Profº Oddelier e os Recontos do Senhor das Trevas escrita por King Slyth


Capítulo 5
Capítulo 4 - Ignácio, o Corvo




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POV Corvo

As manhãs não eram gélidas como deveriam ser, o céu ensolarava demais e não permitia crescer suas ervas e fumos no quintal do corujal. De muitas verdades, a única incontestável era que Corvo estava sentindo falta de casa. As tardes não eram tão animadas, uma vez que ficava sentado defronte sua plantação de ervas, com uma cara de bunda que só ele conseguia fazer, prepotente, encarando sua mal-sucedida aventura herbácea.
Era um trabalho chato, cansativo e nada proeminente para seu currículo. Zelador?! Estava na flor da idade, estudado, inteligente e com uma beleza de sua maneira. Vestia-se bem, comparado com seu antecessor, muitas vezes de terno com uma gravata marrom apertada demais, mas em dias comuns, de folga, trajava uma camiseta do Arsenal, um time de esportes trouxa, um kilt escocês e sandálias romanas. Muito os alunos falavam de Corvo, porém o tópico “falta de estilo” ou “estilo não-ortodoxo” era o mais quente.
Não fazia muito: varria com vassouras que faziam todo o trabalho, limpava com balde e esponja que esfregavam sozinhas e bisbilhotava aulas. Talvez o motivo de não ter se demitido e voltado pra casa era o ambiente escolar que nunca voltaria a ver, o cheiro de livro, o barulho de feitiços e azarações, os professores gritando, crianças correndo e se escondendo para fazer sei-lá-o-que. Nossa verdadeira casa é aquela que nos proporciona um sentimento de nostalgia.
Decidiu bisbilhotar a aula do professor Oddelier, um homem polêmico, incorreto, tão não-ortodoxo como si. Abriu a porta de leve, para uma fresta do tamanho do pequeno olho de um corvo e sumiu na essência de um pássaro. Entrou pela fresta, negro, sem deixar vestígios, sem barulho, sem piar, e subiu num dos apoios mais altos da sala de aula. O docente trajava um robe que parecia ter saído do orifício de um trasgo e no quadro apenas havia seu nome.
– Quando engajamos num duelo contra um ser igualmente potente ou melhor que nós, deveremos nos concentrar em: tirar sua varinha com um feitiço de desarme, inibir seus sentidos com alguma azaração, imobilizar seu físico com feitiços simples, como Pullus ou Impedimenta, e por último, mas não menos importante, fazê-lo cair! – pausou a explicação, a turma parecia aficcionada nele, interessada, sabia prender bem a platéia. – Alguém pode me dizer um feitiço de desarme ou alguma azaração? – muitos levantaram as mãos, porém Oddelier resolveu chamar um ravino sentado no fundo da sala.
– Como feitiço de desarme, a escolha mais óbvia seria Expelliarmus, e uma azaração que usei no meu primo ano passado, Tarantallegra, faz o alvo dançar! – o professor riu, bravejando uma soma pequena de pontos para Corvinal.
– Continuando, existem diversas maneiras de fazer seu oponente cair. Se eu, por exemplo, tiver que duelar contra algum de meus colegas de trabalho ou algum assaltante, teria como melhor opção o Plicare, o feitiço do prego. Criei esse feitiço no terceiro ano, com objetivo de prender as cuecas rosas do professor de Feitiços no alto da torre de Astronomia. – a turma explodiu em risadas, perdendo um pouco o foco.
Para retomar a atenção e prosseguir com a aula, Oddelier jogou um dos livros de Gilderoy Lockhart pro alto, levantou o dedo e gritou: “PLICARE!”, logo vários pequenos projéteis em forma de prego saltaram de sua varinha e prenderam o livro no teto da sala, quase atingindo Corvo, que evadiu com alguma beleza. A turma silenciou, prestando alguma atenção e fazendo anotações. – Para nossa próxima aula, quero um pergaminho sobre os diversos modos de derrubarmos nosso oponente e uma demonstração exímia do feitiço Plicare. Imaginem a forma do prego, seu tamanho e quantidade, concentrem e lancem com duas estocadas para frente. É altamente recomendável praticar em duplas, já que alguém pode acabar se machucando! – vários pergaminhos voaram para a mesa dos alunos. Típico Oddelier, providenciar o material da turma e instruir de uma maneira sem delongas. - Aqueles que não possuirem assuntos pendentes, assinem seu nome na folha em minha mesa e podem se retirar. – a sala foi esvaindo, e periodicamente o próprio Oddelier fora almoçar. Corvo voltou a ser Ignácio, o zelador, e se pôs defronte ao quadro negro, tirando sua varinha de cintura e apontando para o quadro. “Plicare!”, brandiu, repetiu, forçou, materializou, e nada saia da sua varinha. Chutou o pequeno prego defeituoso e diminuto que saiu na última tentativa e explodiu pra fora da sala. Era duro ser um aborto.


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