The Only Exception escrita por Jade


Capítulo 1
I'd never sing of love if it does not exist


Notas iniciais do capítulo

Essa é minha segunda one e, na verdade, era para ser postada ontem já que fala de dia dos namorados; mas houve imprevistos e ela só saiu hoje (hehe).
De todo jeito, aqui está ela.
Espero que gostem.



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Suspirei de alívio assim que pus os pés dentro de casa e joguei os saltos o mais longe possível de mim. Coloquei o sobretudo sobre o encosto da poltrona da sala e, sem a mínima coragem de andar até o quarto, deixei-me cair sobre o sofá. Só queria dormir o resto da noite, o sábado todo e, talvez, acordar no domingo. Estava exausta. Era assim todo ano, todo mês de junho: tudo era sobre amor, namorado, coração e outras frescuras que são nada mais nada menos que maneiras de gerar lucro. Era isto que era o dia dos namorados: Apenas uma jogada de marketing.

Estava prestes a cair na inconsciência quando senti meus pés serem tocados e massageados. Suspirei em deleite com a carícia, já antecipando o autor da ação. Confirmei ao abrir os olhos e deparar-me com um par de olhos acinzentados.

— Felipe... Quando você chegou aqui?

Ele sorriu.

— Faz uma meia hora.

— Estava aqui quando cheguei? — franzi o cenho, meio contrariada.

Assentiu, apertando meus pés com mais força.

— Fazendo o quê? — consegui perguntar.

— Te esperando. Ou você esqueceu que eu viria hoje?

Droga! Era verdade. Levantei-me do sofá.

— Eu tinha esquecido. — fiquei de frente para ele.

— Tudo bem — sorriu, passando os braços ao redor de meus quadris e puxando-me para mais perto.— Eu só estava me perguntando quando você iria perceber que eu estava aqui...

— Provavelmente só amanhã quando eu acordasse — falei baixinho, mais para mim que para ele.

Ele riu e se levantou, colando o corpo ao meu e, sem perder tempo, desceu os lábios para meu pescoço. Suspirei em deleite. Era um ótimo relaxamento. Com Felipe era tudo tão... Fácil. Não tinha cobranças, nem compromisso. Era só eu e ele, algumas vezes no mês.

— Você realmente parece bem cansada — sussurrou enquanto mordia o lóbulo da minha orelha, causando arrepios em meu pescoço.

Apenas assenti, passei os braços por seus ombros, embrenhando meus dedos em seus cabelos castanhos, e inclinei o pescoço para dar-lhe melhor acesso.

— Deixa eu cuidar de você...— e eu deixei.

***

— Você parece horrível — Felipe falou passando o braço por minha cintura.

— Nossa! Muito obrigada — respondi ironicamente. — Toda mulher adora ouvir isso.

Ouvi-o rir baixinho e levantar o torso, fazendo-me virar para cima. Puxei o lençol antes que o mesmo escorregasse pelo meu corpo e mostrasse demais.

Ele revirou os olhos.

— O que foi? — perguntei.

— Assim até parece que eu não vi tudo que tem aí embaixo.

— Felipe! — arregalei os olhos e dei-lhe um tapa no ombro.

Ele apenas sorriu. Sem vergonha. Passou a mão pelo meu rosto, parando sobre as olheiras que apareceram sob meus olhos.

— O que aconteceu para você estar assim? — perguntou.

Respirei fundo. Eu gostava de Felipe, mas odiava quando ele vinha com essas coisas que faziamm parecer que ele se importava até demais. Não foi o que combinamos. Era para ser sem compromisso.

Abri os olhos, pronta para mudar de assunto.

— Qual é, Lisa? Qual o problema? — mordeu a bochecha.— Eu só quero saber o que deixou esses olhos azuis tão tristes.

Porque isso não faz parte do combinado. Mas, pelo jeito, não vou conseguir mudar o foco dele dessa vez. Suspirei alto, demonstrando meu desinteresse em falar nesse assunto, mas se ele queria tanto saber, então quem era eu para negar isso para quem me dava prazer, não?

— Bem... Você sabe que sexta-feira que vem é dia dos namorados, não sabe?

Ele assentiu e virou de lado, sustentando-se sobre um braço. Virei-me de frente para ele e continuei:

— Está tudo uma loucura lá na Style , tudo por causa da edição especial, que tem que sair na quinta, e tudo de que falam lá é sobre estas besteiras de amor, presentes, coraçãozinho, frufrus e blá blá blá — fiz careta. — É chato e estressante.

