Humano escrita por Lostanny


Capítulo 1
O nosso encontro


Notas iniciais do capítulo

Há muito tempo na gaveta, trago-vos esse projeto humilde (risos)

O objetivo inicial era de ser uma oneshot então provavelmente não me estenderei tanto aqui. (acho)

Faz algum tempo que não releio KHR! então apontamento de erros e sugestões são bem vindos.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/624478/chapter/1

Spanner não foi uma pessoa que demorou muito para mostrar sua individualidade quando criança; era visível perceber ao visualizar os colegas que se preocupavam com brincadeiras menos nocivas enquanto que Spanner tentava construir as próprias armas de guerra. Spanner não tinha um ego humano a qual quisesse agradar. Um pensamento louco se espalhou pelo seu cérebro infantil como um vírus nocivo para um único objetivo: criar o robô mais útil possível.

E mesmo ao ter chegado aos 24 anos Spanner viveu sem alterar a sua meta. Amor e amigos se tornaram uma prioridade secundária em sua vida. Maravilhas foram elaboradas por meio daquela mente isolada do mundo exterior. Spanner não estava infeliz, no entanto em algum momento sentiu a sua vida estagnar. Depois do Mosca a vida continuava sem muita alteração, apenas uma subordinação ao mais forte que ele largaria em sua primeira oportunidade.

A oportunidade veio na forma de um garoto curioso.

Spanner se recordava até que por fim decidiu acabar com o nervosismo que lhe fazia suar as palmas das mãos e entrou em seu novo mundo. Ao abrir a porta foi recebido pelo admirável Décimo Vongola enquanto que o próprio Spanner se pegou sorrindo pela atmosfera hospitaleira que Tsunayoshi exalava. Era a primeira vez que Spanner encontrava seu chefe naquelas condições; mentiria se dissesse que não tinha estranhado a pouca diferença de idade que tinham no momento. Aliás, Spanner que era o mais novo entre os dois agora.

— Você cresceu bastante Vongolê. — Spanner disse com um leve toque de admiração em seu tom neutro.

— Ei, você também faz parte do nosso time Spanner-san, pode me chamar de Tsuna se quiser. — Tsuna disse enquanto acompanhava Spanner. — É meio estranho falar com você dessa forma... Já que só sei do Spanner-san por histórias, mas espero poder contar com sua ajuda.

— Pode me chamar só de Spanner. E não fiz nada demais. — Spanner acrescentou.

Gokudera Hayato não demorou a aparecer com alguns documentos a serem assinados. Spanner e Gokudera meio que se encararam por um momento, mais por parte de Gokudera que por Spanner, até que o guardião se despediu cordialmente de ambos.

Tsuna colocou uma palma da mão em paralelo a sua boca, apoiou parte do corpo sua mesa de trabalho, e disse como em segredo:

— O Gokudera-kun tem ficado assim depois de tudo que aconteceu, mas não se preocupe com isso. — Tsunayoshi disse como se divertisse com a superproteção do amigo.

Se até pouco tempo atrás Spanner estava se arrependendo de pisar naquele lugar, se perguntou porque não buscou se encontrar com Tsuna antes. Era até como se não fosse uma reunião entre chefe e subordinado, mas de amigos de longa data.

Era estranho para Spanner ver como Tsunayoshi tinha mudado da água para o vinho de um dia para outro. Do jeito nervoso que Tsunayoshi possuía, para um eu mais confiável que podia rir de uma forma mais genuína, mesmo que houvesse problemas. Pelo menos era essa a impressão que Spanner teve.

O céu parecia infinito a ponto de que Spanner pudesse perder seu ar nele. Não foi possível para Spanner ficar indiferente. O destino forçou Spanner a rever os conceitos de seus sentimentos por aquele rapaz. Apesar de que seu amigo Shouichi o tinha alertado da mudança. Spanner era apenas um mecânico apesar de tudo! Estar envolvido com uma viagem no tempo era incrível.

Só que perder a sua fonte de afeto e interesse no processo era de fato assustador.

Por isso Spanner sentiu um nervosismo que não costumava ter; o alívio foi bem-vindo. Mesmo que os dois Tsunayoshi não fossem de fato a mesma pessoa.

Tsuna o tratava com tanta consideração que mesmo alguém como Spanner, que considerava em alguns momentos ter vendido sua alma para as máquinas, se sentisse bem tratado. Spanner até mesmo possuía vontade de retribuir aquela gentileza empregada; no entanto, a gentileza de Spanner talvez demorasse um pouco mais para ser compartilhada.

Depois do encontro com Tsuna Spanner tratou de retornar as suas atividades normais que consistia em ficar dentro de seu novo quarto trabalhando nas mais diversas engenhocas. Não trabalhava até tão tarde, pois Spanner seguia um horário rigoroso que o permitisse a descansar para que pudesse dar tudo de si em suas performances.

Duas semanas passaram e Spanner teve seu sono perturbado por uma ligação.

