Life's too hard when you're alone escrita por Sarie


Capítulo 14
Morte


Notas iniciais do capítulo

Peço imensa desculpa por ter demorado tanto a postar, mas na verdade eu já tinha postado este capitulo à uma semana. Devo de ter desligado o computador antes do tempo.
Sem mais demoras! Aproveitem!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/624631/chapter/14

Eu estava a andar num corredor escuro que parecia não ter fim, e eu já estava a ficar deveras entediada. Passados alguns segundos o clima começou a mudar e eu vejo umas formas douradas a uns metros de distância, comecei a correr na sua direção e olho para o mármore negro com palavras douradas inscritas:

ESTÚDIOS DE GRAVAÇÃO M.A.C.

Eu comecei a pensar que tinha batido com a cabeça em algum lugar com demasiada força, porque aquilo só podia ser a mente a delirar. Estúdios de gravação??, era uma brincadeira só podia. Comecei a prestar mais atenção ao resto e vi que, nas portas de vidro, também estavam palavras escritas a ouro:

PROIBIDA A ENTRADA DE ADVOGADOS, VAGABUNDOS E VIDENTES.

Ora, tudo isto era muito maluco. É, eu bati mesmo com a cabeça em algum lado, pensei eu. Então eu atravessei as portas de vidro e estava tudo iluminado e a sala estava apinhada de pessoas. Havia um balcão alto e atrás dele estava um segurança carrancudo, que, por alguma razão, estava a usar óculos de sol. Eu achei ridículo, quer dizer, quem é que usa óculos de sol dentro de edifícios? Nem sequer estava sol e a luz deste lugar nem é assim tão forte.

Revirei os olhos. Homens.

Passando à frente, que música horrorosa de fundo era aquela? A sério se eu quisesse torturar os meus ouvidos eu teria escolhido ouvir a Isabella a tentar cantar Mariah Carey. De repente lembrei-me que tinha de fazer alguma coisa de importante, mas esqueci-me do quê. Não importa, eu irei lembrar-me mais tarde.

As paredes e os tapetes eram todos de um tom cinzento escuro. Havia cactos nos cantos a crescerem de formas assustadoras, mais pareciam aquelas mãos esqueléticas a sair da cova como nos filmes de terror do que plantas. Havia sofás de couro preto, como todos os móveis da sala, e estavam todos ocupados. Mesmo com o diverso número de sofás ainda haviam pessoas a deambular pelo espaço demasiado preocupadas a pensar com os seus botões para notar na minha presença. Também havia pessoas que esperavam pela chegada do elevador e também pessoas a olharam pela janela, o que eu achava estúpido. Eu tinha acabado de sair de um corredor pavorosamente comprido e escuro, pensei que não houvesse nada lá fora para além de escuridão total, mas por alguma razão olhar pela janela era muito interessante para certas pessoas.

Fui a um passo confiante em direção do balcão, que por sinal era alto como tudo, quando cheguei lá tive que me por de bicos de pés e olhar para cima para poder falar com o tal segurança idiota carrancudo. É uma real chatice ser baixa.

Ele tinha pele escura e o cabelo loiro falso (revirei os olhos outra vez), tinha um corte estilo militar e era alto. Até que nem era feio, era bonito até, mas eu já tinha visto rapazes mais encantadores que este segurança. Usava um terno italiano, daqueles de aparência cara, de seda que, por alguma razão desconhecida minha, combinava com o cabelo. Ridículo, tive de revirar os olhos mais uma vez. E para completar o visual de – eu sou todo bom – tinha uma rosa negra na lapela e uma pequena placa de identificação de prata.

O meu queixo caiu quando li o nome da placa. O meu cérebro começou a trabalhar a uma velocidade enorme a tentar processar o que se passava à minha roda. Se o nome que eu estava a ler estava correto eu estava feita ao bife.

O segurança finalmente reparou na minha presença. Mesmo sem tirar os óculos eu consegui sentir o seu olhar a correr de cima para baixo em mim.