— As pessoas normalmente ficam eufóricas com feriados assim, Lisa. Você que provavelmente tem um bug mental por não ficar animada também.

Revirei os olhos e abri a boca para retrucar. Tentativa falha. Fui beijada lenta e sensualmente, da maneira que ele sabe que eu gosto.

— Não é isso... — consegui falar entre arquejos quando nos separamos.— Se fosse o Natal, Páscoa ou dia das mães, por exemplo, eu entenderia. Mas... Dia dos namorados — bufei. — É apenas idiotice, sabe? Ficar por aí, distribuindo cartinhas e declarações de amor mais falsas que bolsa comprada no Paraguai.

— Não devia ser tão cética, Lisa — vi algo passar por seus olhos, mas não consegui descobrir o que era.

— Amor não existe, Felipe. É só mais um mito criado pelo ser humano, assim como Papai Noel ou o coelhinho da Páscoa.

— Não devia falar estas coisas. Não faz bem nem pra você, nem para ninguém. Talvez só não yenha...

— Não — fui concisa.— Já tenho 27 anos e nunca tive motivos para acreditar que tal sentimento exista, não acho que...

— Eu te amo, Elisa! — exclamou, olhando-me com agonia.

Parei. Esqueci completamente tudo que estava falando ou pensando.

Eu te amo, Elisa. Veio à minha cabeça pronunciadas por uma voz diferente.

Eu não sei viver sem você.

Mamãe te ama, bebê.

Eu nunca mais vou te deixar.

Um coro de vozes diferentes explodiram em minha cabeça. Todas proclamando mentiras.

— Elisa! — as vozes calaram quando voltei meus olhos para o rosto do homem deitado ao meu lado.

— Não! — exclamei alto, pulando da cama e enrolando-me no lençol.— Você não está falando sério.

— O quê?! — bem, ele não esperava esta reação.

Começou a se levantar, mas antes pegou sua cueca jogada do lado e vestiu-se.

— Você não me ama! Você está brincando comigo. Por favor, me diz que é apenas mais uma brincadeira de mal gosto.

— Elisa... — falou em um suspiro e tentou aproximar-se de mim. — Vamos conversar...

Dei dois passos para trás.

— Não! Não temos o que conversar... Eu sei que você está só brincando. Não é?

— Você realmente acredita que eu estou curtindo com tua cara? — exclamou.

— Não vejo outra explicação.

Ele balançou a cabeça, incrédulo.

— Acha mesmo que eu me declararia para uma mulher que grita aos quatro ventos que amor é a maior besteira do mundo, se não estivesse falando a verdade? Se não estivesse desesperado? Realmente pensa tão pouco de mim?!

— Não era o combinado... — falei quase em um sussurro.

— Pensei que tivéssemos quebrado o combinado quando me deu a chave do seu apartamento...

— Não.

— Então, me desculpe. Por pensar isso ou por ter me apaixona...

— Não termina essa frase!

— ...nado por você. — sorriu amargamente. — Qual o problema? Sério que você nunca percebeu? Eu sou louco por você, Lisa.

Balancei a cabeça em negação. Ouvi-o suspirar e dar alguns passos em minha direção. Andei para trás à medida que ele se aproximava. Ele suspirou e me encarou com um misto de tristeza e decepção que me fez ter vontade de abraçá-lo.

Fechei os olhos com força, tentando fugir de meu último pensamento. Comecei a repetir meu mantra baixinho.

— Isso não deveria estar acontecendo, isso não deveria estar acontecendo...

Nem percebi-o chegando mais perto.

— Eu não sou ele, Elisa...— falou, levantando meu rosto com a ponta dos dedos em meu queixo.— Ou quem quer que tenha feito isso com você...— fez menção de chegar mais perto.

Dei um longo passo para trás.

— Não, Felipe.

— Eu... Não entendo!— passou as mãos pelos cabelos, deixando-os com uma aparência ainda mais selvagem.— Uma hora ou outra teríamos que resolver nossa relação...

— Não é uma relação, Felipe. Apenas um acordo que beneficiaria ambas as partes. Sem compromisso ou exclusividade.

— Esteve com mais alguém? — perguntou em um sussurro.

Não.

