A Feiticeira Amazona escrita por Regiane Belmonte


Capítulo 4
Capítulo 4 – Cidades de Papel




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Caio é um Feiticeiro atacante que eu e o Carter detectamos junto com a Mila. Como o Carter sempre quis herdar o trabalho de detectar da mãe, ela resolveu começar a levá-lo junto. Como eu já era parte da família, fui meio que de brinde nas detecções.

Caio mora em Dallas, então precisamos viajar um pouco para encontrá-lo. Quando chegamos em sua casa, só a mãe dele se encontrava, aparentemente ele tinha treino de futebol americano até tarde naquele dia. Mila começou a explicar meio que por cima do que se tratava sua visita e disse que se ela permitisse, ficaríamos ali esperando a chegada do menino.

A senhora Vecchine, Sandra, como pediu pra ser chamada, ficou tão empolgada com a possível bolsa de estudos que o filho receberia que para matar tempo, resolveu nos levar por um tour pela casa.

Vimos a cozinha, a sala, a churrasqueira, o quintal, a área de serviço da casa e outras coisas. Depois ela nos levou para o andar de cima e conhecemos o quarto dos pais dele, o escritório que o pai tinha em casa e o quarto do Caio.

Foi quando chegamos ao quarto dele que percebi algo diferente ali. Vários pôsteres de jogadores e times de futebol americano decoravam o quarto, tinha o computador, a televisão, o vídeo game, a cama e aquela bagunça básica que você encontra no quarto de qualquer adolescente, mas no canto esquerdo do quarto, como se fosse algo sagrado, lá estava o que tornava o quarto tão intrigante: uma estante.

Mas não era uma estante qualquer, tinha a parte de dvd’s que pareciam estar divididas entre séries e filmes, tinha a ala das HQ’s que tinham de vários tamanhos diferentes e tinham os livros, vários livros, quase como uma biblioteca particular.

Eu sempre amei ler, mas nunca tive tantos livros assim, a maioria dos livros que eu lia pegava emprestado da biblioteca da escola. E o engraçado era que, aquela estante era a única coisa organizada no quarto todo. A não ser por um livro, tinha um livro fora do lugar.

— Caio é bem bagunceiro, ele não tem paciência pra arrumar nada, do jeito que chega da escola joga as coisas no chão, joga vídeo game, fica no computador, fica sufocado pela bagunça, mas não arruma. – Sandra e Mila riram, como se compartilhassem algo em comum. – A única coisa do quarto dele que está sempre arrumado é aquela estante, ele nem me deixa chegar perto dela, ele arruma, tira pó e organiza, se eu tirar alguma coisa do lugar ele percebe, nunca vi igual. – e as duas voltaram a rir.

Enquanto Sandra contava mais alguns podres do filho pra Mila, fui puxada para dentro do quarto dele em direção aquele livro fora do lugar. Algo nele me intrigava, porque só ele estava fora do lugar? Passei por cima de pilhas de roupas até chegar ao livro. Em sua lombada estava escrito “Cidades de Papel”, por acaso isso é nome de livro?

Peguei o livro e como uma viciada precisando de sua droga, folheei as páginas amarelas. Um post-it estava grudado em baixo de uma frase destacada em negrito no livro “Você irá para as cidades de papel e você nunca mais vai voltar”, no post-it estava escrito: “Lembrete”.

— Você também gosta de ler querida? – Sandra lançou um sorriso acusador quando me viu com o livro na mão.

O que eu estava fazendo? Fechei o livro e o coloquei no mesmo lugar. Comecei a rir enquanto voltava pra porta.

— Me desculpe Sandra, isso foi algo bem grosseiro, não deveria ter entrado assim no quarto do Caio e pegado o livro dele. – nunca senti tanta vergonha em minha vida.

— Não precisa se desculpar flor, não foi grosseria nenhuma. – e soltou uma leve risada. – Mas você também gosta de ler?

— Sim, eu adoro ler e alguma coisa naquele livro fora do lugar me instigou, mas foi só. – tentei deixar a situação menos estranha o possível.

— Ela é sua filha Mila? – perguntou Sandra.

— Não de sangue, mas agradeço a Deus todos os dias por ter conseguido adotar ela, - Mila abriu um sorriso pra mim. – não sei o que faria sem ela pra ajudar a equilibrar os hormônios lá de casa.

Sandra e Mila pareciam velhas amigas que adoram contar casos diversos dos filhos para que as duas possam rir e reviver os melhores momentos. Elas desceram as escadas em direção à sala, Carter e eu ficamos mais atrás, dando espaço para as duas conversarem.

