Ventos do Inverno escrita por Noriko Rokurou


Capítulo 4
Capítulo 4




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Sasuke acordou naquela manhã, e permaneceu deitado mesmo quando o celular parou de tocar o alarme — o que deveria ser preocupante, um sinal de que dez de seus minutos reservados para uma pausa depois do café da manhã já haviam sido desperdiçados, mas, naquele instante, não parecia importar muito. Sua cabeça doía, seus lábios estavam secos, e seus olhos lacrimejavam. Estava inquieto, tendo passado mais uma noite insone, preocupado com as provas que se aproximavam, e também com Naruto — só deus sabia como o idiota conseguia não se preocupar, uma vez que seu último boletim chegara com notas alarmantes. Se fosse honesto consigo mesmo, Sasuke admitiria o desejo de faltar. Sabia que o estresse acumulado das últimas semanas não estava lhe fazendo bem algum e, com sinceridade, faltar uma vez ou outra não faria diferença alguma em seu histórico. Se alguma coisa, forçar-se a ir à escola somente tornaria patéticas suas tentativas de concentrar-se na matéria passada, além, é claro, do risco de o sono finalmente resolver aparecer.

Dormir durante a aula não era uma ideia muito agradável.

Ainda assim. Sasuke suspirou, fechando os olhos com força e afundando o rosto no travesseiro.

O alarme voltou a tocar. E continuou tocando por um longo, longo tempo.

✖✖✖

Sasuke queria, mais que qualquer outra coisa, virar as costas e voltar para casa. Não ajudou em nada a melhorar seu humor quando Naruto — parecendo algo entre extremamente entediado e um pouco preocupado —, notando sua aproximação silenciosa, dirigiu-lhe um daqueles sorrisos brilhantes altamente perigosos aos olhos mais sensíveis, gritando tão alto que até o diretor, em seu escritório estrategicamente posicionado longe das salas de aula, provavelmente ouvira.

— Teme!

Uchiha lhe devolveu seu melhor olhar de “não enche”, e sentou-se em seu lugar de costume. Resistiu bravamente ao impulso de pressionar as têmporas com as pontas dos dedos, mas os costumes vinham tomando a melhor sobre ele nos últimos dias, e por isso não foi capaz de impedir a si mesmo. Havia uma pequena parte de sua mente — cuja existência ele negaria até a morte — que se sentia um tanto quanto culpada por cortar a animação de seu melhor amigo de maneira tão indiferente, mas Sasuke sabia que Naruto entenderia — ele sempre entendia —, logo, a maior parte de sua mente estava ocupada com outras coisas.

Sasuke apoiou os braços na mesa, esperando que a sensação de ser observado passasse. Não era incomum Naruto acabar chamando a atenção de um ou outro curioso, com toda sua indiscrição e barulho. Além disso… Não estava atrasado, mas também não chegara cedo como de costume. Isso era o suficiente para levantar algumas fofocas antes mesmo do início das aulas, porque Uchiha Sasuke nunca faltava. A sala, entretanto, estava até um pouco vazia, então, ao menos por hora, ele podia ter paz.

Ainda tenso, mas um tanto quanto relaxado, Sasuke vagou os olhos pelos colegas de classe já presentes. Sakura — com os cabelos surpreendentemente curtos, e o cenho franzido, concentrada no livro de Biologia à sua frente. Rock Lee¹ — com as mesma aparência estranha de sempre, e o olhar de romântico sonhador preso na Haruno. Shikamaru — dormindo numa das últimas carteiras. Alguns outros que ele nunca se dera o trabalho de guardar o nome.

Hinata.

Por um momento, Sasuke permitiu-se esquecer da boa educação, e encarou a garota. Já não era mais a menina desajeitada de antes. Deixara de ser há algum tempo, já. Continuava tímida, mas aumentava seu círculo de amizades tentativamente. Como uma criança testando seus limites, sorria com suavidade a todos os outros alunos; ainda que se mantivesse sempre reservada e um tanto quanto distante, jamais era desrespeitosa, com ninguém.

