Complexo de Altura escrita por Vulpe


Capítulo 1
Lovely Complex


Notas iniciais do capítulo

(REFERÊNCIA DE ANIME PORQUE EU SOU OTAKU SIM PROBLEMA)

Um Universo Paralelo onde tudo é lindo, ninguém morre e Kiliel mora em uma linda casinha em uma campina florida. Em um lugar sem orcs. Ou quaisquer ameaças. Só amor.



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Kili era filho de Dís, filha de Thrain, filho de Thror, da linha de Durin. Sobrinho do Rei Sob a Montanha, Thorin Escudo de Carvalho. Segundo na linha de sucessão do trono, atrás apenas de seu irmão Fili.

Kili era um príncipe. Possuía uma ascendência poderosa e respeitada. Um guerreiro habilidoso e de alma nobre, cheio de coragem e honra. Um anão.

Kili era baixinho.

Nunca enfrentara nenhum problema com sua altura. Mesmo que fosse um príncipe sem reino, continuava a ser um príncipe: outros anões pagavam-lhe respeito apesar de sua juventude, e esse respeito fazia com que se sentisse maior. O orgulho dava-lhe centímetros de vantagem; estava acostumado a sentir-se alto entre seus iguais.

A altura elevada dos humanos não o incomodava. Não dava importância para humanos. Como um anão, e ainda por cima de linhagem real, incomodava-se apenas com os seus.

A estatura dos hobbits o divertia, mas sua esperteza era maior do que julgar capacidade e competência com uma régua. Mestre Bolseiro era tão valente e esperto quanto qualquer anão, talvez um pouco mais em determinados momentos, e confiaria a ele sua vida.

Altura nunca foi uma grande preocupação para Kili.

Não até conhecer Tauriel.

Sabia que os elfos eram altos e longilíneos, assim como sabia que os anões eram baixos e fortes, mas só entendeu quando viu Tauriel pela primeira vez. Ela assomava acima dele, comprida e linda.

Não era uma visão desagradável.

Durante a conversa que tiveram com ele na cela e ela de pé do lado de fora, parecera mais alta ainda. Ele gostava da altura dela. Gostava de pensar que estava vendo-a de um ângulo que nenhum de seus companheiros elfos jamais descobriria. Mas, então, percebeu como todos em volta de Tauriel eram altos. Como aquele elfo loiro que parecia acompanhá-la aonde quer que fosse podia olhá-la nos olhos sem ter que se inclinar para cima e ela para baixo. Como era simples e sem esforço - ele só precisava olhar para o lado e encontraria o rosto dela.

Para Kili não era assim fácil. Mas tudo bem. Isso só significava que quando ela olhava para ele era porque queria fazê-lo, não por acidente. De certo modo, fazia com que se sentisse especial.

Até que percebeu a coisa mais terrível.

Como beijá-la?

Nem se ficasse nas pontas dos pés conseguia alcançar a boca da elfa sem que ela também precisasse se inclinar em sua direção. Não havia nenhuma possibilidade para beijos roubados, já que ele precisava da ajuda dela para completar a ação. Podia subir em alguma coisa, mas não conseguia evitar se sentir um pouco ridículo ao fazê-lo. Talvez porque uma vez tentou usar uma caixa de madeira que cedeu sob seu peso e Tauriel ria com a lembrança até hoje. E talvez porque em outra, depois de subir em uma cadeira sem que a capitã notasse e se preparar para beijar o topo de sua cabeça, Tauriel simplesmente andara para fora de alcance, deixando-o com apenas ar para encontrar seus lábios.

Kili era baixinho.

Tauriel era alta.

Kili não estava nem um pouco satisfeito.

Tentava não deixar transparecer o quanto aquilo o incomodava. Sabia que era tolo; ele a amava, assim como ela também o amava apesar de sua altura, apesar dos protestos de seu Rei e de sua raça. Tauriel não se importava com as limitações sociais que os separavam, chegando ao extremo de deixar sua amada floresta para que pudessem ficar juntos. Que direito tinha Kili de se chatear com um motivo tão fútil quanto estatura quando era tão abençoado?

Mas estava lá. Em todos os momentos do dia. Quando se abraçavam, quando caçavam, quando andavam lado a lado.

Kili era baixinho.

