Profº Oddelier e os Recontos do Senhor das Trevas escrita por King Slyth


Capítulo 2
Capítulo 1 - Pela sua leitura


Notas iniciais do capítulo

Capítulo introdutório consequente ao prólogo. Curto, porém explicativo sobre alguns eventos que acontecem no mundo bruxo atualmente - a cobra ainda não está fumando.



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O inválido se tornava cada vez mais ansioso e cada ano que envelhecia, a ansiedade crescia. Foi uma semana ansiosa para Frederiksen – não recebera a resposta de Minerva, teria que dar cabo de sua casa mágica da qual trabalhou anos desenvolvendo e todos os dias recebia pilhas de berradores via correio-coruja. O Ministério havia demonstrado interesse oblíquo pela contratação do inválido para ocupar um cargo outrora amaldiçoado, e o Profeta Diário junto com O Pasquim pressionavam o velho com dúvidas e indagação. Um dia, questionavam a idade avançada do homem, noutro pegavam no pé de sua recente demissão duvidosa de um cargo altíssimo.

Por outro lado, o Ministro da Magia não parecia se incomodar com o fato de ter demitido Frederiksen e ainda menos pelo mesmo ter aceitado um cargo docente – tinha enviado uma das pouquíssimas cartas amistosas ao inválido e desejando boa sorte. Kingsley fora o homem perfeito para o cargo; justo, honesto, amistoso com seus leais e trata com severidade aqueles que desdenham das regras. O velho caduco sempre achou que Shacklebolt tinha estilo, e invejava aquele chapelão árabe que combinava perfeitamente com aquela vestimenta roxo-universo, moda é para poucos que residem diante dos bruxos, mas talvez divagava por ter dividido casa com os trouxas por tempo em demasia.

Também teria sido entrevistado por Rita Skeeter e sua trupe de fotógrafos ao sair da cabana na manhã seguinte ao ter aceitado o cargo em Hogwarts, evitando algumas perguntas desconfortáveis e respondendo outras óbvias, além disso, teria estuporado um animago carregando uma câmera dentro do banheiro na noite seguinte.

Tirando as entrevistas de repórteres amadores e os berradores que o acordavam pela manhã, a vida tinha tranquila e esperançosa. Sentia-se animado e ansioso por poder lecionar e começar sua vida novamente numa nova área, aliás, trabalhou por mais de quarenta e cinco anos no Ministério e estava cansado de burocracia. Viveu grande parte do tempo útil trabalhando para corruptos para num dia de verão todos se encontrarem no nível mais alto de Azkaban, e agora não teria de se preocupar com isso, apenas com velhos rostos familiares e alunos desesperados para passar em seus respectivos N.O.M’s e em como chegar naquele “broto” durante a aula.

Uma das maiores preocupações fora decidir quais livros levaria para dar aula.

Passou pela cabeça escrevê-los a mão, mas o tempo era muito curto até serem aprovados pelo Ministério e demoraria mais ainda conforme a situação atual. “As Forças das Trevas: Um Guia Para Sua Proteção” era um livro deveras básico, para leigos e ainda por cima antiquado – fazia doze anos desde que o maior mal que já sucumbiu no mundo bruxo fora liquidado, porém uma coisa era certo de acontecer: alguém ainda pior, com uma força implacável, ainda daria as caras por ai. Não importa quanto você persistir para manter o mundo em paz, homens das trevas sempre estarão ali para desorganizá-la e causar o caos. Não importa o quanto pressionamos o interruptor, sempre terá alguém para quebrar a lâmpada.