Sasuke gostava disso nela. Sabia que era preocupante, mas, ainda assim — o modo como Hinata sempre se mantinha forte por fora, sem nunca permitir que outras pessoas a vissem fraquejar, não era nada se não impressionante. Nenhum problema parecia atingi-la. Nada parecia atingi-la.

Sasuke também gostava disso nela. Por muito tempo — mais tempo do que gostaria de admitir —, foi algo que o incomodou, o irritou. Mas o fato de que ela sempre estava — sempre estivera, provavelmente sempre estaria — fora de seu alcance sempre atiçara sua curiosidade. Seu interesse. Hinata era para ele como as estrelas são no céu: tão belas, tão distantes. Não importa o quanto tente, você jamais será capaz de tocá-las. Não importa o quanto queira, deseje, sonhe.

E havia também o fato de que ela era apaixonada por Naruto. Desde sempre, aparentemente. Quando se deu ao trabalho de procurar pelos detalhes, Sasuke percebeu que eles estiveram ali o tempo todo². O rubor escarlate nas bochechas toda vez que Naruto lhe sorria. O modo como mordia o lábio inferior, pensativa, sempre cuidadosa demais com as palavras, como quem anda em território desconhecido e perigoso — ela ponderava as coisas que dizia, e também aquelas que preferia omitir. Hinata encarava discretamente seu melhor amigo toda vez que não parecia haver ninguém olhando; e não o jeito stalker de observar alguém, e sim o jeito hesitante, como quem tem medo de ser pego em flagrante e mal interpretado.

Ela se importava demais. Prestava atenção em cada uma das palavras de Naruto — das mais sérias, até as mais estúpidas. Ria de suas piadas sem graça, e não por educação, e sim por estar se divertindo. Até mesmo torcera pelo loiro em sua — falha — tentativa de entrar para o time de basquete da escola, e para uma pessoa tímida, isso era algo e tanto!

Hinata era a adorável figura da garota apaixonada dos filmes. Era a garota perfeita. E ele realmente não deveria se importar, intrometer, mas não conseguia evitar.

Sasuke desviou os olhos, sentindo-se corar de leve, e desejou que Naruto não tivesse percebido seu momentâneo lapso.

Algo na postura do Uzumaki, entretanto, mudou. Seu sorriso continuava cuidadosamente estampado no rosto, mas seus olhos agora estavam presos à figura do Uchiha; astutos e curiosos. Ele podia, sim, ser completamente alheio à algumas coisas — em especial quando relacionadas à ele —, mas não era um idiota. Hora mais, hora menos, acabaria chegando à alguma conclusão; então, eles teriam que conversar — uma conversa nada animadora —, e Sasuke teria que lhe garantir que, sim, estava tudo bem, não, ele não precisava se preocupar e, é, não havia a menor necessidade de falar com Itachi. Quanto menos alvoroço, melhor.

Naruto não era conhecido por ser uma pessoa que evitava alvoroços.

Sasuke afundou o rosto nos braços, e suspirou.

Tch. Talvez vir tivesse realmente sido uma má ideia, afinal.


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Notas finais do capítulo

¹ele continua sendo um ano mais velho
²isso foi uma citação não intencional de Pitty (oi? 'LOL)

Pois é, gafanhotos, esse segundo ano é beem arrastado. Não teve nenhum evento "marcante", assim por dizer, porque grande parte das mudanças que ocorreram nele não afetaram diretamente o desenvolvimento do Sasuke como personagem. Como estou escrevendo a história mais centrada nele, isso me limita a certos tipos de situações quando se trata de falar dos outros personagens :B

Enfim. Agradecimentos à Reeh Tetsuya e à Karol chan por terem comentado no último capítulo! :D
Espero que tenham gostado, e até outro dia! :)



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