— Sim.— menti.

Ele franziu os lábios e assentiu. Ambos evitávamos nos olhar nos olhos.

— Posso te perguntar só uma coisa? O que exatamente você esperava? Me chutar quando cansasse?

Na verdade, eu tentava não pensar nisso. Contudo, fiquei calada.

Ele suspirou.

— Acho melhor eu ir, então...

— Eu concordo.

Ele assentiu e, calado, começou a juntar suas coisas. Fiquei parada no mesmo lugar por um tempo indeterminado. Poderiam ter passado horas, minutos ou apenas alguns segundos e eu não saberia dizer. Só saí do meu topor com um barulho de chaves.

— A chave do apartamento.— apontou para a cômoda ao seu lado.

— A sua está no porta chaves ao lado da saída. — disse.

Ficamos em silêncio, até que ele resolveu falar.

— Eu sei que você está de cabeça quente, mas... Só pensa sobre.

— Me desculpa... Eu não queria que isso acontecesse. — Meu coração quebrado só precisou de uma vez para aprender a lição.

Ele assentiu, magoado.

— Então... Adeus, Elisa.— e saiu do quarto, do apartamento e, muito provavelmente, da minha vida.

***

— Desculpe-me por ser tão sincera, mas VOCÊ É UMA ABESTADA, ELISA!— Vivian, minha melhor amiga, me dava uma bronca.

Revirei os olhos com a sua discrição. Devem ter ouvido até do outro lado da cidade. Vivian ficou mais incomodada que eu imaginava, não sabia que eles eram tão amigos. Imagina se eu tivesse contado na sexta?! Teria me assassinado na minha própria casa.

— Como você pôde ter deixado um homem desses ir embora?!— continuou.

— Nós não tínhamos nada, Viv...

— Mas iam ter! Só faltava você se mancar! Eu já estava até imaginando os filhos de vocês! Com os olhos cinzentos dele e seus cabelos loiros...— suspirou fantasiosa.

Apenas balancei a cabeça em negação. Ela suspirou alto e tirou uma mecha do cabelo vermelho do rosto.

— Você acabou de jogar fora sua chance de ser feliz!

— Vivian, você sabe que...

— Não, não, não! O problema é que um idiota quebrou seu coração e agora você acha que todos são como ele!

— Não foi só isso, Viv...

— Antes você era cold heart, mas ainda parecia humana! Agora...— balançou a cabeça com uma cara de enterro.— Felipe não é Thomas, Elisa!

— Eu sei! Eles são completos opostos! Mas eu não consigo me envolver!

— Não. Você pensa que não consegue, Lisa.

Dei de ombros.

— Talvez tenha sido o melhor...

Ela me encarou incrédula.

— Eu estou me perguntando se você fumou maconha ou só comeu merda mesmo...

— Sabe... Você está se importando demais com isso...

— Porque vocês dois são meus amigos! E eu te conheço! Pode achar que realmente acredita nessas besteiras que diz, mas ninguém manda no coração. Você vai sentir falta e se machucar.

— Não vou me machucar, Viv...

— Continue pensando assim e engane a si mesma, Lisa... Sou sua amiga há mais de 10 anos e sei que, por trás desse ceticismo todo, tem um coração frágil.

Bufei, revirando os olhos.

— Não seja dramática, Viv.

Ela levantou os braços, rendendo-se.

— 'Tá bom. Eu me rendo. Depois não me diga que eu não avisei.— e ficou observando o local. Como se ela não conhecesse cada milímetro do lugar.

Tomei um gole de meu suco, mas já estava quente e aguado. Levantei-me, fui em direção ao balcão e pedi mais um copo de suco e um cupcake que achei deliciosamente lindo.

Ao voltar à mesa, vi que Viv já estava conversando com uma mulher loira que eu nunca tinha visto na vida.— Olá.— cheguei, provavelmente interrompendo a conversa.

— Jennifer, esta é minha amiga, Elisa. Lisa, essa é Jennifer.— Viv apresentou-nos.

Cumprimentamo-nos com os costumeiros dois beijinhos no rosto.

— Prazer em conhecê-la. Já ouvi muito sobre você. — Jennifer disse em um tom um pouco estranho.

Apenas sorri, tentando não franzir o cenho. Infelizmente, eu não poderia dizer o mesmo. Nunca tinha ouvido falar nem na sessão fofoca lá na Style. Mas como foi que ela ouviu falar de mim?