– É uma verdadeira pena quando elas morrem tão jovens. – murmurou ele – Então bonequinha, como é que morreste?

Revirei os olhos e preparei-me para lhe dar um chuto no rabo através de palavras.

– Primeiro: eu não sou a bonequinha de ninguém. Segundo: para que é os óculos? A sério, estás a fazer uma figura ridícula. Terceiro: como eu morri ou deixei de morrer não interessa, eu não estou morta. De jeito nenhum, é I-M-P-O-S-S-Í-VEL. IM-POS-SÍ-VEL. Repete comigo.

– Impossível, entendi. Mas isso só poderia acontecer se tu fosses imortal. És imortal?

– N-não.

Senhor.

– Senhor o tanas, não te armes em grande apenas porque estás sentado num sitio mais alto que eu.

– Ouve lá sua impertinente. Com quem é que tu pensas que estás a falar?

– Com o ganancioso e parvo do Caronte.

Ele levantou-se repentinamente da cadeira fazendo-a cair para trás. Engoli em seco e encolhi-me um bocado, eu vou pagar bem caro pela minha boca grande.

– A diferença entre tu e eu é que EU sou um deus e TU estás morta!

– Tal como eu disse eu não estou morta.

– Então como é que vieste parar aqui? – perguntou sentando-se na sua cadeira já fora do chão.

– Pelo corredor. – disse apontando por onde eu tinha aparecido.

– Ai é? Olha que eu só vejo uma parede. – respondeu cruzando os braços.

– Tira os óculos, pode ser que te facilite a visão. – ripostei revirando os olhos.

Já me doía a cabeça de tanto os revirar, disso e também de estar a aturar uma criança grande aparentemente imortal.

– Olha outra vez minha querida.

– Eu não sou a sua querida.

Deu-me vontade de rir por uns instantes. Tenho de parar de ler livros por uns tempos. Estava a dar uma de America Singer, hilariante.

Mesmo assim eu olhei de esguelha para trás e só vi uma parede. Aquilo não era bom sinal. Pensei que talvez se conseguisse falar com Hades em pessoa juntamente com Perséfone, eu conseguiria perceber o que se estava a passar. Porque de jeito nenhum eu tinha morrido na-ah. I-M-P-O-S-S-Í-V-E-L.

– Posso ou não posso ir ao Mundo Inferior? – perguntei cansada de tanto paleio e nada de ação.

– É para lá que tens de ir de qualquer maneira.

– Tanto faz. – respondi em um suspiro.

Estava prestes a vaguear como os outros naquela sala e esperar que o elevador viesse até que fui chamada.

– Eu posso fazer com que passes à frente desta gente enfadonha. A última vez que tive pessoas aqui a fritar-me os neurónios foi à muitos anos, vinte talvez mais. E desta vez não me confundiram com aquele meio pónei que toda a gente parece adorar.

– Espera aí. Meio cavalo? Não estás a falar do Quíron, pois não?

De repente Caronte ficou interessado na conversa.

– Conheces o meio cavalo? Ah estou a ver o que se passa aqui. Fruto dos relacionamentos dos deuses com estes aqui. – apontou para as pessoas que estavam na sala com desprezo.

– Filha dos filhos deles.

– Interessante. Vá vamos lá. Pode ser que o senhor Hades tenha curiosidade suficiente para não te mandar logo para os Campos Asfódelos.

Pegou-me num braço e levou-me em direção ao elevador. As pessoas começaram a agitar-se, querendo passar também. Mas agora que eu reparava, eu não as conseguia ver bem. Pelo canto do olho eram totalmente visíveis mas de frente era difícil vê-las. Quando entrei no elevador algumas tentaram entrar também, eu comecei a dar-lhe pontapés e a projetá-las para cima das outras.

Caronte sorriu ao ver-me fazer aquilo.

– Tens garra miúda.

