.

— É, tinha gansos, javalis, pavões, carneiro, porco, vitela, queijo, maçãs, ameixas, um monte de coisa, um peru recheado com um ganso, recheado com um frango, recheado com perdiz, recheada com um pombo, salada, pastel assado. Tinha as sobremesas também.

—... Pavão? Meu avô já comeu, só que eu não tenho coragem.

— É, nem eu. – concordou rapidamente.

— E esse negócio recheado aí? Nossa... – Ele aceitou o prato que Anastasiya lhe estendeu, encostando-se à porta da baia. – A minha mãe me mataria se me visse comendo aqui.

— Acho que qualquer mãe. – Anastasiya respondeu, então indo até o seu cavalo, coincidentemente na baia oposta à de Jameela. – Mas o que você fez, passou o tempo todo aqui?

— Não. Decidi vir para cá depois de ficar ouvindo as pessoas me apontando como o “garoto estranho do Oriente”. É um saco. Já me basta as pessoas acharem que eu vou jogar uma bomba em alguma coisa só porque meu pai é árabe... – Ele deu uma mordida num pedaço carneiro. – Ou sair dançando músicas de Bollywood porque a minha mãe é indiana.

Victoria sentiu uma vontade quase incontrolável de rir.

— Sua mãe é indiana?

— É. A família dela se chama Deshmukh. Ou melhor dizendo, se chamava. Eu, ela e uma tia minha somos os últimos membros dela. – Ele parou, parecendo pensativo.

— Era uma das famílias da alta nobreza, não era?

— Sim, a “família da serpente”. Eles tinham total controle sobre os corpos, que dava para se complementar com a magia da família Iñuksuk.

— Mas se vocês estão vivos... Tecnicamente, a magia não deveria estar... Bem, sendo usável? – a ruiva questionou.

— Boa pergunta. Meu pai acha que é porque mataram a anciã da minha família. Mas em teoria, se ele morresse, a magia deveria passar para algum membro da família, então minha mãe ou minha tia seriam as escolhidas. Eu era muito pequeno, então acho muito difícil que fosse eu. Só que a teoria é uma coisa, prática é outra.

Victoria olhou para baixo. Era um tanto assustador pensar na possibilidade de sua magia desaparecendo do mundo, e ter que viver para sentir sua falta. Era ainda mais assustador perceber que vivia daquele jeito.

— Então... É, as pessoas te tratam estranho por não ser daqui?

— Hm? A maioria das pessoas. – admitiu. – Embora René seja muito mais estranho do que eu.

— René? – Anastasiya perguntou. – Por que ele é estranho?

— Vocês não percebem que ele de vez em quando faz um comentário, mas realmente não fala com ninguém?

— Bom, sim, mas isso vai de pessoa para...

— Tudo se torna muito estranho quando nem o Éloi o conhece direito. – respondeu. – Ele sempre está “orbitando” por perto do irmão, mas... O René não fala nada. Ninguém sabe o que ele gosta, o que ele faz, ele... Só está lá. No caso, acho que quem mais conhece ele é o cavalo dele.

Victoria ia comentar alguma coisa quando a égua de Ameen relinchou. Os três olharam para ela no momento em que um pano cobriu os três.

— Mas o quê?! – Ameen exclamou e foram puxados, um se embolando um por cima do outro. Bufou quando a cabeça de alguém bateu em seu estômago e caiu no chão. Escutou a voz de Anastasiya exclamando algo em russo e o saco passou a ser arrastado como estivesse preso numa carroça.

— Pelos anjos, Ameen, não vomite em nós!

— Eu quero saber o que está acontecendo!

— Tentem fazer alguma coisa! Magia, gritar...

Algo atingiu o saco em que os três estavam. Talvez algo como um cabo. Atingiu a coxa de Victoria, fazendo-a arder imediatamente, e o estômago de Anastasiya que imediatamente começou a ofegar. Quem quer fosse, com certeza não queria que eles fizessem o que quer que fosse. Ainda assim, a garota começou a tentar fazer algo, mas assim como acontecera com os anjos, as árvores não pareciam trazer uma vontade de ajuda-la. Nem mesmo as plantas, nada.

O que diabos estava acontecendo?! Será que não poderiam ter um momento normal naquele maldito Santuário?!

