Lost Girl escrita por JuliaMarsci


Capítulo 2
Capítulo dois - Hello.




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Hoje completavam-se duas semanas desde que fui enviada para cá. Tudo ainda era estranho. Era sufocante. Rosalya continuava a me arrastar para ficar com ela e as outras meninas no intervalo, por mais que eu não desse muita atenção e nunca sobre mim.

Afinal, o que eu poderia falar?

Mas elas não pareciam desistir. Todos os dias era a mesma coisa. Eu chegava, as aulas começavam, eram todas entediantes, chegava o intervalo, eu era arrastada, mais aulas, as aulas terminam e eu vou pra casa. Ainda não havia decidido em que clube entrar e toda dia Nathaniel fazia questão de lembrar disso.

– Já se decidiu?

– Bom dia para você também e não, não me decidi.

– Bom dia, tem que decidir logo, a diretora não vai ser tão liberal com você só porque é filha de um diplomata importante.

Solto um riso nervoso.

– Sabe Nathaniel, são seis e meia da manhã, é meio cedo para pressionar alguém não acha?

– Só estou fazendo o meu trabalho.

– Está exagerando no trabalho, não te vi conversar com ninguém além daquela tal de Melody, ela também não sai do seu pé, provavelmente porque é apaixonada por você. Você não tem amigos?

– Como sabe que ela é apaixonada por mim? Rosalya te contou? Percebi que virou amiga dela.

– Não sou amiga dela, não sou amiga de ninguém. E não, ninguém me contou, eu percebi, é meio obvio.

– Você percebeu?

– Sim, não tem mais o que fazer? Eu não chego mais cedo na escola para ser interrogada.

– Se não quer ser interrogada por que não chega em um horário onde você não fica disponível?

Porque aqui eu não sou tão vigiada.

– Não te interessa.

– Você deveria falar mais com as pessoas.

– Diz o senhor sociável. Todos temos segredos que não podemos contar, até mesmo você.

– O que quer dizer com isso?

– Nós temos algo em comum, essa angustia no olhar, sempre com medo do que pode acontecer amanhã.

Ele me encara. Eu o ignoro e fico olhando para a janela.

– O que quer dizer com isso?

– Nada – solto um suspiro e digo ainda olhando para a janela – Não vai me deixar em paz até eu escolher um clube não é?

– Exatamente, esse é o meu trabalho.

– Ser um pé no saco é seu trabalho?

– Está parecendo o Castiel agora.

– Castiel é o garoto de cabelos tingidos não é?

– O mesmo, se eu fosse você, ficaria longe dele.

– Por quê?

– Ele só se mete em problemas e acaba arrastando quem está perto dele com ele.

– E é por isso que ninguém deve se aproximar de mim... – sussurro.

– O que disse?

– Nada, não se preocupe. Escolho um clube até o fim do dia e te aviso ok?

– Perfeito.

Ele começa a andar até a saída e para, olhando para mim.

– Katrina, posso perguntar uma coisa?

– Além disso? Pode...

– Por que você não deixa ninguém chegar perto? Você é uma garota bonita, mas nunca deixa ninguém se aproximar de você, deveria ser mais...

– Você não me conhece, faz duas semanas que eu cheguei aqui – o interrompo – Eu já disse, não espero nada de ninguém e espero isso em troca. Eu nunca convivi com pessoas, eu não sei fazer isso. Estou cansada de continuarem a me falar isso... O único motivo pelo qual eu estou aqui é para desviar a atenção negativa do meu pai porque eu fiz uma merda gigantesca há algum tempo atrás Ok? Então não espere que eu seja sociável porque a única coisa que eu conheço é que sempre que pessoas se aproximam de mim elas se machucam. Eu sou uma garota problema, perdida, então me deixe em paz e cuide da sua vida.

Eu estava sufocando. Eu não podia ser feliz enquanto esse direito foi tirado dela, eu era um monstro.

– Tudo bem, eu só estava tentando ajudar.

– Você fala isso por que é o representante não é? Se a diretora mandou que o fizesse, esqueça, eu não preciso disso.

Ele não respondeu. Simplesmente virou e foi embora. Tudo é novo, esses sentimentos, essas angustias. Eu queria que fosse tudo embora, eu gostaria de sumir. Se você é obrigada a viver com medo, às vezes é melhor nem viver. Mas eu tinha que o fazer, por ela.

***

Hoje era minha primeira aula de educação física. As garotas e eu estávamos trocando de roupa no vestiário feminino.

– Eu realmente espero que o professor Boris esteja menos tarado esse ano.

– Kim, não se iluda, se algum dia aquele professor deixar de ser tarado eu raspo o meu cabelo – respondeu Rosalya, que então se virou para mim – É melhor se preparar Katrina, ele vai provavelmente dar em cima de você.

Eu dei de ombros.

– Sabe, você precisa se soltar mais – respondeu ela segurando em meus ombros – Eu pesquisei na internet e não encontrei nada sobre você, sem facebook, sem instagram, nada! Isso porque você é filha de um diplomata importante.

– Eu não tenho permissão para ter essas coisas.