– Ainda não viste nada. Quando fizeres uma visitinha ao Tártaro pergunta se eles conhecem a Alma.

Depois de dizer o meu nome Caronte pareceu ainda mais divertido.

* * * * *

Quando passei pelo Cérebro, que por alguma razão estava aos pulinhos, e ter atravessado o detetor de metais da MORTE EXPRESSA, e ter atravessado os Campos Asfódelos. Finalmente cheguei ao palácio de Hades.

Assobiei ao chegar à entrada.

– Este deus não brinca em serviço. – pensei alto.

Apesar de o jardim de Perséfone ter frutas deveras apetitosas e chamativas eu estava li para descobrir que maluquice é que me estava a acontecer. Eu tinha de ouvir da própria boca do deus da Morte que eu estava morta. De outra maneira eu não acreditaria.

Entrei de rompante no que parecia ser a sala do trono. Bingo.

– MAS O QUE VEM A SER ISTO?! – exclamou alguém.

Dei de caras com um deus da Morte furioso e uma deusa amável transtornada. Ótimo, pensei, já deixei uma primeira impressão espetacular.

Perséfone assobiou e cães infernais surgiram das sombras. Eu corri em direção aos tronos mas esqueletos com fardas militares de diferentes séculos e países bloquearam o meu caminho.

Não sei porque é que eu decidi encolher-me no chão e por os braços a proteger a cabeça. Quando dei por mim já estava a chorar e a repetir:

– Isto não é real. Isto não é real. Isto não é real…

E depois uma mão pousou no meu ombro e outra segurou-me o queixo para eu olhar para cima. Sorri no mesmo instante e levantei-me radiante por ver a pessoa que se encontrava à minha frente.

– Sempre a meter-se em sarilhos não é menina Grace? – perguntou com uma sombra de sorriso nos lábios.

– Já me conheces. Sou impulsiva demais.

– A última pessoa impulsiva que eu conheci passava o tempo a quase morrer, graças aos deuses que tinha uma namorada que o controlava.

– Estás a insinuar que eu vou acabar morta um dia destes di Angelo?

Todo o humor pareceu desvanecer dos olhos do Nico. Virou-se para o seu pai e começaram a falar em grego.

Alheia à conversa eu comecei a olhar bem para o Nico. Que idade é que ele teria agora? Sem contar com os anos que ele realmente devia de ter, é claro, uns trinta e dois? Ele era um pouco mais novo que os meus pais por isso devia ter essa idade. Mas não parecia, por mais incrível que pareça ele parecia mais novo do que realmente é. A minha mãe disse-me que o Nico sempre pareceu muito mais velho do que a sua verdadeira idade devido às viagens pelas sombras, que o estavam a matar na altura.

De repente os meus ouvidos apuraram-se quando eu ouvi a palavra morta vinda de Hades. Nico olhou para trás para me encarar com uma expressão de pena, eu comecei a abanar a cabeça e a murmurar várias vezes que aquilo não podia ser possível.

À medida que eu ia recuando em choque comecei a sentir uma dor de cabeça cada vez mais forte a cada passo que eu dava. Quando atingiu um ponto critico eu caí de joelhos no chão e comecei a gritar.

– O que se passa? – perguntou-me Nico aflito.

– A minha cabeça vai explodir! – gritei de volta.

O meu corpo começou a ficar quente de mais e o meu coração disparava que nem um maluco dentro do meu peito.

– Vai ficar tudo bem querida. – disse Perséfone aproximando-se com um sorriso doce – Deixa-te levar e fecha os olhos. Tu consegues.

Eu gritei mais vezes até que apaguei por completo. Outra vez.

Estou a ficar farta de desmaiar.

* * * * *

À medida que ia retomando a consciência comecei a ouvir vozes à minha volta. Uma delas era da minha mãe, que estava a entrar num estado de histeria e a outra eu não conheci. Depois conseguia ouvir outras vozes a falar do outro lado da sala (eu presumo que seja uma sala), essas pertenciam ao meu pai, à de Nico e a de uma rapariga que a voz parecia-me vagamente familiar.

