Celest escrita por Alpha, Borges


Capítulo 4
Samuel / IV - A Família Lancaster


Notas iniciais do capítulo

Bem, espero que gostem, e desejo uma boa leitura ;)



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Era a desculpa perfeita.

Mas nem por isto aquela lembrança deixava-o sem se embasbacar por uma boa parte do tempo. Porque, convenhamos, qualquer pessoa em sã consciência desejaria que aquilo se tornasse real. Principalmente pela curiosidade.

Eram tão real, mas ao mesmo tempo tão borrado e distante. Como um sonho.

A cena que Sam se lembrava era algo que, em sua interpretação, deveria ser uma sessão de curativos, dado as fricções e uns gemidos dolorosos de algum homem. A única coisa que poderia se apegar era aos sons, pois não tinha forças para abrir as pestanas.

― Eles eram tão jovens – dizia um homem – A Kim era uma menina talentosa, meu Deus, ela e o Robb estavam tão animados para a primeira missão em campo...

― Chorar por leite derramado não irá ajudá-lo em nada, meu filho ― dizia uma idosa. Sua voz rouca despertava em Sam os sentimentos mais afetuosos, daqueles de sua própria vó, quando estava prestes a pôr na mesa uma fornada de rosquinhas para engordá-lo. Sempre tão magro este meu neto, ela dizia ― eles não iriam querer que você se culpasse.

― Eu queria ter salvo pelo menos o Ferdinand, mas nem ele resistiu... e a Kim... eu nem vou poder enterrá-la... – O homem, do qual supôs ser Sebastian, começava a engasgar em um choro, aquele que o precede, no qual a garganta torna-se áspera, e a sensação só lhe deixa quando as primeiras lágrimas caem.

― Meu filho, este jovem aqui foi salvo graças a vocês. Os garotos morreram como orgulhosos heróis – a velhinha tirou uma compressa fria da testa de Sam, já quente, para molhar em água e coloca-la novamente

― Eu acho que este garoto me salvou. Se o Grigori não tivesse entrado nele e ficado por lá... o Erik é poderoso, mas não sabia que o seu filho iria conseguir suprimir o Anjo.

Sam sentiu um toque rugoso em seu rosto, numa carícia.

― Ainda está febril. Dos jovens nobres que o Reino tomou conhecimento, só ele e um outro garoto conseguiram sobreviver.

― Quando vi o garoto, ele parecia não entender o que estava acontecendo. Ele ainda não deve saber de nada.

― Oxalá se isto for verdade. O garotinho terá pesadelos por um bom tempo. Você não vai...

― O garoto ainda está em perigo. Eu terei que fazer algo a respeito...

― O relatório. Você não pode sair de Gehenna por agora, senão a deserção, meu filho, seria o que lhe aconteceria.

― Mas a Aeon tem que protege-lo...

― Prometa-me – Se Sam pudesse arriscar uma situação para a velhinha e o homem, imaginaria ela com uma colher de pau, naquele jeito ameaçador do qual os meninos atentados, cabisbaixos, juravam não fazer algo perigoso novamente, como subir em uma árvore.

― Tudo bem, eu prometo.

Acordou na floresta em que inicialmente tudo acontecera, mas não próximo a cabana, onde presenciara aquela batalha sangrenta. Encontrava-se no exato declive em que caíra após a sua busca insana pelas vozes femininas. Na lua cheia, percebera que havia sangue seco em alguns pontos de seu corpo, mas não havia nada de perfuração em sua coxa, ou machucado profundo em sua cabeça. A febre também havia desaparecido.

Voltar para sua casa fora mais difícil do que imaginava. Se guiar na floresta naquela noite era algo que nem experientes escoteiros se daria o luxo. Depois de um tempo, conseguira encontrar sua bicicleta, a interestadual que cortava a floresta ao meio e, seguindo ela, voltar para a civilização.

Em seu bairro, somente as luzes alaranjadas dos postes públicos estavam ligadas. Provavelmente, era muito tarde, e a maioria das pessoas deveria estar dormindo. Como Sam sentia saudade de seu travesseiro.

