Tentou de todas as formas chegar mais cedo, pensando em fazer uma surpresa para sua amada, mas já havia escurecido há algumas horas quando adentrou os portões de Konoha. Já estavam naquela situação há um ano, e até agora não tinham conversado sobre oficializar nada. Sasuke não era homem de ficar de enrolação, mas não queria assustá-la... E toda vez que estavam juntos mal tinham tempo para conversar; matavam a necessidade que sentiam um do outro e sempre acontecia algo depois.

Chegou a entrada do Distrito Uchiha; as ruas não estavam mais desertas, pois algumas famílias resolveram se mudar para lá. Tinha crianças e, consequentemente, muita bagunça, mas qualquer coisa era melhor do que aquele silêncio incômodo de anos atrás.
Chegou até a casa principal onde morava e abriu a porta, entrando na mansão. Um cheiro suave de lavanda lhe aguçou os sentidos: ela esteve ali. Procurou por todos os cômodos da mansão, já esperando que ela surgisse com aquele sorriso meigo de sempre, e chegou ao quarto, mas não havia ninguém... Até que seus olhos pousaram em cima do criado mudo. Encontrou uma carta, com o seu nome estava escrito na frente; aquela caligrafia era dela, com certeza.

Konoha, 12 de Junho de 2015.

Querido Sasuke,

Alguns dias atrás estava em missão – fui escoltar uma princesa de Kirigakure, que estava noiva, e levá-la até a cerimônia em segurança. Isso foi um saco! Ela era a noiva mais chata que existe, Sasu-kun... Quando dizem que toda tampa tem sua panela, eu acredito, porque se aquela princesa conseguiu se casar, qualquer um consegue... Enfim, durante minha missão, me peguei pensando em você.

Lembra de quando você voltou pra Konoha? Eu me lembro, como se fosse ontem, daquela tarde no escritório da Hokage. Você estava com aquela roupa esquisita de camelô e aquela cara de idiota, que você sempre faz quando alguém te obriga a algo (claro que eu só fui entender depois que aquela cara, na verdade, era de tédio). Naquele dia eu fui designada a lhe observar até que você se mostrasse confiável e pudesse seguir sozinho.
De início eu lhe achava muito assustador... E, além disso, você não sorria, você não gostava de bolo, você não gostava de doce e você não gostava de sorvete (sinceramente, Uchiha, QUEM NÃO GOSTA DE SORVETE?)
Mas aí, com o tempo, eu fui me acostumando com suas esquisitices (porque além de não gostar de nada que é bom na vida, você ainda comia tomate puro e tomava banho gelado em pleno inverno)... E, pra mim, você deixou de ser assustador pra ser apenas esquisito.

O ápice da esquisitice foi quando Sasuke Uchiha – o homem frio e sem coração – sentou ao meu lado, perto daquele lago, para me reconfortar por minha decepção amorosa. Eu tinha me declarado ao Shino naquele dia, e descobri que ele estava saindo com a Ino. Você veio todo esquisitamente gentil me reconfortar, e disse: Hinata, já era de se esperar, afinal flores e insetos se atraem.
Então decidi que você não era esquisito, você era gentil.

Os dias se passaram e, com eles, veio o baile da primavera – você me convidou para ir ao baile como seu par, e foi uma companhia melhor do que eu poderia esperar. Naquele dia, descobri que, da mesma forma que seu sensei Kakashi, você gosta de saber das fofocas, mas sempre finge não lhe interessar... Enquanto conversava com a Sakura, vi aquele brilho de interesse que todo bom fofoqueiro tem, mas você sabe esconder muito bem.

Eu me diverti muito! Você me tirou pra dançar quando ainda tinham alguns casais na pista de dança, tomei pela primeira vez saquê com você, ficamos meio bêbados... Na verdade, ficamos muito bêbados; lembra-se de como estávamos desesperados? Foi uma noite divertida e de muita descoberta pra mim – descobri que você tem mãos habilidosas, lábios com um gosto e textura ótima, e que seu corpo se molda muito bem ao meu... Descobri também que você podia ser algo mais além de gentil, você era quente também.

Mas, aí, eu já não era a única acostumada com você. As pessoas da vila se acostumaram, viram que você não era assustador, afinal, ninguém assustador distribui doces para crianças... Bem, eles não precisam saber que isso foi porque você perdeu a aposta pra mim, mas, Sasu, você realmente é bom com crianças (okay, não é tão bom com crianças que gritam, mas...). Eles viram que você não era esquisito, porque ninguém esquisito ajuda senhoras na época de colheita (eu sei que você só estava interessado nos tomates, mas elas não sabem, então ok).