Abri os olhos a muito custo e comecei a perscrutar o sitio onde eu me encontrava. Eu estava numa enfermaria, uma bem familiar por sinal.

Lembrava-me bem desta enfermaria porque já cá tinha vindo umas diversas vezes depois de treinar na arena. Eu sou só uma campista de verão e como estávamos quase em Novembro já não haviam muitos campistas por aqui, só os mais novos talvez e os campistas de ano inteiro. Também já passei um mês no Acampamento Júpiter. Por isso é que eu sabia que estava na enfermaria do Acampamento Meio-Sangue, já tinha passado algumas horas aqui neste espaço, horas que eu não quero repetir de certeza.

O volume das conversas aumentou e a minha cabeça pareça que ia rebentar outra vez. Sentei-me com dores a andaram de cima para baixo no meu corpo, mas ninguém pareceu reparar que eu já não estava inconsciente, estavam demasiado absortos nas suas conversas.

– BASTA! – gritei eu com todas as forças que tinha.

Por uns bons e longos segundos todos os semideuses naquela enfermaria olhavam atónitos para mim, sem saber como reagir.

A minha mãe tinha os olhos muito esbugalhados e abria e fechava a boca como um peixe sem saber bem o que dizer. O meu pai estava uma bagunça, cabelo todo despenteado, covas roxas escuras debaixo dos olhos devido à falta de descanso, olhava para mim como se eu fosse um alien mas tinha um brilho nos olhos de alegria. O Nico apenas ficou parado a olhar para mim de braços cruzados e um sorrisinho de esguelha. Uma rapariga da minha idade estava ao lado do meu pai, tinha o cabelo preto curto e espetado, uma espécie de tiara prateada na cabeça, roupa cinzentas e prateadas e tinha um arco e aljava às costas mas havia qualquer coisa nela de familiar, os olhos eram iguais aos meus e aos do meu pai. Seria família? Enquanto olhava para esta rapariga, um rapaz com 17 anos talvez tocou no meu braço e eu instintivamente o retirei.

Ele era alto, com cabelo loiro e olhos verdes escuros que mudavam de cor para cinzento se eu prestasse muita atenção. Tinha a pele branca e como tinha a t-shirt laranja do acampamento dava para ver os seus braços fortes e tinha ombros largos. Basicamente tinha cara de anjo mas corpo de guerreiro.

– Relaxa, estou só a ver como estás. – disse ele com um sorriso amável.

– Okay. – respondi eu num sussurro, tentei sorrir para dar a entender que estava bem mas saiu como um género de esgar de dor.

Virei-me para a minha mãe esperando que ela estivesse a chorar, mas não. Apenas estava com a cabeça encostada contra o peito do meu pai e sorria para mim com orgulho.

– Vocês têm aqui uma das fortes. – disse o Nico. – Saiu do Mundo Inferior inteirinha.

– Olha lá, como é que querias que eu saísse de lá? Sem uma perna ou assim? És um bocado pessimista, nunca te disseram isso di Angelo. – respondi eu fuzilando-o com o olhar.

O rapaz que estava a examinar-me estava agora apontar-me uma luz aos olhos riu-se e virou o meu queixo para ele.

A rapariga das roupas prateadas também começou a rir-se. Aproximou-se de mim quando o rapaz (filho de Apolo de certezinha) tirava as ligaduras ensanguentadas da minha perna. Eu olhei para ela com curiosidade.

– Caçadora de Artemis. Uma das importantes pelo que vejo. – disparei fazendo sinal com o queixo para a tiara.

– Tenente.

– Fixe. Acho. Então, vais dizer-me quem és ou preferes ficar a olhar? É que eu não sou fã de público desconhecido.

– Alma! – repreendeu a minha mãe.

– Que foi? É verdade. – respondi sem tirar os olhos da tal Tenente.