A casa em que morava, porém, era a única do quarteirão que estava com luzes ligadas. As janelas estavam fechadas. Por suas vidraças, percebia-se flashes causados pela televisão ligada na sala.

Sua irmã estava lá, em um estado nada glamoroso, o esperando enquanto assistia Discovery Channel, mais especificamente um programa em que corajosos homens desbravam o mundo andando em suas bicicletas. Sam se divertiu um pouco com a preocupação de Sara, discutindo com ela sobre a hipotética chance de ele ser um dos integrantes do “Clube da Luta” – hipotético pois a primeira regra era não falar do clube, e a segunda era não falar do clube. Em uma hora ou outra ela cedeu o espaço para que o segredo de Sam continuasse guardado até decidir conta-lo, esperando que na verdade algo bom havia acontecido na vida de seu irmãozinho, como ter saído num encontro com uma garota, ou ter passeado com seus amigos, coisa rara se considerar que seu irmão passava o dia todo trancafiado em casa, jogando no computador.

Embora a pequena recepção tenha sido divertida, a noite, porém, não fora nada boa. Dormiu tendo pesadelos daquela batalha, da sensação de inutilidade por não poder fugir ou sequer lutar. Quando acordava suado, demorava um bom tempo para voltar a dormir. Aquilo foi real, eu sei disto.

Uma semana depois, não havia nenhuma notícia sobre Sharon e o grupo desaparecido na floresta Walpe, ou sobre os assassinatos que Sam presenciou, sequer foram comentados. As divulgações de recompensa para quem tivesse informações rarearam até pararem por completo. Tudo voltava a ser como antes. Menos Sam.

As turmas na universidade foram avisadas pela coordenadora do curso que uma das professoras, a Stella, iria se despedir, pois iria se transferir para uma faculdade em outra região do país. Como era uma professora querida, todos as salas do bloco de Direito organizaram uma festa de despedida na casa desta professora, que ocorreria no Sábado à noite, e, desde já, começaram a arrecadar fundos.

Sam, no entanto, estava com seus devaneios em outro lugar, pensando ainda numa explicação lógica para as loucuras daquela tarde e noite de segunda-feira. Esquizofrenia, foi o que ele imaginou. Encaminhara-se à biblioteca, para pesquisar algo sobre o assunto. Com o tempo, acabou não resistindo e pesquisou sobre sombras noturnas, coelhos negros mitologia, Grigori e Gehenna. Enquanto lia, fora abordado por Gabriel, o presidente do clube de Xadrez. Era um garoto meio gordo, o suficiente para ter “papa de anjo”, e também para fazer de seu rosto algo tão fofo quanto o de um bebê gigante. Parecia extremamente assustado e ansioso.

― Sam, temos uma enorme emergência e acho que você é o único que pode nos salvar da catástrofe!

Sam estava no meio do artigo na Wikipédia e estava começando a encontrar uma boa explicação. Porém, sentiu-se na responsabilidade de entender o que se estava passando.

― Érr... O que que há, velhinho?

― O que é isso... Gri-go-ri? Por que está lendo? É de um Anime?

Ótima desculpa.

― Por aí. Mas agora me explique o que está acontecendo.

― Venha comigo.

Seguiu Gabriel até a sala em que o clube de xadrez se reunia após as aulas, todas as quartas. Uma partida de xadrez estava ocorrendo entre a garota de blusa vermelha (agora isso é mero critério associativo. Hoje ela estava de calça jeans e com o uniforme azul do curso de Direito) e o segundo melhor do clube de xadrez da universidade, Alexander. Embora o nome fosse forte, era um moreno que tinha 1,92 cm de altura e mais parecia um cabo de vassoura. A conversa entre os dois, durante o jogo, era uma das mais bregas que Sam ouvira em toda sua vida.