Sentei-me no mesmo lugar em que estava antes e voltei minha atenção para meu cupcake. Dava até pena de comer de tão lindo. Comecei, como sempre, pela melhor parte: o glacê. Elas voltaram a conversar sobre algo que eu não estava entendendo nada, então preferi não me meter. Contudo, percebi Viv desviando o olhar para mim algumas vezes de modo temeroso. Que estranho... Não é como seu eu fosse ficar com raiva dela por estar conversando com outra pessoa. Não sou ciumenta, não.

Dei de ombros. Mais tarde eu descubro o que é.

— Pronto, Jenny. Vamos? — paralisei (ainda com a língua de fora. Que vergonha!).

Virei lentamente e confirmei minhas suspeitas. Lá estava ele em sua calça e camisa sociais costumeiras, segurando uma sacola do lugar. Seus olhos fixaram-se em mim e ele enrijeceu, assim como eu estava. Viv parecia que ia ter um treco a qualquer momento. Jenny, por sua vez, pareceu não perceber nada já que apenas sorriu e aproximou-se dele, tocando-lhe o braço. Arqueei uma sobrancelha e vi, deliciada, ele ficar um pouco rosado.

— Claro. Tchau, meninas.

— Tchau.— respondemos meio que automaticamente.

Ele acenou, sem graça, e se afastou. Viv falou bem alto, antes que ele saísse.

— Depois nós vamos ter uma conversinha, Felipe!

— Tá bem.— respondeu sem se virar.

Pisquei os olhos rapidamente, ainda meio paralisada. Percebi Viv me encarando.

Pigarreei o voltei a comer. Ela sorriu.

— Ficou incomodada, Lisa?

Não...?

— Não...— tossi. Acho que isso não foi muito convincente...

— Tem certeza?

Sim.

— Sério mesmo? Porque eu senti uma pequena exitação.

Bufei e peguei minha bolsa, levantando-me. Havia perdido a fome.

— Não quero falar sobre isso.

— Por que não?

— Porque não!

Ela gargalhou alto. Saí espumando do seu lado. O que ela quer de mim? Nam!

Quando saí do café para mais um dia de trabalho, ela ainda estava lá gargalhando.

***

Estava revisando um artigo para a edição do próximo mês. Estava fazendo de tudo para fugir de qualquer trabalho com a especial frescura. Tomara que quinta feira chegue logo para que meu martírio acabe. Se bem que ficam mais ou menos uma semana mandando mensagens sobre a edição recém lançada... Oh, sofrimento!

Fui interrompida com um barulho estrondoso de porta batendo e a voz alta de Vivian.

— Cheguei para trazer um sorriso para essa carinha!— fechou a porta, dessa vez sem fazer barulho.

— Trouxe brigadeiro para mim?— perguntei esperançosa.

— Não... Mas eu certamente deveria ter pensado nisso.

— Então, me desculpe, mas não tem nada que você possa fazer.

Ela revirou os olhos e sentou-se sobre a minha mesa.

— Sabe... Tem uma poltrona bem aí do seu lado.— falei ironicamente.

— Eu sei, mas daqui é mais empolgante!— sorriu animada.

Revirei os olhos e encostei-me na minha cadeira, esperando ela começar a falar. Ela bateu palmas tentando fazer suspense.

— Então...— deu uma pausa.— Eu fui investigar!

— E como exatamente saber que você foi bancar a detetive não sei onde vai me alegrar?

— Quando você souber o que eu fui investigar.— sorriu vitoriosa. Viv, Viv... Nunca te ensinaram a não cantar vitória antes da hora?

— Fui colocar Felipe na parede?

Franzi o cenho.

— Defina colocar na parede.

Ele me lançou um olhar sarcástico.

Eu queria saber se ele era mesmo bom no trabalho, já que você sempre chegava aqui de bom humor.

Fuzilei-a com os olhos em fenda e a mesma revirou os olhos.

— É lógico que eu fui perguntar o que tá rolando! Dã!

Fiquei encarando-a com os braços cruzados, tentando descobrir o que aquela mente maligna estava planejando...

— Certo... E o que eu tenho com isso?

— Por favor, Elisa! Para de fingir que não se importa! Você tá se mordendo de ciúmes e é a única que não enxerga isso! Ou vai me dizer que, se eu realmente estivesse interessada, você não se importaria nem um pouco?