– Ah! E antes que perguntes, eu não estou interessada em ser uma Caçadora, sem ofensas, mas eu estou bem assim. Mortal e tudo mais.

Ela riu-se.

– Eu não vim aqui para te recrutar Alma. Eu vim porque estou preocupada contigo. A última vez que te pus olhos em cima tinhas 5 anos. Cresceste tanto.

Olhei para os meus pais intrigada. O meu pai olhava para tal rapariga num misto de emoções: respeito, admiração, tristeza, saudade. Eu estou muitíssimo baralha com o que se passa.

– Chamo-me Thalia. Thalia Grace. – terminou com um sorriso.

– Grace? Mas…

– A Thalia é a minha irmã mais velha. – respondeu o meu pai.

– Mais velha? Ela tem a minha idade!

– Bem tu sabes, quando uma donzela se torna Caçadora a nossa deusa torna-nos imortais. Não tenho desejo num em ser um pinheiro outra vez. – ao completar esta frase olhou para o céu com certa relutância. Ouviu-se um trovão à distância.

Ai é que eu me lembrei da história que os campistas mais velhos nos contavam às vezes, sobre uma menina que se sacrificou para os seus amigos chegarem a salvo ao acampamento. E o seu pai, com orgulho do seu ato, num gesto de misericórdia transformou-a num pinheiro e através do poder desse pinheiro surgiu a barreira protetora que temos até aos dias de hoje. Apesar dessa menina já não se encontrar mais em forma de pinheiro, ele ainda está lá com o Velocino de Ouro nos seus galhos.

– Oh! Tu és a…

– Rapariga do pinheiro? Sim. – completou com voz pesarosa.

– Muito bem, acho que é melhor deixar-te fazer o teu trabalho. Ela é um bocado irrequieta com pessoas assim ao lado dela. – disse a minha mãe para o rapaz que tratava de mim.

– Mãe! – repreendi eu a corar.

– Que foi? É verdade. – respondeu ela da mesma maneira que eu lhe tinha respondido.

Eu deitei-lhe a língua de fora feita criança. Ela saiu da enfermaria a rir-se mais o Nico.

– Tu falas quando estás a dormir. – disse o filho de Apolo.

– E novidades? – respondi num sussurro.

– É normal. Eu por exemplo, sou sonâmbulo. Uma vez acordei na praia com a água quase na minha cintura.

Eu ri.

– Isso sim é que é perigoso. Já foste ver esse teu problema aos filhos de Hipnos? Eles devem ter alguma cura para isso.

– Não importa. – replicou encolhendo os ombros.

– Então… como é que isso vai?

Ele olhou para mim com uma cara de confusão.

– Os meus ferimentos. Filho de Apolo certo?

– Ah! Sim, sim está tudo controlado.

– Ótimo. Preciso de sair daqui o mais rápido possível e examinar a minha amiga também.

– Não, não. É que nem penses nisso. Tu daqui não sais assim tão depressa. Tu fazes ideia da pilha de nervos que eu estava quando entraste em paragem cardíaca? Para não falar no veneno que circulava no teu sistema. Eu e os meus irmãos vimo-nos gregos para te trazer de volta à vida.

Eu comecei a rir-me e ele apenas olhou zangado para mim.

– Desculpa é só que tu disseste “Vimo-nos gregos”. Tem muita piada porque todos nós somos gregos e… pronto tu percebeste. – expliquei ainda a rir.

Passados uns breves segundos a expressão dele relaxou e soltou uma risada.

– Okay. Vamos lá ver essa ferida medonha que tu tens aí. – disse apontando para o meu lado direito do peito.

Eu devo de ter feito uma careta qualquer porque ele pôs as mãos nos meus ombros e olhou para mim com um sorriso leve nos lábios.

– Eu prometo que não vai doer. Se doer podes… hum… podes dar-me um soco.

– O quê? Não, não era isso eu não tenho medo de doer. E eu não vou dar-te um soco, mas que ridículo. Tu salvaste-me a vida.

