“É mais claro que o sol, que Deus criou a mulher para domar o homem. ”

Voltaire

Sakura estava ansiosa. Mordia a ponta de uma das unhas num ato inconsciente de nervosismo. Não que a rosada fosse adepta à mania de roer unhas, mas a ocasião pedia que um dos dedos estivesse na boca, com a unha entre os dentes, mesmo que ela não a estivesse arrancando de verdade. Nervosa. Ela estava nervosa. Não sabia bem o que estava fazendo e estava com um frio na barriga que dizia que Sasuke poderia odiá-la por isso. Porém, havia um lado seu que dizia que se ele a odiasse ao menos sentiria algo por ela. Masoquista, ela sabia. Mas aturar a indiferença do moreno era a pior coisa para a garota de olhos esmeraldinos. Ela acabaria com a inércia entre eles.

Eram anos a fio de uma amizade nascida na infância quando ela, Sasuke e Naruto eram o trio que bagunçava a vizinhança. E bem, sem ter papas na língua, Sakura estava cansada dessa amizade, desse relacionamento morno. Ela particularmente queria atear fogo na relação – se é que existia uma relação. O Uchiha estava distante nos últimos anos e o único com quem ele realmente convivia era Naruto, o resto era por pura pressão do Uzumaki que era escandaloso demais e humilde demais para ter só Sasuke de plateia. Mas Sakura não podia deixar as coisas como estavam, ah não podia. Então quando recebeu a mensagem de Sai dizendo que Sasuke não havia podido assistir a aula e estaria na biblioteca fazendo um resumo sobre um tema bizarro, para não reprovar na matéria, o lado maquiavélico da mente de Sakura entrou em ação.

Ainda faltava um horário para a sua aula, mas a rosada correu de casa até a universidade, que não era tão longe assim, indo direto para a biblioteca, sendo ardilosa e habilidosa o suficiente para sentar às costas de Sasuke sem que ele sequer notasse a sua movimentação. Ela observou o tédio e a indignação que estavam pintados nos olhos ônix, pois apesar dele realmente tentar esconder tudo com aquela fachada seria, ela podia ver além. O viu retirar rudemente o material da mochila, pegar uma folha pautada na pasta e começar a escrever. Nos quase 50 minutos – antes dela ir para a aula – que se decorreram Sakura viu Sasuke buscar inúmeros livros nas estantes altas de madeira e voltar à mesa já abarrotada, abri-los e voltar a escrever. Ele havia ficado mesmo entusiasmado com o tema no mínimo estranho. E era isso que Sakura mais gostava nele. A paixão com que ele fazia qualquer coisa que lhe fosse proposto, não aceitando nada menos que a excelência.

Foi logo no começo do castigo de Sasuke que a ideia mais louca/idiota/nada a ver que ela teve na vida surgiu e por algum motivo, que Sakura se perguntava até agora qual seria, convenceu-se a colocar em prática. O primeiro passo foi ligar para Naruto e pedir ajuda para distrair Sasuke durante o almoço, o segundo foi pegar o resumo e fugir com ele e o terceiro e mais arriscado estava por vir.

Os pensamentos foram cortados pela música do toque do celular e o visor marcava Sasuke-kun. Era hora. Ansiosa, a rosada pegou o aparelho e tomando coragem atendeu no último instante, colocando toda a sua habilidade de atuação em prática ao conversar com o Uchiha.

– Alô? Ah... Oi Sasuke-kun, como vai? – Disse divertida.

– Neste momento, querendo esganar você. Onde está? – Sakura segurou o riso. Ele estava realmente muito irritado.

– Esganar? À mim? O que eu fiz? – Cínica.

– Não se faça de sonsa. Onde está o meu resumo?

– Ah, isso. Hm... Vejamos. Está aqui na minha mão. – Mentiu descaradamente.

– Devolva.

– Depende.

– Do que? – Sakura percebeu a voz do outro baixar um tom, ele estava no modo analítico.

– Do que você está disposto a fazer para tê-lo de volta. – Um sorriso travesso, talvez até mesmo pervertido, surgiu no canto dos lábios de Sasuke e ele agradeceu por ela não poder vê-lo. – Oh, Sasuke-kun. Você fica realmente sexy quando sorri assim. – Disse sapeca, a risada tilintando através do aparelho.

– Onde você está? – Ele girou no corredor, analisando-o.