— Você não pode, Viv. Fere as regras da amizade.— fiz bico.

— Nananinanão. A regra é sobre ex, ou até ficante.— sorriu maliciosamente. — E você mesma me disse que não havia nenhuma relação.

Balancei a cabeça rapidamente.

— Mas seria estranho, Viv...— tentei gesticular, mas acho que fiquei nais parecendo uma doida querendo matar uma mosca.— Eu não acho que conseguiria... Ah, sei lá! Seria estranho!

— Viu?! Você se importa! Agora só para de negar, porque enquanto você tá aqui fazendo doce, tem um homem lindo, gostoso e louco por você sendo assediado do outro lado da rua!— explodiu.— Se bobear, você vai perdê-lo e virar uma velha solteirona ainda mais amarga!

Ela respirou fundo, acalmando-se. Fiquei calada.

— Só me responde uma coisa... Eu juro que te deixo em paz se você estiver convicta. Não tá nem um pouco incomodada mesmo?

Suspirei.

— Não... Na verdade, ainda acho que ele estava mentindo. A loura lá no café é uma prova disso...

Ela fechou os olhos com força e pulou da mesa. Passou a mão pelo rosto e me olhou com incredulidade.

— O que foi?— indaguei.

— Lisa, querida... Você é tão burra assim ou só se faz? Não ouviu o que eu disse?! Ele está sendo assediado! A Jennifer não conseguiu nada. Mas eu duvido que vá demorar para conseguir alguma coisa com você agindo dessa maneira! Ela é só uma colega de trabalho e eles estão trabalhando juntos em um caso há duas semanas. Se você não parar de frescura, duvido que passando tanto tempo juntos ela não consiga laçar ele. E nós já sabemos que ele tem uma queda por loiras!— apontou para mim e suspirou, colocando as mãos na cintura.— Fui clara?

Transparente. — respondi.— Mas ele não é meu para eu ir marcar território, Viv.

— Aí que você se engana. Ele é tão seu quanto aquele seu pijama furado que você diz que não gosta, mas eu sei que ama. Agora se você não quer ver isso, não posso fazer nada. Eu já fiz mais que a minha parte.

Afastou-se da mesa, mas parou na porta e virou-se para mim.

— Ah! Amber disse para eu te avisar que quer que você faça a revisão final da especial.— e saiu.

Droga! Quando minha vida ficou tão difícil, ein?

***

Estávamos mais uma vez tomando café no mesmo lugar. Era rotina. Vivian contava-me sobre o pianista alemão que conhecera, sua mais nova "aventura amorosa", como ela mesma chama seus casos. E depois reclamar de mim! Apesar de tudo, é uma romântica incurável. E o pior é que ela está colocando suas ideias malucas na minha cabeça!

— Ei!— chutou minha perna de leve e fez sinal com a cabeça em direção à porta.

O que Vivian estava fazendo?! Eu realmente não precisava ver isso... Felipe, Jenny e outro colega de trabalho dele, que eu não sei o nome, entraram e foram em direção ao balcão. A mulher estava quase para se esfregar nele! Céus, esse é um estabelecimento de família, não um lugar pra pouca vergonha.

— Err... Lisa...— ouvi Viv me chamando baixinho, com um pouco de divertimento na voz.

— Hmm...— O que vão pensar as crianças e os idosos que entrarem aqui?!

— Você tá... Esfarelando toda a sua empada.

— O quê?!— saiu um pouco alto demais. Tanto que algumas (todas) pessoas no local me encararam.

Baixei o rosto, sentindo minhas bochechas quentes, e bati as mãos na saia. Vivian sorriu maliciosa.

— Nem começa...— apontei diretamente para seu rosto e peguei meu copo de café, levantando-me.

— Você tem que se decidir, Lisa.— levantou-se também.— Espera aí que meu café acabou. Vou pedir outro.

— Vai rápido.

Fiquei observando-o ir ao balcão e esperar para fazer seu pedido. Logo que o fez, virou-se para conversar com você sabe quem . Fiquei olhando eles rindo e conversando. Jennifer estava sempre passando as mãos pelos braços de Felipe. Senti minhas bochechas esquentarem. O mesmo aconteceu com minha mão. Soltei um gritinho quando o líquido quente queimou toda a minha mão e soltei o copo, agora quebrado bem no meio.

