O Mundo dos Gigantes de Gelo escrita por Akemi Hatagashi


Capítulo 1
Vamos sobreviver, é nossa única chance




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— Não podemos continuar aqui! — ouço gritos para todo lado, o verdadeiro caos — Eles irão nos matar!

Ouço passos pesados e risos altos e grotescos do lado de fora da caverna.

— Temos que fugir! — a mulher grita novamente, corro até o seu encalço e lhe tapo a boca. Ela faz barulhos estranhos, mas mesmo assim não tiro minha mão dali. Aquela mulher era louca? Ela sabe que estamos em uma posição desfavorável e ainda vem gritar quando tem gigantes do lado de fora!

— Droga! — a solto e corro até onde deixei as minhas coisas, pego minha mochila e minhas armas. Ouço passos mais pesados e mais altos, eles estavam se aproximando. — Mary, Scott, venham! Precisamos sair daqui! — Mary era minha irmã mais nova, ela tinha onze anos e Scott era meu melhor amigo, ele tinha dezoito anos.

— Certo. — ele concorda, pega sua mochila e suas armas de fogo e segura a mão de Mary, correndo até mim. Os outros sobreviventes surtam e fazem o mesmo que eu. A mesma mulher continua gritando, era mesmo louca. Vejo uma sombra e percebi: eles haviam chegado. Nosso tempo havia acabado.

— Venham! — chamei os dois, eles assentiram e me seguiram até o fim da caverna, lá tinha uma passagem, ela era estreita, mas eu acho que conseguiríamos, tínhamos que conseguir! A mulher havia parado de gritar, e notei que eles haviam entrado na caverna. — Entrem, entrem! Rápido! — gritei para eles. Os gigantes nos olharam e sorriram, com aquele sorriso tipicamente humano, mas com algo macabro, diferente. Assustador. Scott abriu a passagem e mandou Mary passar.

— Jean! — ouvi Mary choramingar, a olhei, sorrindo. Lhe dei um beijo na testa e me afastei, ela tentou me seguir, mas Scott a segurou e a empurrou para dentro da passagem.

— Confio em você. — falei para Scott, ele me olhou, abaixou a cabeça e assentiu. Depois entrou na passagem, seguido por alguns sobreviventes.

— Eu avisei! — a mulher correu para a meu lado, ela segurava uma espingarda e apontava para os gigantes que ainda estavam na entrada da caverna. Eles sorriam maliciosamente. Os outros sobreviventes que decidiram arriscar suas vidas para salvar os outros, estavam perto de mim e da mulher com suas armas na mão. — Agora nós não podemos recuar... — a mulher destravou a arma — Temos que dar uma chance de vida para aqueles que conseguiram escapar. — senti o ar se esfriar e o chão onde os gigantes estavam começava a congelar. Engulo em seco e falo, séria:

— Não vou deixar que machuquem minha irmã. Nem que eu tenha que dar minha vida para salvá-la. — a mulher assentiu. Saco minha espada e fico em posição de ataque. Os gigantes sorriem pela última vez, dão impulso e quando vi já estavam correndo velozmente em nossa direção. — Vamos lá! — grito em modo de incentivo, os sobreviventes gritam e nós atacamos. Era agora ou nunca.

Paramos um pouco antes de colidirmos com os gigantes e desviamos. Eles passaram reto por nós e tivemos uma chance de atacar. Ergui minha espada e a desci rapidamente contra um dos gigantes, o que estava mais próximo de mim, a espada o decapitou e seu corpo musculoso caiu com um baque surdo no chão. A mulher começou a atirar e acertou algumas partes de outro gigante, mas seu corpo de regenerava rapidamente, tornando quase impossível a sua morte. Fiquei tão distraída com isso que mal percebi que tinha outro gigante vindo na minha direção, fui salva por um homem de meia idade que usava uma pistola, ele deu um tiro que acertou a cabeça do gigante, mais especificamente seu olho. O gigante gritou de fúria e agarrou o homem pelo pescoço, este o congelou e em seguida deu-lhe um soco, o que fez com que o gelo e o corpo do homem se partissem em vários pedaços. Fiquei boquiaberta, o gigante me olhou com sangue no olho, literalmente. Ele me atacou, mas eu desviei rapidamente e enfiei minha espada em suas costelas, ele deu outro berro e sua mão virou tão rápido na minha direção que mal tive como escapar. Sua mão colidiu contra meu rosto e eu voei para longe, tamanha força. Senti meu pescoço estralar e uma dor inimaginável passar por mim. Bati contra o chão duro e frio, outros ossos estalaram e cuspi um pouco de sangue, a dor era insuportável. Senti meu braço esquerdo dormente, eu não conseguia movê-lo. Cuspi um pouco mais de sangue quando tentei me levantar e caí novamente no chão. Senti minha visão escurecer e a última cena que eu vi foi a do gigante partindo em minha direção.

