Pov Sophie

– Por que, em nome de Merlin, vocês fizeram aquilo?! - eu berrei, furiosa.

Kellan, Andrew e Damian estavam sentados no sofá de couro, com seus uniformes do time de quadribol, me olhando com aqueles olhos arregalados. Eu sei que faz uma semana desde o incidente com o Neville, mas com certeza eu não deixei passar, muiot menos esqueci. Só que como foi uma semana complicada de jogos, eu apenas esperei o momento certo para descer os cachorros nesses dois. E finalmente, o momento chegou.

– Acham que eu esqueci daquele ataque contra o pobre garoto da Grifinória? - coloquei minhas mãos na cintura - Estou muito furiosa com vocês!

– Ah, aquilo! - Andrew riu - Calma, Sophie! Não preisa ficar nervosa! Foi só uma briguinha entre alunos...

– Briguinha?! - eu rosnei - Meu filho, vocês quebraram o nariz do garoto, pelo amor de Merlin! E só pelo que eu vi de longe, acho que duas costelas também!

– Calma, Dama Cinzenta! - Kellan se levantou do sofá, tentando me abraçar - A gente nem chegou a encostar nele! Crabble queria fazer tudo sozinho, a gente só ficou assistindo!

– E isso é ainda pior! - eu o empurrei - Vocês não fizeram nada pra impedir!

– Mas, Sophie! - Damian justificou-os - Todo mundo sabe que quando Vincent Crabble cisma com alguém, não dá pra fazer nada!

Eu cruzei meus braços, ainda furiosa. Os garotos se entreolharam, e depois sorriram.

– Desculpa a gente, Sophie! - Kellan me abraçou, usando sua voz melosa.

– Por favorzinho! - Damian segurou minhas mãos.

– Vai, Dama Cinzenta! - Andrew também se aproximou - Perdoa a gente!

Eu quase não conseguia segurar o riso vendo aqueles enormes e fortes jogadores de Quadribol me abraçando e implorando meu perdão. Era no mínimo muito engraçado. Se a Belle estivesse aqui agora, com certeza ela ia apertar as bochechas deles até ficar roxo. A porta do salão comunal se abriu, nos assustando. Eric atravessou o salão, em direção aos dormitórios.

– Hey, Huski, venha aqui e me ajude a decidir como punir esses sonserinos idiotas! - eu ri para ele.

– Tranque-os no armário de vassouras da Lufa-Lufa. - Eric bufou, zangado. - E se no caminho você vir a Belle, veja se talvez ela se lembra de ir ver meus filhos nesse Natal.

– Eu já estava mesmo indo procurá-la. Assim aproveito e dou uma olhada no garoto da Grifinória. - eu rosnei para os meninos - Vem comigo?

– Talvez. - e ele desapareceu no dormitório masculino.

Desde a briga que ele e a Belle tiveram, o clima anda muito estranho. Eric costumava ser a alegria do time, e agora, os garotos sentem falta disso. E eu devo confessar que eu também.

– Por que não vão tirar esses uniformes? - eu sorri - Quando eu voltar, decido o que faço com vocês.

– Seja boazinha, Dama Cinzenta! - Damian riu, enquanto seguia os amigos para o dormitório.

Eu fiquei ali apenas o tempo de ver eles entrarem nos dormitórios, e depois comecei a caminhar pelos corredores do castelo, com um sorriso delicioso no rosto. Na parede do corredor perto do pátio de Transfiguração, estava escrito de tinta vermelha "Armada de Dumbledore: o recrutamento começou". Sabe, as coisas continuam estranhas, mas eu tenho uma sensação boa de que tudo pode dar certo agora. Neville finalmente se mobilizou e agora vai fazer algo que também vai dar esperança aos alunos, que assim como nós, não concordam com nada do que está acontecendo. Se tudo continuar assim, quem sabe por mais algumas semanas, conseguiremos finalmente voltar ao controle da situação, e quem sabe talvez, da minha vida e então eu poderia...

Eu senti alguém bater em mim, um encontrão inesperado. Eu levantei minha mão direita para tocar em meu ombro onde doía, e então, meus olhos encontraram os dele, prateados, assustados, inesperados. Minha espinha gelou na hora. Tudo o que eu não precisava era essa volta inesperada do Draco, depois de dois meses distante.

Lentamente, eu fui caminhando, me afastando dele, até que enfim, não podia mais vê-lo. Continuei caminhando de costas, até que senti bater em alguém novamente. Como estava morrendo de medo de ser alguém pior, me virei rapidamente, e senti um alívio enorme.

– Belle!

– Sophie! - ela suspirou, me abraçando com muita força e chorando nos meus cabelos - Sophie... ele voltou... o Draco voltou...

Então, ela também tinha visto ele. É claro que ela tinha visto ele! O que mais poderia causar esse choque emocional nela?

– Eu estava só andando, sabe... só andando, aí, a gente deu um encontrão.. - ela começou a contar - E a minha mão tocou na dele... eu não queria entrar na mente dele, Sophie... foi um acidente...

– Belle! Você entrou na mente do Draco?! - eu me afastei dela - Você tem que me contar o que viu!

Ela suspirou fundo, e então começou a contar.

