The Daughter of the Tiger escrita por GiullieneChan


Capítulo 1
Parte 1: Miao Yin.


Notas iniciais do capítulo

Nota: Obra revista, recolocada seguindo as normas cultas da Língua Portuguesa e ampliada.

Boa leitura.



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Era o fim de um longo dia em uma pequena vila aos pés de Rozan, os cinco picos sagrados na China. Casas antigas, que pareciam terem sido pintadas por um artista em meio a grande natureza, eram banhadas pelo sol do entardecer.

Muitos voltavam do trabalho na colheita de arroz, outros terminavam seus afazeres nos pequenos comércios ou trabalhos autônomos daquele lugar.

Um lugar que parecia ter parado no tempo, se não fossem as pequenas manifestações de tecnologia dos tempos modernos aqui e ali, em televisões ou rádios em algumas casas e o telefone público usado por todos no fim da rua.

Nos arredores da vila, há uma pequena floresta de bambus, e um caminho escondido entre eles que levava ao alto de um dos picos sagrados, lar de um homem que o povo daquela região aprendeu a respeitar e a admirar ao longo dos dois séculos que ali ele viveu... Viveu?

Não... Ainda vive.

As pessoas só não estavam acostumadas ainda ao verem o jovem vigoroso no auge de seus vinte e cinco anos tomar o lugar do Velho Ancião de Rozan.

Haviam se passado três anos desde que Hades sucumbiu ao poder de Atena e de seus cavaleiros. Dois anos apenas em que Dohko de Libra havia se afastado do Santuário para retomar sua eterna vigília e preparar Shiryu para sucedê-lo em Libra.

Dois anos desde que apareceu naquela vila para fazer algumas compras e conheceu Miao Yin, a jovem professora da vila e passou a descer até a vila com maior frequência deste então.

Ela havia se mudado recentemente para aquela vila, queria trazer o progresso que somente com a educação era possível. Uma bela jovem de longos cabelos lilases e lisos, presos em um severo rabo de cavalo e olhos de um incomum castanho avermelhado. Dohko não deixava de compará-los a pequenas chamas quando ela ficava irritada com as visitas inoportunas dele.

No começo, era divertido irritar a jovem, que mantinha um ar intelectual e inatingível, fingindo não ter escutado os galanteios dele quando se viram pela primeira vez diante do velho mercador de frutas.

Ainda se lembrava daquele dia, e de todos os dias que se seguiram enquanto tentava se aproximar da garota. O primeiro sinal de que ela cederia a sua insistência em conhecê-la melhor foi em uma tarde chuvosa.

A escola estava vazia e Miao Yin esperava que o tempo estiasse para ir embora. A professora estava tão absorta em seus pensamentos, tentando se proteger do frio fechando seu casaco, que nem havia percebido quando Dohko aproximou-se e colocou o chapéu de palha por sob sua cabeça para protegê-la dos respingos da chuva.

—O senhor realmente não sabe a hora de desistir? -ela suspirou, fitando-o de relance, mantendo-se séria.

—Senhor? -Dohko fez uma careta.- Assim me faz sentir-me como um velho de mais de duzentos anos!

—E não tem? - ela deu um sorriso jocoso, que Dohko achou maravilhoso, depois surpreso notou que ela parecia saber mais sobre ele do que imaginara.

Sem graça, ela tratou de responder ao olhar curioso do chinês.

—Eu...perguntei sobre você para os aldeões. - Dohko deu um enorme sorriso.- Para me certificar de que não se tratava de algum doido querendo me agarrar a força! Mas todos parecem considerá-lo algum tipo de lenda!

—Por que diz isso?

—Dizem que tem mais de duzentos anos... quase trezentos pelo o que me disseram.

—Exagero deles! Não tenho mais que duzentos e sessenta e um anos!

Miao Yin o olhou espantada e começou a rir. Um riso sincero e contagiante, que encantou o Cavaleiro.

—É um piadista.

—Gosto de brincar e lhe garanto que não sou nenhum louco! -ele deu um leve sorriso.- Quanto a segunda parte...

Miao Yin o olhou de modo furioso. Dohko adorava ver aquela pequena chama que parecia fazer o castanho ficar avermelhado de repente.

—E faria isso com todo respeito. - ele assegurou.- Mas assim não vale.

—O que disse?

—Você saber tudo sobre mim e eu não saber nada sobre você.

—Sabe que sou professora. E o que me disseram sobre você não é muito confiável. E que mora com uma moça!

—E sei seu nome, apenas isso. A moça se chama Shun-rei e ela é como se fosse minha... irmã mais nova. Eu cuido dela desde que foi abandonada nas montanhas. - notou a desconfiança dela.- Ela está noiva, sabia? Vai se casar com um dos meus alunos em breve.

—Alunos?

—É, eu ensino artes marciais. Chamam-me de Mestre, mas pode me chamar de Dohko.- sem graça, foi andando na chuva de costas, sempre fitando o rosto desconfiado da professora.- Façamos o seguinte...você me fala mais de sua pessoa e eu lhe contarei tudo sobre mim, se concordar em jantar comigo um dia destes.

—É um encontro, Mestre Dohko?

