É óbvio, William. escrita por Laís
Notas iniciais do capítulo
A cena inicial é do final de The Great Game e eu retirei umas falas só p/ situar a história.
Essa história ficou martelando na minha cabeça um tempo e não resisti. Espero que tenha ficado bom.
-Aceite esse conselho, meu querido. Afaste-se. Embora eu tenha adorado isso, nosso joguinho. Sendo o Jim da tecnologia. Gostou do detalhe da cueca?
-Pessoas morreram.
-É isso que as pessoas fazem.
-Eu vou impedir você.
-Não, não vai.
-Você sabia, Sherlock? O que éramos... Ou melhor, o que seríamos? Você não me reconheceu, mas não o culpo. Faz tanto tempo... E, claro, você me conheceu por outro nome na época.
~x~
O irmão mais velho de James o segurou pelo pulso carinhosamente.
-Eu não quero ir – a criança repetiu o mantra das últimas horas em voz manhosa. –Você não aprendeu nada no último colégio em que estive?
-Jimmy, é a escola. Todas as pessoas precisam passar pela aterrorizante fase escolar. – O Sr. Moriarty tentou remediar a situação enquanto arrumava a mochila nas costas do menino.
-Mas as outras crianças são burras, eu não tenho paciência com elas.
Moriarty gargalhou sonoramente. Estavam em frente à escola onde pais davam beijos “de boa sorte e comporte-se” nas bochechas dos filhos.
-Jimmy, você só precisa ser normal e vai ficar bem – encorajou.
-Mas eu não quero ser normal! É entediante – James retrucou com beligerância e levantou o queixo em uma postura de desafio.
Vendo que sua bravata não surtira efeito, com um muxoxo de insatisfação, largou o braço do irmão e sentou no meio-fio. Os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos pressionando as bochechas. Jimmy – como somente o irmão o chamava – não era tão alto quanto as outras crianças da mesma faixa etária. Os olhos escuros combinavam com as madeixas arrumadas com afinco e entravam em contraste com a tez pálida do menino.
-Pensando melhor, ser diferente é bem legal - Moriarty sentou-se ao lado do irmão. - Mas também é difícil. Você está pronto para isso, Jimmy? Você sempre gostou de charadas, palavras cruzadas e buscas. Ama desafios. E ali, do outro lado da rua, está o maior desafio que você pode enfrentar. Sobreviver na escola sendo uma criança diferente. Achava que isso pudesse chamar a sua atenção.
O Moriarty mais jovem vincou a testa e lutou com o peso da mochila na hora de levantar.
-Eu vou ficar bem – concluiu peremptório.
-Quem sabe você não encontra outra criança perdidamente diferente para fazer amizade?
James não acreditava muito naquela hipótese.
-Agora eu preciso ir, tenho minhas próprias provas para estudar. – Moriarty lançou uma piscadela na direção do irmão e voltou pelo caminho que vieram.
~x~
-Eles não parecem gostar muito de você.
James estava recolhendo suas coisas do chão. Os papéis espalhados estendiam-se até a outra extremidade do corredor. Quando terminou de organizá-los, volveu o olhar para o garoto de cabelos cacheados à sua frente.
-Um pouco óbvio, não? – disse com a voz sobrecarregada de desdém.
-Mas eles se cansam. Valentões sempre saem em busca de uma nova vítima depois que a antiga perde a graça.
-Você gosta mesmo de deduzir o óbvio. E não importa, estarei longe dessa escola na próxima semana.
O menino pareceu ofendido e encheu sua réplica de orgulho.
-Meu nome é William Sherlock e eu só estava tentando ajudar porque o livro que minha mãe fez com que eu lesse dizia para fazer isso – virou as costas e saiu em passadas fortes e determinadas.
-Obrigado – James apressou-se em agradecer antes que ele sumisse de vista. Sherlock pareceu repensar sua decisão e ficou parado, esperando que o outro o alcançasse.
-Jim Reagan – apresentou-se quando chegou ao lado da primeira pessoa que fora gentil com ele na escola.
Andaram em silêncio e James notou uma certa postura altiva em Sherlock, como se ele visse coisas imperceptíveis aos olhos alheios.
-Você gosta de palavras-cruzadas – a afirmação viera abruptamente, como se Sherlock acabasse de perceber a presença de Jim ao seu lado. Estavam no pátio da escola, as outras crianças corriam e gritavam.
-Eu só faço palavras-cruzadas com o meu irmão. As outras pessoas desistem com muita facilidade.
-Não estava chamando você para jogar – Sherlock rebateu, como se dissesse algo óbvio – Estava deduzindo. É bem fácil. Vi vários folhetos de lógica no meio das suas coisas.
-Me parece mais observação do que dedução. É óbvio. Você observa e constata. Quando deduz, parte de poucas informações até uma conclusão maior. Contanto, se trabalhar nisso, pode descobrir o segredo das pessoas... Isso é o que o meu irmão diz, que quando você sabe o segredo de alguém, esse alguém pertence a você. – as palavras soaram com uma animação evidente.
-Por que eu iria querer isso? As pessoas não importam, os problemas delas que são interessantes.
-É claro que as pessoas importam! – contestou James – Elas são as peças.
-Se você diz... – Sherlock deu de ombros descuidadamente – Vai mesmo embora semana que vem?
Jim fez um leve meneio com a cabeça.
-Sim.
~x~
-Será que nascemos com um caráter predeterminado? Como uma bomba relógio em sua contagem regressiva? Quando somos crianças, já apresentamos os traços do que nos tornaremos? Ou somos algo e o caminho até aqui nos muda? Penso nessas coisas de vez em quando – disse enquanto caminhava languidamente pela área da piscina. Sherlock ainda mantinha a arma apontada em sua direção. - Sempre formos diferentes dos outros.
James Moriarty aproximou-se de John Watson que, por sua vez, usava um colete repleto de bombas que explodiriam ao mero desejo de Moriarty.
-As pessoas normais não são adoráveis?
-Não faço a mínima ideia do que você está falando – retrucou Sherlock.
-Jim Reagan. O garoto das palavras cruzadas.
A expressão de Sherlock alterou-se quando ele finalmente soube quem era James Moriarty.
~x~
-Como esse é meu último dia aqui nessa escola, trouxe isso para você.
Jim entregou um embrulho para Sherlock.
-Uma lupa? – fitou James com olhar desconcertado.
-Se você quiser ser um detetive um dia e descobrir o segredo das pessoas através dos detalhes, vai precisar de uma lupa. É óbvio, William.
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Então, gente?
O Jim aparece com o irmão dele que, na minha cabeça, é o Professor Moriarty (talvez ele ainda apareça na série, vai saber). James Moriarty é o único nome que temos do irmão do Professor, então fui obrigada a inventar um sobrenome ali no meio.
Espero que tenham gostado!