Os seis semideuses estavam reunidos, escondidos atrás de um galpão velho observando a reunião. À frente, gigantes, monstros e titãs brandiam suas espadas e ecoavam um grito de guerra em latim antigo. Eles não atacavam, apenas esperavam alguma ordem para iniciar a carnificina, instaurando uma Nova Ordem Mundial.

Leo fazia alguns cálculos, e de acordo com os resultados, eles estavam muito ferrados: Gaia estava para despertar, eles eram pouco mais de meia dúzia contra alguns milhares, e ainda faltavam dois semideuses derramarem seu sangue naquele lugar sagrado, e por azar, ele era um semideus.

Eles tinham um plano inicial, traçado por Annabeth, Frank e Jason, algo sensacional, que tinha tudo para dar errado, que envolvia evocar alguns espíritos, mas, como sempre, lá estavam eles, esperando alguma ajuda divina se manifestar para terem alguma chance.

Frank chegou, em forma de águia, fazendo um barulho ao se transformar em humano. Todos gelaram, aquilo era suficiente para chamar a atenção de alguns monstros, o que poderia ser a ruína completa do plano deles.

Por incrível que pareça, eles os ignoraram e continuaram entoando seu hino, acompanhado por mil vozes. De repente, todos se calaram, ficaram imóveis enquanto encaravam o gigante que estava no trono ao centro, Porfírion. Ele se levantou, abrindo seus braços.

_ Eu não to gostando nada disso. - disse Percy bem baixo para Annabeth que estava ao seu lado. Eles estavam de mão dadas, cada qual segurando sua arma, esperando o momento certo.

_ Que se inicie a caça, tragam-me os semideuses! - O gigante gritou bradando uma lança de três metros para o lado dos sete.

_ Droga Nico, seria bom aparecer logo. - Jason se posicionou em defesa, caso o plano A não desse certo, o plano B seria: mate tudo pela frente.

Neste instante, uma sombra encobriu os semideuses, e Nico apareceu. Se ele havia voltado queria dizer que os Acampamentos estavam em paz, Gregos e Romanos poderiam lutar lado a lado contra o exército.

_ Eles chegam em breve, devemos retardá-los até que estejam aqui, estão vindo todos, porém ainda somos poucos em relação. - Nico começou explicando, ignorando a massa de monstros que vinham.

_ Se puder apressar um pouco, temos muitos empecilhos à frente para retardar. - Frank ressaltou.

_ Certo, certo, o ataque surpresa é a nossa escapatória, se espalhem, não fiquem em casais, pois caso sejam pegos, não terão todo o sangue necessário. - Nico pegou sua espada que estava embainhada - Que os deuses nos protejam.

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_ Vem, vem, por aqui. - Percy se abaixou por trás de uma carcaça de um monstro caído, puxando Jason com ele.
Eles estavam divididos, Jason, Nico e Percy formavam o grupo de ataque principal, Frank e Leo saiam fazendo o maior número de estrago em equipamentos possível, Annabeth, Piper e Hazel vinham pela retaguarda distraíndo-os com suas táticas, se um grupo caísse, todos deveriam recuar até a chegada dos outros.

Uma catapulta em chamas passou sobre suas cabeças, Leo estava fazendo sua parte. Por mais dano que causassem, parecia que não afetava nada no gigantesco exército. Nico apareceu do lado, estava suado e cansado, assim como todos os outros. A espada embebida em sangue pedia em seu cinto.

_ Chegaram, precisamos nos separar agora. Vão, já avisei os outros. - Os outros dois saíram correndo, espadas em punho, desviando de ataques.

Nico continuou em sua posição, evocando esqueletos que atacavam de qualquer jeito os monstros, enquanto atacava ele mesmo os que se aproximavam por trás. Agora que estavam relativamente longe do espaço sagrado para o derramamento de sangue, os monstros estavam enfraquecendo, caindo mais facilmente.

_ Nico? - uma voz o chamou. Ela era familiar, nem um pouco estranha, definitivamente era a voz da ...

_ Bianca? - o garoto pálido se virou para a menina que o chamava, e naquele instante, a guerra pareceu mais longe do que nunca esteve.

_ Parece que você tem um pequeno problema com este veneno em sua perna. - ela continuou parada, estava vestida em suas roupas da caçada, tão bonita quanto no ultimo dia que conversaram.

_ O ... O quê está a..- o filho de Hades tinha perdido a fala. O veneno era de uma lança de um dos monstros de terra, era algo que não preocupava, qualquer pedaço de ambrosia poderia resolver aquilo.

_ Pequeno Nico, você pode me dizer qual é o principal efeito do veneno? - Sua irmã começou a rodeá-lo, como um predador espreitando uma presa.
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_ Alucinações. - ela continuava rodando o garoto - Quem é você?

_ Já nos conhecemos antes, esforce-se mais um pouco...

_ Por que está como ela? Mostre-se!! - o garoto gritou, fazendo algumas finas rachaduras no chão.

_ Você vê o que quer ver, filho de Hades, será que não consegue mais distinguir a irmã de um monstro qualquer? - seu rosto estava perdendo o foco, a cor pálida se transformava em cinza, e como se alguém lhe destampasse os olhos, o Manticore se formou em sua frente - Pela sua cara, acho que consegue sim.

