Resiliência escrita por Amanda Jaimes


Capítulo 2
A vida real é uma merda


Notas iniciais do capítulo

Esse cap é onde a história começa, espero que goste! Uma ótima leitura, e desde já agradeço por ler ❤



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O céu está limpo hoje. – ele parou de me olhar e se deitou ao meu lado na grama. Ficamos alguns longos minutos em silêncio. O que se ouvia eram os cantos dos pássaros. – Você ama o céu. Ama árvores secas. – ele se levantou e me olhou tapando o sol do meu rosto. – Amo mesmo. Nisso o celular dele toca. “Aham. Ok. Estarei lá.”.Era a Melissa ela quer que... – Interrompi – Não precisa me dizer Nick.... Apenas vá.– Ele olhou nos meus olhos e logo depois abaixou a cabeça. – Até logo. – Sorri e vi sua sombra se separar da minha. Nick e eu éramos amigos de infância, e é engraçado dizer isso porque sermos amigos de infância significa que se somos amigos hoje é porque nossos pais só nos permitiam termos amigos se eles fossem amigos dos pais dos nossos amigos, então foi meio que uma obrigação sermos amigos, já que éramos antissociais e quase nunca saímos de casa... Me levantei e fui caminhado para casa. Gostava de ficar longos tempos sozinha, assim me permitia pensar, questionar e conversar comigo mesma. Sempre vivi minha vida isolada de tudo e todos, até que Nick apareceu... Ele invade meus silêncios, me intriga, me questiona. Acho que ele é o único que realmente me faz ter vontade de socializar.
Cheguei em casa e fui direto pro meu quarto. Meu único exemplo de pai era meu avô, e não, por mais que você pense: “nossa os pais dela morreram”, não, não morreram, bom pelo menos não os dois. Eu moro com meu pai mas quem realmente me criava era meus avós. Minha mãe sim, ela faleceu quando eu tinha 12 anos, e meu pai começou a trabalhar sem parar pra compensar a vida vazia que a minha mãe deu pra ele. Eu só via meu pai raramente, quando ele se atrasava pro trabalho ou quando eu ficava até tarde acordada. Meu pai se perdeu no tempo, e foi aí que nos afastamos. Dizem que toda menina é ligada no pai, e algum momento da minha vida eu era, mas como eu disse, a gente se perdeu no tempo e isso não existe mais entre eu e ele. Minha mãe morreu e levou nossas vidas junto. No começo eu sentia falta dela sabe? Eu até imaginava ela dormindo comigo no começo da noite, como ela sempre fazia, mas eu cresci. E agora com 17 anos, eu sei que ela se foi de vez. Mas não pensem: “nossa que história triste, ela deve sofrer muito” porque não. Não faz diferença, a vida é uma merda mesmo, isso não altera absolutamente nada na minha vida. Deitei na minha cama como de costume, liguei a TV e fiquei olhando pro teto. Não havia nada de útil para se pensar. Só conseguia pensar nas séries que eu tinha que colocar em dia, na prova de biologia da semana que vem, no trabalho de literatura que é pra amanhã e eu nem comecei a fazer... Apesar de todos me considerarem a “nerd” da sala, eu não consigo ser organizada, pelo menos com as coisas da escola... É tudo tão chato, tão exato, cansativo demais.
Scar? – Nem olhei, mas pela voz era meu avô. – Posso entrar? – Apenas fiz “sim” com a cabeça e ele entrou. Ele se sentou na minha cama e um silêncio entre nós se fez e o que se ouvia era apenas o som da TV anunciando um comercial. – Você está com fome? Como eu sei que seu pai não sabe cozinhar e hoje ele vai chegar tarde, então...O Alex sempre chega tarde vô, mas não precisa se preocupar, eu vou comer alguma coisa. – Ele sorriu e abaixou a cabeça. Novamente o silêncio apareceu. Ele se levantou e foi até a minha escrivaninha e pegou o quadro da minha mãe comigo. – Eu lembro dessa foto. Você tinha 3 anos e era a primeira vez que eu vi sua mãe te levar pra algum lugar fora de casa... Ela sempre teve medo que algo acontecesse com você. – Ele suspirou. Mas era daqueles suspiros que batem em cada parte do corpo por dentro e gritam “saudade”. Me sentei e olhei pra ele. Ele tocava aquela foto como se ele pudesse reviver aquele dia, como se ele pudesse sentir o toque, ouvir a risada. – Você sente saudade? – Perguntei. Ele suspirou e uma lágrima pingou no vidro daquele quadro. – Não há um dia sequer que eu não sinta. Não tem como não sentir... Ela é minha filha. – disse secando o rosto e o quadro. Por mais que seja dolorido ouvir aquilo, eu não conseguia sentir o mesmo. Não conseguia sentir a falta dela. – Por quê pergunta? Você não sente?Não. – respondi sem ao menos pensar. Ele colocou o quadro de volta na escrivaninha e ficou olhando por minutos aquela foto que ele sabia de cór e salteado as posições, as cores. Ele saiu sem nem se despedir, senti que tinha sido pelo o que eu falei, mas não falei para magoá-lo, não suporto mentiras e com certeza, eu não iria mentir para agradá-lo.
Me tornei amarga com o tempo, mas acho que isso é perfeitamente aceitável já que eu nunca quis fazer parte daquelas meninas sorridentes, maquiadas e super bem educadas. Nunca me vi na obrigação de sorrir o tempo todo, de conversar com todo mundo sobre tudo e todas. Nunca consegui jogar conversa fora, é sério. Eu não vejo sentindo nenhum e conversar sobre economia, sobre como o clima mudou em segundo, sobre política, sobre beleza e muito menos sobre amor, romance e garotos. Nick e Will eram os únicos garotos que eu me relacionava constantemente, porque convenhamos, sou seletiva demais pra escolher amigos e bom, isso é ruim porque eu não tô podendo escolher porque sou bem antissocial, mais sei lá, existem muitas pessoas babacas demais com assuntos tão banais que me fazem perder o que resta da pouca vontade que tenho de me relacionar. Will é como eu, quieto, observador e as conversas com eles são sempre exatas, fundamentadas. Amo discutir ideias com ele. Nick já é o garoto popular que gosta de andar comigo e com o Will porque somos estranhos demais pra sermos populares. Temos uma sintonia boa, formamos o trio perfeito. Nos damos tão bem assim desde a 2ª série e até então, nossas personalidades se complementam. Minha vida é uma merda de fato, e não, não é drama é que a vida real é uma merda mesmo, mas bom, quando se tem parentes que se preocupam e amigos que são amigos de verdade, a vida fica mais suportável.


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Notas finais do capítulo

Queria pedir perdão se não foi o que você esperou, mas é que estou a muito tempo sem escrever uma história, e por ser uma história vivenciada e ao mesmo tempo fictícia, às vezes a realidade não é tão boa quanto a total fantasia. Desde já agradeço novamente por ter lido, não esqueça de deixar sua opinião nos comentários, será muito bom ter ajuda para melhorar. Então é isso, até o próximo cap ❤



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