- - -

— Vamos lá, garota, acorde. — senti algo me cutucar e me remexi, o que fez uma grande dor passar pelo meu braço esquerdo, urrei e levantei rapidamente, fazendo outra onda de dor me castigar. — Ei, se acalme! — alguém me alertou. Me virei na direção da voz e aquela mulher me olhava. Seu rosto estava um pouco inchado e cheio de arranhões e cortes. — Nós conseguimos, mas muitos morreram. Você quase foi morta quando desmaiou pela dor, ainda bem que Jéssica estava perto de você quando o gigante atacou.

— Jéssica... ? — perguntei um pouco zonza e voltei a me deitar. — Quem sobreviveu? — me lembrei de Mary — Mary sobreviveu? — perguntei desesperada, agarrando-lhe a gola da camisa com a mão direita, meus olhos ardiam.

— Eu acho que sim — fez um sinal de rendição com as mãos e eu a soltei, suspirando — Os outros sobreviventes conseguiram sair, nós matamos todos os gigantes que vieram até aqui. Eram muitos, mas conseguimos. Aliás, você perguntou quem sobreviveu. — olhei para as poucas pessoas ao meu redor. — Essa é Jéssica, foi ela quem te salvou. — tocou o ombro de uma garota. Ela tinha por volta de quinze anos, dois anos mais nova que eu, seus cabelos negros estavam presos em um rabo de cavalo e seus olhos eram de um castanho intenso, mas a mesma estava em um estado deplorável. Sua roupa estava rasgada, ela tinha cortes e arranhões em todo o corpo, o qual estavam enfaixados, mas as faixas estavam bem vermelhas por causa do sangue, e na parte de baixo de seu olho direito estava totalmente branco. — Este é Max. — apontou para um homem que estava ao lado de Jéssica, ele era careca e estava com um tapa-olho no lado esquerdo do rosto, ele era o que menos havia sofrido lesões, apenas alguns arranhões. — E esse é Columbus. — apontou para um homem que tinha por volta de vinte anos, seus olhos eram verdes e seus cabelos eram loiros e meio bagunçados. — Eu me chamo Isabel. — a mulher se apresentou e eu a olhei atentamente. Seus cabelos eram ruivos e seus olhos pretos, ela não aparentava ter mais de trinta anos e estava com um corte feio no barriga, que estava mal enfaixado. — Qual é o seu nome?

— Jean... — olhei para o meu braço esquerdo — Eu não quebrei o meu braço, não é?

— Não, apenas o torceu. Eu fiz uma atadura com o kit de primeiros socorros que temos. Antes de isso tudo começar, eu era uma médica, mas depois disso... — falou com a voz triste, abaixei a cabeça, sentindo sua dor.

— Nós temos que achar os sobreviventes. — falei — Os que conseguiram escapar. — Columbus negou com a cabeça.

— Não podemos. Nem sabemos por onde eles foram. Por enquanto, nós temos que apenas sobreviver, só isso.

— Mas...

— Eu também acho que essa é a melhor opção, Jean. — Isabel concordou, tocando meu ombro, me desviei rapidamente, levantando-me e saindo de perto deles.

— Foi culpa sua! — apontei para Isabel, irritada. — Se você tivesse não pirado e começado a gritar, talvez todos nós estivéssemos vivos e juntos!