Não, pior ainda: Kili era pequeno. Forte, resistente, sólido como uma rocha, enquanto Tauriel era grande do modo gracioso e elegante característico dos elfos. Tudo voltava ao que eram. Kili estava preso a terra e Tauriel tocava o céu. Na visão dele, ela andava entre as estrelas com as quais tanto sonhava. E Kili não sabia voar.

Tentava não ficar desanimado, mas era difícil quando mesmo estando do seu lado ela parecia tão fora de alcance.

Tauriel era observadora. Não tardou a perceber que algo infestava a mente do arqueiro anão. Esperou que ele contasse o que era, ou que passasse. Como nenhuma das duas previsões se concretizou, decidiu perguntar. Kili era bom em manter uma expressão séria durante brincadeiras, mas não tanto em mentir. Imediatamente pareceu desconfortável.

-Não, nada me perturba.

E esperou ansioso, se perguntando se fora convincente. Tão convincente quanto a dobra em seu casaco era interessante.

Tauriel sorriu.

-Conte-me.

Kili cogitou insistir que não havia nada de errado, mas sabia como Tauriel era determinada. Conteve um suspiro.

-Nada do que me aflige tem consequências a você, minha dama.

Tauriel levantou uma sobrancelha.

-Se algo o aflige, aflige a mim também.

Kili deu um pequeno sorriso. Não podia negar uma resposta quando teria dito algo parecido caso a situação estivesse invertida.

-É uma tolice. – falou, em voz baixa. –Uma tolice que vem me incomodando há algumas semanas.

A isso, Tauriel começou a sentir preocupação. O que poderia perturbar os pensamentos de Kili há tanto tempo? Talvez fosse algo sério. A saúde dele parecia boa. Algum de seus amigos?... Fazia meses desde que a última visita de anões. O único que aparecia regularmente era Fili.

-O que quer que seja, sabe que pode sempre contar com meu apoio e amor. – falou ela, ajoelhando-se ao lado da cadeira onde ele estava sentado para que ficassem na mesma linha de visão. Colocou sua mão em cima da dele.

O gesto fora para oferecer conforto, mas a expressão de Kili amargurou-se. Ele levantou, soltando-se dela. Tauriel, surpresa, permaneceu ajoelhada enquanto Kili andou em um círculo antes de voltar para a sua frente.

-Eu não mereço nenhum dos dois. – disse ele, sério. –Não quando os possuo e não valorizo por estar absorvido em falhas minhas.

Tauriel esperou, por mais que sentisse vontade de perguntar o que ele queria dizer. Ele falaria, tinha certeza. No momento, o mais sábio a fazer era deixar-lhe seguir o próprio ritmo.

Kili fechou as mãos em punhos ao lado do corpo. Sua mandíbula estava cerrada como quando em combate. Olhava para um ponto fixo à sua frente.

-Tauriel, eu tenho me preocupado... com a minha altura.

Tauriel piscou, abismada.

-Des... desculpe-me, o que disse?

Kili balançou a cabeça impacientemente, tentando exteriorizar seu nervosismo e como estava desagradado consigo mesmo.

-Sou eu que deveria pedir desculpas. Você me oferece seu amor, uma dádiva da qual já não sou digno, e desperdiço-o ao sentir pena de mim mesmo por ter uma estatura tão inferior à sua. Mas não consigo deixar de pensar! – exclamou ele, balançando as mãos com impotência. – Você é feita de fogo e sonhos, e eu de argila e ferro! Você dança em constelações, e eu... –Kili parecia não conseguir encontrar algo que exprimisse toda a intensidade do que queria dizer. Por fim desistiu e declarou, como se fosse a pior coisa já dita sobre alguém: - eu sou baixinho!

Tauriel se contivera com esforço ao perceber a importância do assunto para seu amado e ficara tocada pela poesia com a qual ele a descrevera, mas ao ouvir a sentença final não conseguiu mais; soltou uma risada cristalina, linda como a de todos os da sua raça mas duas vezes mais bonita que todas as outras aos ouvidos de Kili. Mesmo que ele não estivesse contente em ouvi-la naquele contexto.

-Crê que minhas preocupações são motivo de riso? Provavelmente tem razão. – murmurou, ainda que um pouco magoado.

