A luz prateada da lua banhava o chão em uma noite tranquila de silêncio e calmaria. O céu negro, tomado de estrelas na imensidão infinita do espaço estava limpo, como se tivesse sido lapidado á mão. A brisa da noite cruzava as ruas e tudo estava em ordem como tinha de ser. Nem parecia que á pouco tempo atrás o reino de Orion corria um grande perigo que alguns poucos habitantes tinha conhecimento.

O rei Gallic, que era um homem alto, de cabelos castanhos, olhos sérios e barba um pouco cheia, se encostava no parapeito da varanda de seu quarto. Dali, do andar mais alto do castelo podia-se ver todo reino desde as porções menos habitadas ao sul, passando pelo centro do reino onde se erguia um monumental templo de pergaminhos, seguindo para o norte onde se avistava o rio Haras, que descia das montanhas e cortava toda a lateral do reino. Seguindo em linha reta, seus olhos contemplavam a alta muralha e além dela seguindo pelos vales bem longinquamente, uma alta cadeia de montanhas negras se erguia. Ele soltou um suspiro cansado e disse para si mesmo.

–Tudo está em paz! Tudo está em paz como deve ser!

Ele se virou e caminhou para o gigantesco e suntuoso quarto adornado de vários detalhes bem nobres colocados em ordem por todos os cantos. Pinturas, lustres de cristal, vários móveis de madeira de luxo encostados pelas paredes e uma grande cama que ao seu redor, se erguiam quatro colunas de madeira que sustentavam uma espécie de teto retangular de onde saiam cortinas de veludo nas cores azul e branca que cercavam o entorno da cama macia.

A rainha dormia tranquilamente e o rei se dirigiu em direção ao leito caminhando devagar pronto para ter uma boa e agradável noite de sono.

Porém, uma sensação de estar sendo vigiado rompeu por dentro do rei que parou de caminhar ali mesmo onde estava. Ele olhou copiosamente ao redor do quarto escuro apenas iluminado pela luz da lua e nada viu.

Parecia que seja lá quem fosse estava o observando da varanda. Não obstante ele apressou o passo em direção ao lado de fora do quarto e observou três garças voando pelo céus. Olhou para os dois lados e ainda continuava sem ver absolutamente nada de anormal, nem ninguém.

Se encostou novamente no parapeito e dirigiu os olhos tomados de curiosidade para baixo. Admirou o jardim da entrada do castelo, ergueu a cabeça e virou-se caminhando novamente em direção ao quarto.

Algo aconteceu. A luz da lua começou a enfraquecer mais e mais como se uma mão de trevas estivesse á cobrindo. O quarto aconchegante foi ficando frio e sem vida.

O rei, agora com a respiração ofegante e rosto tomado de medo olhava para todos os lados ainda na tentativa de observar quem estava ousando fazer tal coisa. Mas ao olhar para um dos cantos, imersos na escuridão, duas luzes brancas fantasmagóricas brilharam e iam se aproximando dele mais e mais.

Todo o som da brisa ao lado de fora do quarto desapareceu de repente. O rei completamente desarmado e indefeso começou á andar para trás enquanto a sombra ia saindo da escuridão avançando lentamente em direção á ele.

O rei não acreditava no que via, mas presenciou uma armadura negra ir envolvendo a sombra pouco á pouco até tomar completamente sua forma. Uma espada negra estava nas mãos da criatura que agora se revelara totalmente.

Gallic olhava para aquilo tomado de horror. Suava frio e sua mão tremia como nunca. Ele estava diante de um guerreiro negro e nada podia fazer. Olhou para rainha que começara á se mexer agitada e de súbito sentou-se na cama e olhou para o rei completamente acuado. Disse em seguida sonolenta.

–Querido... O que está fazendo?

Os olhos da rainha se dirigiu para a criatura bizarra que passava frente á sua cama e seguia em direção ao rei com a espada erguida.

–QUERIDO! O QUE É ISTO? - Declarou Anasya e vendo que o guerreiro negro se aproximara ainda mais, soltou um grito alto, agudo e agonizante que se alastrou por todas as partes possíveis.

Uma pancada forte estourou pela porta e um guerreiro segurando uma espada de luz adentrou no quarto seguindo furioso em direção ao guerreiro negro que virou-se de um segundo para o outro erguendo a espada negra na direção do jovem guerreiro que também ergueu sua arma á altura dos olhos.

A lâmina negra desceu furiosa na direção da lâmina de luz e um ruido alto e metálico soou pelo quarto juntamente com uma forte luz que emanou da espada como um relâmpago. Após este, outro ataque ainda mais furioso desceu e mais uma vez o som alto ressoou.

O guerreiro abaixou-se e rolou pelo lado do guerreiro negro o surpreendendo. Girou sua espada em um movimento circular e um feixe intenso de luz atingiu a barriga do guerreiro que soltou um alto rugido de dor.

Após isto um outro guerreiro, agora portando uma espada envolta de chamas adentrou no quarto escuro e também seguiu em direção ao inimigo que ainda se contorcia encurvado pelo ataque que sofrera.

A ponta da lâmina flamejante cravou-se na barriga do guerreiro das sombras e o mesmo desabou no chão com um baque alto.

Os dois guerreiros se aproximaram da criatura caída no chão e a mesma falou com uma voz cavernosa e medonha, que fez um com um que um arrepio cruzasse sem piedade o corpo dos dois jovens que se encontravam ali parados.

–O MEDALHÃO REAL... SERÁ NOSSO!!

A lâmina de luz foi erguida para o alto a mesma brilhou ainda mais forte. Pequenos pontos luminosos começaram á circular-la em grande velocidade até que uma explosão de luz preencheu todo quarto iluminando-o completamente.

Não havia mais guerreiro negro no recinto. Apenas cinzas espalhadas pelo chão. A rainha ainda estava em choque, paralisada com o que presenciou. O rei, bem trêmulo nada falava. O jovem com a espada de fogo virou-se para o jovem com a espada de luz e soltou uma declaração cansada.

–Parece que não acabou mesmo não é Eldrwin?

...

–Não Kairou. Ainda não acabou!