O garoto avançou com a espada em punho, exalando fúria. Ninguém mexe com os fantasmas de um descendente de Hades sem se machucar. O monstro desviou no exato momento em que Nico iria lhe cravar a espada, usando a cauda com espinho para levá-lo ao chão.

A guerra ao redor se estendia, enquanto tentavam recuar o exército de Gaia para que não a despertassem, afastando o campo de batalha do local sagrado. Reforços haviam chegado, as Amazonas em seus magníficos cavalos atacavam em hordas de várias pessoas, levantando a poeira dourada pelo céu estrelado. Os centauros pareciam ainda mais ferozes sob a penumbra da noite, enquanto respingavam fúria de seus rostos.

O filho de Hades estava satisfeito, talvez as chances de ganhar não estavam tão remotas como ele pensara, o gigantesco exército estava se desfazendo aos poucos pelas mão de gregos e romanos. "E inimigos com armas às portas da morte afinal". O Manticore avançou lentamente, enquanto Nico levantava-se e pegava sua espada caída, era como se quisesse dramatizar o momento.

_ Vamos acabar logo com isso. - Ele usou a pata para empurrar o garoto, que bateu a cabeça em uma pedra próxima.

Zonzo e desarmado, Nico esperou que o Manticore chegasse para finalizar o ataque, mas ele não veio. Em meio ao mundo que rodava, um garoto se colocou em frente ele, atacando furiosamente o monstro, não deixando que ele se aproximasse do filho de Hades ao chão. Ele tentou se levantar, mas era a tontura era mais forte.

A tontura finalmente aliviou sua mente, deixando-o ver Percy de costas, à alguns metros a sua frente. Ele estava parado, assim como o Manticore, por algum motivo que Nico não entendeu. Ele estampava um sorriso maléfico no rosto.

_ Posso ir, Jackson, mas você vem comigo. - ao dizer isso, o monstro se dissolveu em pó dourado, e Percy cambaleou.

Então, Nico entendeu, avançou ainda zonzo e segurou o filho de Poseidon antes que ele caísse ao chão. Sua roupa estava completamente manchada de sangue, com a ponta da garra ainda cravada em seu peito, respirando dificilmente, enquanto os olhos verdes buscavam algum foco. Nico o encarou, com as lágrimas já nos olhos.

_ Não .. Não .. - ele tentou levantar o garoto, mas mal conseguia levantar a si mesmo. - Eu vou te tirar daqui, aguente firme.

_ Nico .. - tentou dizer o filho de Poseidon entre a fraca respiração - pare. Você, mais do que ninguém sabe que está na minha hora.

Ele não queria admitir mas estava certo, o fino fio que segurava sua vida não aguentaria mais, aquele seria o fim do garoto de olhos verdes. Ele o depositou no chão, enquanto limpava as lágrimas e o sangue respingado em seu rosto.

_ Por favor.. - ele tossiu, manchando de sangue os dentes - ..me perdoe por Bianca, eu preciso deste perdão, preciso descansar em paz.

_ Pare, não há o que se desculpar.

_ Por favor.. - ele insistiu no pedido, mas ao começo do delírio, mudou o assunto - Annabeth. Diga a ela, Nico, diga a ela.

_ Digo sim, fala-me que eu digo-lhe.

_ Eu a amo, como jamais amei ninguém, ela é meu porto, Nico, você sabe que sim. - os olhos do moreno iam perdendo o foco.

_ Sim, eu sei, amigo. - Nico tentou engolir o choro mais uma vez, mas não conseguiu.

_ Eu não quero partir, Nico. - Percy pediu entre soluços e tosses de sangue - Eu preciso me despedir de tantos, mas não posso. Fica comigo aqui, até passar a dor?

_ É claro que eu fico, é só fechar os olhos, que não doerá mais, acredite em mim - era cada vez mais difícil para o filho de Hades ver seu amigo daquele jeito, partindo ao lado de uma pessoa que o odiou por muito tempo, implorando por pessoas que ama.

_ Eu sempre pensei que tivesse mais tempo, que teria mais anos - Perseu havia fechado os olhos - mas diga que eu amei, todos...

A cabeça do herói caiu em seu colo, inerte e sem vida. O filho de Poseidon morto sob o colo do filho de Hades, que chorava como uma criança. Os outro seis estavam vivos, ele podia sentir, mas estavam espalhados, pelo campo de batalha. O filho de Hades entendeu a deixa, retirou a espada da bainha.

_ Pai, pode ser que não seja suficiente, mas mexa seus peões, não tenho tempo de fazer rituais, - ele olhou para o amigo caído ao chão, pensou em todas as vezes que fora salvo por aquela pessoa - tenho uma promessa à cumprir.

Ele cravou a espada em seu próprio peito, enquanto sentia a vida fluir de seu corpo, esperando por sua sentença final.

Durante alguns minutos, a batalha continuou ao redor dos dois semideuses caídos ao chão, sem ninguém notar aquela cena. O filho de Poseidon abriu os olhos, a batalha havia finalizado, ele poderia levantar e ir para junto de seus amigos, mas ele ficou, pelo menos até a dor passar.