Ela e o Apocalipse escrita por Bill Cipher


Capítulo 1
Cenas 1 - 11




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1 – EXT. VARANDA DO QUARTO – NASCER DO SOL

Varanda de madeira velha como a casa. No canto próximo a porta uma cadeira de balanço antiga que rangia e sentada nela uma senhora de 75 anos. Ela usava roupas de lã branca como seus longos cabelos. Sua pele era clara, enrugada e flácida e seus olhos eram grandes e azuis celeste.

Ela observa o sol nascer atrás do penhasco a sua frente. De repente um relinchar é ouvido e ela se levanta e olha para o campo abaixo da varanda.

ÁGATA
Será possível você parar de fazer barulho, César?
(expressão de raiva)

O velho cavalo malhado (marrom e branco) abaixa a cabeça.

ÁGATA
Ah, para de resmungar.

Ela desce as escadas e abre a porta, ambas de madeira. Ela olha em volta procurando saber se havia algum monstro por perto.

O cavalo se aproxima e Ágata o massageia.

ÁGATA
(suspiro)
Você me ajudou muito nesses 40 anos, viu?

A senhora observa ao longe os últimos zumbis queimarem nos raios de sol.

ÁGATA
E pensar que tudo poderia ter sido diferente...


2 – EXT. ENTRADA DE UMA MINA – FLASHBACK, 40 ANOS ANTES

Campo aberto e em frente há a entrada de uma caverna no sopé de uma colina. Havia várias pessoas, a maioria com homens roupas de mineiro e outras como mulheres e crianças. Quase todas estavam comendo uma carne de aparência estranha que era distribuída por mineiros que acabavam de sair de sua mineração.

Perto a entrada da caverna estava Ágata, que na época era jovem e tinha cabelos longos e castanhos. Ela usava uma camiseta listrada roxa e preta com abertura nos ombros e um shorts cinza. As alças brancas de seu sutiã apareciam e seus sapatos eram pretos. Ao seu lado estava seu marido Saul. Ele era alto, de pele clara também e seus cabelos eram curtos e pretos com um pequeno topete na frente. Seus olhos eram de um tom azul marinho. Ele usava sua roupa habitual de mineração: uma camiseta preta suja por baixo de uma camisa xadrez azul um pouco rasgada e tão suja quanto, calças azuis e sapatos pretos desgastados um pouco. Na cabeça usava um capacete de mineiro amarelo com lanterna. E entre eles estava seu filho Bigby, de cabelos curtos e marrons, pele branca e olhos iguais aos do pai. Usa sapatos e camiseta cinza, calça azul e um capacete igual ao do pai.

BIGBY
Vai, pai, deixa! Por favor!!!

SAUL
(expressão séria)
Filho, minerar é coisa para adulto. Por que não vai brincar com aquelas crianças?
(aponta para as crianças ao longe)

BIGBY
Mamãe não gosta que eu fique perto de pessoas que estão comendo aquela carne.

As crianças se divertiam comendo a tal carne. Ela era vermelha e tinha a aparência de uma carne seca. Também havia pontos verdes espalhados pela superfície.

ÁGATA
Ele tem razão. Aquela carne é pega no chão das cavernas. Não sei como comem isso.

SAUL
Então é você que está colocando essas coisas na cabeça do moleque?!

ÁGATA
(olhar irritado)
Você quer mesmo que nosso filho coma carne fedida de um animal que ninguém sabe ao menos qual é?!!! Espere. Cadê o Bigby?!

Bigby corre em direção a mina e para em cima de uma ponte caindo aos pedaços.

Seu pai corre atrás dele.

SAUL
Te peguei!!!

Um estalo é ouvido. A ponte cai com os dois juntos.

ÁGATA
BIGBY!!!!!!! SOCORRO!!!
(chorando)

Ágata pede ajuda a um senhor ao seu lado. Mas ele parecia estar passando mal. Ele vomita e desmaia derrubando seu prato de carne no chão.

ÁGATA
SOCORRO!!! Nos ajudem por favor!!!!!!!!

Outras pessoas começam a passar mal e todas as pessoas que tinham comido a carne desmaiam.

Começa a anoitecer e sem escolha Ágata chama César e volta para casa.