Os olhos de Tauriel brilhavam com humor enquanto levantava e dava um passo para perto de Kili. Como sempre, assomou acima dele. Como sempre, mesmo com seu complexo, Kili não pode deixar de pensar que ela era deslumbrante.

-Creio que você é um anão muito tolo, Kili. Imensamente tolo.

Inclinou-se na direção dele e colocou a mão sobre sua mandíbula com ternura. Kili olhou para ela com certa hesitação, que desapareceu quando Tauriel se aproximou mais e beijou a lateral do seu rosto. Sentiu-se corar.

-Talvez você esteja certo. – Tauriel falou enquanto se afastava, mas sua mão não deixou o rosto do anão. – Talvez eu seja aérea e você terreno. Talvez seus ossos se arrastem no chão, Kili, mas eu me apaixonei por você, do mesmo modo que uma estrela só pode cair para a terra. E sua altura é a última coisa que me preocupa.

Ele se permitiu olhar para ela cheio de esperança.

-Tem certeza? Não se importa que eu tenha que subir em troncos e pedras para beijá-la e que tenha que se abaixar para me olhar nos olhos? Não preferiria um companheiro com uma estatura mais próxima à sua?

Tauriel sorriu com carinho.

-Preferiria você ao elfo mais alto da Terra-Média.

E Kili abriu um de seus sorrisos brilhantes. Não pela primeira vez, Tauriel sentiu que era ele que estava cercado pelas estrelas, não o contrário.

-E sobre subir em objetos para nos beijarmos, eu sempre posso fazer isso: – sorriu ela, travessa, antes de agarrar a frente da roupa dele e levantá-lo no ar para que seus lábios se tocassem. Kili deu uma risada deliciada contra os lábios dela antes de retribuir.

Conforme se beijavam, Tauriel deixava de se concentrar em seus braços e começava a abaixá-lo. Logo haviam escorregado para a pose de costume, ele equilibrado nas pontas dos pés e ela um pouco curvada. Mas nenhum dos dois se importava. Não enquanto ele estivesse com os braços em torno dela em um abraço e ela estivesse com os dedos entre o emaranhado do cabelo dele e o polegar apoiado em sua maçã do rosto. Todo o resto do mundo parecia mais do que irrelevante.

Afastaram-se com relutância, em beijos curtos, Tauriel mantendo o braço esquerdo sobre os ombros dele e Kili ainda sem de todo tocar o chão, seu braço direito demorando-se no enlace do quadril dela. Tauriel deu uma risada breve e sorriu enquanto Kili tentava ganhar um último beijo antes de descer do céu e voltar para a superfície.

-Sabe o que eu disse a Legolas depois de te prender? – perguntou, cedendo ao pedido dele e beijando-o de leve.

-“Aí está um homem mais atraente do que você jamais será”? – perguntou Kili, sorrindo.

Tauriel balançou a cabeça com humor e beijou a ponta do nariz dele.

-Eu disse... – sussurrou – “ele é bem alto para um anão, não acha?”

Kili deixou seus pés se apoiarem no chão, mas as palavras dela fizeram-no sentir como se ainda estivesse no ar. Um peso gigantesco desapareceu de suas costas, um peso fantasma que vinha puxando-o para baixo sem motivo. Depois de meses, sentiu-se alto. Melhor ainda, sentiu como se sua altura não fizesse diferença. Nenhum peso o acorrentava ao solo; será que era assim que Tauriel se sentia?

-E o que Legolas respondeu? – perguntou, ainda anestesiado pela maravilha que era a falta de gravidade. Mas Tauriel deu uma risadinha que não podia ser bom sinal.

-Ele disse, “Mas não menos feio”.

-Ora! – indignou-se Kili. –Quem diria existir elfos invejosos!

Mas logo se esqueceram da inveja dos elfos. Não havia complexo que pudesse alcançá-los agora, que o anão terreno estava seguro o suficiente para acompanhar sua dama em uma caminhada entre as estrelas. Com as mãos dadas e arcos e flechas pendurados nos ombros.

Kili era um anão que amava uma elfa.

Tauriel era uma elfa que amava um anão.

Kili estava contente em ser girado por ela no ar.


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Notas finais do capítulo

Eu sabia o que ia acontecer no último filme mas não estava preparada.
(levante o braço quem está postando fanfic ao invés de sair no dia dos namorados o/)



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