—Talvez.- ele lhe deu as costas, certo que a professora ainda resistiria a seu convite.

Ela parecia particularmente desconfiada dos homens e teria que agir com mais cautela para amolecer o coração endurecido da jovem e...

—Apareça em minha casa amanhã as sete, para um café da manhã.

Ela disse de repente e Dohko parou surpreso, virou-se e escorregou na lama. Miao Yin riu como uma criança diante da cena, seu riso foi acompanhado por Dohko.

Ele apareceu para o café da manhã, como ela havia pedido. Depois deste, outros vieram, jantares, almoços, noites inteiras juntos entregues a paixão que havia nascido entre eles e que gerou um fruto.

Numa manhã chuvosa, igual àquela em que convidou Miao Yin pela primeira vez para sair, ele veio a saber que seria pai.

Isso o deixou chocado de início. Afinal, ele nem sequer imaginava que teria esta dádiva. O olhar incerto de Miao Yin revelava o medo dela de que ao revelar este fato a ele, seria abandonada como muitas outras foram, pelo medo do homem de encarar a paternidade.

Mas Dohko não era como os demais. Antes de tudo, era um homem honrado. Honrado e apaixonado. Aproximou-se dela, abraçando-a com carinho e disse-lhe com a voz embargada pela emoção.

—Obrigado, por este lindo presente!

Em lágrimas, ela retribuiu o abraço, certa de que ele jamais a deixaria. Duas semanas depois haviam se casado e se mudaram para a pequena casa no alto da montanha.

Foi assim que Miao Yin conheceu Shun-rei e um surpreso rapaz chamado Shiryu, seu noivo. Ele havia retornado de uma longa viagem ao Japão e parecia não acreditar que seu mestre não apenas estava casado, como seria pai.

Nos meses que se seguiram, as duas mulheres aprenderam a serem amigas e os quatro viviam juntos como uma família.

E durante todo o período de gravidez foi presente na vida de sua esposa. Até que no início de outono, precisamente no final do mês de outubro, Miao Yin sentiu as primeiras dores do parto.

Era de madrugada, no dia anterior seu marido e seu aluno haviam saído para treinarem no outro lado da montanha, e foi precisamente neste momento, que o bebê havia decidido que viria ao mundo.

—Que hora que escolheu para isso, meu bem.-Miao Yin tentava manter o bom humor, falando com a barriga, apesar das dores. Tentava tranquilizar Shun-rei, que percebia que teria que ajudá-la no parto.

—Meu Deus...que hora que o mestre e Shiryu escolheram para sair!-lamentava a jovem, pegando alguns lençóis limpos.

—Vai dar tudo certo.-dizia a outra, mais tranquila.

Sozinhas em casa, a chuva começou a cair naquela manhã. Os gritos de dores de Miao Yin pareciam ecoar por todo o vale, enquanto ela fazia um esforço homérico para colocar no mundo seu filho.

A chuva caia insistentemente quando um grito foi logo substituído pelo choro de um bebê.

Uma hora depois, dois homens voltavam para casa encharcados. Pararam temerosos quando viram Shun-rei parada a porta, as roupas com manchas de sangue e o rosto banhado em lágrimas.

—N-Nasceu... O bebê nasceu.- dizia Shun-rei para os dois. O rosto de Dohko iluminou-se em um grande sorriso.- É uma menina...mas...Miao Yin não está bem...

Mal ela falara e Dohko irrompeu para dentro de sua casa. Em um berço que ele mesmo havia entalhado na madeira estava o bebê envolvido em panos brancos, resmungando querendo atenção. Ao lado deste estava a cama do casal, e Miao Yin deitada nela, muito pálida e enfraquecida. Dohko notara que ela perdera muito sangue, e estava morrendo diante dele.

Miao Yin abriu os olhos e sorriu ao vê-lo. Dohko segurou sua mão, ficando ao seu lado.

—Nasceu...sinto por não... ter sido um menino.

—Não importa.- ele sorriu, beijando sua mão.- Não se esforce, vou cuidar de você.

—Viu...o bebê?-ela insistiu, cada palavra parecia lhe tirar as forças.

Shun-rei havia entrado naquele momento e foi até o berço, pegando o bebê nos braços e levando até Dohko. Sem jeito, o velho mestre de Libra o pegou, aconchegando em seus braços com cuidado, como se temesse quebrar algum ossinho ao fazer isso.

Shiryu entrou no quarto e em silêncio abraçou sua noiva pelos ombros, para lhe dar algum conforto.

—Ela é linda!-disse Dohko emocionado e notou que o bebê segurava seu dedo com força, fitando-o parecia lhe sorrir.- E forte! Tem seus olhos minha querida!

—E seu sorriso.- ela tocou o braço do marido e em seguida a força parecia abandonar o corpo de Miao Yin, que fechava os olhos lentamente.-Eu...amo você, meu marido...e nossa filha...Kian.

A mão que estava pousada em seu braço escorregou lentamente até tombar na cama. Um suspiro débil escapou dos lábios da jovem, mostrando que a vida a deixou naquele instante.

Enquanto a chuva caia, Dohko chorava em silêncio.

Continua...


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