Era uma noite fria na Soul Society. O inverno tinha realmente chegado com toda a força, deixando os dias cinzentos. Mas pensando bem, era uma ótima desculpa para se aconchegar em algum lugar quente, tranquilo, para apenas relaxar, descansando corpo e mente. E era exatamente assim que Kuchiki Byakuya se encontrava no momento.

Estava sentado confortavelmente em uma das poltronas, sem perder a postura. Tinha um livro de capa vermelha nas mãos, no qual infelizmente apenas passava os olhos sobre as páginas. Sua cabeça estava longe, muito além da fantasia que os livros poderiam lhe proporcionar. Uma lembrança era muito mais forte do que algo imaginado. E Byakuya tinha acabado de constatar isso.

Já fazia algum tempo desde que acontecera. Ou melhor dizendo, era um fato recente. E é claro, não seria esquecido tão facilmente como um assunto alheio. Qualquer um ficaria meio desnorteado, como o Kuchiki parecia naquele momento. Afinal não era todo dia que seu tenente simplesmente lhe dizia que o amava, seguido de um beijo. Um beijo como não recebia a muito tempo. Intenso demais para deixar qualquer ser meio confuso, na opinião de Byakuya.

E como permitiu esse beijo acontecesse novamente, era um mistério. E aquela sensação que o rodeava, tão dominadora, que não deixava que o Kuchiki pensasse direito quando o ruivo se aproximava daquela forma. E mais estranho que isso era a forma como ficou paralisado e submisso, enquanto Renji envolvia. Tantas pontas soltas sem nenhuma resposta concreta e a mente numa confusão só. Esse era o atual estado mental de Byakuya.

Voltou a si, deixando o monólogo interior. Suspirou profundamente aliviando o descontentamento com tudo isso. Fechou os olhos e apoiou as duas mãos na testa, massageando as têmporas devagar. Estava pensando demais esse assunto outra vez! Por que não conseguia simplesmente esquecer? Tinha que tirar isso da cabeça.

– O senhor está bem, Nii-Sama? - Rukia parou o que estava fazendo ao observá-lo tocar a testa com a mão. - Quer que eu desligue o som?

Estava ali sentada numa mesinha mais atrás com alguns livros e papeis, onde fazia anotações de vez em quando. Seria bom estar ali com irmão, mesmo que não falassem nada. Pelo menos estavam na companhia um do outro. Ligara o aparelho de som num volume audível, com musicas bem suaves e calmas, para quebrar o silencio e inspirá-la no que fazia.

– Não se preocupe, estou bem. - Byakuya respondeu ainda com os olhos fechados.

Depois de alguns segundos ele abriu os olhos e sacudiu a cabeça tentando espantar aqueles pensamentos. Se ajeitou melhor na poltrona, voltando sua atenção para o livro. Mas isso estava se tornando uma tarefa cada vez mais difícil.

Encarou Rukia rapidamente, observando a leve agitação em que ela se encontrava,vasculhando a mesa a procura de algo. Sem sucesso ela se levantou e saiu. Byakuya derramou mais um suspiro. Uma nova musica começou, enquanto ele tentava se concentrar nas páginas dos livros.

Você é a luz, você é a noite
Você é a cor do meu sangue
Você é cura, você é a dor
Você é a única coisa que quero tocar
Eu nunca soube que poderia significar tanto, tanto

A atenção de Byakuya foi totalmente desviada em direção ao aparelho de onde a musica continuava a tocar. Deu um pouco mais de atenção a cada frase que era dita, apurando os ouvidos.

Você é o medo, eu não ligo
Porque nunca estive tão fora de mim
Me siga até a escuridão
Me deixe te levar além dos nossos limites
Você pode ver o mundo que trouxe à vida, à vida

Sentiu um leve tremor por dentro, e ficou intrigado. Era impressão de Byakuya ou estava identificando a situação e o que sentiu, em todas as vezes em que os lábios do ruivo tocaram os seus com cada estrofe da canção?

Então me ame como você ama, me ame como você ama
Me ame como você ama, me ame como você ama
Me toque como você toca, me toque como você me toca
O que está esperando?

Aquilo soou como um sacolejo forte em sua mente. Como luzes de neon querendo chamar a sua atenção. Byakuya se deixou dominar por um momento pelo que estava sentindo ao ver tudo definido de forma simples naquela canção. Sem mais delongas não pensou duas vezes em levantar e se dirigir rapidamente ao quarto, trocando as roupas de dormir por outra qualquer.

Aparecendo, desaparecendo
À beira do paraíso
Cada pedaço da sua pele é um santo mapa que tenho que encontrar
Só você pode acender meu coração

Se pôs do lado de fora sorrateiramente, observando a lua por um instante, como se ela o encorajasse a continuar o que estava prestes a fazer. Usou o shunpo para se guiar rapidamente pelas ruas estreitas do Seireitei. Seu coração palpitava a cada passo, decindo acelerar o máximo que podia até chegar ao seu destino: a uma ruazinha calma, ao Oeste.

Sim, vou te deixar determinar o ritmo
Porque não estou pensando direito
Minha cabeça está girando, não consigo mais ver com clareza
O que está esperando?

Parou em frente a porta de uma casinha simples, respirando fundo. Tinha quase certeza que podia ouvir as batidas do seu coração. Aquela loucura não tinha mais volta, era agora ou nunca, estava decidido. Então tomou um ar e se enchendo de confiança e coragem bateu a porta. Iria acabar de vez com aquela ânsia que estava quase dominando-o.