― Minha Khalaesi, meu sol e estrelas – suspirava, romântico ― protegida por meu khal marcha para Valíria ― moveu sua rainha

― Jon Snow move-se para a torre, esperando encontrar sua amada Daenerys ― A garota moveu o rei para próximo da torre

Sam olhou para Gabriel, procurando uma resposta viável para aquela cena. Um pouco mais da metade dos integrantes do clube observavam, tensos, aquela lendária batalha para ver quem se sairia melhor. E não somente eles, como também um garoto com uma câmera de mão filmando a partida, e uma garota fazendo anotações. Pareciam ser do curso de jornalismo.

― Érr... ― Gabriel coçou sua nuca ― Ela, a Alison, falou para o povo do jornalismo que iria está participando de todos os clubes possíveis, tentando ser a melhor deles. Ontem conseguiu superar todos no vôlei feminino e misto, e também na natação. Hoje o dia é de xadrez, e basquetebol mais tarde. Então... aí está

― Quer dizer que ela ganhou de todos vocês... inclusive de você?!?

― Ela é irresistível com essa... voz, e esse olhar... ― a expressão dele lembrava bonecos kawaii ― vê? Ela não está somente jogando xadrez, ela tá... roubando.

― Como assim, roubando? Aliás, porque hoje está tendo a competição? Era para ser semana que vem.

― Ela... meio que nos forçou a isto. Daí criou um jogo em cima do jogo, tipo, comigo, ao mesmo tempo que jogávamos xadrez, ela criou a regra que, cada vez que uma peça grande (rainha, bispos, torres e cavalos) fossem mortos por mim, eu recebia um beijo dela na minha bochecha, e vice-versa... isto é... é... roubo.

― Isto não lhe impediu de jogar o jogo dela, não é?

Gabriel envergonhou-se, provocando um leve rubor naquelas bochechas gorduchas.

― Agora ela está jogando uma espécie de “RPG”, criando uma história de amor baseada em Game of Thrones enquanto move as peças de xadrez. Isto novamente é roubo.

Sam ainda não se sentia convencido. Alguma coisa de errada estava acontecendo ali.

― Só isto foi o suficiente para vocês perder?

― Bem...vamos dizer que ela, meio que brincando, disse que quem ganhasse dela iria poder... ir para um encontro com ela...

Agora está começando a fazer sentido. Isto aumenta a pressão dos garotos.

― Acho que foi por isso que até agora a que ficou mais perto de vencer a tal Alison foi a Katt – supôs Gabriel

Isso seria ótimo se ela não fosse a antepenúltima do nosso rank de xadrez. Pena que seja a única menina do clube.

― Xeque-mate, ó, meu príncipe. Infelizmente o destino não nos uniu como o esperado – Alison atuava bem como uma garota apaixonada, Sam tinha que admitir

― Essa última jogada foi “diva”, Alison – disse o câmera-man

Gabriel estava depositando todas suas fichas em Sam.

― Agora é sua vez, cara. Eu não te chamaria se não acreditasse... na sua capacidade. Você sabe disso, não é?

Se isto realmente ajudasse.

Se sentou à frente de Alison, ficando com o lado de peças negras. Organizaram as peças em seus devidos lugares para começar uma nova partida.

― Se não é o garoto da aula de filosofia – Alison recordou-se – não sabia que você era o primeiro do clube de xadrez.

Tinha que rebater a provocação velada.

― Não vejo o seu guarda-costas por aqui... o que aconteceu com ele? Ficou mais interessado naquele cubo mágico?

― Ah, eu não deixava! – a Katt, provavelmente querendo uma vingança por sua derrota, provocou, criando uma onda de múrmuros e discursões entre a pequena plateia.

Sam se referia ao dia anterior, no qual o Tom, o musculoso do “clube do bolinha”, andava praticamente grudado com a Alison. Ultimamente, estava concentrando seus esforços no cubo mágico, aprendendo regras para fazer com que, rapidamente, deixasse todos os lados da mesma cor. No dia anterior, ensinava a Alison tais regras, embora Sam desconfiasse das reais intenções de Tom.

― Está com ciúmes, tigrão?

