Coração de Porcelana escrita por Monique Góes


Capítulo 16
Capítulo 15 - Mansão Púrpura


Notas iniciais do capítulo

:D



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Capítulo 15 – Mansão Púrpura

Victoria nem sabia por onde deveriam começar a procurar as coisas.

Quer dizer... Possuíam até uma semana antes do início das aulas para encontrar os objetos – primeiro de setembro -, mas... Sinceramente, não fazia ideia do que deveriam remotamente fazer.

Já era noite mais uma vez. O dia fora resumindo em todos discutindo como começar: como eram itens mágicos que procuravam, deveriam emitir algo, alguma vibração, alguma energia, alguma coisa que pudesse ao menos lhes dar uma luz para iniciar a tarefa.

Àquela altura, estavam todos literalmente de cabeça cheia, ainda mais pelo fato de terem tido de lidar com a antipatia gritante de Akihime. Se estivesse no lugar de Akihito e ela fosse sua irmã, já teria pulado em seu pescoço há muito tempo.

Bem, mas havia sua irmã mais velha. Christine não era também a pessoa que Victoria mais amava no mundo.

— Tinha uma família que era especializada em “auras mágicas”. – Akinyi comentou, chamando sua atenção. – Acho que eles eram ou chineses ou mexicanos... Eles foram eliminados durante o massacre.

— Ou seja, a magia deles sumiu. – Éloi disse simplesmente. Já havia aprendido quem era quem entre os gêmeos: o de cabelos quase brancos era Éloi, o de cabelo escurecido era René. Mesmo que não houvesse falado muito com eles, por algum motivo não ia com a cara do de cabelos esbranquiçados.

— É... – ela suspirou. – Seria muito útil agora.

— Talvez os que mais possam ajudar sejam Victoria e os gêmeos. – Ameen comentou, fazendo a ruiva quase deslocar a cabeça de tão rápido que a girou.

— Por que nós?! – Éloi questionou.

— Bom, magia não passa despercebida a tudo. Essas coisas estão em algum lugar, em contato com alguma coisa. Talvez próximo a pessoas. Mesmo que inconscientemente, eles acabam percebendo algo. A família Deasún trabalha com magia da natureza, então talvez dê para perceber por meio disso. Enquanto René e Éloi, a família Guiscard trabalha com a mente e o subconsciente, isso já diz tudo.

— É um começo. – foi obrigada a concordar. – Então deveríamos fazer o quê? Procurar nas prox...

Um barulho alto foi ouvido do andar de cima, o suficiente para literalmente todos os adolescentes olharem para cima. Foi como se o ar se tornasse pesado, espesso e difícil de respirar. Os olhos verdes piscaram, vendo o teto parecer tremular como se fosse água.

— O que é isso? – A voz de Stephania saiu num sussurro. Os olhos violetas da romena encaravam não o teto, mas a parede. Victoria fez o mesmo e viu o gelo se espalhando pela parede, descendo como uma crosta branca até o chão.

— O ar está pesado. – Ameen constatou, dando agora certeza a Victoria que aquilo não era apenas coisa de sua cabeça. – Há muita magia aqui.

A ruiva recordou-se então do rapaz do dia anterior. James? Da forma que a magia absurda se empurrava para fora de sua pele. Sua mente questionou se ele se tornasse um bruxo, seria capaz de fazer algo.

Viu René a encarando, e teve certeza que ele bisbilhotara sua cabeça.

Antes que reclamasse, porém, literalmente alguém caiu do teto num estrondo sobre a mesinha de centro da sala, fazendo com que todos dessem um pulo para trás. Akinyi acabou gritando, já que ela era a mais próxima do lugar, junto que Éloi, que num pulo parou em pé sobre o sofá.

— Ok, que droga está acontecendo?! – Alasie exclamou da cozinha.

Viu que era um garoto, e por um segundo pensou que fosse o vizinho. Mas constatou que não, não era ele. Parecia alguém menor, além de mais novo, uns treze ou catorze anos, que começou a se contorcer de dor quando Akihito por algum motivo saltou à frente, puxando-o de cima da mesa numa velocidade recorde.