Se ouviu alguns passos se aproximarem da porta, e alguns segundos depois ela foi aberta. De um lado estava um Byakuya nervoso, cheio de tensão e do outro um ruivo completamente surpreso.

– Taichou?! - ele se afastou dando passagem para o moreno. - Entre. - Byakuya entrou na pequena sala a passos largos, parecendo levemente ofegante. - O que o senh...

Me ame como você ama, me ame como você ama
Me ame como você ama, me ame como você ama

Renji não teve tempo de pensar em nada, tentando acompanhar o beijo que Byakuya lhe dava com grande vontade. O pensamento estava totalmente desconexo, o coração batendo forte, as mãos trazendo o corpo esguio para mais perto possível de si, a boca apenas querendo responder aquele beijo tão intenso. Intensamente perfeito, opinião de Renji.

Me toque como você toca, me toque como você me toca
O que você está esperando?

Alguns segundos depois o beijo partiu. Byakuya estava levemente ofegante e Renji tinha a face meio surpresa, mas não podia negar que estava feliz, completamente sorridente por dentro.

– Taichou...

– Por favor não diga nada Renji. Apenas me ame como você me ama.

Me ame como você ama, me ame como você ama (como você ama)
Me ame como você ama, me ame como você ama (sim)
Me toque como você toca, me toque como você me toca
O que está esperando?

Renji trouxe o corpo de Byakuya para mais perto, apertando-o em seus braços, retomando o beijo com vontade, e o moreno correspondeu passando os braços envolta de seu pescoço. Saiu no lucro desde que ouvira aquilo, e não estava conseguindo controlar o que sentia. Num ímpeto foi guiando o Kuchiki até o quarto lentamente, sem que parassem de forma alguma o que estavam fazendo. Lá, o ruivo o deitou delicadamente no futon, se colocando acima dele.

Ah
Vou deixar você determinar o ritmo
Porque não estou pensando direito
Minha cabeça está girando, não consigo mais ver com clareza
O que está esperando?

Byakuya tinha uma expressão serena no rosto, desejando apenas o amor daquele homem em todos os sentidos, se envolvendo em suas caricias, o coração palpitando mais forte e a pele se arrepiando ao toque das mãos. As roupas já haviam sido despidas de ambas partes. O clima se fazia romanticamente excitante. Renji distribuía beijos por todo o corpo alvo.

Os lábios de Byakuya se mantinham entreabertos como se pedissem por mais um beijo, o que o ruivo prontamente resolveu ao encobrir a boca do Kuchiki num beijo terno. Assim que o beijo se partiu, os olhos se encontraram de forma intensa, e sustentam esse olhar tão cheio de entrega e ternura por longos segundos. Renji tocou a face de seu amado Byakuya sem tirar os olhos dele, descendo a mão num carinho leve até o peito.

Me ame como você ama, me ame como você ama (como você ama)
Me ame como você ama, me ame como você ama (sim)
Me toque como você toca, me toque como você me toca
O que está esperando?

A partir dai, Renji começou a investir sobre o moreno. Naquele momento, o Kuchiki se libertou das amarras, deixando fluir tudo o que sentia, totalmente entregue, apenas se deixando envolver pelas sensações.

E quanto mais ele se entregava de fato, mais Renji investia, quase tirando a sanidade de Byakuya, que se perdia deliciosamente entre o amor e o prazer que ele lhe dava naquele momento, amarrotando os lençóis entre os dedos a cada vez que o ruivo se arremetia contra ele.

Me ame como você ama, me ame como você ama (como você ama)
Me ame como você ama, me ame como você ama (oh)
Me toque como você toca, me toque como você me toca (ah)

Deixou as mãos percorrerem as costas tatuadas, levemente úmidas pelo suor, sentindo a textura diferente que tinham. Renji estava levando-o num estado tão alto no qual nunca imaginou que existisse, deixando os gemidos fluírem.

E então depois de alguns minutos, tudo terminou de uma forma maravilhosa. Aquela sensação que sempre sentia perto do ruivo o dominou completamente. E mais do que satisfeito estava se sentindo amado.

O que está esperando?

Sentiu as pálpebras pesarem por um instante e deu uma piscada um pouco mais longa. O tempo suficiente para se perceber sentado na mesma poltrona no mesmo lugar, apenas com o olhar perdido em um ponto qualquer. Sentiu um frio percorrer a espinha. O que havia acontecido ali?

Encarou a mesa onde Rukia estava, percebendo que ela ainda não tinha voltado e a musica silenciou. Olhou para o relógio, constatando que apenas alguns minutos tinham se passado. Havia mesmo devaneado tudo aquilo? Só poderia ser, pois ainda estava ali imóvel. Era estranho, tudo tinha sido tão...real.

Não tinha mais jeito, totalmente estava rendido. Talvez Renji o tivesse conquistado. Observou pela janela por alguns segundos, de onde a noite parecia bem menos fria e a luz do luar se fazia fortemente presente. Então fechou o livro, colocando-o sobre a mesinha ao seu lado.

Ainda sim, havia uma última questão em mente: Será que haveria coragem para realizar seu devaneio? Caminhou em direção a porta com os cantinhos dos lábios suspensos. Dentro de si ele sabia a resposta.

"Sim, é claro que havia", seu coração palpitou um pouco mais alto.

"O que está esperando?"