3 – INT. QUARTO – DIA

Ágata acorda em seu pequeno quarto de madeira, na época nova.

Ela abre a janela de vidro voltada ao campo. Ela vê um aglomerado de pessoas próximas ao caminho da mina.

Ágata assobia com os dedos chamando César. Eles vão em direção as pessoas que tinham um tom de pele meio esverdeada. Elas pareciam estar fugindo para a sombra das árvores.

4 – EXT. CAMPO - DIA

Campo aberto com algumas árvores ao fundo.

ÁGATA
Ei! Voltem aqui!

Um deles vira o rosto. Sua face era deformada e seus olhos eram negros.

ÁGATA
QUEM É VOCÊ?!!!!!

A pessoa corre atrás dela sob a luz do Sol assustando César que levanta as patas dianteiras. De repente a pele do “ser” começa a queimar até cair morto no chão. Seu corpo some em cinzas e no lugar sobram as tais “carne”.

ÁGATA
Ui... então isso é carne podre! Espere um pouco... então eles viraram... ZUMBIS?!!

Ágata percebe alguém a observando debaixo de um carvalho. Era um zumbi também.

ÁGATA
Aquele ali...
(arregala os olhos)
É o mesmo senhor que eu vi passando mal ontem!!!!!

Ágata grita para César levá-la a mina.


5 – EXT. MINA – DIA

Mesmo cenário da cena número 2. Os únicos animais lá eram César e Ágata.

Ágata desce de César e pega uma tocha.

Ela entra na caverna e César a acompanha, mas ela o impede de a seguir.

ÁGATA
Não, César. É perigoso.
(olha para onde antes havia a ponte de madeira)
Não quero que mais alguém que eu ame morra aqui.

Ágata acaricia a cabeça do cavalo e adentra o túnel mais ainda até chegar no local da ponte quebrada.

6 – INT. PONTE QUEBRADA

A ponte era de madeira podre e estava partida ao meio. Em baixo dela havia uma grande ravina.

Ágata pisa cuidadosamente sobre a ponte. A madeira range e se parte, caindo no penhasco. Ágata, porém não cai junto.

ÁGATA
Deve haver um jeito de eu descer lá.

Ela vê uma escadaria velha de madeira descendo a encosta da ravina.

Ágata olha para trás e vê um zumbi a um metro dela. Ela grita e corre em direção as escadas.

7 – INT. ESCADAS

Os degraus da escada rangiam, eram velhos e empoeirados como a ponte.

Ágata desce até a metade, quando ela ouve um estalo atrás delas. Era um zumbi de novo.

Ela corre mais rápido e os degraus se partem atrás dela conforme ela corre. Quando faltavam 2 metros para ela chegar ao chão o degrau embaixo de seu pé quebra e ela cai.

Ágata se levanta e pega sua tocha do chão.

ÁGATA
César! César! Droga, ele não vai meu ouvir, como se ele fosse me entender...

Ágata continua seguindo seu caminho.

Ela tropeça em alguma coisa.

ÁGATA
O que é...

Ela havia tropeçado no corpo de seu marido.

O corpo estava de cheio de mordidas, aparentemente humanas, e estava um pouco gelado. Provavelmente morreu na queda.

Ágata se abaixa e chora.

De repente ela para e vê pequenas pegadas de sangue indo em direção a outro túnel.

Ela se levanta e abre um sorriso.

ÁGATA
Bigby!! O Bigby ainda pode estar vivo!!!! Filho!!!! Filho!!!!!

Ela corre seguindo as pegadas.

Um rugido humano é ouvido ao longe. Ágata se vira e vê mais zumbis perto do corpo de seu marido. Ela foge. Uns 10 metros à frente ela encontra uma dungeon.

8 – INT. DUNGEON

Paredes de pedregulho com musgo e chão de pedregulho comum. Havia dois baús lá e no centro uma gaiola com partículas de fogo.

Em volta dela várias daquelas “carnes” e várias espadas ensanguentadas.

ÁGATA
Mas o quê?

Do lado da gaiola surgi um zumbi que avança sobre Ágata.

Ela pega uma dessas espadas e apunhala o coração do zumbi. Este dropa várias carnes podres.

ÁGATA
Então é daqui que vem essa porcaria de carne.