— Droga, droga, droga...— balançava minha mão que doía.

— Lisa!— Viv corria preocupada para cá seguida de perto pelos outros. Minha mão ardia tanto que eu nem importei com isso.— O que aconteceu?

— Acho que o copo tava com defeito.— mordi o lábio tentando não fazer cara de dor.

— Oh meu Deus! Então vamos logo para a Style pra lavar e passar algo aí.— já foi me puxando para sair.— Felipe pode levar meu café depois?

— Claro. — caramba, fazia tanto tempo que eu não ouvia a voz dele.

E ela saiu comigo para cuidar da minha mão queimada.

***

Hoje, com certeza, não é meu dia. Mesmo após ter queimado a mão (não vou tomar café por um longo tempo...), ainda tinha que fazer a revisão final da revista. É sério, eu só posso ter dançado debaixo da cruz.

Estava estressada e com a mão ardendo como o inferno, então posso ter dado uns gritos em algumas pessoas hoje. Agora, estou muito bem sentada em minha sala, com uma mão debaixo de uma comprensa de gelo, lendo atentamente a revista. Não que eu tenha me interessado por alguma parte, mas se eu fizer um bom trabalho agora, não precisarei revisá-la novamente.

— Elisa! — ouvi meu nome ser chamado.

Ergui os olhos e dei de cara com Vivian e Amber, nossa chefe, entrando na sala. A segunda me olhava meio condescendente, meio contrariada. Provavelmente ouviu sobre meu pequeno show mais cedo. Ela era uma ótima pessoa, mas levava seu trabalho muito a sério.

— Sim?

— Como está sua mão? — perguntou, sentando-se em uma das poltronas em frente à minha mesa.

— Poderia estar melhor...— dei de ombros.

Ela assentiu e pôs as mãos juntas sobre as pernas.

— O que está acontecendo, Lisa?

— Acho que, dessa vez, você não conseguiu disfarçar...— Viv falou com um sorriso a lá gato de Cheshire, encostando-se em minha mesa.

Revirei os olhos e respondi:

— Nada demais, Amber. Só não estou muito de bom humor.

— Tem certeza?— olhava-me preocupada.— Olha, eu sei sobre seu pequeno probleminha no dia dos namorados, mas você sempre foi muito profissional. Se está acontecendo alguma coisa, por favor, resolva logo. Senão você pode sair prejudicada.

— Eu sempre digo isso para ela, mas quem disse que ouve?— Viv disse.

Virei-me para ela.

— Quando você me disse isso?

— Praticamente o tempo todo! Vivo dizendo para você se decidir logo, mas você fica aí...

— Por favor, Viv. Amber está falando de trabalho.

— Dá no mesmo! Você ta se mordendo de ciúmes e não faz nada!

Amber pigarreou. Paralisei.

— Então o motivo é homem?— perguntou curiosa.

— Não!

— Sim!— eu e Viv respondemos ao mesmo tempo.

Amber pareceu confusa e fuzilei a ruiva ao meu lado, mandando um ' Cala a boca' com o olhar. Ela fingiu que não viu e continuou a falar:

— Ela tá em negação, Amber. Mas morre de ciúmes dele.

— Viv! Para de inventar!

Ela riu ironicamente.

Inventando?!O que foi isto aqui, Lisa?— apontou para minha mãe sob o gelo.

— Me queimei com café! Você estava lá e viu, Viv.— fiz cara feia para ela e tirei minha mão de debaixo do gelo para mostra-lá.

— O que eu vi foi você parecendo que ia matar a Jennifer com o olhar e apertar o copo com tanta força que ele quebrou.

— Claro que não!

— E como nunca aconteceu antes?

— Devem ter mudado o fabricante...— comecei a mexer em um lápis.

— Não inventa, Elisa. O copo não estava com defeito.

— Estava sim. Eu admito que eu poderia ter apertando um pouco o copo, mas nada demais! Não a ponto de quebrar!

— Você estava com as unhas fincadas no copo! Assim como as mãos da Jennifer estavam sobre o braço do Felipe...

Senti o lápis partir-se sobre meus dedos tamanha a força que o dobrava com as mãos. Viv sorriu. Minhas orelhas chiavam e eu podia sentir o calor em meu rosto.

— Você partiu o lápis. Por quê?

— Deu vontade.— dei de ombros.