— Foi um momento de fraqueza... — olhou para suas próprias mãos.

— Guardasse para você! — ela se surpreendeu com as minhas palavras e me olhou de olhos arregalados. — Não quero saber de apenas “sobreviver”, eu tenho que achar a minha irmã e o meu amigo, e não são vocês que vão me impedir. — Fui até a parede da caverna e peguei minha mochila e minhas armas, guardando-as.

— Você não vai conseguir sobreviver sozinha, Jean! — Max me olhou, preocupado.

— Não me importo, não quero a preocupação de ninguém! — fui curta e grossa. Saí andando rapidamente da caverna, os deixando pasmos do lado de dentro com o que eu falei. Ouvi passos rápidos atrás de mim, me virei e gritei — Eu disse que eu não quero a preocupação de ninguém! — fechei a boca, surpresa. Era apenas Jéssica com sua mochila.

— Eu vou com você... — falou tímida. — Posso ajuda-la a achar sua irmã.

— Eu não vou te pagar, saiba disso. — encarei com meus olhos azuis as suas órbitas castanhas.

— Eu não quero dinheiro — andou até o meu lado —, saiba disso. — me imitou. Uma veia pulou de minha testa e a encarei rapidamente, soltei um “humpf” e voltei a andar, sem olhar para ver se ela estava me seguindo ou não.

— Aliás, obrigada por me salvar. — falei baixo, ouvi uma risadinha e a olhei de esguelha, ela sorria. Mas não de um jeito superior, e sim feliz.

— Não foi nada. — falou ainda sorrindo, me virei pra frente e sem ela perceber, dei um pequeno sorriso de canto de lábio.

Olhei para frente e pensei em Mary e Scott.

Vou encontrar vocês, falei na minha mente e assenti, confiante.

1 ano depois...

— Sinto que estamos próximas! — falo, sorridente para Jéssica. Ela sorri.

— Você é um exemplo bom de pessoa que sobrou no mundo. — falou e eu olhei-a, confusa.

— Como assim?

— Bom... já faz um ano que você se separou de Mary e seu amigo, Scott, e até hoje os procura, sem desistir. É um bom exemplo. — sorri.

— Eu sei que se fosse eu que tivesse fugido naquele momento e eles tivessem ficado lutando com os gigantes, eles me procurariam depois. E obrigada a você que até hoje está comigo.

— É legal ter uma boa lutadora com armas brancas ao lado. — falou.

— É legal ter uma boa atiradora ao lado. — ela riu.

Muitas coisas aconteceram neste último ano. Desde aquele dia em que eu não quis ficar com Isabel, Jéssica é a minha fiel companheira. Desde a última vez eu só encontrei Isabel e seu grupo duas vezes, mas foi apenas por coincidência. Eu também nunca mais tive notícias de Mary e nem de Scott. Aliás, ele já deveria ter dezenove anos e Mary iria fazer doze anos daqui a mais ou menos duas semanas, se eu não me engano.

— Jéssica. — a chamo, ela me olha com um olhar curioso. — Quando é o seu aniversário?

— Ah... meu aniversário? — ri um pouco nervosa — Meu aniversário foi semana passada, eu fiz dezesseis anos.

— Por que não me avisou?! — a olho com raiva.

— Não acho que você tem que se importar com meu aniversário. — fechou os olhos e sorriu — Pelo menos você ainda é mais velha que eu. — eu ri. Bom, eu ainda tinha dezessete anos, iria fazer dezoito dali há dois meses.

— É... — olhei para a cidade ao longe — Vamos continuar?

— Uhum. Vai que nós o encontremos nessa cidade?

— Ou vai que encontremos vários gigantes? — ela bateu na minha cabeça — Ai!

— Você é muito pessimista. — pegou suas armas e mochila e saiu andando na minha frente. Passei a mão na parte de trás da cabeça, bem no lugar onde ela havia batido, bufei, peguei minhas coisas e corri ao seu encalço.

Já fazia um bom tempo que estávamos andando pela cidade e nada. Não encontramos ninguém e nenhum gigante.

Continuamos andando e paramos na frente de uma lanchonete.