― Toma essa, seu bossal – o câmera-man complementou com sua voz anasalada, criando mais discursões na plateia

― Você é peça branca. Comece.

― Como já deve ter percebido, estou jogando outro jogo ao mesmo tempo que disputamos xadrez. Que tal “Verdade ou Desafio” a cada cinco movimentos?

― Tanto faz.

Ambos os jogos começaram. Como em todo o jogo de “Verdade ou Desafio”, todas as escolhas geralmente são “Verdade”, e as perguntas dos dois variavam de leves, como “qual foi o momento mais desafiador de sua vida?”, até algumas mais constrangedoras, como “qual menina você gosta na sua sala?”. Perto do fim, considerando o quanto de peças já haviam sido capturadas, percebia-se uma pequena desvantagem de Alison. Isto fez ela se aproveitar divinamente do “outro jogo”.

― Verdade ou Desafio, tigrão?

― Verdade, óbvio.

― Você é virgem?

Aquilo provavelmente desequilibraria Alexander e Gabriel, na verdade, foi surpresa até para Sam. A primeira coisa que veio em sua cabeça foi um simples “não”, porém, quando jogava xadrez, ou qualquer outro tipo de jogo, Sam sentia liberdade para ser “ele mesmo”, alguém mais confiante. Era praticamente outra pessoa. Então não se estranha a resposta ter saído deste jeito:

― Se quer saber a verdade, é só me chamar para ir em sua casa.

“Óoohhh”, a plateia vibrou. Mais murmúrios e conversas paralelas.

Sam não aproveitava nenhuma das “Verdade ou Desafio”, até mesmo porque não conhecia o mínimo da garota, e nem estava interessado em fazer perguntas constrangedoras. Próximo ao fim, mais um “Verdade” foi dito por Sam, e Alison fez mais uma pergunta.

― Porque você deixou os garotos te tratarem daquela forma, naquele dia?

Sua estratégia é ótima, tenho que admitir. Você não é boa no xadrez, isto é fato, mas com certeza é boa em manipulação. Sam observou e, sem problemas algum, respondeu.

Sam não tinha uma resposta boa o suficiente, mas tinha uma lembrança que chegava próximo. No ensino médio tinha um garoto, do tipo daqueles que incomodam quando podem. Ele não era um cara “mal” como nos filmes de bangue bangue, somente seguia os modelos tradicionais dos valentões e aproveitava as carcaças que estes deixavam. Porém ele era meio ruim para pegar as coisas, e fazia várias perguntas. Numa conversa de sala, ele perguntou algo sobre o clima, e Sam amigavelmente respondeu. Ele disse “não perguntei para você, seu escroto”. Naquele mesmo dia um dos amigos de Sam disse algo do tipo “você não pode deixar deste jeito, tem que revidar”. E foi o que ele fez. Quando o garoto fez uma pergunta para a professora, da qual Sam sabia a resposta, respondeu rapidamente a ele, porque ele mesmo queria fazer uma pergunta. Disse que queria ouvir “da professora, dá licença”. E foi quando Sam rebateu o chamando de “Ser inferior”.

Ele levantou-se da cadeira, foi até onde Sam estava sentado e disse “você pode repetir? O que você disse mesmo? ”. E lá foi ele repetindo “ser inferior”. Foi quando o garoto deu um murro na cara de Sam que, de tão irado que estava, não sentiu. Levantou-se chutando a coxa dele. Quando ele levantou e olhou para a cara do garoto com aquele tanto de ódio segurado, ele se encolheu, com medo de partir para cima. Naquela encarada, a professora mandou os dois para a diretoria, para se explicar.

No momento em que Sam partiu para atacar o garoto, ou quando o chamou de “Ser inferior” ele se sentiu bem. E não só bem, como também sendo ele mesmo. E por isso nunca rebateu mais um valentão ou um projeto disto. Porque não queria sentir aquela mesma sensação. Ela o lembrava de alguém de muito tempo atrás.

Devido a plateia, Sam limitou-se a responder:

— Eles são grandes, sabia?

Gargalhadas surgiram da plateia, e Alison teve que se satisfazer com esta pequena resposta.

