Eldrwin E O Medalhão Real escrita por KyuHumi


Capítulo 13
O reino de Betta




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Pequenos pontos brilhantes começavam a surgir timidamente pelo céu daquele fim de tarde quente juntamente com a lua. Depois de horas de viagem, quatro cavaleiros e uma carruagem vagavam por uma longa planície com vegetação rasteira. Já haviam passado por riachos, bosques, florestas, paisagens desertas e por fim se aproximavam do seu destino.

Eldrwin estava cansado, com sede e com fome. A última refeição havia sido há algum tempo e, sentindo o peso do corpo a lhe atormentar e o traseiro dormente por conta do enorme período montado, desejava mais do que tudo chegar ao reino de Betta. Ao seu lado, Kairou galopava com a mesma expressão de exaustão e a esquerda, Anya esboçava o mesmo. De fato, a viagem havia sido longa, mas ambos escolheram estar ali e não havia como retroceder. Estavam distantes de Orion, distantes de casa e contemplando uma paisagem que nunca haviam contemplado na vida.

— Já estamos chegando! – Villian gritou à frente. Decidira seguir viagem com os jovens até o reino que se aproximava. Seria uma oportunidade de recolher informações que poderiam ser uteis e, além disto, tinha um interesse muito grande na lendária adega de Betta aonde, bem sabia, existiam os vinhos mais raros e de todos os cinco reinos.

E então, após subirem e chegarem ao alto de um pequeno morro deserto, os olhos de Eldrwin visualizaram ao longe um grande reino. Betta não era tão vasto quanto Orion, mas definitivamente, passava a sensação de ser mais belo. Era um reino circular, com várias casas espalhadas ao redor do grande castelo que ficava exatamente ao centro. Betta havia sido construída aparentemente sobre uma montanha, tendo o castelo, com suas várias torres, localizado bem no topo da mesma. Talvez fosse impressão, mas, com o anoitecer que agora se aproximava com maior velocidade, Eldrwin notava que uma áurea esverdeada e brilhante pairava sobre as paredes do castelo deixando-o mais belo e mais imponente.

— Finalmente! – Disse Kairou extremamente cansado – Eu preciso de um banho! Com urgência.

 - Nós precisamos – Disse Anya olhando admirada o reino ao longe – Não pensei que o reino de Betta fosse tão grande quanto o reino de Orion! É esplendido!

— Vamos avançar! – Villian bradou e a tropa seguiu o restante da viagem. Agora, vendo o destino à frente, o ânimo de todos aumentou. O sol já havia se posto e naquele momento somente a penumbra do inicio da noite os fazia companhia. Os cavalos trotavam lentamente enquanto a carroça onde Suhoz estava seguia rangendo. A muralha do reino se aproximava mais e mais. Já era possível ver as tochas do alto do mirante, e o grande portão de entrada. Soldados faziam o patrulhamento e por afim avistaram o pequeno grupo que estava prestes a adentrar pelo reino.

Agora, mas próximo, Eldrwin teve a real noção da grandeza do reino de Betta. O castelo parecia mais alto do que quando estava longe e sua mais alta torre parecia até mesmo tocar as nuvens. Ele mantinha os olhos para cima sem ao menos piscar, quando fora despertado por Kairou.

— Acho que nunca vi uma torre tão alta como essa.

— Com certeza que não vimos – Respondeu agora se voltando para o portão do reino que começou a se abrir para recebê-los com um alto rangido. Villian disse algumas palavras a um dos soldados que havia aberto os portões e o mesmo assentiu positivamente. Passaram pelos portais de pedra da muralha que formava um pequeno túnel e por fim adentraram no reino.

Por dentro, tudo estava de certa forma movimentado, mas definitivamente, o clima era um pouco diferente do reino de Orion. Talvez pelo fato de já ter sofrido ataques no reino de onde veio, Eldrwin sentia-se estranhamente seguro e despreocupado ali naquele lugar. Era como se, por uma fração de segundos, tivesse se esquecido ou deixado de lado o fato de que estavam em busca do medalhão real. Observava as pessoas passando sorrindo para eles, prestando reverencia e então se lembrou de que estava de armadura em cima de uma montaria. Era um soldado e não um cidadão qualquer.