— Você não imaginou o pescoço de ninguém, então?

— Talvez...— falei com os olhos cerrados, lembrando-me da cena de hoje de manhã.

— E a cabeça... Era loira?— em qualquer outro momento, eu até negaria devido ao riso evidente em sua voz. Mas não hoje...

— Talvez...

— Sim ou não?— as mãos pelos braços... Depois pelo peito...

— Sim...— as costas... o pescoço...

— E por quê, Lisa?— e depois a boca...

Soltei tudo que estava segurando dentro de mim. Simplesmente explodi.

— PORQUE AQUELA VADIA ESTÁ QUERENDO ROUBAR MEU HOMEM, ORAS!

Ouvi Viv rir alto e até Amber meio assustada e incrédula. Droga! Eu esqueci que ela estava aqui. Surpresa, percebi qie ela sorria. Vivian dava pulinhos pela sala.

— Por favor, não demite!

Amber riu.

— Claro que não! Todas passamos por isso um dia... Agora, você só tem que achar uma maneira de contar para ele.

Gemi e joguei minha cabeça para trás.

— Mas não se preocupe, Lisa.— Viv falou.— É para isso que estamos aqui.

Lascou.

***

Era sexta-feira. O tão esperado dia dos namorados. Estava esperando Vivian sair do escritório de advocacia de Felipe ao lado de Amber. Ainda na terça, elas me fizeram escrever um bilhete pedindo para Felipe me encontrar. Contudo, ele não estava no escritório e sua secretária ficou de entregá-lo a ele. De qualquer forma, ele não apareceu.

Na quarta também não. Nem na quinta.

Então foi decidido que Viv iria lá para perguntar se ele recebeu o bilhete.

Saí de meus devaneios por um cutucão de Amber. Nesses dois dias, descobri que ela era uma pessoa muito legal e divertida. Ela me apontou uma Amber saindo furiosa do lugar.

Assim que chegou a nós, gritou:

— A VADIA NÃO ENTREGOU PARA ELE!

— Ela esqueceu?— perguntei.— Mas que droga de secretária é essa?!

— Não, não. Ela entregou para Jennifer entregá-lo a Felipe, já que eles se veem bastante. Então é completamente óbvio que ela não entregou.

Suspirei. Droga! Por que eu?! Tanta gente no mundo sem nenhuma desilusão amorosa e eu já indo para a segunda!

— Bem acabou que você estavam certa no final. Acho que mereço isso.

— Não! Você vai simplesmente desistir?! Cadê a garota que foi capaz de correr descalça pela rua atrás de sorvete?! Ela não desistiria e deixaria o homem para a outra de quem ele não gosta.

— Ela está certa.— Amber disse.— Tenho certeza que você pode pensar em algo.

Respirei fundo. Ela está certa. Passei os olhos pela praça onde estávamos. Até que parei os olhos em uma lojinha.

— Ele está no escritório?

— Não. Saiu para almoçar com os outros faz mais ou menos uma hora.

— Então já devem estar voltando.— respirei fundo e pedi para elas se aproximarem com as mãos.— Eu só preciso que vocês me avisem quando ele estiver chegando...

***

— Ele está ali, Lisa.— Amber apontou.

Assenti e empurrei o garoto que paguei para fazer a entrega. Ele foi correndo até onde Felipe e os amigos de trabalho, entre eles a vaca loira, estavam.

Tentei não rir na cara confusa que ele fez quando recebeu o presente e, principalmente, quando leu o bilhete. Não consegui segurar quando ele ficou conversando com o garoto enquanto alguns de seus colegas riam e outros também estranhavam.

— Olha só para Jennifer, Lisa!— Viv tentava prender o riso com a mão sobre a boca.

Segui seu olhar até onde ela estava prostrada com cara de quem comeu e não gostou. Não consegui prender o riso dessa vez. Só que o mesmo minguou quando percebi que ele estava me encarando, assim como seus companheiros. Corei até o último fio de cabelo e desviei o olhar para baixo:

— De quem foi essa ideia mesmo?— perguntei baixinho.

— Foi sua!— Viv respondeu sorrindo.— E não dá para desistir! Ele já está vindo para cá! E você está linda!— completou.

Claro, ela havia me produzido toda e eu estava usando um vestido rosê de renda bem romântico e sandálias douradas. Segundo ela, a maquiagem quase inexistente e os meus cabelos loiros curtos me faziam parecer um anjo. Exagerada? Imagina...