― Verdade ou desafio? – Desta vez, fora a vez de Sam perguntar, completamente desinteressado

― Desafio – Alison respondeu, com malícia

Sua última jogada, ao que parece. Sam riu. Moveu a torre e pronunciou a palavra final.

― Xeque-mate.

A plateia entrou em alvoroço. Seus companheiros levantaram Sam da cadeira em que se encontrava e pularam, assemelhando-se a comemoração de um time de futebol quando levantava a taça. O câmera-man estava decepcionado, mas a garota das anotações parecia estar animada com a posterior reportagem no jornal da universidade que ela escreveria.

Sam, porém, tinha ganho não somente a partida, como também outras duas coisas, e não se esquecera disto.

― Parece que ainda tenho que responder a um desafio e tenho um encontro na conta.

― É, parece que você tem, tigrão – Alison sorria, embora a derrota e a consequente quebra de sequência de vitórias

― Ok, então eu te desafio a beijar o Gabriel e você sairá no encontro com o Alexander.

Gerações que virão no clube de xadrez se lembrará deste dia, Sam estava se sentindo o máximo.

― Cara, eu sou ateu mas agora você se tornou meu novo Deus – disse Gabriel – se precisar de ajuda em qualquer coisa... eu sou seu escravo, depois dessa.

― Fica tranquila, gatinha. Você é sortuda por sair com o “gostosão” aqui – apresentou-se para o serviço Alexander

Sam não ficou para descobrir qual seria o desenrolar daquele grande evento. Somente foi parado na porta da saída quando Alison perguntou alto o suficiente para se ouvir entre as vozes da pequena multidão.

― Você vai para a festa de despedida da professora? – Alison se aproximou

― Não s...

― Te espero lá, tigrão – voltou para o “olho do furacão”

Sam recusara porque estava com medo do beijo não ser legal, e também por acreditar que um provável encontro seria um fiasco. Mas, de certa forma, saiu se fazendo de difícil, então não era de todo ruim. Devia ser só brincadeira dela para assustar os garotos. Se eu cobrar dela e ela negar, vou ficar parecendo um 'looser'. Gabriel e Alexander também não vão cobrar com afinco um beijo dela, muito menos o encontro...

Como naqueles filmes de dança, onde a mulher se deita nos braços do homem no ato final e dali sai um beijo, fora o que aconteceu entre Gabriel e Alison, a não ser que esta última fazia papel do homem, mas isto só deixou aquilo mais interessante.

Merda, foi o derradeiro pensamento de Sam sobre a veracidade das propostas de Alison.

Nos dias seguintes, os boatos de que Sam ganhara de Alison e que ao mesmo tempo dispensou o encontro, correram por todo o seu curso e até para outros da universidade, devido ao jornal. A popularidade temporária o animou bastante. As pessoas de sua sala tentavam se aproximar, praticamente exigindo para ele ir a despedida da professora. Ele seria bem-vindo lá, talvez até mesmo o centro das atenções. Os valentões de sua sala o chamavam de “pegador” em tom de zombaria, mas Sam tentava demonstrar que não se importava. Michael também divertiu-se com a ideia, e, embora não tivesse gostado da atitude de seu amigo, acreditava ser uma situação que ainda tinha salvação. Para isto, arrumou inclusive um substituto para o seu trabalho de fiscal na noite de Sábado, para ir a festa de despedida da professora Stella e ajuda-lo a reconquistar a garota, colocando ainda mais pressão sobre Sam.

Estava até disposto a ir na festa tentar conquistar Alison e conversar com as pessoas – ambas impressionantes, em seu caso – se na noite de sua vitória, uma carta não tivesse chegado ao seu conhecimento. Mas lá estava ela. Era de Sebastian, e nela estava escrito algo como uma carta de recomendação. Dizia algo mais ou menos assim:

Família Lancaster.

Samuel Lancaster, filho de Erik Lancaster, passara no teste de potencial psicológico e espiritual.

Compareça sábado, às 20:00, no Espaço Lockwere.