— Será que tem algo para comer? — Jéssica perguntou. O incrível que havíamos percebido há algum tempo, é que a nossa única diferença dos gigantes é que eles tinham o poder sobre o gelo, mas fora isso éramos iguais. Os gigantes eram iguais aos seres humanos na aparência, alguns na personalidade, e no modo de vida. Era incrível e estranho.

— Eu não sei, mas temos que ter cuidado. — ela assentiu, peguei um facão, como estava de dia, a lâmina de minha espada poderia refletir com a luz e chamar atenção de algo, e eu não queria isso, então uma lâmina menor era mais fácil de cuidar.

Entramos na lanchonete, Jéssica começou a olhar ao redor. Bom, era uma lanchonete normal, com paredes normais, mesas e cadeiras normais. Ela fez um sinal para eu segui-la, obedeci e adentramos mais ainda. Fomos para o armazém da lanchonete, Jéssica foi para a área de enlatados. Quando ela estava quase tocando uma das caixas, somos surpreendidas com um barulho de algo caindo. Ouço uma voz masculina suspirando e falando:

— Tome cuidado, não podemos chamar atenção. — essa voz me era familiar, muito familiar.

Jéssica se armou, mas coloquei minha mão à frente da arma, ela me olhou de um jeito estranho, mas eu apenas neguei com a cabeça. Contornei algumas caixas e eu não acreditei no que vi.

Meus olhos arderam e logo percebi que estava chorando. Eram eles. Eram mesmo eles!

— Mary... — eles se levantaram rapidamente do chão e Scott apontou uma pistola para mim — Scott... vocês...

— J... Jean...? — Mary me olhou de cima para baixo. — É você mesma...?

— Mary... — corri até ela e a abracei, derrubando nós duas no chão. — É você mesma! Eu... eu estava com tanta saudade! — olhei para seu rosto avermelhado, ela também chorava e sorria. Percebi que seus cabelos pretos haviam crescido um pouco, e agora batiam nos seus ombros e estavam bagunçados e embaraçados, seus olhos azuis continuavam os mesmos. Ela ainda era a Mary, minha querida Mary. Soltei-a do abraço e olhei para cima. Scott sorria. Ele havia mudado um pouco, seus cabelos não estavam mais cobertos pelo pano com a bandeira dos Estados Unidos, e sim livres, com seus cabelos semi-longos castanhos. Seus olhos estavam com um verde mais vivo e eu sorri. — Scott.

— Jean. — ele sorriu de volta, me levantei e o abracei. Ele segurou minha cintura com uma mão e me apertou e com a outra mão afagou o topo da minha cabeça.

— Obrigada. Você cuidou da Mary durante esse tempo... eu sabia que podia confiar em você. — ele me distanciou um pouco e olhou nos meus olhos.

— Você não mudou nada, só deixou o cabelo crescer. Tentei dar um jeito de cortar o cabelo de Mary, mas ela me mordeu na hora que eu iria cortar. — eu ri, típico. Mary só me deixava cortar o cabelo dela, ninguém mais cortava, apenas eu.

— Não me surpreende nada. — eu ri mais um pouco e ouvi um muxoxo atrás de mim. Virei-me e foi aí que me toquei, embalada no momento eu havia esquecido totalmente de Jéssica. — Ah, Scott, Mary, essa é Jéssica, ela que me ajudou durante esse tempo a achar vocês. — Jéssica sorriu.

— Aliás, o que aconteceu depois que conseguimos fugir? — Scott me soltou por completo.

— Bom, pouco tempo depois que vocês saíram, alguns sobreviventes ficaram com a gente e juntos nós conseguimos matar todos os gigantes que estavam na caverna, eu quase fui morta quando desmaiei por causa de um golpe, mas Jéssica me salvou. Depois, como eu não queria ficar com os sobreviventes que sobraram, o grupo de Isabel, aquela mulher que estava gritando quando os gigantes chegaram, eu fui embora e Jéssica veio comigo. Estamos procurando vocês desde então. — Scott sorriu.

— Você é tão teimosa. E se tivéssemos morrido e você continuasse procurando com alguma esperança?