Talvez um passeio caísse bem, abrir a mente para novas ideias e refrescar a memória colocando a mão em alguns livros na Floreios & Borrões. De supetão, vestiu um sobretudo trouxa marrom e calçou seu incrível par de crocs que comprou numa liquidação trouxa e saiu da cabana com uma naturalidade anormal. Segurando firmemente sua bengala de madeira, coxeou até a trilha num bosque logo em frente a clareira; era impossível ver algo além de árvores e mais árvores. Uma vez ou outra alguma raposa passava correndo e logo saía de vista. Depois de vinte minutos cambaleando pela trilha, se agachou com muita dificuldade para alcançar um risco desenhado na terra. Retirou sua varinha de dentro do sobretudo e encostou gentilmente com a mesma no traçado, e do ponto tocado para os dois lados, a terra subiu até revelar um portal de quase dois metros de altura que ao se completar, explodiu em coloridos fogos de artifício. Enacullis, um feitiço que tinha desenvolvido ainda no terceiro ano em Hogwarts, que produzia uma chave de portal falsa que explodia para afastar invasores ou atrair curiosos para alguma armadilha.

Ao remexer mais uma vez a varinha no meio do nada, um feixe se abriu no meio da paisagem, revelando uma grande cidade retangular no meio daquele bosque. Sem mais delongas, o inválido coxeou até a margem do retângulo e se jogou, sentindo o asfalto quente no rosto de uma poluída Londres. Outro feitiço que desenvolveu, Portus portallis, qual criava uma chave de portal invisível num lugar específico do perímetro protetor. Útil e evasivo para situações extremas de risco e fuga, escondido e dificilmente detectável, quase impossível de ser rastreado, uma vez que não fora levado ao grimório ministerial para ser aprovado e usado no cotidiano.

Cansado de estar estirado no chão, levantou-se apoiando na bengala e voltou a coxear pela rua. De longe, conseguia avistar o Caldeirão Furado, nem um pouco discreto e mesmo assim imperceptível aos olhos dos trouxas. Passou pela Charing Cross Road com uma incrível fascinação por todos aqueles garotos carregando aparelhos brilhantes nas mãos – quanto tempo teria economizado tendo um daqueles em Hogwarts? Mesmo que existisse na época, aparelhos eletrônicos deixavam de funcionar nos terrenos do Ministério e nos terrenos de Hogwarts devido à grande pressão mágica nesses locais.

Continuou coxeando até se ver defronte uma construção definhada e que aparentemente sofrera um incêndio há anos atrás. Continuou o trajeto até uma porta de madeira totalmente lascada que parecia mais uma portinhola de cachorro e adentrou o recinto, agora observando um confortável ambiente construído de madeira com várias mesas ocupando o salão. Cadeiras voavam e cervejas amanteigadas iam em direção aos clientes. Não demorou muito ali, passou direto pelo balcão desejando um bom dia para a proprietária, Ana Abbott, dirigindo-se para o fundo da pousada e atravessando uma porta que dava num terreno baldio cercado por um grande muro. Já com a varinha em mãos, brandiu a mesma para os tijolos e tocou bruscamente com a ponta em uma ordem linear, fazendo assim a parede se descolar e abrir passagem para o maior aglomerado de compras para bruxos do mundo.

Embora faltasse dois meses para o início do ano letivo, vários parentes já se aprontavam para comprar o material escolar de seus filhos e muitos estavam ali remendando roupas e comprando varinhas. Estava movimentado, mas não tanto quanto seria 30 de setembro.

Não demorou muito admirando a paisagem e coxeou em frente até chegar num grande anúncio de dois irmãos brandindo chapéus. “Gemialidades Weasley” era o nome da loja. Recordou-se de alguns anos atrás quando aquele beco não passava de um lugar moribundo, cinzento e triste, sendo aquela loja a única fagulha de cor e esperança de onde podia-se ouvir risos, gritos e no geral, emoções positivas. Demorou apreciando aquela paisagem; não se atrevia a adentrar aquele lugar cheio de pegadinhas e brincadeiras das quais deveria evitar enquanto trabalhava como professor, além de tudo, era um exemplo a seguir.

Em poucos passos já se via em frente a “Floreios & Borrões”, que curiosamente não detinha a maior parte da freguesia como de costume. Subiu os três degraus até a porta dupla com uma certa dificuldade e logo se viu de cara com montanhas e montanhas de livros, pergaminhos e todo o tipo de material de leitura. Voltou sua atenção para uma planície amontoada em forma de um dementador gigante com um grande divisor na cabeça da criatura: “Artes das Trevas/Feitiços Defensivos/Defesa Contra As Artes das Trevas” e decidiu começar a procurar por ali.

