Cartas escrita por themuggleriddle


Capítulo 1
cartas




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“Como você encontra esses lugares?” perguntou Riddle, esticando o pescoço para seguir com o olhar um grupo de pessoas vestidas com capas de veludo que acabavam de atravessar a rua.

“Nós somos de Londres, Tom,” disse Ellen, rindo. “Sabemos onde ir para encontrar coisas legais.”

Tom arqueou as sobrancelhas, mas apenas continuou seguindo os amigos. Ele confiava em Ellen e Charles quando se tratava de passear pela capital, afinal, eles cresceram ali enquanto ele vivera o tempo todo em uma vila no interior de East Yorkshire. Para ele, um lugar como Camden Town era algo de outro mundo e, apesar da estranheza, era incrível.

“Supostamente você deveria escolher o que fazer hoje, aniversariante,” disse Charles, dando um tapa nas costas do amigo. “Mas se depender de você, vamos ficar em casa comendo biscoitos e chá enquanto lemos poesia russa. Nada contra biscoitos, chá e poesia russa, mas acho que Londres oferece mais coisas legais para se fazer.”

“Só não me levem para um-“

“Ninguém vai te levar para um cabaré,” disse Charles, rindo. “Eu estava lá da última vez. Gastamos dinheiro para você ficar quieto na mesa e eu tive que te carregar de volta para casa enquanto você recitava poesia e cantava enquanto bêbado. Prefiro não repetir.”

“Bem feito,” murmurou Ellen, rindo fraquinho, antes de parar de andar e sorrir largo. “Achei algo que vai gostar, Tom!”

A garota agarrou-o pela mão e o puxou até entrarem em uma das lojinhas quase escondidas pela falta de luz graças aos postes mal funcionantes. Assim que atravessaram aporta, Riddle pôde jurar ter sentido um arrepio engraçado descer pela sua espinha.

“Bugigangas,” disse Ellen, baixinho. “Você ama essas coisas.”

O lugar parecia antigo e era apilhado com os mais diversos produtos: quadros, incensários, pedras, conchas, animais empalhados, jóias, velas, gatinhos de cerâmica, paninhos de crochê, livros… Aquilo era um crânio humano? Bom, ele não podia falar nada sobre ter crânios em casa.

“Por que exatamente estamos aqui?” perguntou Riddle, inclinando-se para olhar com mais atenção uma caixinha de madeira pintada com várias flores coloridas na tampa.

“É seu aniversário e você é alguém difícil de dar presente,” disse Charles. “Ellen achou que talvez achasse algo por aqui.”

“Eu aceito outro crânio,” disse Tom, rindo enquanto apontava para o crânio.

“Você já tem um, garoto,” a moça falou, rindo enquanto sacudia a cabeça.

“Posso ajudá-los?”

Os três se viraram para ver um rapaz parado atrás do balcão empoeirado da loja. Ele não parecia nem um pouco animado com o fato de que havia gente dentro de sua loja e os olhava com uma expressão entediada, os olhos verdes sem emoção alguma enquanto ele brincava com o que parecia ser um baralho de cartas.

“Estamos apenas procurando um presente para o nosso amigo,” disse Ellen, apontando para o rapaz ao seu lado. “É aniversário dele.”

“Vocês não vão encontrar abotoaduras de ouro ou canetas que custam os olhos da cara por aqui,” disse o rapaz, arqueando uma sobrancelha.

“Acredite, Tom ficaria muito mais feliz com… Com isso aqui.” Charles apontou para um gatinho de cerâmica com a ponta da orelha quebrada. “Do que com uma abotoadura de ouro.”

“O gatinho é cinco libras.”

Charles olhou o amigo por um momento, antes de rir e pegar o enfeite.

“Espero que goste de gatos.”

Tom riu, seguindo o outro até o balcão enquanto Ellen continuava ocupada olhando os produtos. Quando a garota se juntou a eles novamente, carregando o que parecia ser um pequeno caldeirão escuro.

“Para você guardar os seus lápis e pincéis,” ela falou, dando uma piscadela.

O rapaz do outro lado do balcão apenas continuou com a tarefa de empacotar os produtos, depois de receber o dinheiro dos dois. Enquanto isso, Riddle deixou-se olhar em volta outra vez… Era engraçado como aquela loja parecia estranha e fascinante ao mesmo tempo. Sabia que podia passar horas ali dentro e se surpreender com o que encontrava, apesar de ficar um pouco intimidado com o funcionário (ou ele era dono do local?).

“Oh, uma colega minha lê as cartas também,” disse Ellen, apontando para a pilha de cartas que o rapaz da loja deixara sobre o balcão. “Como é que funciona?”

“Você apenas faz a pergunta e tira as cartas,” o outro falou. “Depois é só interpretar.”

“Será que pode fazer isso para nós?”

“Querida, acho que o senhor…?”

“Pode ser só Sally mesmo. O apelido idiota veio e não tem jeito de ele sumir.”

“Ahm, tenho certeza que o Sr. Sally não tem tempo para isso,” disse Charles.

“Na verdade eu cobro por consulta.” O outro encolheu os ombros, antes de inclinar a cabeça para o lado enquanto observava Tom com cuidado. “Mas para o seu amigo eu posso ler sem cobrar. Uma amiga diz que dá azar cobrar de aniversariantes… Mas não me responsabilizo pelo que sair.”

O casal automaticamente virou-se para olhar Riddle, que abaixou o olhar para as cartas, deparando-se com o desenho de um homem parado atrás de uma mesa, segurando um bastão no alto. Por alguma razão, ‘O Mago’ lhe pareceu o rapaz do outro lado do balcão.

“Pode ser,” disse Tom.