— Vou falar pra mamãe não te trazer mais, você só nos faz passar vergonha. – Carter disse, tentando fingir ser esnobe, mas não obteve sucesso e começou a rir ao final da frase. Ele amava me irritar e não perdia uma oportunidade sequer.

— Pode parar com isso, não fiz nada demais. – me defendi.

— Só entrou no quarto do menino que viemos detectar e quase roubou um livro dele.

— Eu não ia roubar aquele livro, só quis saber porque ele estava fora do lugar Carter.

— O primeiro passo para superar seu vicio em roubar os livros das pessoas é admitir seu vicio. – Carter tentou imitar algum personagem de filme, só sei que ficou tão engraçado que os dois começaram a rir.

Quando chegamos na sala, Sandra pediu que sentássemos e aguardássemos um pouco, ela faria suco e traria algumas bolachas para comermos enquanto Caio não chegava.

Caio chegou antes do que esperávamos, aparentemente o treinador resolveu terminar o treino mais cedo naquele dia. Quando ele chegou e eu olhei nos seus olhos, senti algo que nunca tinha sentido antes: o coração disparou, a boca ficou seca e até a respiração falhou, tudo isso quando vi aqueles olhos cinzas que pareciam tempestades.

Assim que o Caio chegou e se acalmou, a Mila começou a falar o mesmo texto de sempre, explicando o que era a Academia e a que classe o aluno detectado pertencia.

— Deixa eu ver se eu entendi, eu sou um Feiticeiro atacante, é isso? – perguntou Caio.

— Exatamente. – respondeu Mila com um sorriso.

— O que eu posso exatamente fazer? – perguntou Caio novamente.

— Isso. – Carter respondeu criando uma esfera de fogo grande com uma das mãos, e com a outra mão criando esferas menores para orbitar a esfera maior, parecia até uma réplica do nosso sistema solar.

— CARAMBA MÃE, OLHA ISSO. – Caio estava tão empolgado com tudo que seus olhos brilhavam como as chamas nas mãos de Carter. – Eu vou poder criar fogo também?

— Não sabemos qual vai ser o elemento que você vai controlar, mas é um dos quatro elementos básicos. – respondeu Mila.

— MÃE, EU SOU TIPO OS CARINHAS DAQUELE DESENHO DO AVATAR, VOU PODER CONTROLAR OS ELEMENTOS. – aquilo estava engraçado demais, não consegui segurar a risada.

Caio devia estar tão hipnotizado com as noticias e o show do Carter que tinha até se esquecido da minha presença, quando me ouviu rindo direcionou aquela tempestade de euforia na minha direção.

— E você, de que classe você é? – Caio me perguntou.

— Eu também sou uma Feiticeira, mas não sou atacante, sou neutralizadora, não posso fazer coisas legais como vocês dois. – disse ainda rindo do menino que se achava o máximo agora porque se descobriu o próximo Avatar.

— Então, o que você pode fazer? – Caio me perguntou.

Não sabia como agir, olhei pra Mila em busca de apoio e o encontrei.

— Mostre a ele querida. – Mila me incentivou.

— Tudo bem. Ouvi você dizer pra sua mãe que está sentindo uma dor no seu ombro de arremesso. Ele ainda dói? – perguntei.

— Um pouco. – ele me respondeu, bem desconfiado. Tudo bem, isso vai ser legal. Quando ele respondeu que ainda sentia um pouco de dor, involuntariamente ele mexeu o ombro que doía, o ombro direito, focalizei no ombro dele e neutralizei a dor.

— E agora, como se sente? – perguntei.

— CARAMBA MÃE, MEU OMBRO PAROU DE DOER. – ele mexia o ombro freneticamente de todas as formas possíveis pra ver se de alguma maneira sentia dor e conforme fazia isso e a dor não vinha ficava evidentemente chocado, o que só me fazia rir mais. – ELA CUROU MEU BRAÇO MÃE.

— Na verdade eu não curei, eu só neutralizei a sua dor, é isso que os neutralizadores fazem. Uma outra coisa legal que podemos fazer é anular poderes, olhe. – Carter ainda brincava com seu sistema solar em chamas, olhei para ele, dei uma risada, levantei a mão em sua direção e o sistema solar em chamas desapareceu tão rápido e sem deixar vestígios que ninguém diria que um dia ele existiu.

— Alicia, isso não vale, o que a gente já não conversou sobre você ficar anulando meus poderes? – Carter tentava criar alguma fagulha, esperando o momento que eu parasse de deixá-lo sem poderes.