– Okay menina destemida.

– Alma. – murmurei a olhar para um ponto no chão à minha esquerda.

– Eu sei. – disse começando a desenrolar as ligaduras. – Calvin.

– Calvin hein? Também conheço um Calvin, mas nunca o vi. Até podes ser tu.

– Como assim?

– Oh tu sabes. Calvin… Calvin Klein… - provoquei.

– Se eu fosse o Clavin Klein de certeza que não estava aqui.

– Pois estavas demasiado ocupado a criar cuecas e assim.

Ele soltou as ligaduras e riu-se a bandeiras despregadas. Eu acompanhei-o.

– Tens piada miúda.

– Eu não sou miúda nenhuma. Tenho 16 anos.

– Sim, praticamente uma idosa. – respondeu concentrado no seu trabalho, mas mesmo assim olhou para mim e piscou-me o olho. Com a minha perna boa tentei dar-lhe uma joelhada na perna, mas eu não tinha forças nenhumas.

Quando retirou as ligaduras eu olhei para baixo quase que a medo. O Calvin tinha razão. Era medonha mesmo, não esperava também que estivesse completamente sarada, eu fui praticamente empalada e tinha saído com vida. Quase.

Olhei para o teto a tentar conter as lágrimas. O que é que aquela voz queria de mim e da Isabella? E porque é que parecia tão familiar? Porque é que ficou furioso quando viu o trabalho que a Mabel e a Kimmie tinham feito em mim? Porquê soltar-me para fugir quando mandou duas dracanae atrás de mim de seguida? Porquê a Isabella? Ela não sabia de nada e agora vai ser marcada para a vida secalhar.

– Ei, para lá com isso. Eu não sei lidar com raparigas a chorar, não é um dos meus talentos. Tu estás viva aqui à minha frente. Vá lá não chores. – pediu ele secando-me as lágrimas que me escorriam pelas bochechas sem eu me ter dado conta. Ele estava mesmo desorientado.

– Desculpa. É só que foi muita coisa para uma noite.

– eu provavelmente estaria encolhido na minha cama a chorar que nem um bebé debaixo dos lençóis se passasse pelo que tu passaste.

Eu dei um sorriso fraco.

– Não sejas idiota. Apenas esconde isto. – pedi apontando para a ferida.

Ele estendeu-me um copo com néctar e um pedaço de ambrósia enquanto punha umas ligaduras novas em mim. Depois de esvaziar o copo e esperar que ele acabasse o seu trabalho perguntei-lhe se era possível eu ir para o Punho. Ele olhou para mim como se eu fosse louca e respondeu que, no máximo, podia acompanhar-me até à praia e eu aceitei de imediato. Queria esfriar a minha cabeça.

Quando lá chegámos, depois de muitos protestos da minha mãe, eu sentei-me perto da água e respirei fundo. O que foi uma péssima ideia porque todas os meus cortes na barriga e peito começaram a doer. Com um gemido virei-me para ver o Calvin a afastar-se.

– Espera!

Ele correu de volta para onde eu estava.

– Isto é um bocado repentino e tal mas será que me podias fazer companhia? Eu não sei se consigo ficar sozinha sem me torturar a mim mesma sobre o que aconteceu ontem.

– Queres que eu te distraia? – perguntou sentando-se ao meu lado na areia.

– Sim por favor. Se eu continuar a pensar no que aconteceu ontem vou dar em maluca.

– Na realidade estiveste inconsciente durante três dias.

– O QUÊ?! Que dia da semana é hoje?

– Quinta-feira. – murmurou arrependido de ter começado a conversa sobre os dias.

– Incrível.

Ele respirou fundo e massajou as têmporas.

– Mudando de assunto…

E passámos o resto da tarde até à hora de jantar a conversar sobre as nossas vidas.

Conclusão:

Ser um meio-sangue é uma porcaria.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então, o que acharam?
Xoxo, Sarie.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Life's too hard when you're alone" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.