P.O.V. Zeke

–Já vamos pousar - disse Remo – coloquem os cintos!

Eu quase tinha esquecido que estávamos em um carro voador. O carro inclinou bruscamente para frente, indo quase verticalmente na direção do chão. Rapidamente coloquei o cinto. Percy e Ted fizeram o mesmo. Pelo vidro dianteiro do carro eu vi a cidade, lá embaixo. Estávamos descendo em uma velocidade assustadora.

– Aaaaaaaaaaaaaaaaaahhhh! – gritamos.

–Ian! Ative a invisibilidade! - ordenou Remo, tentando gritar por cima do nosso grito.

Ian abriu um painel e apertou um botão azul. Eu não percebi nenhuma diferença, mas acho que, por fora, o carro voador estava invisível. O carro alcançou a altura dos prédios e passou a voar paralelamente ao chão. Paramos de gritar.

– Uou! Devíamos fazer isso mais vezes! – sugeriu Ted.

Remo encontrou uma rua vazia e pousou o carro. Ian apertou o botão azul novamente. O bruxo continuou dirigindo normalmente até chegar a um hotel. Ele entrou em um estacionamento e saímos do carro.

Olhei em volta. Estamos em um hotel 5 estrelas chamado Kubitschek Plaza Hotel. Remo foi falar com a recepcionista, enquanto Ian nos guiava até o elevador. O bruxo dissera pra encontrar o quarto 17 no terceiro andar. Ao chegar ao andar, fui o primeiro a avistar o número 17 em uma das portas. Dirigi-me a até lá.

Aconteceu tudo muito rápido. Em um segundo eu estava erguendo a mão para bater na porta, no outro, a porta estava escancarada e eu estava sendo prensado contra a parede por uma garota ruiva. Seus olhos verdes estavam brilhando, usava calça jeans suja de tinta e uma camiseta branca. Não pude deixar de notar a fumaça verde que saía de sua boca. Bonita e assustadora.

Uma névoa verde envolvia Rachel Elizabeth Dare. A garota falou com uma voz que, definitivamente, não era dela:

“Tudo começou com uma descoberta;
Logo os outros seguiram pela mesma reta.
Chegaram sem saber como voltar;
Com a segunda chance, a chave aparecerá.
O herói e o vilão não planejados;
Ambos carregam dois grandes fardos.
A luta entre os que saíram do papel;
Terminará no lugar onde a terra toca o céu”

Rachel ficou tonta e caiu em cima de mim. Eu a segurei passando um braço em volta de sua cintura. Ted estava muito surpreso, assim como Ian. Percy me ajudou a carregar Rachel para dentro do quarto. Colocamos ela sentada em cima da cama.

– Ted! Pegue uma toalha molhada no banheiro! – pedi.

Ted se direcionou para o banheiro e voltou com uma toalha. Peguei-a de sua mão e passei pela testa suada de Rachel. Ela abriu os olhos lentamente, enquanto Percy foi buscar uma garrafa de água no freezer. Rachel olhou para os lados e me encarou.

– Já estou melhor – ela ergueu sua mão até a testa, onde eu ainda passava a toalha. Ela tocou minha mão, sua pele estava muito quente, mas tinha começado a esfriar. Tirei minha mão rapidamente. Rachel pegou a toalha colocou-a em outro canto. Ela olhou para Percy e abriu um sorriso – Percy! Você está bem!

Percy sorriu de volta. Rachel se levantou e deu um forte abraço nele. Eles se separaram e ela olhou para mim, de cima a baixo, depois olhou para Ted e voltou o olhar para mim. Acho que fiquei um pouco vermelho, pois logo ela desviou o olhar e olhou para Ian.

– Tem certeza que são eles? – perguntou ela – eu não sabia que seriam dois.

– Bem, eles estavam com a mesma descrição que você disse – respondeu Ian – Eles estavam com Percy e foram atacados por Dementadores.

– Você ficou sabendo de tudo isso pelo espírito de Delfos? – perguntou Ted.

– O oráculo está me ajudando muito nesses últimos dias – respondeu ela – sem ele, eu não teria encontrado Remo, Ian, nem mesmo vocês!

– Mas... Por que vocês precisam de nós? – perguntei a ela.

Rachel olhou para Ian e depois voltou sua atenção a mim.

– Temos dois motivos. Primeiro: precisamos de alguém que conhece os livros e já os tenha lido. Segundo: de algum jeito, vocês são especiais, o oráculo não me mostrou a aparência de quem deveríamos buscar, mas me deu uma pequena descrição do lugar e do que estaria acontecendo. Assim, Remo e Ian foram para Salvador e os encontrou – ela explicou.

– Não temos nada de especial – falei.