Sally pegou as cartas e as embaralhou, sem nunca tirar os olhos do outro, antes de colocá-las sobre o balcão e espalhá-las até que formassem uma linha de cartas, todas viradas para baixo.

“Nove cartas. Coloque-as na mesa em três linhas,” o rapaz falou.

Riddle observou o baralho à sua frente e respirou fundo, antes de esticar uma mão e levá-la até uma carta, mas, antes de tocá-la, simplesmente desviar para a que estava ao lado. Pegou-a e a colocou no que viria a ser a primeira linha de cartas. Repetiu a ação mais oito vezes, de vez em quando seus dedos escolhendo a carta sem hesitar, mas, em outras, deixando a mão pairar por sobre o baralho até sentir como se algo o empurrasse para uma carta específica.

“Certo…” Sally desvirou a carta no centro da formação, revelando o desenho de um homem parado na beira de um precipício, com uma flor na mão. “O Louco. Isso é você no momento… Você tem bastante energia e está procurando o que quer da vida.” Ele virou outra carta na linha do meio, mostrando dois cálices dourados. “Dois de Copas. O ambiente à sua volta está bom, você tem gente que se importa e que o ama, você está em um bom lugar.”

Ellen o cutucou, sorrindo de leve enquanto apontava para si mesma e para Charles. É, ele realmente não podia reclamar de nada quando se tratava de viver perto daqueles dois.

“A Torre é a sua qualidade… Mudança,” o rapaz falou, virando outra carta. “Você se adapta bem às situações.” Outra carta. “Rei de Copas. Eles,” disse Sally, apontando para o casal ao lado de Tom. “As pessoas na sua vida, masculino e feminino, pessoas que estão ali para lhe apoiar. Talvez os seus pais também?” O rapaz encolheu os ombros e virou outra. “Cavalheiro de Bastões. O que o motiva é continuar e ver o que vai mudar… Sair da onde você está, conhecer coisas novas, aprender mais, viajar. E aqui, A Estrela, você serve de… Inspiração para os outros, de alguma forma. Você coloca os outros para fazer o que eles estão hesitando, como se fosse o pontapé inicial.”

“Cinco de Espadas. Você pode servir de inspiração para os outros, mas é o seu pior inimigo. No final, a mesma pessoa que faz os outros alcançarem os seus objetivos é quem faz você ficar parado. Sua própria cabeça é quem o segura e o impede de seguir em frente,” disse Sally, antes de virar outra carta. “O Mago de cabeça para baixo… Você tem todas as ferramentas para fazer o que quiser, mas, de novo, tem algo o segurando.” O rapaz olhou para a última carta que continuava virada por um longo momento, antes de virá-la e inclinar a cabeça enquanto observava a imagem de um velho de capuz, segurando uma vela que iluminava apenas o seu rosto. “Engraçado. Você tem tudo para sair por aí, ir viajar e aproveitar a vida… A adaptabilidade d’A Torre, o apoio do Rei e d’O Dois de Copas, a motivação d’O Cavalheiro de Bastões, a inspiração da Estrela e a vontade do Louco, mas o seu futuro mostra O Eremita. Digo, é claro, você tem O Cinco de Espadas e O Mago ao contrário o segurando um pouco, mas todo o resto o coloca para a frente.”

“E o que o Eremita quer dizer?” perguntou Ellen.

“Ficar um tempo sozinho?” murmurou Riddle, observando o rapaz, que continuava olhando as cartas com o cenho franzido.

“Sim, mas… Pegue mais duas.”

Tom arqueou uma sobrancelha, mas mesmo assim esticou a mão para apanhar outra carta e logo a virou, deparando-se com a figura de um esqueleto encapuzado. A segunda, um homem pendurado de cabeça para baixo.

“Você não vai morrer, não se preocupe,” disse Sally. “A Morte indica mudança. Uma mudança bem grande, pelo jeito, a julgar pelo fato de que todas as suas cartas indicam ação e o futuro mostra o isolamento d’O Eremita e a estagnação d’O Enforcado.”

Os quatro permaneceram em silêncio por um longo momento, antes de juntar todas as cartas e guardá-las. Tom queria perguntar se ele tinha algum baralho daqueles para vender, mas preferiu não o fazer. Não na frente de Ellen e Charles pelo menos.

“São quinze libras, o gatinho e o caldeirão,” o rapaz falou, empurrando as sacolas para eles, antes de olhar Riddle de novo. “Tente ao menos usar isso à seu favor, você é bom nisso.”


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Notas finais do capítulo

1) Camden Town: é um bairro em Londres que tem várias lojas e tals... Antes da décadad e 70, o lugar não era muito bem visto, mas hoje é tipo, muito ~top~

2) Sally: pra quem sabe do meu amor por plots de universos paralelos, reencarnação e afins, um abraço pra quem descobrir quem é o amigo Sally;

3) Tarô: eu curto, mas ainda não consegui estudar direito. O 'spread' usado foi um que eu achei no tumblr e achei legal e dá pra ver ele aqui: http://blnkmthr.tumblr.com/post/120904584746/thelifeflowerspread . Pra mim, existem 3 cartas que representam bem o Tom: O Louco, O Eremita e O Enforcado. Acho que fica bem claro que a mudança que A Morte indica é a Merope;

4) Por mais incrível que pareça, consegui escrever algo sobre o aniversário do Tom sem falar sobre ~amor~ e tals... Coisa que geralmente acontece por razões de ele ser do dia 13 de Junho (oi, Santo Antônio).

5) Meu avô colecionava caldeirões... Idk, quis colocar um caldeirão por causa disso;

Idk, eu só queria escrever algo pro aniversário dele...



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