[— Ah, claro, não custa nada não é? — respondeu Natsumi automaticamente, o sorriso ainda estava em seus lábios quando ela saiu para a escola, enfim ela teria uma boa noticia para dar a Endo.]

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Depois que a filha saiu contente para o colégio, Makoto subiu até seu escritório, afinal tinha que trabalhar, mas depois de duas horas de tentativas em vão o homem desistiu, a visita de Lílian não saia da sua mente.

Makoto seguiu decidido até a biblioteca, em meio a tantos livros havia um que representava muito para ele, um que ele sabia que sua filha nunca se interessaria em pegar, um livro antigo e grosso, o último livro da última estante. O homem olhou o livro e acariciou sua lombada azul claro antes de retira-lo de seu posto, seus olhos ousaram passar pelo exemplar ao seu lado, um volume em veludo cor de sangue, mas aquele livro ele não estava preparado para tocar e temia nunca estar.

O homem de meia idade se dirigiu até uma das poltronas dispersas pela biblioteca, ele ficou sentado olhando a chuva fina e calma cair do lado de fora da janela, às gotas escoriam pelo vidro com uma paciência delicada. Minutos se passaram antes que Makoto tivesse a ousadia de olhar o livro azul em suas mãos, seus olhos pousaram no título prateado “L.M”, era tudo que dizia.

— Lílian Maori... — sussurrou Makoto para o silêncio enquanto acariciava as letras.

Abrindo o livro com delicadeza, o homem sorriu. Um álbum de fotos. Talvez pudesse parecer estranho ele ter um álbum de fotos de Lílian, afinal ela não era sua filha, mas era como se fosse. Makoto havia aprendido a sentir por aquela criança loirinha o mesmo afeto que tinha pela filha, as duas eram o seu maior tesouro nesta terra.

Ninguém nunca havia notado que ele tirava fotos, e todas elas haviam sido tiradas com o celular, era engraçado pensar que ele comprou um modelo com câmera apenas para isso.

A primeira página possuía a primeira imagem, Lílian tinha dois anos e seus olhos eram de um verde intenso, ela segurava uma maça... A menininha havia formado o desenho de um coração no centro da maça com mordidas. Makoto se lembrava, aquela foi à primeira fez que falou com Lílian, depois de dois anos a olhando sofrer, ele finalmente havia falado com ela. Ela não sorriu, não pediu nada, não disse nada... Depois de ganhar a fruta, ela mordeu-a e em seguida lhe mostrou o que tinha feito, ele sorria com a lembrança da ousadia de não odiá-la.

Na segunda página eles haviam “soltado” Lílian na praça pela primeira vez, ela ficou sentada quieta com o vento balançando seus cabelos longos que haviam crescido muito em poucas semanas, talvez por culpa dos experimentos. A camisa branca parecia grande demais e os tênis beges também, mas o shorts jeans servia bem, ela parecia filha de um skatista com aquelas roupas. Dessa vez ela não olhava para a câmera, apenas para o chão, a criança estava com medo de tudo aquilo ao seu redor e assim que lhe foi permitido ela correu para perto de Makoto, embora não tenha chegado a tocar nele. Makoto preferia pensar que ela gostava dele, mas no fundo ele sabia, Lílian apenas tinha esperança de que alguém no mundo não a odiasse.

Na terceira foto poucos meses tinham passado, seu cabelo havia sido cortado na altura dos ombros e estava cacheadinho nas pontas. A menina olhava para o lado e não sorria, naquele dia ela não olhou para ele, haviam feito algo com ela, algo que ela não queria contar, e embora eles ainda não tivessem trocado uma palavra, Lílian tinha medo que seus olhos a denunciassem. Novamente o homem sentiu-se culpado por ter apenas observado tudo, calado, mas o que ele poderia ter feito? Por mais que ele desejasse parar tudo aquilo, ele nunca teria condições nem uma oportunidade, eles eram inalcançáveis! Makoto fez o que pode, fez o que estava ao seu alcance, ou ao menos era nisso que ele preferia acreditar...

O álbum era grosso e muitas páginas ainda haviam a seguir, esperando para serem apreciadas, mas Makoto fechou o livro azulado e o guardou em seu lugar, na última estande. Ele respirou fundo e resolveu que tentaria trabalhar, afinal tinha muitas coisas a fazer.

Enquanto fechava a porta da biblioteca atrás de si, um sorriso radiante tomou conta dos lábios do homem, isso porque Makoto sabia que na próxima foto Lílian estaria sorrindo, e que, se ele tivesse sorte, logo Natsumi e ela seriam amigas. Logo ele poderia fazer algo de bom, poderia tentar compensar de alguma forma, o homem ficou contente imaginando que dessa vez poderia estar perto de Lílian e ajuda-la verdadeiramente.

Seria como ter suas duas filhas juntas, e mesmo que apenas uma delas tivesse seu sangue, isso era tudo o que ele mais desejava.

Próximo capítulo: 08 Um Sorriso e Uma Jogada