Finais quase felizes escrita por Jay Wolf


Capítulo 8
Capítulo 7 - O presente




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Quando Dominique e Sonni voltaram a encontrar os Tueders, os dois já tinham um acordo. Sonni passou à sua frente e abriu os braços, chamando a atenção dos outros.

– Irmãos! – Exclamou, em um misto de alegria e carinho. – Temos um novo membro! – Dominique pigarreou suavemente e ele suspirou, exasperado. – Temporariamente. Ela estará conosco nos próximos dois grandes roubos, e em troca entraremos no castelo e tiraremos uma pessoa de lá. Todos de acordo?

Os homens se entreolharam e começaram a discutir baixo. Murmuravam rapidamente e levemente irritados e Dominique supôs que era pelo fato dela ser mulher. Depois de alguns minutos de discussão intensa, o mais velho do grupo se adiantou e olhou desconfiado para a garota.

– Não confiamos em você. Pode ser qualquer um, espião ou não, e pode ter influenciado nosso líder. Então, chegamos à conclusão de que se vai mesmo ficar conosco, deve passar pela Iniciação que todos nós tivemos que passar para entrar para os Tueders.

Dominique olhou rapidamente para Sonni, e ele travou a mandíbula, derrotado. Ok, então ele não poderia fazer nada.

– Mas eu não vou entrar para os Tueders.– Ela protestou – Sonni disse que acabaremos com os dois grupos em três, quatro dias. Não pretendo passar muito mais do que isso aqui e nem pretendo traí-los.

– Não importa. Essa é nossa proposta. – Ele analisou Dominique friamente. – Adiaremos o ataque aos grupos. Nas próximas semanas, você será testada. Por todos nós. Se passar, estará liberada para participar dos ataques e ajudaremos você a entrar no castelo.

– Tudo isso para ganhar a confiança de vocês. – ela exclamou irritada e fechou os olhos. Não queria ficar. Não mais do que o tempo necessário. Pensou em desistir daquela ideia maluca e tentar entrar no castelo sozinha. Mas ela não podia, simplesmente porque em um mês ela não conseguira nada. Sua única opção era aceitar aquela oferta e passar no teste antes de participar dos roubos. – Quanto tempo exatamente eu vou fica nessa Iniciação?

– Duas semanas. – O homem respondeu prontamente, com um sorriso diabólico no rosto e Dominique soube que aquilo não seria nada fácil. – E mais uma para concluirmos o roubo. Se sobreviver essas três semanas, ficaríamos muito felizes em ajudá-la a invadir o castelo.

Dominique, totalmente sem esperanças, concordou com aquilo.

Sabia que não sobreviveria. O homem astuto à sua frente não deixaria que isso acontecesse.

Ela estava assinando a autorização para os Tueders a matarem.

*****

Eles foram para longe do Reino da Aurora. Era um Reino vizinho, conhecido como o Reino da Lua, mas ainda assim era longe. Gastaram quatro dias caminhando, até que chegaram ao prateado e barulhento reino. A alegria reinava naquele lugar, apesar do sol nunca aparecer. No entanto, durante o dia o Reino da Lua não era triste como o Reino da Aurora. Era alegre, e um calor emanava do céu fazendo tudo abaixo vingar normalmente. Uma claridade neutra fazia o dia ser dia. As pessoas eram extremamente brancas, quase prateadas, e dizia-se que aqueles eram os protegidos da Lua que há muito tempo atrás a agradaram o suficiente para ela lhes tornar a Patrona. Dizia-se também que a noite era espetacular. Dominique mal podia esperar para ver.

Dessa vez, ela pôde entrar na Floresta. Os locais a chamavam de Floresta Prateada, apesar de tudo nela ser de um verde saudável e vivo.

Eles montaram acampamento no meio da Floresta, e já se passava do meio dia quando sentaram para comer. Dominique apoiou as costas, exausta num tronco afastado do grupo e comeu em silêncio. Os quatro últimos dias haviam se provado ser tão assustadores quanto Gammel, o velho que a desafiara, prometera que seria.