Passou, sem exageros, horas e horas procurando o livro certo para lecionar. “Criaturas das Trevas”, “Como Defender-se De Trouxas e Bruxos Cruéis”, “Magia Defensiva e Ofensiva: Como Ser Rude com a Varinha” e por fim decidiu acabar levando duzentos de quarenta exemplares do “Meu Eu Mágico” para casa. O caixa teria olhado feio para o professor, aliás, o que um homem queria fazer ensinando as histórias de um farsante? Mas o inválido tinha tudo em mente. Poderia ser caduco, irresponsável, doido varrido, rude, babaca, pilantra e sabe-tudo, mas despreparado não era.

Depois de deixar uma sacola bem pesada de galeões para o atendente passar o dia contando, colocou um-por-um os livros dentro do bolso enfeitiçado do sobretudo e deu um olhar sarcástico para as pouquíssimas pessoas nos arredores. Com um olhar sabichão, continuou coxear até o Olivaras. Soube que sua filha bastarda teria seguido os negócios da família do pai logo que dominou o artesanato de varinhas e não doeria dar algum apoio moral para a garota.

Ao adentrar a loja, fez questão que o sino tintilasse bem alto.

Não tardou até uma jovem loira que aparentava dispor de seus vinte cinco anos de idade se apresentar por detrás do balcão, com um branquíssimo sorriso e carregando várias varinhas. Apesar de sua beleza estonteante, a dona do estabelecimento ostentava um tapa-olho com a insígnia da Grifinória, demostrando talvez uma cegueira do olho direito. Frederiksen não ficou calado, apenas retirou sua varinha do sobretudo mais uma vez e pôs em cima do balcão para que a nova artesão pudesse verificar.

– Boa manhã. Tenho tido alguns defeitos com essa varinha que uso mais de cinquenta anos, comprei aqui mesmo com seu pai. – despojado e um tanto quanto rápido, fez seu anúncio e demonstrou ainda mais sua presença. Logo, a garota já tinha largado as caixas e tinha suas mãos na varinha. – Não mostra o mesmo poder de antigamente, tampouco realiza feitiços fielmente. Fui filho de um artesão e sei que não é um problema emocional, provavelmente a cerne está defeituosa mas vou deixar para a senhorita o veredito final. – terminou, suspirando decepcionado com a própria varinha.

– Interessante. Carvalho vermelho, o que é isso cercando a cerne? Cobre? Sim, cobre, um detalhe peculiar, digo eu. Voltando ao viés, carvalho vermelho. Raro, madeira extinta na criação de varinhas. Está em bom estado, aliás, indestrutível e inflexível, trinta e três centímetros. – ela deu uma pausa, respirando e continuou sem tardar muito. – Não consigo identificar a cerne com muita facilidade – ela fechou os olhos, se concentrando – talvez foi alterada. Consigo ler o carvalho. Ele me diz que sua cerne era de corda de coração de dragão. Revelou também que morreu faz alguns anos, sim, muito previsível, e que o senhor trocou-lhe a cerne em Rödelhausen. Saliva de Elfo-da-Bavária, excelente para feitiços ofensivos e para criação de feitiços. Num grau geral, reflete muito sua personalidade, senhor. Animada, ansiosa, pronta para ser usada, porém distante, um pouco desligada do mundo. Parece que falta duelos na vida dessa varinha. O problema não é com ela, e sim com a falta de uso em combate. – ela terminou, agora fitando o único olho válido para o inválido, que atentamente prestava atenção na garota.

– Devo confessar que não previ isso. – revelou o velho, agora com a varinha de volta ao sobretudo. – Também confesso que não há problema nenhum com a varinha. Vim testar a senhorita, ver se é tão perspicaz quanto seu pai e sem dúvidas, é. – ele deu uma risada desleixada qual não fora correspondida. Sacou um galeão dentre as mangas e apoiou sobre a mesa. – Pela sua leitura. – e se despediu com uma piscadela, virando e voltando para o Beco Diagonal.


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