— Eu mal cogitei essa possibilidade. — fui sincera e ele riu.

— Jean sendo Jean. — eu ri.

— Vocês estavam procurando alimento? — perguntou Jéssica.

— Sim. Nós estamos nessa cidade há uns dois meses, nenhum gigante veio para cá, então arrumamos um apartamento e ficamos lá.

— Você tem certeza que nenhum gigante veio para cá? — perguntei, arqueando uma sobrancelha, ele assentiu.

— Tenho. — falou confiante — Nenhum sinal de nenhum gigante por perto. Vamos pegar alimentos e vamos para lá, não quero me separar de você. Você também Jéssica, é bem-vinda. — eu sorri, não iríamos mais nos separar. Nunca mais.

Jéssica e eu abrimos nossas mochilas e pegamos o máximo que conseguiríamos levar, e seguimos Scott e Mary pela cidade. Mary e eu fomos de mãos dadas e ela ainda chorava e sorria para mim assim que eu a olhava. Eu estava tão feliz de vê-la, a sensação era indescritível. Estávamos novamente juntas, e Scott estava bem.

Scott foi em direção à um prédio e o seguimos, ele subiu pelas escadas até o segundo andar e abriu uma das portas.

— Lar doce lar. — eu ri, entrando no apartamento. Meu queixo caiu.

— Este... este apartamento só poderia ser de um rico... certo? — perguntei incrédula, olhando ao redor, era tudo decorado e as coisas pareciam caras.

— É, acho que sim. Não sei. — Jéssica entrou e Scott fechou a porta, trancando em seguida.

— Sabe... — comecei, Scott, Jéssica e Mary olharam curiosos para saber o que eu diria. — O que eu mais quero saber, desde que tudo isso começou, é: O que esses gigantes querem?

— Acho que nenhum de nós saberá. — Scott balançou a cabeça — Eles vieram para exterminar os humanos e tomar a Terra. Talvez em alguns anos, ou até menos, ele consigam o que querem. Existem poucos de nós, e a cada dia eles matam mais.

— Eu sei, Scott. — suspirei e me joguei no sofá, colocando as mãos no rosto — Mesmo assim... esses “gigantes” são tão parecidos conosco... não só na aparência, nos atos e personalidade, a diferença é aqueles “poderes” deles. Eu vou descobrir o que eles querem.

— Concordo na parte que eles são parecidos conosco. Quando eu estava fugindo com Mary e os outros sobreviventes, nós vimos outro grupo de gigantes, e tipo, eles falavam a nossa língua e agiam como nós.

— Aliás, o que aconteceu com os outros sobreviventes? — Jéssica perguntou.

— Houve uma briga e nós nos separamos. — Mary olhou para o chão. Levantei uma sobrancelha. Mary havia falado de um jeito tão sério, pude sentir a dor em suas palavras.

— Mary? — estranhei. Ela apenas suspirou e se virou, indo para um dos quartos.

— O que... — Scott olhou para mim e em seguida para Jéssica, ela apenas assentiu e seguiu para a cozinha. — Parece que Mary não é mais tão... pequena. Ele está diferente. — Scott assentiu e se sentou ao meu lado no sofá, ele me abraçou pelos ombros e eu me aconcheguei em seus braços. — Você pode me contar o que aconteceu com vocês durante esse tempo que estivemos separados?

— Foram tantas coisas, Jean. — ele suspirou — É uma história longa.

— Agora eu tenho tempo. — olhei-o, séria e ele sorriu.

— É, parece que tem sim. — e então começou a contar.

— Jean? Acorde. — levanto em um sobressalto e procuro minha espada, olho para os lados e percebo que era apenas Jéssica. E ela ria da minha cara.

— O que foi? — pergunto mal-humorada.

— Você. — ela se apoia na escrivaninha que havia no quarto e pressiona a barriga. Foi neste momento que percebo. Eu estava deitada em uma cama, em um quarto, e o meu estado não era dos melhores. Na maior parte das vezes eu acordava antes de Jéssica, mas ontem fui dormir tarde e Scott deve ter me trazido para o quarto. Meu cabelo estava todo levantado e embaraçado, minha roupa amarrotada e eu tinha um filete de baba no canto da minha boca.