Eles haviam passado por lagos, campinas cobertas de flores, montes invernais e vulcões ativos e em todo esse tempo, Dominique teve que provar seu valor em lutas corpo a corpo, com facas, espadas e em provas de equilíbrio. Ela estava cheia de hematomas, e perdera a conta de quantas vezes fora derrubada pelos Tueders e de quantas vezes eles riram dela ou a haviam chamado por nomes ofensivos. Mas Gammel garantira que apesar de tudo isso, Dominique provara seu valor com sua persistência e coragem.

O treinamento que recebera na Floresta, ela pensou amargurada, parecia não ser nem de perto suficiente para derrotá-los. Eles tinham mais treinamento, uma sabedoria infinita passada de geração em geração e experiências no campo da luta. Se continuasse assim, ela não teria chance.

Silenciosamente, ela viu Sonni deslizar pela penumbra e sentar-se também encostado ao tronco, de lado e com o ombro apoiado no dela. Ah, Sonni. Apesar dele ser irritante e muitas vezes perigoso e na maior parte do tempo se fechar sem nenhum motivo, ela desenvolvera um carinho especial por ele.

Pacientemente, ele a havia ajudado. Eles lutavam secretamente e ele cuidava de seus machucados quando ela não conseguia. Várias vezes impedira seus homens de bater mais do que o necessário em Dominique, e passara a chama-la de Roux. Eles eram completamente diferentes, mas de uma forma um pouco estranha se completavam, como metades de uma laranja.

– Hoje te deram descanso. – Ele murmurou. – Eu pedi. E eles viram o quanto você tem se esforçado, e concordaram que não podem forçar mais que isso.

Ela suspirou de alivio e se virou para dar um beijo em sua bochecha macia. Ele sorriu feliz, e ela encostou a cabeça em seu ombro.

– Obrigada. Estou exausta. – Ela sussurrou com a voz fraca.

– Eu sei. - Dominique já estava quase dormindo no ombro dele, aproveitando seu calor quando ele falou novamente. – Vem comigo.

E a puxou. Dominique foi tropeçando atrás dele, pensando que queria aproveitar seu dia para descansar.

Como se lesse seus pensamentos, Sonni olhou para ela com um sorriso maroto.

– Você vai descansar, Roux. Mas quero que veja uma coisa antes.

Ela demorou a processar, e depois de um tempo somente andando, Dominique se virou para ele:

– O que significa Roux? Porque você nunca me disse?

– Porque é um apelido idiota que me faz parecer um idiota.

Dominique abafou uma risada.

– Tenho certeza de que você não precisa de um apelido para parecer idiota.

– Obrigado. – Ele resmungou mal- humorado.

Dominique ficou calada enquanto se arrastava atrás dele.

– Significa ruiva, na minha língua materna. – Ele finalmente falou, e ela julgou ver um rubor m seu rosto. Sorriu internamente.

– Gostei. – Decidiu. Ele olhou surpreso para ela. – E como é moreno na sua língua?

Ele franziu a testa para ela e balançou a cabeça.

– Não senhora. Não vai me dar apelidos usando minha própria língua.

– E porque não? – Ela o fez parar e apertou os olhos. – Isso daí em seus olhos é medo?

Ele suspirou dramaticamente e passou a mão pelos cabelos.

– Eu falo se você prometer que vai ficar calada pelo resto do caminho.

– Fechado.

Ele hesitou, sabendo que ela o chamaria assim para o resto da vida.

– É Mauka.

Ela assentiu, séria, e voltou a andar em silêncio. Sonni ficou mais atrás, apertando os lábios e tentando segurar a gargalhada que ameaçava explodir de seus lábios.

Deuses, ele pensou, perverso. Se ela soubesse que a verdadeira tradução de Mauka era gostoso e não moreno, o mataria.

Não, não. O torturaria primeiro e depois o mataria.

*****

–É lindo. – Ela murmurou olhando a cachoeira e o lago prateado mais abaixo, onde Sonni a levara. Eram pequenos, mas só de pensar em tomar um banho depois de tanto tempo, Dominique se sentia mais acordada. – Posso? – Olhou esperançosa para ele, e ele assentiu.