Elas também viram o quanto você era gentil, depois que todas as senhoras da vila lhe viram ajudando Srª Chyo com as compras, mas você fez mais que isso: você a chamou para morar em umas das casas no distrito Uchiha… E chegaram à conclusão de que somente uma pessoa gentil ajudaria uma senhora que perdeu o marido e os filhos na 4º guerra, e daria um lugar pra ela morar, em troca de tomates (elas realmente não conhece sua fixação por tomate).
Estou muito orgulhosa por você estar reconstruindo aos poucos o seu clã, mas, sabe o que eu percebi? Que o tempo de convivência com você me afetou mais do que eu imaginava. Com você, eu aprendi que nem todos os rapazes são inocentes ou apenas gentis… Peguei aquele seu péssimo hábito de revirar os olhos quando algo não me interessa – meu próprio pai me chamou a atenção por fazer aquela sua cara de idiota enquanto ele falava algo sobre os anciões do clã (e foi nesse dia que eu entendi que sua cara de idiota era de tédio).

Eu fico muito irritada quando vejo alguém daquele seu fã-clube ridículo (que parece ter voltado a ativa com toda força) suspirando ao ver você passar… Fico esquisita toda vez que a Karin se aproxima e você vai, com aquele seu sorriso de lado, e dá atenção a ela... Na verdade, me sinto estranha toda vez que alguém com menos de 50 anos se aproxima de você – acredita que esses dias, no almoço, eu fui grosseira com a Luna porque ela estava dizendo que você era gostoso e que devia ter a melhor pegada de Konoha? Mas eu não tenho o direito de me sentir assim, afinal, não somos nada além de companheiros… Você nunca disse que era meu, então não devia ter esse sentimento de posse sobre você, mas isso está me corroendo, Sasuke.
Mas você deve estar se perguntando o que é tudo isso e o que tem a ver com a mulher chata que se casou. Então, ao ver toda a cerimônia daquela princesa, percebi que isso não aconteceria entre nós… E você não sabe como isso me machucou. No fundo, eu sempre quis que você fosse a tampa da minha panela, Sasuke.

Você deve estar se perguntando também o porquê de estar lhe dizendo tudo isso agora. A verdade, Sasuke, é que eu estou perdidamente apaixonada por você, mas não suportaria dizer isso e ser rejeitada… Mas também não posso sair de Konoha e sem que você saiba disso.
Sábado irei a Suna – na verdade, serei representante do clã Hyuuga e de Konoha lá –; vai ser bom para a aliança de Konoha com Suna e, como futuramente vou ser líder do meu clã, concordei com papai que ficaria o tempo que precisasse. E, por mais que eu saiba que o que sinto por você não é algo passageiro, acho que esse tempo será necessário… Preciso me me preparar para viver longe de você, preparar meu coração para ver você com a futura Srª Uchiha.

Desejo a você toda felicidade do mundo… Sei que conseguirá trazer o Clã Uchiha de volta à sua antiga gloria, como você sempre quis, Sasuke. Me desculpa por ser covarde, mas acho que não estou pronta para ver tudo isso acontecer agora.
Com muito amor e carinho,

Hyuuga Hinata

Sasuke não podia acreditar no que estava lendo. Como Hinata pôde achar que iria querer outra além dela? Achou que o modo como a tratava mostrava que ela era diferente, que ele queria algo sério com ela… Como ela pôde?
Releu a carta e viu que ela tinha escrito no mesmo dia, por isso o perfume de lavanda ainda estava presente na casa – ela estivera ali hoje. Hinata partiria somente no dia seguinte – isso queria dizer que ainda tinha tempo. Graças aos Kamis tinha decidido não enrolar naquela missão e voltar logo para casa – na verdade, fez de tudo para voltar logo, pois estava sentindo falta dela.
Tomou um banho rápido, tentando não perder mais nenhum segundo, mas já passava das dez horas da noite quando chegou à casa principal Hyuuga. Alcançou a varanda do quarto da morena e entrou por aquela porta, quando ouviu o barulho do chuveiro. Resolveu passear no quarto – já estivera lá antes, na volta de sua primeira missão desde o seu retorno à Konoha.

Ouviu o som da porta do banheiro anexado ao quarto dela ser aberta, estava de costas para ela, mas sabia que ela estava surpresa. Virou para encara-la e ver sua morena daquela forma o deixou maluco. A longa madeixa azulada estava presa em um coque, gotas de água escorria para o vale dos seios dela, a respiração de Sasuke se tornou ofegante, o moreno diminuiu a distancia entre os dois, tocou-lhe os lábios com o polegar, o olhar esta fixo ao dela.

— Você não vai me deixar, Hinata, porque, sem você, não tenho gentileza, não tenho bondade, não tenho generosidade… Você desperta o melhor de mim. Com você, aprendi todas essas coisas, mas aprendi algo mais, Hina… Com você, aprendi a amar, Nem que eu tenha que começar uma quinta guerra mundial, ninguém vai tirá-la de mim... Você aceita namorar comigo?

Ela não podia acreditar no que estava acontecendo, em um momento estava sozinha e reclamando da própria vida e de como era injusto ela não ter a pessoa que amava, e no outro estava nos braços do homem da sua vida e o mesmo pedindo a ela para que fosse dele.

— Sasu, você sabe como eu detesto violência... Deus me livre ser a causadora de mais uma guerra, então, se é para o bem da nação, eu aceito namorar você.