— Isso não tem graça, droga. — levanto da cama e me espreguiço. Amarro meu cabelo com a minha fita e bocejo.

— Enfim. — ela para de rir — Sua irmã está trancada no quarto dela desde ontem à noite. Suspiro e assenti.

— Qual é o quarto dela?

— O quarto à esquerda do seu. — disse e abaixa um pouco a cabeça — Acho que eles tiveram mais problemas com... com... eles do que nós. — termina e sai do quarto.

Levantei uma sobrancelha. Concordava com ela, tudo que Scott e Mary passaram neste tempo... Suspiro e saio do quarto, indo até o de Mary. Toco a maçaneta e a viro. Trancado, como se era de esperar. Bato na porta, nada. Bato novamente e ouço um murmúrio.

— Quem é? — ouço a voz baixa de Mary.

— Jean.

— Não quero falar com você. — arregalei um pouco os olhos e me afastei um pouco da porta, abrindo a boca, perplexa. Quando Mary não queria falar comigo, é porque algo sério havia acontecido, e algo ruim. E mesmo assim, seu tom de voz, ele estava triste e raivoso, me assustou, logo para Mary, uma garota sempre carinhosa e amigável, era inacreditável.

— O que aconteceu, Mary?

— Eu já disse! Não quero falar com você! — elevou um pouco o tom de voz, um percebia uma nota de irritação.

— Mary! Droga! Você realmente mudou nesses tempos, hein? Nem confiar mais na irmã você confia. Muito obrigada.

— Sai daqui! — ela berrou.

Apenas balancei a cabeça, não tinha nada que eu pudesse fazer agora. Ela havia mesmo parado de confiar em mim? E o que havia acontecido para deixa-la assim? Fui até meu quarto, peguei uma arma que estava na cômoda e a prendi ela no cinto do meu short, peguei minha espada e seu suspensório e o prendi em minhas costas. Saí e fechei a porta, Jéssica veio até mim com uma cara confusa.

— E aí?

— Ela não quer falar comigo e praticamente me expulsou da frente do seu quarto. — bufei já ficando irritada.

— E o que você vai fazer?

— Não vou fazer nada sobre isso, se ela não quer contar, tudo bem, que não conte. Eu vou descer um pouco.

— O.k.

Fiz o que havia dito e desci. Ainda não havia visto Scott, mas ele sabia se cuidar, então não me preocupei. Saí do prédio e respirei um pouco de ar puro, decidi “passear” um pouco pela cidade, era bom conhecer o local onde você estava.

Logo em frente ao prédio tinha uma lanchonete abandonada. Decidi entrar e ver o que tinha lá dentro. Estava cheia de poeira e teias de aranhas que grudavam em meu rosto e roupas, me deixando ainda mais irritada. A tintura das paredes estava lascada e os móveis gastos. Será que tinha algum alimento? Era improvável. Scott e Mary deveriam estar há algum tempo lá e estavam em uma outra lanchonete, longe dessa.

Dou de ombros e saio. Respiro o ar puro e olho um pouco ao redor. As árvores estavam lindas nessa primavera e várias ervas-daninhas nasciam em lojas e carros. Os prédios estavam desgastados e pareciam ter saído de um filme de terror. Há quanto tempo aquela cidade havia sido abandonada? Seria que ainda tinha um sobrevivente ali e Scott não percebera? Ou mais importante: será que tinha algum gigante que não notamos? É meio difícil, eles andam em trios ou em grupos, era realmente golpe de sorte encontrar um andando sozinho.

Continuo andando, me afastando cada vez mais do prédio onde minha irmã e meus dois amigos se encontravam. Eu estava sem nenhuma arma, então teria de tomar bastante cuidado. Checo antes de virar a próxima rua e vejo que a mesma está vazia.

Aqui tem vários restaurantes que, penso eu, já foram extremamente bonitos e possivelmente muito caros também. Agora estão vazios, cadeiras e mesas reviradas, vidros quebrados. O cenário de terror.

E nesse momento de distração, é que escuto o barulho.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!



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