— Spanner? — Tsunayoshi disse com uma voz incerta. — Preciso que faça algo para mim.

Spanner sorriu minimamente ao ver que Tsuna tentava cumprir com aquele pequeno acordo entre eles. Spanner não demorou em sentir algo semelhante a preocupação apertar seu peito. Spanner ouviu tiros e explosões do outro lado da linha. Spanner se levantou de sua cama, assim como tentou prestar maior atenção as palavras de Tsuna.

— Pode falar. É para ajustar as lentes? Auxiliar nos reforços... — Spanner disse tentando extrair o máximo de sua mente em procurar soluções.

— Não... Não era isso o que eu queria dizer. — Tsuna disse e por um tempo Spanner escutou apenas sons de destruição — Quero que diga que posso fazer isso... Digo, vencer essa batalha.

Spanner se perguntava o que estaria acontecendo para um pedido assim. Será que algo grave já estava ocorrendo e Spanner meramente não teria percebido por estar centrado em seu mundo? Também poderia ser algo tão óbvio quanto à possibilidade anterior: uma armadilha.

De uma forma ou outra, Spanner não conseguiria evitar o sentimento de surpresa e contentamento se apossar de seu corpo ao perceber o significado oculto da última fala de Tsuna:

—... Não pode ser mais nenhum outro? — Spanner disse tentando conter um sorriso estranho que procurava ocupar sua face. — Digo, você é alguém interessante o bastante para ter um resultado diferente, pode confiar.

Spanner não sabia como estaria o rosto de Tsuna, porém ouviu o agradecimento gaguejado do rapaz.

Spanner descobriria que não havia alarme com relação a missão de Tsuna; resolveu guardar o diálogo pelo celular para si. Ainda era muito cedo para que Spanner pudesse concluir alguma coisa. Era duvidosa a possibilidade de que Tsuna sentisse algo similar ao que Spanner sentia. Afinal, Spanner e o Tsuna daquele tempo apenas tinham se encontrado uma vez.

E se Tsuna lembrasse do que apenas seu eu mais novo deveria se lembrar? Só que havia um problema: diferente da versão mais nova de Tsuna que viveu o futuro e por isso acabou por manter as memórias, a versão futura de Tsuna que estava adormecida não viveu o mesmo.

Se para Spanner era difícil manter relacionamentos de longo período, com exceção de seu amigo Irie Shouichi, era complicado querer carregar expectativas. Spanner, apesar disso, não esqueceria.

Era complicado para Spanner manter contato com Tsuna já que trabalhavam em setores diversos; Spanner não deixou de notar que sempre quando possível Tsuna lhe fazia uma ligação, o que acabava por bagunçar seus horários completamente; apesar de isso chateá-lo de algum modo não se permitiu informar Tsuna a respeito.

Era bom para Spanner ouvir aquela voz acolhedora. As conversas giravam mais em torno da cultura japonesa a qual Spanner tinha muito interesse. Tsuna não parecia se importar em responder as perguntas mais simplórias que Spanner acabava por fazer. Apenas reafirmava os sentimentos de Spanner com relação a Tsuna.

Os batimentos cardíacos de Spanner se tornavam cada vez mais fortes. Era como se Spanner por fim tivesse se proposto a ajustar sua máquina bombeadora de sangue depois de tempos de negligência. Spanner respirava melhor e mais do que nunca sentia vontade de viver.

Certo dia Irie Shouichi não deixou de pontuar:

— Resolveu mudar seu projeto de vez? Eu bem que tinha dito que as formas humanas são mais interessantes.

Spanner não deixou de rebater tal afirmação tão logo foi dita; tinha que admitir que não era descartável a possibilidade conhecer novas áreas principalmente com relação as humanas; a possibilidade associada imediatamente a figura de um certo rapaz de cabelos castanhos assustou Spanner.

Não se mostrou prudente a alternativa de guardar aquelas sensações apenas para si. Spanner não sabia o que devia se passar por sua cabeça quando resolveu contar seu problema justamente para um dos mais inflexíveis dos Vongola: Gokudera Hayato.

A reação inicial de Gokudera não foi de espanto, apesar de que Spanner imaginasse esse tipo de atitude por parte do guardião. Talvez inconsciente ou consciente Spanner procurasse uma barreira a qual não pudesse atravessar. Em boa parte de sua vida as máquinas que davam sentido para sua existência.

Não precisava de outro motivo; esse pensamento ia contra sua sensação de felicidade. O que mais pesava para que Spanner não quisesse aceitar essa parte sua poderia ser algo como o medo. Spanner não tinha certeza pela quase total falta de contato que possuía com seus próprios sentimentos. Geralmente Spanner sentia seus sentimentos sem nomeá-los, era quase automático: não tinha tempo para fazê-lo.

Gokudera suspirou ao retirar os óculos que utilizava quando necessitava de alguma leitura. Gokudera tinha toda uma papelada preparada sobre sua mesa. Foi recomendado para Spanner algo bem simples:

— Apenas dê o fora daqui.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!