Hannah achou melhor deixar sua conversa para manhã seguinte e disse a Darcy que fosse dormir em seu antigo quarto.

 Ao entrar no aposento o homem foi tomado pela emoção ao ver que tudo estava do jeito que deixara.

— Você não mexeu em nada? – perguntou a ela que lhe observava do corredor.

Hannah negou com a cabeça.

— Por quê? – perguntou olhando diretamente em seus olhos.

— Você aceita um chá? – ela desconversou sem graça.

 Ele assentiu antes de acompanhá-la até a cozinha.

— Como você descobriu? – indagou enquanto a observava preparar o chá.

— O quê? Que eu estava grávida? – fitou-o de soslaio.

— Também... Mas primeiro, como foi que descobriu que eu havia partido?

Hannah respirou fundo, se lembrando daquele dia doloroso.

— Eu acordei. Você não estava. Me ligaram do café dizendo que você não foi trabalhar. Fui ao seu quarto e suas coisas estavam todas lá, inclusive seus documentos e suas chaves. – as lembranças eram dolorosas.

— Eu sinto muito.

Ela arqueou a sobrancelha.

— Eu queria ter podido me despedir. Eu queria ter podido dizer adeus, me desculpe e obrigado... Eu...

— Você disse.

— O quê? – ele se espantou.

— Eu encontrei as cartas. Todas elas. – seus olhos marejaram e uma lágrima escapou.

Darcy também estava emocionado. Ele se lembrava delas. Escreveu a primeira no dia que a conheceu. Não queria se arriscar a partir sem poder dizer obrigado. Com o passar do tempo, várias outras foram escritas, em vários momentos importantes. Após se acertarem as cartas se tornaram diárias, ele queria que Hannah soubesse o quanto a amava.

— Eu não quis que você tivesse dúvidas do quanto era importante para mim. – ele a encarou.

— Eu não tive. – sua voz estava embargada – Em cada linha que você escreveu eu pude sentir sua gratidão. E na maioria delas, seu carinho, seu cuidado, seu amor.

Ele ouvia calado.

— Eu pensei que fosse enlouquecer. Eu esperava por você todas as noites, mesmo sabendo que não voltaria. Quando a minha ficha caiu, eu comecei a trabalhar como uma louca para esquecer.

Ele se sentia arrasado em ouvi-la. Sabia que seria difícil, mas ouvi-la contar era demais.

— Meus pais, a Lúcia, James e até mesmo o Tom... Todos eles tentaram me ajudar, mas eu me recusei.

Ela respirou fundo antes de continuar:

— Um dia eu passei mal no escritório, desmaiei durante uma reunião com o James e ele me levou para o hospital. Eu achei que fosse estafa... Mas quando o médico me olhou e disse... – ela parou emocionada, as lágrimas começaram a cair.

— Ele disse que eu precisava me cuidar. Que eu precisava diminuir o ritmo de trabalho ou...

Darcy agarrou-lhe a mão.

— Ou o meu bebê ia nascer doente. – ela o olhou. As lágrimas também desciam pela face de Darcy – Você está chorando. – disse.

— Me desculpe por não ter estado aqui com vocês. – ele beijou-lhe as mãos.

Ela assentiu e continuou:

— Depois disso foi como se eu tivesse nascido de novo. O primeiro ultra-som, quando eu ouvi o coraçãozinho dele pela primeira vez... Quando ele começou a se mexer na minha barriga... O quarto... As roupinhas... Era como um sonho.

Darcy a olhou enternecido.

— E então ele nasceu. A primeira vez que eu o vi... Aquela criaturinha tão pequena, tão frágil... Ele só tinha a mim no mundo... Eu entendi que independente do qualquer coisa eu deveria ser forte pelo meu filho. Eu tinha acabado de conhecê-lo e já o amava mais que a minha própria vida.

Darcy não sabia se chorava de emoção, de culpa, de alegria, de amor... Eram tantos sentimentos juntos.

— Quando ele abriu os olhos e eu vi aquele azul, eu simplesmente comecei a chorar. Ele era um pedacinho seu que você deixou comigo. O médico e as enfermeiras não entenderam nada, mas naquele momento eu tinha acabado de decidir o nome do meu filho. Meu Willian.

Sem poder mais se agüentar, Darcy puxou Hannah para um abraço apertado.

— Eu só queria que você pudesse ter estado lá. – ela finalizou.

— Eu também. – ele respondeu.

Abraçados eles derramaram as lágrimas necessárias para lavar toda a tristeza e ficarem prontos para um novo capítulo.