– Por que não??

– Meu pai não permite.

– E você sempre obedece ao seu pai?

– Sim, é melhor evitar as consequências.

– Ok então – ela joga as mãos para cima em forma de rendição – é melhor irmos andando, não queremos acabar sendo forçadas a correr uma maratona porque chegamos atrasadas.

Saímos do vestiário e nos reunimos junto aos outros alunos. Logo um homem loiro de corpo extremamente bombado, do jeito que chega a ser irritante, entra na quadra e começa a gritar para que nós começássemos a fazer alongamentos.

A quadra era divida em duas. Em uma parte ficavam os meninos e na outra as meninas. Começamos a nos alongar quando o professor se aproximou de mim.

“Já vai começar a sem vergonhice dele” sussurrou alguém.

– Você é a nova aluno correto?

– Sim senhor.

– Ótimo, a diretora me avisou de sua condição então se estiver cansada é só avisar.

– Entendi.

Ele se afastou e começou a gritar com os meninos, dizendo como eles fazem corpo mole.

– De que condição ele estava falando? – perguntou Kim.

– Não é nada.

– Ok princesa gelada, você venceu, desisto de te perguntar algo.

– Princesa gelada?

– É que você é muito fechada e fria – respondeu Rosalya.

– Desculpe.

Nesse momento ouve-se o barulho da porta sendo aberta e um garoto entra correndo.

– Desculpe o atraso professor.

Essa voz... Será que?

– Kentin! Você sabe muito bem que eu não tolero atrasos! Quero 10 voltar na quadra!

– Sim senhor.

Não podia ser. Era o mesmo garoto que eu conheci anos atrás, eu nunca imaginária que fosse ve-lo novamente. Não fazia sentido meu pai ter me colocado na mesma escola que ele. Não teria como ser uma coincidência, talvez fosse uma forma de me castigar.

Ele estava diferente, muito diferente. Antes era um garoto baixinho que usava óculos redondos e grandes demais para seu rosto, agora era um homem. Havia crescido, estava mais forte e não usava mais óculos. Estava bonito, tenho que admitir.

Ele começa a correr, ele era rápido, mas para assim que me vê. Provavelmente a expressão de surpresa em seu rosto era a mesma que estava no meu. Ele vem ao meu encontro ignorando o protesto do professor. Não era de se surpreender o fato dele estudar aqui, era a melhor escola afinal.

– O que faz aqui? – ele definitivamente havia crescido.

– Você cresceu...

– Não respondeu minha pergunta – Todos nos encaravam. Ótimo, era disso que eu precisava, ser o centro das atenções novamente...

– KENTIN! VOLTE A CORRER!

– Conversaremos mais tarde. Você me deve respostas.

– Não te devo nada – ele voltou a correr e eu voltei a me alongar.

– Quem diria, a princesa gelada conhece o Kentin. Quem diria, eu me pergunto o que é que rola entre vocês dois – Uma garota que não havia falado comigo ainda começa a falar – Algo a declarar?

– Peggy não enche, vá procurar fofocas em outro lugar – respondeu Rosalya.

– O que? Todos queremos saber, inclusive você.

– E vão continuar querendo, mas para que não me encham mais o saco, eu conheci Kentin há algum tempo atrás por meio de nossos pais, não tem nada a mais que vocês precisam saber.

– Você sabe que sempre que fala isso, nos deixa com mais curiosidade né? – falou Kim.

– Chega de corpo mole! Peguem as bolas e comecem a jogar, hoje vai ser queimada.

Após várias reclamações da parte feminina e vários apitos o jogo começou. Eu era boa em esportes, principalmente os que envolviam mira. Essa foi minha ruina quando criança. A aula continua normalmente. Nada de diferente acontece.

Quando o sinal toca todos se encaminham para o vestiário. Estava me preparando para fazer o mesmo quando agarram o meu braço.

– Agora você não foge – era Kentin, ele começa a me arrastar para o outro lado do ginásio e acabamos saindo em um pequeno pátio.

– O que você quer? – pergunto enquanto me desvencilho de seu aperto.

– O que está fazendo aqui?

***

Curiosidade às vezes controla as pessoas. Elas não se sentem saciadas até conseguir o que querem, como uma espécie de sede interminável, ela queima e faz com que você tenha que descobrir tudo. Não importa as consequências.

Aquele caso não era diferente, enquanto todos se encaminhavam para o vestiário, Peggy ficou para trás, ela sabia que havia algo acontecendo entre Kentin e Katrina. E iria descobrir o que era. Ela esperou os dois atingirem uma distancia e foi atrás deles. Eles estavam no segundo pátio. Ela se esconde atrás de alguns arbustos, sua experiência em se esconder em lugares inusitados havia feito com que ela não fosse notada.

– O que você quer?

– O que está fazendo aqui? – ele parecia irritado, o que mais havia ali além de contatos entre seus pais? Ela se perguntava – Eu pensei que você não podia sair de casa, seus pais estão aqui? Ele está aqui?

“Quem é ele? E por que ela não poderia sair de casa?”

– Não, eles me mandaram para longe depois de...