Ela pega uma picareta que também estava no chão e quebra o mob spawner.

Ágata ouve choro de uma criança.

ÁGATA
BIGBY!!!!!

Ela chega a uma ravina a céu aberto, coincidentemente a que fica atrás de sua casa.

9 – EXT. RAVINA – DIA

Ela tinha mais ou menos 100 metros de uma profundidade e era em minérios. Havia poças d’água no chão que formava uma fina camada brilhante.

Ágata vê mais pegadas no chão que vão em direção a uma rocha.

Mais choros são ouvidos, vindos também de trás da rocha.

Ágata os segue e encontra uma criança machucada e ensangüentada chorando.

ÁGATA
BIGBY!!!!!
(chorando)

ÁGATA
Mãe?!!!
(ainda chorando)

Ela larga a espada no chão e o abraça. Ágata chora mais ainda.

BIGBY
Foi tudo minha culpa, eu não quis machucar ninguém.

ÁGATA
Você não tem culpa de nada meu, filho! Agora venha, precisamos sair daqui.

BIGBY
Não dá!

Bigby segura a perna de sua mãe.

ÁGATA
Por quê?

BIGBY
(mais choro)
Na queda, eu quebrei minha perna.
(soluço)
O máximo que eu pude andar foi até aqui. Me desculpa.

ÁGATA
Não se preocupe.
(enxuga suas lágrimas e do filho)
A gente vai sair daqui e curar os seus machucados. Se acalme.

Ele concorda com a cabeça.

Ágata pega o filho nos braços e coloca em cima de uma pedra seca.

ÁGATA
Fique aí. Vou arranjar um jeito de subirmos.

O estômago de Bigby faz um barulho indicando fome.

ÁGATA
E o pior é que você não come a horas. Onde eu vou arranjar comida por aqui?

Ágata se lembra dos baús da dungeon.

ÁGATA
Talvez tenha comida lá. Espere.

BIGBY
Mãe! Volta logo que está anoitecendo!

Ágata estranha o fato de estar anoitecendo tão rápido, mas continua seu caminho.

10 – INT. DUNGEON

Ágata abre os baús. No último havia uma maçã e um pão.

ÁGATA
Isso ajuda um pouco.

Um grito infantil é ouvido. Ágata corre em direção a ele e se depara com Bigby correndo e mancando atrás dela.

BIGBY
Anoiteceu!!!!!

ÁGATA
E daí?

Bigby aponta o dedo para 3 zumbis que vinham na direção deles.

Ágata pega sua espada e atinge eles.

Um dos zumbis revida, mas Ágata desvia e atinge seu estômago. O zumbi cai no chão.

BIGBY
MÃE!!!!

O outro zumbi vinha em sua direção.

ÁGATA
NÃO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Ágata atira sua espada que atravessa por completo o corpo do zumbi.

Quando este cai “morto” no chão ela percebe que após a espada o atravessar ela atingiu o peito de seu filho.

ÁGATA
BIGBY!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
(arranca a espada)
Fala comigo, por favor!

BIGBY
Mãe, eu só queria que você soubesse, que você é a melhor...
(fecha seus olhos)

ÁGATA
Bigby. Bigby! Não, não!
(sacudindo ele)
Por favor não me deixe!
(chorando)
(grita jogando a espada longe)
(câmera diminuindo zoom por cima e se afastando)

11 – EXT. FRENTE DA CASA – FIM DO FLASHBACK

ÁGATA
Depois disso você me achou e me levou para a casa pelo caminho que você encontrou. Quem diria, além de me encontrar você conseguiu achar uma outra entrada para a ravina.
(risos enquanto olha para o horizonte)
Todos esses anos sem família, amigos ou algum ser humano você me fez companhia. Obrigada, César. César?

Ela olha para o cavalo que aparentava estar dormindo. Mas não estava.

ÁGATA
É, chegou sua hora. Você realmente precisava descansar.
(beija a testa do cadáver)
Muito obrigada, César. Até breve.

Ela anda em direção ao penhasco.

ÁGATA
Acho que também está na hora de eu descansar.
(põe um pé para frente)
Adeus... Apocalipse.

Ela abre seus braços e pula no abismo.

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