"Foi horrível, Sophie! Desde que se tornou Comensal, o Draco não gostou nada do que ele viu seus pais fazerem. Era muita crueldade, selvageria, ele achava que era apenas uma sociedade secreta, mas depois de ver todas aquelas torturas, aquelas mortes, atrocidades que eles faziam, ele não quis mais fazer parte daquilo, e se arrependeu de ter entrado no grupo, de ter a marca negra.

O Lorde das Trevas percebeu que o Draco estava querendo desistir, e então ordenou que ele fosse seu servo honorário, o que seria mais para um capacho pessoal, porque o Draco tinha que fazer tudo aquilo que ele queria. Ele quem torturava os comensais que não faziam o que o Lorde das Trevas queria, ele quem matava as pessoas que se interpunham no caminho... E o Draco não gostava disso! Não queria fazer nada daquilo!"

Belle voltou a soluçar, nervosa.

– Ele não queria, Sophie! - ela disse - Draco está sofrendo demais com tudo isso!

– E por que você se importa com isso? - um voz atrás de mim fez a Belle ficar branca como o papel. É o Eric, eu tenho que fazer alguma coisa. Pensa, Sophie, pensa!

– Eu me importo com isso! - eu retruquei - Apesar de tudo, Draco ainda é meu amigo, e eu me importo se ele sofre, sim!

– Eu estou falando com a Belle. - Eric me cortou.

– Francamente, Eric! É claro que eu me importo! Você não? Ele é um sonserino, ele faz parte do seu time, da nossa casa! Ele é um ser humano, que está sofrendo tanto quanto qualquer um de nós! - Belle falou - Ele merece um pouco de compaixão, você não acha?

– Eric, olhe me volta! Temos Dementadores voando sobre nossas cabeças! Alunos atacando alunos! Torturas! - eu continuei - Você tem visto como eu e a Belle temos nos esforçado para cuidar de quem está mal aqui! Muita gente precisa de ajuda! Não dá pra gente ser egoísta só porque teve brigas ou porque não são da mesma casa que a gente ou...

– Cale essa boca! - Eric rosnou para mim - É por sua causa que a minha Belle me ignora, que ela não tem mais tempo para mim muito menos para os meus filhos! Você só trouxe problemas para nós, Sophie! Você está roubando minha Belle de mim! Por sua causa, ela está deprimida! Por sua culpa, ela já foi parar nas masmorras!

Eu não podia acreditar que o meu melhor amigo, meu Huski, estivesse brigando comigo dessa fora, estivesse me humilhando. Eu ergui meus olhos para o céu, para tentar me distrair do horror daquela situação, mas só me apavorei ainda mais. Os Dementadores que sobrevoavam a escola naquele momento, foram atraídos por toda a raiva e o ódio que o Eric estava sentindo, e começaram a se aproximar de nós, lentamente. Eles eram tantos que o céu até parecia ter escurecido.

– Olhe aqui, - Eric segurou meus pulsos - se eu vir você perto da minha Belle denovo, eu acabo com você! Você não tem mais o direito de atrapalhar nossas vidas, não me importa se a Belle é seu oráculo ou seu capacho, me entendeu bem? Eu não quero mais você perto de nós!

– Eric, pare com isso! - Belle chorava - Pare!

Eric então me jogou com força, e eu caí no chão. Meu colar de coração foi parar longe. Naquele mesmo momento, pareceu que o mundo parou. Eu vi o Harry caído no chão do meu lado. Ao olhar em volta, notei que o lugar era amarelado, parecia um túnel. Caído no chão, bem perto de nós dois, havia um garoto gorducho, e sobre ele, um Dementador enorme e horrível, que sugava as memórias dele. Eu gritei, mas senti que minha voz não saía. Harry, no auge de seu desespero, sacou sua varinha e conjurou um feitiço que eu não conhecia:

– Expecto patrono!

Um escudo de luz saiu da varinha dele e cobriu o garoto gorducho, afastando o Dementador. Harry se levantou do chão, e tomando fôlego, continuou conjurando aquelas duas palavras, afastando o outro Dementador que o atacava.

– Eric! - Belle gritou.

Eu olhei para frente. Um Dementador enorme estava atacando o Eric, e o menino não conseguia gritar, nem ao menos se mover. Eu jamais havia visto nada parecido com aquilo antes. Ou melhor, eu já tinha visto aquilo antes. Tirei minha varinha da minha meia, apontei para ele e disse:

– Expecto patrono!

Nada aconteceu. Não é possível. Harry fez e funcionou, vai ter que funcionar comigo também. Levantei do chão e caminhei para perto do Eric.

– O que você tá fazendo?! - Belle berrou.

– EXPECTO PATRONO!

Um brilho fraco saiu da minha varinha. Ao poucos, ele foi aumentando e tomando forma, parecia um gatinho. Eu observei fascinada enquanto o pequeno gatinho se transformava em um enorme leopardo-das-neves feito de luz azul. Ele rosnou para o Dementador e o atacou, transformando-se em um escudo de luz, empurrando-o para longe. Eu caminhei para frente, enquanto o escudo aumentava e afastava os outros Dementadores, até que não sobrou mais nada.

Belle correu, e ajudou Eric a se levantar do chão. Como era de se esperar, ele estava exausto e ofegante, mas não menos abismado.

– Como é que você sabia fazer isso? - ele ofegou.

– Eu... - olhei levemente para minha mão esquerda. Por sob a luva, eu sentia a cicatriz formigar suavemente - só sabia.