– Ora, isso não vem ao caso. – Observava o moreno do prédio lateral ao que ele estava, aproveitando que as fachadas eram praticamente inteiras de vidro no segundo andar e do binóculo emprestado de um dos laboratórios do curso de biologia. Como se seguindo a voz, Sasuke virou em sua direção, notando-a no prédio além.

– Não se mexa. – Disse pausadamente.

– Catch me if you can¹– Cantarolou, acenando para o rapaz, desligando o celular e começando a andar pelo corredor.

Sasuke observou a garota acenar e começar a andar pelo corredor. Ele teve a impressão de vê-la sorrir, mandar-lhe um beijo e então começar a andar em direção à escada lateral. Ele ainda estava irritado e tinha apenas 3 horários até a próxima aula. Ele teria que achar Sakura rápido. Apressou o passo correndo pelo corredor, objetivando sair do prédio em que estava atualmente e adentrar o que a rosada estava, talvez tivesse sorte, se fosse rápido o bastante, e a pegaria ainda nas escadas laterais. Passou correndo por Naruto que gritou “corra como se sua vida dependesse disso teme, eu não vou te perdoar se deixar essa passar”. Sasuke não entendeu a fala do amigo, a sua vida acadêmica realmente dependia daquilo, reprovar estava fora de cogitação para um Uchiha, ainda mais por faltas. O pai o mataria.

Chegando ao corredor onde Sakura esteve 3 minutos atrás, continuou a corrida até a escadaria lateral, pedindo a Kami² que fizesse a garota mais irritante que ele conhecia e alvo de toda a sua raiva no momento ainda estar descendo os degraus calmamente. Ele praticamente gritou de raiva enquanto descia os lances de escada e não vislumbrava uma cabeleira rosa. Cego de irritação, não percebeu a pequena Hinata até ter chocado o seu corpo contra o da morena, que arregalou os olhos quando o viu.

– Sasuke-kun. – Chamou calma. – Se é a Sakura que procura, ela acabou de me dizer que estava indo até a biblioteca. Pediu que a encontrasse lá. – O sorriso da Hyuuga era mínimo e zombeteiro.

– Obrigado, Hinata. – Disse já começando a andar, quando virou-se e chamou novamente a menor. – Ah, Hinata. Desculpa o Naruto, ele é extremamente lerdo. – Sorriu de canto. Ele estava tentando ajudar os amigos.

– Hm... Na-naruto-kun é um pouco lerdo sim, Sasuke-kun, mas eu sou uma pessoa paciente. – As bochechas estavam rosadas e os dedos indicadores se embolavam. – Mas eu acho que o Sasuke-kun é incrivelmente mais lerdo que o Naruto-kun. Já que a Sakura-chan não é nem um pouco tímida e paciente como eu. – Fez uma meia reverencia, se despedindo, e fugiu dali com passos apressados. Sasuke fez uma careta. Ele pegaria Sakura na biblioteca, entregaria o resumo para Anko e então faria a rosada de olhos esmeraldinos pagar por todo esse tumulto e ainda mais por fazê-lo ouvir os comentários de Naruto e Hinata, já que agora a fala do loiro fazia todo o sentido.

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A biblioteca não era muito frequentada naquele horário e Sakura pensou que seria um bom lugar para enfrentar o Uchiha, já que era calmo e ali ele não poderia gritar com ela. Sorriu travessa, rindo da pegadinha idiota que estava fazendo. Ela realmente ainda não podia acreditar que tinha armado e executado tudo isso para fazer a cabeça do moreno preencher-se completamente com ela. Mesmo sendo com pensamentos de raiva e irritação, não de amor como ela queria. Mas, ora bolas, o amor e o ódio eram sentimentos que andavam de mãos dadas sobre uma linha tênue de razão, podendo um puxar o outro para o seu lado conforme as situações cotidianas permitissem. E bom, Sakura estava disposta a fazer o amor puxar com tudo o ódio para o seu lado.

Nervosa, fingiu procurar um livro na seção de anatomia, hora tirando um da prateleira, hora inclinando-se para trás em busca da figura do Uchiha. Foi quando ela passava de um corredor para o outro, entre a lateral de uma estante de madeira e a parede dos fundos da biblioteca que sentiu o pulso esquerdo ser puxado e preso contra a estante, enquanto as costas eram empurradas contra a madeira.

– Você é realmente irritante, Sakura. – Sasuke a olhava irritadiço e debochado. – Agora eu peguei você.