Mas não consegui deixar de arregalar os olhos em pânico. Quando ele chegou mais perto, dei um passo a frente, mordendo o lábio. O que eu falo?

— Ainda bem que eu não pus blush...— ouvi Viv sussurrar atrás de mim.

Comecei com um sorriso sem graça. Pigarreei e ele arqueou uma sobrancelha.

— Espero que tenha gostado das flores. Eu não sabia quais as suas preferidas, então comprei essas rosas...— Alguém, por favor, fecha a minha boca!

Ele assentiu e falou:

— Pois é... É realmente um crime não saber as minhas flores preferidas.

Arregalei os olhos.

— Oh! Me desculpa... E-Eu...— parei quando percebi o ar divertido em seus olhos. Eu aqui morrendo de nervosismo e ele fica curtindo com minha cara?!

Podia ouvir Vivian e Amber rindo alto atrás de mim. Tentei não prestar atenção nisso.

— Então...— gesticulei mas não saiu nada da minha boca.

— Por que você não me diz o que você realmente espera com isso?— indagou, apontando para o buquê em um de seus braços.

— Bem...— respirei fundo.— Primeiro, me desculpa. Eu realmente sinto muito por ter... Você sabe.

— Não sei não.— Poxa, por que complicar ainda mais a minha vida?!

Respirei fundo.

— Por ter te mandando embora. Eu percebi esta semana que... Eu senti sua falta.

Ele assentiu e continuou a me encarar. Seus olhos escuros estavam me desconcertando. Fechei os olhos com força e, com uma coragem do além, desatei a falar:

— Descobri que sinto falta do seu sorriso ou de quando você me abraça à noite. Suas brincadeiras sem graça e a facilidade com que consegue me fazer rir e relaxar. Sinto falta de tocar seu cabelo e de olhar para os seus olhos...Também descobri como é sentir ciúmes a ponto de querer matar qualquer pessoa em um raio de um quilômetro...— parei para respirar e ri.— Sinto falta de seus braços, seu cheiro e de como você consegue me fazer esquecer o mundo...

Engoli em seco e continuei:

— Eu realmente me arrepende de não ter descoberto antes como eu me sinto, e de ter reagido daquela forma semana passada... Mas eu queria saber se existe uma chance, mesmo que mínima, de nós voltarmos ao que éramos antes...

— Voltar ao que éramos antes?— interrompeu-me ainda com a face sem nenhuma emoção aparente.

Respirei fundo.

— O que eu quero saber é...— dei um passo à frente e prendi meus olhos aos seus.— V-Vo-Você quer namorar comigo? Tipo, ser meu namorado...

Ele ficou me encarando. Fiquei mordendo o lábio, nervosa. Isso é muito pior que assistir a season finales. Acho que nunca fiquei tão nervosa na minha vida!

E só piorou quando ele começou a rir alto. Franzi o cenho, confusa. Ele olhava para mim, para o buquê de rosas em seus braços e para a plateia que reunimos, rindo.

— O que foi?

— Isso tudo... Está completamente invertido. Primeiro, eu imaginei que você estaria segurando um buquê, não eu.

Passou a mão lentamente pelo meu rosto, acariciando minha bochecha. Arregalei os olhos e sorri como nunca antes. Milhares de borboletas brigavam em meu estômago. Aproximei-me, mas as flores estavam no meio. Tentei contornar, mas não deu certo. Bufei e puxei-as de seus braços. Ele riu.

— Segura isso, Viv.— praticamente joguei-as.

E, sem perder tempo, puxei-o para mim. Ter novamente sua boca na minha era incrível. Era algo novo, que nunca havia sentido antes. Se sim, nunca havia percebido.

Separei-me minimamente dele, apenas devido à falta de ar. Ele acariciou minha bochecha. Fechei os olhos em deleite, sorrindo como uma abestada.

— Lisa...— abri os olhos ele sorriu.— Eu aceito.

— Hã?!— Do que ele está falando?

— Eu aceito ser seu namorado.

— Ah sim.— sorri e puxei-o novamente para mim, sem me importar com onde estávamos ou quem estava assistindo. Éramos só nós dois.

Até que esse estúpido dia dos namorados serviu para alguma coisa...


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Notas finais do capítulo

E então? Gostaram? Ficou horrível?
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