Aprovado por:

Abaixo, havia uma assinatura de Sebastian e, ao lado, tinha um selo daqueles antigos, da era medieval, em que se carimbava acima de uma argila vermelha, embora aquela fosse da cor de carvão. O símbolo ali posto se assemelhava a um coelho.

Junto, havia outra carta escrita à mão, também de Sebastian:

Você deve estar confuso. Nem sei por onde começar. Faz tempo que você não vê seu pai, não é? Onze anos, talvez. Você tinha cara de quinze anos quando te vi naquele dia, na floresta, talvez tivesse até dezoito, quem sabe, então... bem, o pai nobre, pelas regras da Aeon, é obrigado a deixar um filho nobre de “sangue vermelho”, como vocês preconceituosamente são chamados. Poderia me delongar sobre isto, mas o que lhe importa é entender o que está acontecendo, não é?

Alguém te enviou o relógio cedo demais. O que você tem no braço é como se fosse um chamariz para o Reino quando você o utiliza sem saber ainda como conter sua presença. Não sabemos que traidor dentro da Aeon enviou os relógios para você e aos demais jovens Nobres, mas, com certeza, estava associado ao Reino, e tinha como objetivo fazer as mais variadas famílias recuarem em uma missão na Rússia para poder então proteger vocês. É de essencial importância esta missão, e seu pai, Erik Lancaster, dado seu poder, não poderia se dar ao luxo de te proteger do Grigori. Por isso, equipes próximas das localizações destes familiares foram enviadas para protege-los.

Infelizmente, eu e os jovens que você viu serem massacrados... éramos a equipe mais próxima de sua localização.

Não faço a mínima ideia de como ele deve ter lhe atraído para a floresta – local em que é mais fácil de se esconder e não chamar muita atenção – um amigo próximo foi raptado? Um e-mail de um conhecido chamando você para encontra-lo na floresta? Desaparecimento de conhecidos? Aproveitou do conhecimento de seu Daemon e o forçou a aparecer, lhe deixando confuso?

Se viu algo de noite... vultos ou objetos caindo, não se preocupe. Sua família é a Lancaster, e seu Daemon, chamado comumente de anjo-da-guarda, embora de anjo não tenha nada, se aparenta a um coelho quando aparece para você na maior parte do dia. Quando aparece, é porque existe um perigo próximo a você, como sentir a essência angelical dentro de um integrante do Reino. Da meia-noite até antes da Aurora, ele se transforma em um demônio humanoide que lhe protege. Esta é uma das grandes vantagens de ser nobre, acredite em mim.

A recomendação que te enviei é importante. Vá neste local, não falte. Coisas piores do que ocorreu naquela floresta podem acontecer não só com você, como também com o restante de sua família, isto se você continuar a ser um humano comum. Tudo se esclarecerá, mas para começar, tem que ir neste local.

PS: Seu pai pediu para lhe dizer “O que você vai ser quando crescer?”. Disse que você entenderia.

Seu pai o havia abandonado aos sete anos, mas, diferente dos pais comuns, ele não disse “venho te visitar, garoto” ou qualquer coisa do gênero. Ele deixou Sam com um desafio. “Se quiser me ver outra vez, me encontre”, como se a partir daquele dia os dois não tivessem se separado, mas sim iniciado uma longa brincadeira de esconde-esconde. Tentou, mas Sam não conseguiu ficar com raiva do cara por muito tempo. Ainda se lembrava da resposta para aquela questão.

Vestiu uma camisa social preta naquela noite de sábado.

Pegou o táxi, e a pergunta era evidente.

― Onde você quer que eu te leve, senhor? – perguntou o motorista

Eu quero ser o homem da casa! Você pode fazer de tudo, papai. Também quero fazer. A resposta lhe dava uma triste nostalgia.

― Espaço Lockwere, por favor.


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Notas finais do capítulo

Samuel... esse menino vai longe XD

Bem, espero que tenham gostado. Espero vocês no próximo capítulo. Inté a próxima, pessoal ;)