Andaram mais um pouco até chegarem próximo a uma estalagem. Villian parou bem ali e por fim desceu de seu cavalo.

— Foi uma longa viagem! Há quanto tempo que não venho a este reino! – Olhava ao redor mais animado do que o normal. Eldrwin, Kairou e Anya perceberam o comportamento nada atípico do chefe da guarda real e trataram de descer de seus cavalos também.

A sensação de esticar as pernas e as costas fora algo que parecia que Eldrwin não sentia há anos. Contemplou Villian ainda observando o local e então perguntou, enquanto conduzia seu cavalo.

— Já esteve aqui alguma vez Villian?

— Sim! – Villian respondeu soltando sua alta risada– Várias e várias vezes! Obvio que foi antes de me tornar chefe da guarda real. Pois bem! Acredito que devam iniciar a missão de vocês somente amanhã pelo visto certo? Enquanto isto é bom que descansem. Ficaremos exatamente aqui – E virou-se para a estalagem.

Suhoz então desceu da carruagem e caminhou em direção a Villian.

— Por fim chegamos. Pois bem, acredito que tem interesse em saber alguns detalhes sobre o rei certo Villian? Podemos fazer uma visita à família real pela manhã.

Mas, Villian fitou os três jovens por alguns momentos e novamente dirigiu-se à Suhoz.

— Na realidade, estarei partindo de Betta mais cedo do que quando saímos de Orion. Não posso deixar meu posto por muito tempo tendo em vista o que tem ocorrido. Deixe com eles. Irei atrás de... Algumas informações.

— Ah sim! Claro – Disse Suhoz um tanto frustrado e continuou a dizer – Bom, eu preciso encontrar Bhorn. É bom que ele saiba que temos guerreiros que poderão ajudar na busca.

— Bhorn? – Perguntou Eldrwin agora amarrando seu cavalo – Quem é Bhorn?

— O chefe da guarda real de Betta – Respondeu Suhoz – Bom meus jovens soldados, nos encontramos pela manhã. Tenham uma boa noite de descanso vocês três – E seguiu caminhando pelas ruas em passos apressados.

— Como será que deve ser esse tal Bhorn? – Perguntou Kairou curioso.

— Também tenho curiosidade em saber, mas pelo visto, só saberemos amanhã. E então? Vamos entrar e comer alguma coisa? – Disse Eldrwin já se dirigindo à estalagem quando Villian lhe disse:

— Primeiramente é bom que vocês se banhem não acham? Há termas aqui por perto. Poderão deixar seus cavalos aqui e então poderão ir para lá.

— Mas e quanto à...

— Não precisa se preocupar, Há termas para damas aqui também – E olhou de esguelha para Anya que retribuiu com um sorriso – Bom, vamos nos banhar e após isso, voltaremos para cá. Vamos indo.

Os três se colocaram a andar em meio às pessoas. Percebiam que as tabernas estavam de certa forma cheias e movimentadas. Um cheiro de carne assada invadiu sem cerimônias o nariz de Eldrwin o fazendo salivar. Seu estômago roncou e percebera que estava faminto. Até que Villian virou-se para um determinado local e fitou o seu interior.

— Podem continuar indo em frente que me encontrarei com vocês logo mais, tenho algo a fazer aqui. – E dirigiu-se para a taberna a seguir sendo observado por Eldrwin, Kairou e Anya que disseram em uníssono.

— Vinhos!

— Ele é um beberrão não acham? – Disse Kairou descontraído enquanto tornava a andar – Mal posso esperar para chegar às termas.

— Sabem, Andei pensando durante a viagem sobre o medalhão real – Anya começou a dizer – Se ele foi criado por Betta e passado de geração em geração, em algum momento da história ele foi roubado da família real não acham?

