Acordei com o reflexo do sol que entrava pelas persianas, clareando uma parte do escuro quarto. O ar era pesado, e quente. Por um momento fiquei com medo de respirar, como se fosse perigoso. Depois de uns 5 minutos de monólogo comigo mesma, me levanto e abro devagarinho a porta que me levaria ao banheiro.

Não ter um banheiro no quarto é péssimo, acredite em mim, ninguém vai querer cruzar meu caminho assim que acordo. Por sorte não vejo ninguém, e logo começo a me despir, dando um leve grito quando a água gelada atinge meu corpo ainda quente.

O banho é rápido – e como conseqüência de ter esquecido minhas roupas no quarto – saio do banheiro apenas de toalha, torcendo para novamente ninguém me ver. Porém, não tenho a mesma sorte, e Travis Maddox seca descaradamente meu corpo sob o fino tecido.

– Perdeu algo? – pergunto arqueando as sombrancelhas.

– N-não – ele diz gaguejando, mas logo se refaz – Vou ao banheiro, se me permite.

Para que ser tão irritante, meu deus! Visto minhas íntimas, coloque jeans rasgados e uma blusa de malha preta, meus queridos e inseparáveis all-stars. Passo pouca maquiagem, apenas rímel para realçar meus olhos cinzas e um gloss translúcido. Os cachos caramelo caem em meus ombros, lembrando nitidamente minha mãe.
Os meninos estavam na sala, assistindo uma excitante partida de futebol, onde Everton¹ e Chelsea² lutavam bravamente pela vitória. Sento-me de pernas abertas, completamente relaxada ao lado de Trent e Thomas – que mais parecia uma estátua de tão imóvel.

– Vai porra! É no cacete do gol não na buceta da trave! – digo me exaltando, vocês viram, senhoras e senhores, minha versão masculina vendo futebol – Time de merda, jogo melhor que esses maricas...

– Parece que ela não é tão certinha como você achou que fosse né Tom... – diz Trent irritando Thomas.

Depois de acabar o 2º tempo de jogo, todos nos levantamos e nos organizamos para o almoço. Não tomamos café da manhã, pois já estava tarde e perderíamos o apetite. Era um sábado e faria de tudo para aproveitar meu último fim de semana sem escola.

Ajudei novamente no almoço, segundo os vizinhos lá de Vegas, minha Batata Doce é divina e rapidamente a fiz. A mesa já estava pronta, e quando todos já estavam à postos, Tavis chega, com o cabelo molhado e se senta ao lado de Jim e Tyler.

– Então...Abby, como aprendeu a fazer essa Batata dos deuses? – Taylor pergunta.

– Minha mãe me ensinou, ela dizia “Abby, você tem que aprender a fazer essa receita sozinha, se não você e seu pai morrerão de fome sem mim aqui” – digo e volto a comer.

– Como sua mãe morreu? – pergunta Travis, sem um pingo de consideração.

– Travis! – diz Jim, se exaltando.

– Não, tudo bem Jim, não se exalte – foco em Travis e lhe digo com a voz mais forte possível – Ela se matou para não ter que viver no mundo com pessoas como você – digo e me levanto, deixando todos na mesa boquiabertos.

Saio e passo pela porta, respirando o ar puro novamente. Havia vestígios de neve ainda, mas não estava mais tão frio.

Eu sei que Diane faleceu, mas ele não deveria ter consideração? Será que gosta de despedaçar as pessoas? Por que alguém gostaria de fazer a outra reviver más lembranças?