– Isso é o que veremos – disse Rachel.

– Ei! Não podemos esquecer que Rachel acabou de fazer uma profecia – disse Percy, fazendo todos olharem para ele – seria essa uma Grande Profecia ou uma profecia mais simples?

–Que profecia? - perguntou Remo, que tinha acabado de voltar da recepção.

Rachel contou a ele o que aconteceu e repetiu os versos da profecia. Lupin pensou um pouco e virou-se para Ted.

–Tem alguma teoria? - ele perguntou. Fiquei surpreso ao perceber que ele perguntava ao meu irmão, olhei para Ted para ouvir o que dizia.

Ted pensou um pouco e respondeu:

–Acho que sim.... A primeira frase, provavelmente, está dizendo que alguém, em algum dos livros, encontrou uma passagem para cá, então os outros fizeram o mesmo – concordei com a cabeça, também tinha pensado nisso - o problema é que o jeito de voltar não é o mesmo que usaram para vir, como diz na terceira linha, mas existe uma "chave" que deve abrir a porta para voltar – agora ele estava falando coisas que eu não tinha notado - Uh... Essa parte do "herói e vilão não planejados" me faz perguntar se existe algum plano por parte dos heróis e vilões, mas que existam dois fatores, um do bem outro do mal, que não estão nesses planos – de onde ele tirou isso? Mas até que faz sentido - Quanto ao final, "os que saíram do papel" obviamente são os personagens. Eles vão lutar em tudo o quanto é lado, pois a terra toca o céu em todos os lugares. Então... eu não entendi muito esse final.

Ted estava tão concentrado em formular uma teoria enquanto falava, que nem percebeu que todos o encaravam. Quando percebeu isso, ele corou. Quando percebemos seu desconforto, nós desviamos o olhar, menos Lupin.

– Interessante... Até agora é a melhor pista que temos sobre o que está por vir – comentou Remo.

–Mas... Isso parece não ter nenhuma relação com a 4° Mensagem - falou Rachel para Lupin.

4° Mensagem... Isso me lembrava de alguma coisa, pensei. A mensagem de Percy! Quando o encontramos na praia, Percy inconscientemente disse uma mensagem estranha! Algo sobre ser enviado para nos proteger... Só eu e Ted sabíamos dela, não contamos para mais ninguém.

–Uh... O que vocês querem dizer com 4° Mensagem? – perguntou Ted curiosamente

Lupin e Rachel se encararam por um tempo até Rachel falar:

– Acho melhor explicarmos o resto... – falou Remo – Rachel?

– Ok. – respondeu ela - Bem... Antes de encontrar Remo e Ian, eu esbarrei em Hipnos...

–Hipnos? - interrompi.

–Não me interrompa, por favor - replicou Rachel, encarando ele. Foi a minha vez de corar.

–Continuando... - Rachel também parecia um pouco envergonhada - Eu descobri que Hipnos queria entregar uma mensagem para alguém, mas o deus estava fraco, não tinha os poderes divinos. Ele só conseguia cantar músicas para dormir. Por isso resolvi ajudá-lo com minhas visões. Até que caímos em uma emboscada e então ele foi capturado... Junto com a Mensagem. Mais tarde descobri que a Mensagem era pra vocês, de acordo com minhas visões.

–Você sabe quem capturou ele? - perguntei.

–Foi a nova candidata à presidência do Brasil, todos estão falando dela, mas ninguém a reconhece, a sapa velha ou como vocês a conhecem: Dolores Umbridge.

É nesse tipo de momento que tem alguém bebendo suco de tangerina e cospe na cara de alguém. Só não temos o suco. Não me pergunte da tangerina.

– Uou! Vamos com calma! – disse Ted, surpreso - Como é que ninguém percebeu que uma das candidatas é uma das vilãs mais conhecidas (e odiadas) de Harry Potter? Não sei quantas vezes eu a vi na TV desde uns três dias atrás, quando... – ele parou de falar abruptamente – Ah...

Eu não sei o que mais me surpreendeu: Dolores competindo em um alto cargo no Brasil, ou o fato de nem mesmo eu ter percebido ela nas redes sociais, panfletos ou por conversas.

– Ah... O que? – perguntei, pedindo para Ted explicar.

– A nova candidata surgiu há três dias... Remo disse que também veio para esse mundo há três dias! – explicou – todos os personagens devem ter vindo para cá há três dias! É essa a sua amiga nem tão amigável, Ian? Tão amigável quanto Presidente Snow – Ian deu de ombros - Mesmo assim... Eu ainda não entendi como não percebi que era ela.

Eu também não entendo. Olhei para Remo.