— Faz sentido. Acho que seria sim um bom começo investigarmos a família real a procura de alguma informação que possa ser útil – Disse Eldrwin, agora sentindo a barriga roncar com mais ferocidade.

Caminharam um pouco mais até chegarem a uma espécie de estalagem onde algumas pessoas saiam e, a julgar pelos cabelos úmidos, eram finalmente as termas. Bem à frente um senhor de roupas humildes davam boas vindas aos três.

— Ora, ora, soldados! Aparentemente não são daqui estou certo?

— Somos do reino de Orion – Disse a princesa ao passo que o velho começou a dizer com entusiasmo.

— Do reino de Orion? Mas que surpresa, Venham! Aproveitem que hoje não há muitas pessoas. Cavaleiros, podem seguir até o final e você senhorita, logo à frente poderá entrar.

Os três seguiram por um corredor á céu aberto e, ao chegar a frente à primeira porta, Anya parou e, dizendo “nos vemos logo mais” entrou. Eldrwin e Kairou seguiram em frente até uma espécie de galpão. Passaram pelas portas e se depararam com um enorme tanque com aguas cristalinas. Tochas iluminavam o local agradavelmente e, para sorte dos dois, naquele horário não havia ninguém. Poderiam conversar abertamente sobre o medalhão real e o ataque que sofreram. Um vapor subia da água e Eldrwin teve certeza que estava quente.

— Enfim! – Kairou disse animado, atirou a bolsa de viagem para um canto e retirou completamente a armadura, a espada e as vestes. Adentrou no tanque e submergiu. Eldrwin tratou de fazer exatamente o mesmo e, após entrar em contato com água, sentiu seu corpo relaxar, os problemas lhe abandonarem, emergiu e voltou à superfície. Caminhou pelo tanque até determinada parte onde havia uma escada. Sentou-se e admirou Kairou focalizando o fogo de um dos atoches e repetidas vezes estalar os dedos na tentava de fazê-lo apagar.

— Não sei como papai consegue fazer isso! – Kairou dizia enquanto observava o fogo apenas tremular brevemente, mas não esvair.

— Acho que não está se concentrando o suficiente – Disse Eldrwin na tentativa de ajudar o amigo de alguma forma.

— É lógico que estou! – E continuou estalando os dedos até se cansar e desistir – Desisto! Estou muito cansado – E submergiu parcialmente ficando apenas como os olhos e o topo da cabeça para fora d’agua.

— Será que dá para acreditar que estamos tão longe de casa? – Eldrwin começou a dizer fazendo Kairou observá-lo.

— Com certeza que não. E ainda mais pelo motivo que viemos para cá.

— Ontem exatamente neste horário nós fomos atacados lembra-se? E agora estamos em Betta, em um tanque de agua quente.

— Tudo graças a você meu amigo.

Aquela frase não soou agradavelmente aos ouvidos de Eldrwin. Lembrou-se da mãe do amigo e da frase que Jedah proferiu “E poderão morrer...” E nisso, a porta se abriu num baque surdo e Villian adentrou no recinto imponente e ainda de armadura.

— Espero que estejam desfrutando um pouco do local rapazes! – Disse com sua voz grave ressoando pelo galpão já começando a tirar todo o equipamento de batalha.

— É... Estamos sim – Kairou respondeu enquanto se dirigia à Eldrwin em meio à agua para lhe dizer algo um pouco mais perto. – Isso é esquisito não acha? Tomar banho... Com Villian?

— Tudo graças a mim amigo! Disse Eldrwin constrangido enquanto notava surpreso, ao ver Villian se despir, que o corpo do chefe da guarda real era repleto de cicatrizes.

[...]