Ela correu o pequeno morro que dava acesso à cachoeira e parou na borda do lago. Suspirou, aproveitando a visão e antes que pudesse sequer pensar em entrar, foi agarrada pela cintura por mãos fortes e deixou escapar um grito abafado quando foi pega no colo.

– Bomba! – Sonni gritou e depois pulou na água gelada com ela.

Quando voltaram a submergir, Sonni ainda tinha os braços em torno da cintura de Dominique. Ela lhe deu um tapa forte no braço, tentando ficar brava.

– Mauka! – Ele teve que controlar a risada com o apelido.

– Sim, Roux? – Perguntou inocentemente.

– Porque não me deixou pular? – Ele deu de ombros.

– É mais divertido quando não é planejado. – Ele murmurou, olhando para a boca de Dominique. Ela ficou estática em seus braços, enquanto só conseguia pensar no quanto aquilo seria errado, e na traição que seria para Asa. Apesar disso tudo, não conseguiu calar uma vozinha irritante no fundo de sua mente que insistia que Sonni era melhor que Asa. Que ela mal conhecia Asa. Que Asa nem conseguia sair do castelo e procurá-la direito, enquanto o homem a sua frente era engraçado, corajoso, inteligente, lindo...

E incrivelmente, quando ela ia empurrá-lo, ele se afastou e nadou até o outro lado do lago.

E infelizmente, Dominique ficou decepcionada.

No fundo, torcia para que ele a beijasse à força para ter um motivo para bater nele por ser tão... influente sobre ela. Mas ela o conhecia. Sabia que ele era muito homem para não forçá-la a fazer qualquer coisa, mesmo que Dominique soubesse que quando ele perdesse a paciência, forçaria um beijo mesmo assim.

Ela o olhou pelo canto de olho. Ele estava em pé na margem tirando a camisa grudada no corpo. Dominique encarou as cicatrizes em suas costas musculosas e tentou imaginar pela milésima vez como foram parar lá. Sonni não contava nada e seu bando muito menos. Mas ele ainda assim exibia suas cicatrizes assim como suas tatuagens no braço e no peito: com orgulho.

Ficaram mais um tempo na água prateada e morna, tempo em que Dominique, grata, aceitou o sabonete cheiroso que Sonni lhe oferecera e lavou os longos cabelos ruivos. Ela ensaboou também a pele, e até chegou a tirar sua camisa, ficando só de top. No fim, ela esperava de olhos fechados e debaixo da cachoeira Sonni voltar a submergir da água

– Conseguiu se lavar? – Ele perguntou enquanto saia bufando e se sacudindo da água. Ela assentiu ainda de olhos fechados. – Dominique, precisamos ir.

Ela suspirou e resmungou:

– Só mais um pouquinho...

E ele, extremamente delicado a pegou e a jogou em seu ombro. Pegou a blusa de Dominique e bateu em seu traseiro.

– Nada disso. Já está escurecendo e você está ficando enrugada que nem uma velhinha.

– Sonni! – Ela protestou. – Me bota no chão!

– Não. Você vai correr para a cachoeira de novo assim que eu te soltar.

– Não vou, não!

E seguiram o caminho de volta rindo, enquanto Dominique se debatia, sabendo que já havia perdido.

Quando se deitaram para dormir, mais do que nunca, Dominique estava confusa. Asa, Sonni... há duas semanas atrás ela havia sido expulsa de sua própria casa e um grupo desconhecido de ladrões acolheram ela, e ainda que tivesse uma relação conturbada com eles, eram sua única família. E agora ela não sabia como reagir com Sonni. Como explicar para ele que amava outro, e não poderia oferecer nada a ele.

Foi pensando assim que Dominique finalmente adormeceu, sem perceber Sonni a observando no escuro.

Quando ele levantou os olhos tristes para a lua, certo de que ela gostava de outro, deixou escapar uma lágrima. A lua, que subia àquela hora e que oferecia magia àquela terra, olhou para baixo e teve pena do pobre mortal que sofria em silêncio, aceitando seu destino de amar e nunca ser amado.

Com um sorriso satisfeito, a lua mandou um presente à Sonni.

Um presente que mudaria o destino de todos, e que, apesar de ser cruel, era o que Dominique precisava para decidir se estava realmente confusa.


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