– Eu soube... Eu sinto sobre...

– Não fale disso – ela o interrompeu – Enfim, eles me mandaram para cá para abaixar os danos negativos na imagem... Se não fizessem isso iriam continuar com muito foco.

– Então ele te mandou para evitar foco negativo? – ela simplesmente acenou. Toda essa conversa só colocava mais duvidas na cabeça de Peggy, assim como mais determinação sobre descobrir tudo – Isso é bom não é? Significa que pode ter uma vida!

– Não seja otimista, acha mesmo que ele deixaria impune? – ela se aproxima do garoto e o faz tocar em sua tatuagem.

– Ele fez isso?

“Isso? Mas o que era isso? A tatuagem?”

– Isso não é nada. Tem mais nas costas. Mas não importa e não posso ter uma vida, posso não ser vigiada na escola, mas não posso fazer nada em casa.

“Vigiada?”

– Mas pode ter aqui! – ele segura nos ombros dela e a força a encara-lo – Se não podem te vigiar aqui você pode ser quem você realmente é! Pode ser feliz.

– Você pode ter mudado fisicamente, mas continua o mesmo Ken ingênuo de sempre não é? Eu não posso ter uma vida, do que adianta eu acabar sendo feliz aqui se assim que a areia abaixar eu terei tudo arrancado? Não, eu não vou ter esperança. Não para perder quem importa depois.

– Eu não te entendo. Finalmente tem uma chance de se livrar de todo o seu passado e não a aproveita, o que acha que ela iria achar?

– Não ouse falar dela! – “Quem era ela?” – Ela iria querer que eu fosse feliz, que vivesse ao máximo, mas quer saber? Eu não consigo! O único motivo pelo qual eu ainda vivo é porque eu prometi a ela que iria viver. Mas eu não consigo ser feliz, eu sou culpada e você sabe disso!

– Pare com esse drama, você é a única que não vê a chance que está na sua frente.

– Quer saber? Foda-se, eu não espero que entenda, aliás, eu achava que entenderia depois do que te aconteceu. Eu não sei viver porque desde sempre eu simplesmente existo, deixei de sobreviver no minuto em que ela foi embora.

– Porra! Quer saber, faça o que quiser, mas saiba que se você se abrisse para as pessoas, talvez conseguisse se livrar do seu fardo.

Ela o ignora e começa a andar para dentro do ginásio. Peggy espera que Kentin vá embora para que ela possa sair de seu esconderijo e assim o faz. Sua cabeça fervilhava com muitas perguntas sem resposta.

E ela não pararia até achar uma resposta para cada uma delas.

***

Droga de Kentin. Droga de escola. Merda de vida.

Por que ele me mandaria para a escola em que ele está? Justo ele! Tenho certeza que ele quer foder com minha mente de uma vez só. Não iria mais ficar na escola, estava sem paciência para aulas chatas sobre coisas que já havia aprendido há anos. Não é como se eu fosse perder muita coisa.

Prefiro ficar sem fazer nada em casa. É menos irritante.

– A princesa está matando aula? Tsc tsc tsc, isso não é certo sabia?

– Castiel, quem é você para falar qualquer coisa? – ele joga as mãos para cima em símbolo de rendição – E eu não sou uma princesa.

– Claro que não – ele dá uma tragada em seu cigarro – Aceita um?

– Não, obrigada.

– Tem certeza? Pela sua cara eu diria que está irritada com algo, isso é ótimo para aliviar.

– Por mais que eu adoraria me matar lentamente, eu não suporto cigarro.

– Então, o que aconteceu para ficar tão irritada?

– Não é do seu interesse.

– Sabe, eu gosto das garotas difíceis, mas você podia facilitar um pouco.

– Sabe, eu até poderia facilitar, mas prefiro que enfiem uma espada em chamas pela minha garganta.

Me viro e vou embora. Subo na minha moto e dou a partida, ignorando o limite de velocidade. Isso talvez fosse à única coisa que me fazia sentir viva. A adrenalina e velocidade. Eu adorava.

Não tardou para chegar em casa. Assim como não demorou para que ele ligasse assim que eu pisasse em casa.

– O que você quer?

– É assim que trata o seu pai?

– Você não é um pai.

– Cuidado com a língua garota, ainda posso fazer coisas terríveis com você.

– Fique a vontade, eu não me importo, sabe disso – podia ouvir sua risada do outro lado da ligação.

– Sabe, eu sou um pai que trabalha muito para dar um estudo de qualidade para sua querida filha e o que ela faz? Mata aula.

– Por que se importa?

– Porque você tem o castigo que merece e vai continuar me obedecendo e vai viver a sua vida ai. Claro, havia me esquecido, você não quer viver, não sabe fazer isso não é?

– Por que simplesmente não acaba logo com isso?

– E qual seria a graça de te dar o que quer? E nem tente algo filha querida, não se esqueça do que prometeu para sua irmã – ele ri mais uma vez e desliga.

Merda. Merda, merda, merda! Eu o odeio.


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Notas finais do capítulo

Outro! Espero que gostem! Beijos e até o próximo capítulo ;)



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