 A lua brilhava fortemente no céu àquelas horas e finalmente, depois do banho, os quatro se dirigiram para a estalagem. O local era aconchegante com mesas e cadeiras espalhadas pelo salão onde algumas pessoas estavam sentadas, bebendo e conversando. Entre elas estavam soldados, místicos demonstrando suas habilidades. Um deles, um jovem se cabelos louros, exibia um misticismo intrigante aos outros da mesa. Ele simplesmente fez surgir um clone idêntico a si mesmo bem ao seu lado que desapareceu em uma nuvem de fumaça. Havia um balcão onde um homem magro de grande barba e cabelos grisalhos lustrava a madeira. Ele observou a porta por onde todos passaram e abriu um sorriso ao notar Villian.

— Mas que surpresa! Há quanto tempo não o vejo por aqui Villian!

— É sempre bom voltar Gerard! – O chefe se aproximou e cumprimentou o homem enfaticamente.

— E então, quanto tempo irá ficar? Duas noites? Três?

— Na realidade somente esta. Meus novos soldados é quem ficarão por aqui um tempo. Um treinamento rotineiro que Suhoz ofertou.

O velho mirou os jovens adentrarem. Eldrwin olhava o local curioso e não desejava mais nada do que comer.

— Acredito que ainda serve aquela boa comida! Certo Gerard? Estamos todos famintos – Villian disse encarando os olhos do homem que lhe retribuiu com um sorriso.

— Certamente! Mas, vamos sentem-se todos vocês!

Todos se sentaram ao pedido do homem que se dirigiu à mesa e perguntou cordialmente.

— E então? O que gostariam para esta noite?

— Ora! O de sempre para hoje será melhor meu bom amigo – Villian disse e Gerard respondeu pacientemente.

— Então está certo!

O homem então estendeu as mãos em direção à mesa e um brilho dourado as envolveu. Rapidamente, e em um único movimento, ele bateu uma palma na outra e um barulho como de um sino preencheu o local. Diante dos olhos de todos surgira um baquete sobre a mesa com frango assado, peixes, frutas e um garrafão com vinho.

— Bom apetite a todos vocês! - E se retirou sorridente quando Kairou disse espantado.

— Ele é um invocador! Um místico invocador! Poucos têm essa capacidade e... – Disse já arrancando um pedaço da coxa do frango assado e a devorando – E poucos conseguem invocar uma comida boa desse jeito! – Disse com a boca cheia.

Todos comeram até se sentirem satisfeitos. Villian então se dirigiu a Gerard, conversou por um momento e lhe entregou algumas moedas de ouro. Em seguida disse a Eldrwin, Kairou e Anya.

— Podem subir para o quarto de vocês se quiserem, tenho alguns assuntos para tratar com Gerard antes.

Os três então rumaram para a escadaria que ficava ao lado do balcão e subiram apressados. Viraram à direita e por fim, chegaram à um longo corredor com várias portas que davam acesso aos quartos. Anya avistou um, aparentemente vazio e com uma cama apenas.

— É aqui que eu vou ficar. Amanhã será um longo dia! Boa noite pra vocês dois!

— Boa noite! – Responderam Eldrwin e Kairou dirigindo-se para o próximo quarto. Adentraram e fecharam a porta.

Eldrwin então retirou as botas, jogou a bagagem aos pés da cama enquanto Kairou abria a janela permitindo que a luz da lua iluminasse o local. Era de certa forma um quarto aconchegante com duas camas, um baú, uma mesa ao centro e uma pequena estante. Kairou se atirou a cama observando o céu estrelado e Eldrwin se dirigindo a sua própria cama, sentiu os músculos relaxarem de vez. Ouviu então o amigo dizer.

— Eu realmente espero uma folga de ataques pelos menos hoje! Preciso dormir!

— Não se preocupe. Acho que todos no castelo do rei estão atentos.

— Assim espero. Bom, até amanhã – Disse Kairou virando-se enquanto Eldrwin admirava o céu negro repleto de estrelas. Pensou um pouco sobre a viagem, sobre o que talvez fosse encarar naquele reino e os ataques que sofreram. Fechou os olhos, sentiu todo o pensamento esvair e depois de duas noites seguidas, adormeceu.


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