Quase imediatamente, um espeto, como os que normalmente eram usados para mexer em lenha numa lareira caiu onde um segundo antes estava a cabeça do garoto.

— Cacete! – só reconheceu a voz de um dos gêmeos, não viu quem. Preferiu prestar atenção em outra coisa.

— Akihito, solte-o! – exclamou no momento em que o menino tocou nos braços do japonês.

Soube que Akihito o fez por reflexo no momento em que o gelo começou a subir por seu corpo numa velocidade no mínimo mortal. Mesmo que houvesse sido por alguns segundos apenas, a crosta já tocava o seu queixo. Ele cambaleou para trás, e tanto sua irmã quanto Victoria se levantaram para ir até ele no momento em que o garoto bateu no chão.

Escorregou e caiu sentada, sentindo a dor se espalhando como uma queimadura por suas mãos nuas enquanto algumas das meninas gritavam. Arregalou os olhos, vendo que o chão havia sido completamente congelado, como se fosse a superfície de um lago congelado. O gelo estendia-se até pelas escadas e corrimão, e os móveis encontravam-se sob uma fina camada branca do que parecia ser neve.

Tudo acontecera rápido demais.

— Mas o que está acontecendo?! – Anyu literalmente estava agarrado ao corrimão, pois quase também escorregara quando o chão congelara.

Victoria olhou o garoto. Ele respirava rápido e profundamente, como se houvesse corrido uma maratona, ou estivesse muito assustado ou com muita dor. E aparentava que eram os dois últimos casos. Ele usava uma camiseta roxa simples e uma calça moletom cinza, portanto era visível até demais na pele pálida e imaculada: as veias estavam saltadas, empurrando-se para fora, num tom quase nauseante de azul gelo.

E a magia... Ela não se empurrava. Ela explodia para fora.

Ele estava sem controle algum.

Fora rápido demais: Num piscar de olhos, não estavam mais no apartamento.

— O q... – Victoria levantou quase num salto. De todos os que estavam consigo no lugar, via apenas René e Ameen que se viraram para ela com o mesmo olhar de confusão estampado em suas faces, porém tropeçou em algo, o que a fez cair sentada mais uma vez, sua coluna reclamando pelos impactos.

— Pelo nome do Anjo, Deasún, você tropeçou... – A voz de René morreu, o que a fez prestar atenção no que tropeçara.

E... Aquele era James. O James Novak do dia anterior. O da camiseta de Iron Maiden, jeans escuro e cabelo bagunçado, porém teve certeza que o sangue estava fugindo de seu rosto quando viu o tom ligeiramente arroxeado de sua face e a corda envolvida várias vezes em seu pescoço. Pela posição de seu corpo, ele literalmente fora simplesmente largado ali.

AimeuDeus. – as palavras saíram grudadas quando, aos trancos e barrancos, tentou se ajeitar. As mãos imediatamente voaram para a corda, quase tão fina quanto um cabo, porém a situação a deixava tão nervosa que não conseguia mover muita coisa. Ameen foi quem a desenrolou do pescoço do rapaz e verificou se ele estava vivo..

O moreno tossiu, uma careta de dor começando a se formar em seu rosto. Enquanto ele recuperava a consciência, sua respiração saía em ofegos rápidos e doloridos antes de abrir os olhos azuis que ainda encontravam-se nublados e confusos.

— Certo, ele está vivo... Ele é o menino que caiu do teto? – René questionou.

— Não, aquele um estava com uma camisa roxa e moletom. Parecia menor também.

Um gemido que mais parecia ser um grunhido escapou dos lábios do rapaz, que levou as mãos até o pescoço, como se procurasse aquelas cordas. René se abaixou ao seu lado e começou a verificar seu pulso com base do relógio que possuía.

— Pessoal? – Ameen chamou.

— Hm? – o loiro resmungou em resposta, enquanto Victoria finalmente se ajeitava com um pouco mais de dignidade, recordando só então que estava de vestido.

— Vocês perceberam onde estamos?