— Desculpa, me pediram pra mostrar do que sou capaz. – e ri de novo. Todos na sala riram da frustração do Carter.

— Sério, já deu, quero meus poderes de volta.

Quando os poderes dele voltou ele olhou pro Caio e falou.

— Uma dica de quem não sabe nada amigo? Nunca irrite uma neutralizadora, elas tem a irritante mania de neutralizar seus poderes por horas se bobear. – dei um tapa no braço do Carter e continuei rindo da situação.

É meio que óbvio que a Sandra precisou aceitar o convite na hora, acho que o Caio surtaria se ela cogitasse a possibilidade de pensar, então ela e a Mila ficaram na cozinha conversando e combinando os últimos detalhes como matricula, viagem, e outras coisas, Caio foi tomar banho e se trocar e eu e o Carter ficamos na sala conversando.

Quando Caio desceu e começou a conversar com a gente, tirando duvidas da academia e das outras classes, uma pergunta bem engraçada apareceu.

— Posso levar meus livros normais pra lá? – Caio perguntou.

— O que seria livros normais? – Carter questionou rindo um pouco.

— Sabe, livros de literatura, fantasia, ação, etc.

— A tah, coisas de nerds. – Carter respondeu fazendo uma cena. – Claro que pode, mas toma cuidado com a Ali, a ladra de livros aqui. – e aponto pra mim.

— Vai começar de novo? – perguntei.

— Claro, se a mãe dele não tivesse te pegado no flagra, você tinha roubado um livro dele hoje mesmo.

— Cala a boca Carter. – falei dando um soco no braço dele. – Desse jeito ele vai achar que é verdade.

— Que história é essa? – Caio perguntou meio confuso.

Carter ria triunfante, como ele gostava de me irritar.

— Antes de você chegar sua mãe nos mostrou a casa, quando chegamos no seu quarto eu vi um livro fora do lugar na estante e por algum motivo quis saber que livro era, só isso. É que o Carter ama ser desprezível, por isso aumenta as coisas. – contei.

— Eu apenas constato fatos. – o Carter era impossível, não tem jeito.

— Que livro que era? – perguntou o Caio rindo também.

— Cidades de Papel.

— Já leu?

— Não, mas uma frase que você deixou marcada com um post-it esta me intrigando.

— Qual?

— “Você irá para as cidades de papel e você nunca mais vai voltar”.

Caio deu uma risada de concordância, ele parecia entender porque a frase me intrigava.

— Sei exatamente do que está falando. – e ele sorriu, e meu coração e minha respiração falharam novamente.

— Bom crianças, acho que já está na hora de irmos embora, esta ficando tarde e temos uma boa viagem pela frente. – Mila voltava da cozinha junto com a Sandra.

— Tudo bem. Tchau Caio, até o inicio das aulas – Carter falou apertando a mão dele. – E obrigado Sandra, pela hospitalidade. – e beijou a mão da mãe do Caio.

— Que cavalheiro – Sandra disse encantada.

— Exibido – cantarolei baixinho só para o Caio ouvir. Ele riu de novo e aquilo foi como um soco no meu peito. O que estava acontecendo comigo? – Foi um prazer te conhecer Caio, nos vemos na academia. – fui pra cumprimentá-lo com um aperto de mão e recebi um abraço no lugar, ser pega desprevenida daquele jeito não foi bom. Assim que ele me soltou fui logo me despedir da Sandra.

— Até o inicio das aulas Caio. – Mila o cumprimentou.

—Até. – ele retribuiu. – Senhora Woodhand, você pode esperar um minutinho? É rápido, já volto.

— Tudo bem.

Caio subiu as escadas correndo e cerca de 20 segundos depois ele voltava a descer a escada.

— Pegue Alicia, espero que goste tanto da história como eu gostei, mas já vou avisando, o final é decepcionante.

Ele estava me emprestando o livro, ele estava me emprestando aquele livro, céus, como se encontra as palavras nessas horas?

— Eu não posso aceitar Caio, fico muito agradecida, mas como eu vou te devolver depois?

— No inicio das aulas você me devolve, sem neura, eu já terminei de ler mesmo e você precisa descobrir o que significa uma certa frase. – e ele sorriu de novo, porque o sorriso dele tinha que ser assim tão lindo?

— Tudo bem, eu vou ler sim. Muito obrigada, nem sei como te agradecer por isso.

— Apenas leia e me conte o que achou depois.

— Tudo bem.

Depois disso nos despedimos e fomos embora. Eu olhava pro livro como se ele fosse a chave de algo, eu sentia que tinha alguma coisa de muito importante nele, só não sabia o que era.


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