–Um feitiço - respondeu Remo - um feitiço egípcio. Ele faz com que as pessoas não percebem a verdadeira identidade da pessoa enfeitiçada – explicou - Acho que todos os personagens foram marcados com o feitiço. Se um trouxa, ou mortal, encontrar um garoto de olhos verdes, usa óculos e tem uma cicatriz em forma de raio na testa, ele não vai reconhecer Harry Potter. Não logo de cara. Uma parte do cérebro ainda vai reconhecer o garoto, mas talvez como um parente distante ou um famoso. O feitiço se quebra para uma pessoa, quando alguém conta pra ela quem ele realmente é, quando a pessoa é muito fã do personagem ou quando o personagem chama muita atenção – Remo considerou o que ia falar – o feitiço pode funcionar de forma diferente em outras pessoas.

Eu fiquei pensando em quando encontrei Percy na praia. Eu só soube quem ele era quando ele disse seu nome. Também achei estranho quando minha mãe o tratou como se fosse um colega da escola e até tinha se esquecido dele quando foi trabalhar!

– Como sabe de tudo isso? – perguntei.

Lupin hesitou um pouco e ordenou:

– Percy, vire de costas e tire a camisa - Percy hesitou, mas fez o que ele pediu. No centro de suas costas havia uma tatuagem circular com um símbolo estranho dentro - Esse é um dos símbolos de Tot, o deus egípcio da sabedoria. O símbolo está em todos os personagens que eu vi até agora. O resto foi tudo dedução – deu de ombros - Supus que foram esses símbolos que nos ensinaram a falar português.

– Espere. Por que Tot faria isso? – perguntou Ted – E como? Achei que os personagens ainda estivessem fracos para usar magia.

– De algum modo, os egípcios são mais fortes que nós. Não posso dizer que foi Tot que enfeitiçou os vilões também, talvez tenha sido outro deus - respondeu o bruxo – Não sei como, mas acho que eles tiverem algum dedo nessa maluquice toda.

Percy, que não conseguia ver o símbolo em suas costas, tentava tocá-lo com a mão para ver se sentia alguma coisa diferente.

– Esse símbolo tem mais algum tipo de feitiço, além dos que você falou? – perguntou o semideus – E porque português?

– Tot deve saber que Ted e Zeke são brasileiros... – respondeu Remo – quanto à primeira pergunta...

– O símbolo também estava na Mensagem - interrompeu Rachel – não consegui ler o que estava escrito, mas me lembro de ter visto ele. Tot deve ter pedido a Hipnos para entregar o mapa a Ted e Zeke. O mapa deve ser importante - ela pensou um pouco e completou - Nós precisamos invadir a Mansão de Dolores.

Mansão, pensei. Por que não?

– Sim - concordou Remo - E nós vamos até lá depois do meio-dia. Eu só preciso que você compre os materiais que eu pedi – disse ele a Rachel.

– São muitos materiais! Eu não vou conseguir trazer tudo sozinha - Rachel reclamou - Por que você...

Interrompi-a antes que ela completasse a frase.

– Eu vou com você.

Rachel abriu a boca para falar alguma coisa, mas acabou aceitando. Ted olhou para mim com uma cara estranha...

– Tudo bem – Rachel disse - mas você não vai com essa roupa, vai? Pode chamar muita atenção.

Eu e Ted ainda estávamos vestindo os uniformes do Colégio Militar. Ted também deve ter notado isso somente agora.

– Seu cabelo também chama atenção – retruquei - Parece que sua cabeça está em chamas.

– Não exagera - ela revirou os olhos.

– Estou brincando - Zeke sorriu - Seu cabelo é lindo.

Rachel pareceu perplexa com meu comentário.

– Ah... Obrigada - Ela sorriu.

– Essa não é a melhor hora para vocês paquerarem - Lupin repreendeu. Sua expressão era indecifrável - Nós passamos pelo apartamento de Ted e Zeke para pegar algumas roupas. Zeke, troque de roupa e depois acompanhe Rachel. Ian, você vai ficar aqui tentando acessar os códigos de segurança da Mansão de Dolores como te pedi. Percy, tem umas piscinas lá embaixo, se você precisar relaxar um pouco, pode ficar por lá. E, Ted – Remo olhou para ele com atenção - você vai primeiro tomar um banho, depois você pode fazer o que quiser. Só não saia do hotel. Eu vou consertar algumas coisas no carro voador. Eu quero todos vocês neste quarto até as 11:00. Ok?

–Sim, senhor! - respondemos.

–Ótimo. Antes de ir, eu quero que vocês saibam que o nosso foco agora é encontrar a Mensagem. Mas nosso objetivo principal é, por enquanto, encontrar aliados e nos esconder dos inimigos. Já o objetivo dos nossos inimigos é... Nos encontrar.