Só então a garota foi prestar melhor atenção onde estavam. Parecia um gabinete, uma sala ampla, de piso de compensado coberto com um tapete creme de bordados dourados. As paredes possuíam estantes repletas de livros. Logo em frente onde se encontravam havia uma lareira com duas poltronas em frente a ela, separadas por uma mesinha de centro. Na extremidade do local havia uma escrivaninha de ébano com uma elegante e aparentemente confortável cadeira de mesmo material, seu estofado sendo púrpuro. A parede atrás do móvel era uma janela panorâmica, um vitral. Seus vidros eram roxos, e no centro havia um dragão prateado em pé sobre as duas patas traseiras, os olhos azuis acesos enquanto cuspia fogo.

Ela conhecia aquele símbolo.

— É o símbolo dos Rockstones... – sussurrou. – Espera, estamos no gabinete do rei?!

— Ai... – James gemeu atrás de si.

— Como viemos parar aqui?! – continuou, ignorando por hora o rapaz.

— Esta – René disse, se levantando. – é uma ótima pergunta. – ele então voltou-se ao moreno que tentava levantar, sem muito sucesso. – Você está bem?

— Hm... Dependendo qual for a sua definição de bem. – ele respondeu com a voz fraca e falha. As marcas vermelhas das cordas gritavam contra a sua tez pálida de maneira assustadora.

E havia veios negros surgindo a partir daquela região.

Os olhos azuis vagaram pelo local, perdidos, porém bem mais lúcidos do que momentos antes, parando justamente sobre Victoria, a reconhecendo. E havia algo de tão expressivo neles que a fazia ficar totalmente sem jeito.

Ameen pigarreou.

— E agora, o que fazemos? Se estivermos realmente na mansão Rockstone, estaremos com problemas.

— Muitos problemas. – René concordou.

Claro que Victoria sabia dos problemas. O local era fechado desde o assassinato da família real há treze anos, a entrada era permitida apenas aos diretores dos Institutos – já que ambos eram Rockstones -, e aos empregados que mantinham o local.

A questão: Estavam todos em Atlanta, e a casa era no Reino Unido. Como haviam sido transportados tão abruptamente, ao ponto de nem sequer conseguir identificar que tipo de magia havia sido levados para lá? Normalmente, o meio mais fácil de transportação era por magia das sombras, mas nada escureceram tudo fora repentinamente abrupto. Um piscar de olhos e estavam ali.

 - Alguém... – James tossiu, consertando sua voz. – Alguém viu o meu irmão?

Os três olharam para ele.

— Camisa roxa, moletom cinza? – Ameen questionou.

— É. – ele tossiu de novo. Era audível a sua voz arranhando contra a garganta. – Ele é mais novo que...

A porta se abriu num rompante, causando aos quatro darem um pulo. René virou os calcanhares, sobressaltado por não perceber a aproximação de nada, já que a especialidade de sua família era justamente magia de cunho mental, portanto ele deveria sentir as mentes de qualquer um que se demonstrasse próximo.

Mas não havia nada.

— O que sabemos sobre a mansão Rockstone? – questionou em um tom cauteloso a Ameen.

— Construída entre 1490 e 1510, foi idealizada pelo rei Augustos que demoliu o antigo castelo da família. Foi idealizada para demonstrar o ápice do poder e glória dos Rockstones, e...

— E...? – tanto Victoria quanto René entoaram de maneira meio tensa.

 - E foi construída com o propósito de se tornar um labirinto e armadilha para pretensos invasores. – seu tom de voz se tornou nervoso. – É dito que cada parede foi construída com um propósito e impregnada com um tipo de magia.

— Estamos oficialmente em uma enrascada.

— Do que vocês estão falando? – James questionou num tom confuso.

Os olhares voltaram-se para ele. No meio daquilo tudo, era fácil esquecer que ele não era um bruxo. O rapaz finalmente havia conseguido se sentar, e Victoria percebeu que ele tremia. E não poderia ser só ela que via aquilo, pelo amor de Deus. A névoa mágica estava desprendendo dele como fumaça negra e brilhante, de forma que deveria deixar qualquer um exausto!

