Primeiramente acho que eu devo começar com um querido diário, então...

Meu querido diário, aqui sentada à mesa da cozinha enquanto imagino-me sentada em uma mesinha afastada dos outros, onde estamos somente eu, você e meu copo de chocolate quente, observo o mundo que me prende. A música deprimente que minha irmã teima em cantar errado o refrão, minha mãe expulsando nossa cadela que me observava interessada, a chuva que se aproximava banhando-nos com seus primeiros pingos que infelizmente não eram de chocolate, eram pingos fortes de água acompanhados de vento, raios e trovoadas. Tudo muito interessante, tudo aquilo que uma adolescente de cabelos vermelhos amaria logo no inicio de sua jornada. É nesse clima entediante e caótico que tenho o desprazer de anunciar que você meu querido diário não é uma história feliz, e para completar nossa felicidade essa é uma história não apenas sobre mim, há vários outros caracteres dedicados a vários outros nomes os quais vou mencionando assim que for preciso, e um exclusivamente infeliz e de imensa importância: a garota de cabelos castanhos.

Seria impossível contar minha história até os dias atuais em que aqui escrevo sem falar do meu passado. Primeiramente, você deve saber que apesar de eu e ela sermos a mesma pessoa há uma grande diferença entre o que eu era forçada a ser e o que eu sou de verdade. A garota de cabelos castanhos era extremamente tímida, acredite em mim querido diário, isso foi quase o principal fator que desencadeou toda o meu vida. Ela era calada, simples assim, ela era calada na sala, era calada entre os amigos, era calada com sua família. Inteligente era pouco para definir a garota, ela era incrível, perspicaz, esperta. E essas três características juntas em uma criança que está dando seus primeiros passos no mundo eram uma arma letal. A garota de cabelos castanhos, que deveria ser apenas isso virou uma pobre garota, tímida e sem poder falar tudo o que entendia dos fatos que a rodeavam, ela aprendeu cedo demais a sofrer em silêncio. Sofria por amar demais, por se entregar demais, por tentar ser ela mesma e receber apenas criticas, sofria pelas pessoas que nunca a valorizavam, por ser deixada de lado, por querer apenas um convite de se juntar aos outros e apenas ser esnobada. E mesmo com tudo isso ela amava, o amor é um sentimento meio idiota, ele te atinge forte mas esquece das pessoas ao seu redor, ser rodeada de pessoas que sempre foram falsas ao dizer um eu te amo a fazia sofrer, sempre em silêncio.

Voltando aos dias atuais, acho que não falei sobre minhas características. Cabelos vermelhos nem sempre representam uma pimenta, no meu caso em especial é um vulcão de emoções em erupção. Sou agitada, sou ativa, sou feliz, sou o led vermelho de uma festa. Mas por outro lado me banho em lágrimas, sou agressiva e acho que o ataque é o melhor a se fazer, me arrependo de atacar, sou uma flor de campo vermelha que se agita com o vento. Vermelho também é a cor de um dos remédios que preciso tomar. Sou bipolar. E isso não é nenhum bicho de sete cabeças, sério, viver indo da euforia às lágrimas é a coisa mais simples do mundo. Eu me pergunto como eu fui chegar ao ponto em que estou, talvez no fundo eu ainda seja aquela garota de cabelos castanhos que se importa com tudo o que é desnecessário e sofre por amar as pessoas erradas.

Isso de amar é a coisa mais complicada do mundo. Muitas vezes já ouvi a frase “ele não sabe o que é amar” que, particularmente, acho uma das frases mais idiotas do mundo. Todo mundo sabe o que é amar, não ser correspondido não significa que a pessoa é isenta do sentimento. Eu sempre soube que as pessoas ao meu redor amavam, só não amavam a mim.

Você deve estar imaginando que eu me afastei e segui minha vida com as pessoas que me amavam. Você está errado, e eu também. Continuei atrás de quem não se importava, continuei chorando escondida a noite por ter sido ignorada. Sinceramente, acho que eu gosto mesmo é de sofrer.