Eu odeio o dia dos namorados. Esse é um dos fatos da minha vida que mais surpreende as pessoas. Não porque estou solteira ou porque garotos me irritam, mas porque meu namorado me traiu. No dia dos namorados. Não preciso da pena dos outros, ou das risadas que me seguem pelos corredores, junto com os olhares idiotas. Eu sei como devo agir quando isso acontece, mas não quando é com minha melhor amiga.
Eu sempre dei conselhos para minhas amigas sobre o que fazer quando elas descobriam a traição, mas aqueles conselhos não serviam para mim. Eu simplesmente não conseguia usá-los. E a pior parte não foi pegar os dois no pulo, mas foi ter que ouvir as típicas frases do tipo "sinto muito, eu achei que fosse para valer", ou "vocês combinavam tanto! Como ele pôde?"
Para falar a verdade, não me importei quando descobri. Ainda não me importo com o que eles faziam pelas minhas costas, mas todos ao meu redor parecem se importar. Depois daquilo, eu cheguei a uma conclusão:

Eu odeio o dia dos namorados

Poderia dizer que eu apenas saí andando e que não chorei por dias e quebrei coisas, mas seria mentira. E eu não costumo mentir. Também seria mentira dizer que implorei para voltarmos, ou que eu me vinguei, mas não me importo. Nós estávamos na apresentação de classe, onde todos tinham que se apresentar e falar sobre si mesmos e uma data aleatória. E eu sempre ficava com o Natal. Eu era a única pessoa que não acreditava em Deus naquela sala.
-Dylan. - o professor procurou pelo garoto, até vê-lo se levantar.
-Bem, meu nome é Dylan, como vocês podem ver. - ele passou a mão no cabelo. - Tenho 16 anos e não repeti de ano, caso essa seja a dúvida de alguém. Nasci em Julho e meus pais me atrasaram um ano. Eu estudo nesse colégio desde que me lembro. A data é o Halloween. Bem, eu não faço nada no Halloween, mas é a melhor data. Simplesmente porque assusto crianças que passam na minha casa.
Algumas pessoas riram e eu me levantei, já que estávamos indo em ordem alfabética.
-Meu nome é Europa e eu tenho esse nome porque meus pais acham a Europa um continente chique e decente, e me deram esse nome para eu refletir e não fumar ou beber ou usar drogas. Tenho 15 anos e estudo aqui desde sempre. E a minha data é, como quase sempre, o dia dos namorados. Como algumas pessoas sabem e outras não, eu odeio o dia dos namorados. E por isso quero falar sobre ele. Eu não faço nada, porque para mim o dia dos namorados é um dia qualquer. Ou o dia em que descobri que minha amiga é uma vadia. - ouvi alguns risos.
Scarlett me encarou, um pouco corada e eu joguei o cabelo para o lado.
-Ela é uma vadia porque se pegava com meu namorado e achava que eu não ia descobrir. Bem, eu descobri no dia dos namorados. Não fez diferença, eles continuaram a ser os mesmo otários.
Scarlett se levantou e me encarou, me desafiando a continuar.
-Mas a minha amiga não sabia que, na verdade, que o Malcolm é gay, já que ele se pegava com o Alfredo.
Várias risadas ecoaram e o professor também me encarou, me desafiando a continuar.
-Cale a boca, Europa. - Scarlett se pronunciou. - Pelo menos eu não fui a puta que foi traída.
-Eu posso até ser vagabunda, mas puta é você que sai por aí... - o professor me interrompeu.
-As duas, me esperem lá fora.
Bufei e saí da sala. Scarlett esperou eu sair para sair atrás. Ela estava arruinando todas as minhas chances de acabar com ela