— Você não é um... – o francês começou num tom de descrença que pelo menos apaziguou um pouco a irlandesa, demonstrando que ela não era a única a perceber tal coisa.

Um assobio de vento e o que pareceu uma exclamação de susto. Victoria ergueu o olhar, apenas para se deparar com o fato que Ameen havia sumido.

— É. – James disse num tom que a ruiva sinceramente não conseguiu explicar. – Foi assim que eu me perdi do meu irmão.

— Se estivermos na mansão Rockstone, então tecnicamente somos os invasores. – A voz de René era irrealmente calma.

— A questão é como viemos parar na mansão Rockstone! – Victoria exclamou.

— Alguém por favor me situe da situação, já que você parecem saber um pouco mais do que eu?!

— Certo, qual é o seu nome? – o outro rapaz inquiriu repentinamente.

— James... Chame-me de Jim.

— Certo, James – continuou, ignorando o apelido. – Nós somos bruxos. Eu, a menina aí do seu lado e o meu amigo que acabou de sumir. Não vou dar uma total explicação de política bruxa, mas há casas nobres e a antiga casa real que foi assassinada há alguns anos. E ao que parece que alguma coisa nos trouxe até a residência deles, e como você ouviu, ela foi criada com o propósito de confundir e aprisionar qualquer invasor. Que ao que parece, no caso somos nós.

A expressão de Jim era de alguém que havia acabado de levar um tapa na cara.

— Você está bem? – Victoria nervosa questionou ao perceber a mudança repentina no comportamento da magia ao redor dele.

— Com tudo o que aconteceu, eu sinto como se uma parte fundamental da minha reação houvesse sido tirada.

— A incredulidade? – René completou.

— É. Considerando ainda mais como viemos parar aqui...

Mais um assobio, e por puro reflexo Victoria se agarrou ao pescoço de Jim quando pareceu que duas mãos se fecharam em sua cintura, erguendo-a no ar e a puxando como se fosse uma boneca. Jim engasgou, as marcas ainda doloridas em seu pescoço ardendo em contato contra a pele da garota.

O que quer que tenha a pego, mesmo que ela tenha se segurado com toda sua força no irmão de Vincent, a arrastou com tamanha facilidade que levou o rapaz junto. Victoria gritou com a velocidade e seus braços não tiveram força para aguentar o peso de Jim, o largando em algum lugar do corredor.

O desespero passou por ela como se houvesse tomado uma bebida muito gelada que fazia sua cabeça doer. Os olhos se arregalaram, vendo o chão passar voando por seus pés. Não havia nada a segurando, porém ouvia os sussurros que pareciam encher o silêncio. Eram fúnebres e ininteligíveis, ao mesmo tempo, contudo, gritando com ela.

Foi largada em um aposento qualquer, batendo no chão com um baque surdo que lhe tirou o ar.

Gemeu de dor, contorcendo-se no chão, dando um jeito de enroscar seus braços em seus cabelos, dando puxões nada agradáveis. Seu vestido de malha estava desarrumado de forma no mínimo vergonhosa, e demorou um tempo considerável para conseguir se por sentada, sua pulsação soando como tambores contra os seus ouvidos.

À sua frente havia um imenso quadro, emoldurado no que lhe parecia ser ouro branco. Fora quase de forma inconsciente que os olhos verdes se ergueram, visualizando melhor a pintura disposta na parede. Conhecia arte o suficiente para reconhecer aquela como uma pintura Renascentista.

Era uma mulher pálida e elegante, sentada de frente, porém seu rosto virado para o lado, trajando um vestido negro, os cabelos da mesma cor presos em uma rede de pérolas, o único olho cinzento visível fitando o horizonte. Havia um cinto prateado incrustado de pérolas, ametistas e safiras logo abaixo da linha de seu busto, e joias de mesma cor de formato de dragão estavam dispostas como brincos e colares que brilhavam contra a pele pálida.

Os olhos desceram para a plaqueta dourada que estava escrito apenas:

“Rainha Tempesta.”


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