Tão rápido quanto começou, os três foram jogados para fora da sacola. A neve fria doeu como um tapa contra suas mãos nuas e seu rosto, porém logo escutou uma mulher começando a rir. E então outra, e então outra... No fim, parecia que havia uma centena de vozes. Os risos lhe deram calafrios, eram jocosos, irônicos, e de certa forma, cruéis. Como se já predissessem suas mortes.

Ergueu o olhar, vendo-se perto de um lago, repleto de mulheres, dando-lhe a certeza de que haveria pelo menos cem ali. Todas estavam vestidas com misturas de armaduras de couro, peles, e tecidos que dava a aparência de que ao mesmo tempo em que suas roupas eram armaduras, também eram seus melhores vestidos. Cada uma – literalmente, cada uma— estava acompanhada de um animal, que não parecia se incomodar com o frio. Javalis, falcões, lobos, lebres... A lista era imensa.

Mas era impossível não olhar para a mulher do centro, logo de frente para o lago. Ela ria como se houvesse acabado de ver a maior piada da sua vida, o cabelo quase branco crespo e imensamente comprido, com tranças por todo seu couro cabeludo, decoradas com penas brancas. Sua pele parecia estar coberta de uma tintura clara – cinzas, talvez -, e sobre elas, pinturas de guerra azuis, que reconheceu como sendo celtas. Usava roupas azul gelo – como o vestido de Victoria – e sobre elas havia uma couraça de couro, braceletes e manoplas, além das botas chegarem-lhe até as coxas. Ela trazia uma lança que parecia ser de ramos trançados, embora fossem como gelo, e de seu lado estava o ganso com uma coroa, o mesmo que havia invadido seu quarto a dois dias, e uma raposa das neves, também coroada.

Só que também foi prestar atenção no que ela estava sentada. Não era um trono em si, mas algo como uma liteira. O problema era que esta era totalmente feita de ossos. Crânios, diversos tórax, colunas e todos os tipos de ossos possíveis, e para o seu completo medo, alguns pareciam menores, bem menores, como ossos de crianças e bebês.

Oh céus, onde haviam ido parar?

Ao lado da loira, havia apenas uma que não ria. Ela era imensamente alta, e sua pele era ainda mais negra que a pele de Akinyi ou seu pai, os cabelos presos em um turbante branco e suas roupas eram todas feitas de couro claro. Em compensação, ela apenas os encarava com olhos escuros e sagazes.

— Mas o que temos aqui?! – a loira começou a falar, e Victoria imediatamente não gostou do tom de sua voz. Era como o de Akihime: antipática, como se esperasse que todos logo se curvassem às suas vontades. – A Senhora nos alerta quanto às vindas de fora, e tudo o que vejo são garotinhas criadas para agradar. Olhem essas roupas! Você! – ela apontou para Ameen. – Você é dispensável, podemos ver o que faremos depois. – com um rangido, uma árvore se curvou e agarrou o garoto, carregando-o em uma gaiola, ignorando seus protestos.

— Espere, acho que é um mal entendido! – Anastasiya exclamou. – Como assim tomar cuidado?! Estamos somente de passagem por aqui, nem sabemos quem são vocês!

— Mal entendido? – um burburinho passou entre as outras mulheres, e dava para ver que ambas eram motivo de chacota. – Não quando a própria Lady Enguerrand avisa quanto a “uma bruxa vinda de fora irá tentar o trono de Caillech, a rainha das Filhas da Floresta”. Sabemos quando alguém de fora entra ou sai de nosso território, e vocês são as únicas bruxas vindas de fora.

Filhas da Floresta? Nerboubo mencionara sobre elas e sobre manter-se fora do caminho dessas mulheres. Mas ora! Tanto Victoria quanto Anastasiya estavam somente acompanhando o grupo até onde sabe-se lá os Rockstones quisessem ir, não perder tempo indo arranjar problemas – e perder a cabeça – contra um grupo de mulheres guerreiras!

E outra menção à Enguerrand. Era por isso que não conseguia realizar magia?!

— Olhe, senhora, realmente é um mal entendido, sequer pensávamos em entrar a floresta, estamos só de... – A ruiva começou, mas logo foi interrompida.

— Cale-se! – Caillech exclamou, e então deu um sorriso que deu calafrios em Victoria. – Como são duas, poderei escolher qual será a primeira que fará parte da decoração de meu trono. Depois veremos o que podemos fazer como o garotinho lá encima. Talvez ele possa divertir uma das irmãs...

Os olhos azuis pararam em Victoria. Ela tinha os olhos de uma louca.

— E eu escolho você.


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